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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES, 49 ANOS


O dia 29 de setembro de 1968 é muito importante para a história da música popular brasileira. Foi nesse dia que um coro de 20 a 30 mil pessoas acompanhou, emocionado, Geraldo Vandré cantando ao violão a música de sua autoria Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores (Caminhando). Foi no Maracanãzinho, RJ. Na ocasião estava em disputa, no III Festival Internacional da Canção, a belíssima Sabiá, de Tom e Chico, defendida por Cynara e Cybele. Sabiá ficou em primeiro lugar e Caminhando, em segundo. Os jurados foram todos xingados, pela decisão tomada. Três deles ainda estão vivos: a atriz Bibi Ferreira, o pesquisador de música popular, Ricardo Cravo Albin e o cartunista Ziraldo, também autor do troféu do festival. Além do público, quem ficou também tiririca da vida foram os militares que governavam o País. O compacto com a música Caminhando, interpretada por Vandré, foi retirada do mercado logo que chegou às lojas.  Logo depois, em Dezembro, o Rei do Baião Luiz Gonzaga gravou essa música e a lançou ao mercado. Detalhe: a censura fez vista grossa a ela. É história.  Caminhando  já foi gravada por dezenas e dezenas de artistas mundo a fora. Na Itália foi gravada por Sérgio Endrigo e orquestra. Nos Estados Unidos, Ernie Sheldon chegou a gravá-la (Listen to in the Wind) mas, sabe-se lá por que, não foi lançada ao comércio. A matriz americana se acha no acervo do Instituto Memória Brasil, IMB. No IMB também se acham a partitura dessa música (com erro, ao invés de "das" é "de"e ela vertida em castelhano Caminando pelo próprio autor, que a gravou no Chile em 1969. A TV alemã, em 1971, gravou  um especial com o polêmico artista paraibano, que completou no último dia 12, 82 anos de idade.  Uma cópia desse documentário também se acha no acervo do  IMB. Uma curiosidade: um dia Vandré me disse que gostaria  de ter enfrentado na final do  festival, o baiano Caetano Veloso, desclassificado com É Proibido Proibir.


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

BRASILEIROS ESQUECIDOS (3)

Não são dezenas, são centenas de artistas brasileiros esquecidos pelos próprios brasileiros.
O Brasil é madrasta, se me entendem.
Numa boa, Quem lembra de Manezinho Araújo? Numa boa, Quem lembra de Chico Alves? 
Numa boa, quem lembra de Luís Bonfá?
Luís Bonfá nasceu no Rio de Janeiro no dia 26 de setembro de 1923 e morreu, no Rio aos 58 anos de idade.
Luís Bonfá começou a carreira muito cedo. Nos anos 40 já tinha músicas gravadas. Em 1955, algumas das suas músicas já eram sucesso nacional, na voz de Dick Farney.  De Cigarro em Cigarro, um samba canção do Bonfá, por exemplo, fez sucesso na voz de Nora Ney. Nora foi a primeira intérprete de Rock on the Clock, em 1958. Quer dizer, o rock chegou ao Brasil, rigorosamente através da voz de uma mulher, Nora Ney. Mas essa é outra história...


Luís Bonfá morou durante anos nos EUA. Lá conheceu muitos brasileiros que já faziam sucesso, como Laurindo Almeida. Lá ele conheceu Elvis Presley, que gravou dele, em 1968, Almost in Love (clique).



Luís Bonfá era compositor de letra e melodia. É dele a belíssima e simples Manhã de Carnaval. Essa música é de 1956 e é uma das 10 mais ouvidas e gravadas em diversos idiomas até hoje, ouça:




E, claro, não dá para deixar de ouvir dele a deliciosa O Barbinha Branca, com Tom Jobim e outros craques, incluindo o próprio instrumentista Bonfá. 



Na gravação de Elvis, pode-se ouvir o violão mágico de Bonfá. Detalhe: Bonfá morreu com Alzheimer, esquecido de tudo.
Manezinho Araújo nasceu no dia 27 de setembro de 1910 e foi para a Eternidade no dia 23 de maio de 1993. Morreu dormindo. Mané ficou famoso como o Reo da Embolada.
Chico Alves, de batismo Francisco Alves, morreu no dia 27 de setembro de 1952. 
Bom, eu não sei se nasci ou se morri, mas o fato é que enquanto Chico ia morar no céu no fatídico 27 de setembro punham-me para morar no inferno, este em que vivemos.

BRINCANDO COM A HISTÓRIA (57)



domingo, 24 de setembro de 2017

BRASILEIROS ESQUECIDOS (2)

Vamos lá: janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, agosto, 2 de setembro!
Foi nesse dia, 2 de setembro, que em 1917 nasceu em Miracatu, interior de São Paulo, Laurindo José de Araújo Almeida Nóbrega Neto, que ficaria conhecido no mundo simplesmente como Laurindo Almeida, provavelmente o mais rápido e criativo violonista brasileiro.
Laurindo foi praticamente um artista autodidata, pois não teve formação musical formal e completa. Aprendeu a dedilhar violão pelos ensinamentos rudimentares do pai, que era ferroviário profissional e seresteiro. A mãe era pianista, do lar.
Eu já disse que o Brasil não costuma dar bola aos seus filhos, sejam eles quem forem. Artistas, então...
Não custa dizer que Laurindo Almeida deixou na História da música a marca de gênio, mesmo praticamente autodidata, ele se movimentou com muita facilidade entre o popular e o erudito. Ele mesmo definia-se como artista erudito. E não é difícil constatar isso. É da metade dos anos de 1950 o LP de dez polegadas Recital de Violão das mais Famosas Serenatas. Ouçamos:



Amigo de Carmen Miranda, Pixinguinha, Donga, Radamés, Garoto e tantos e tantos nomes de realce da vida musical brasileira, Laurindo Almeida morou na capital paulista antes de conhecer o estrelato. Ingressou, muito jovem, as fileiras do movimento Constitucionalista. Depois, no Rio de Janeiro, teve o primeiro trabalho prá valer na extinta rádio Mayrink Veiga, concorrente da toda poderosa rádio Nacional, criada pelo governo Vargas. Compositor e grande instrumentista, Laurindo e muitos outros artistas -uns quarenta mil- perdeu o emprego depois que o Marechal Dutra, sucessor de Vargas, assinou um decreto no dia 30 de abril de 1946, pondo fim a todo tipo de jogo de azar. Com o decreto, foi-se a era dos Cassinos.
Em março de 1947, Laurindo de Almeida pisou, pela primeira vez, em solo norte-americano. E lá ficou até morrer no dia 26 de julho de 1995. Ele deixou mais de uma centena de discos gravados. Fora isso, deixou mais de 800 participações em trilhas sonoras de filmes realizados na terra que adotou. Nunca ninguém produziu e arranjou tanta música prá cinema.
Laurindo Almeida teve músicas nos filmes Quo Vadis, Viva Zapata e Spartacus e também para muitos seriados para a tevê, como Bonanza e o Fugitivo. Ele foi o único brasileiro a ser indicado ao Grammy 16 vezes e ganhar cinco. Além disso foi, também o único brasileiro a ser agraciado com o Oscar, o maior prêmio do cinema norte-americano. E como se não bastasse, trabalhou com todos os grandes nomes da música internacional, incluindo Igor Stravinsky. E pouca gente sabe: foi ele quem levou para os EUA nomes até então por lá desconhecidos, como Villa-Lobos, Radamés Gnatalli e Luiz Gonzaga, que gravou em 1951. E também a Bossa Nova, aliás ele é um dos pais da Bossa Nova. Os primeiros desenhos da Bossa Nova saíram dos dedos dele, ao juntar o jazz com o samba...O João Gilberto e os outros, como Tom e Vinícius nunca falaram disso, por que, hein?
Enquanto isso, o Brasil dava-lhe as costas. Isso o entristecia muito. Mas o que fazer?

Tínhamos tudo para comemorar o centenário de nascimento de Laurindo José de Araújo Almeida Nóbrega Neto.
O acervo de Laurindo Almeida era um acervo riquíssimo. Esse acervo hoje se acha na Biblioteca do Senado Americano.

sábado, 23 de setembro de 2017

BRASILEIROS ESQUECIDOS

A casa dos Reis era só festa no dia 23 de setembro de 1916. O motivo era o nascimento de um rebento que ganharia na pia batismal o nome de Dilermando que o tempo tornaria num dos mais importantes violonistas do Brasil.
Dilermando nasceu em Guaratinguetá, interior de São Paulo.
Com 15 anos de idade, Dilermando já era o mais importante violonista da sua cidade. Foi morar no Rio de janeiro muito cedo e muito cedo começou a manter contato com professores e artistas. De repente viu-se acompanhando calouros num programa da extinta rádio Guanabara. Em 1944 gravou o primeiro disco (78 Rpm) com a valsa Noite de Lua e o choro Magoado, ambas composições de sua autoria e lançadas pela etiqueta Continental, que há muito não existe mais.
Dilermando Reis gravou 38 discos de 78 Rpm e umas duas dezenas de LPs. 
O Brasil legou à História outros grandes violonistas, como Rafael Rabelo e Paulinho Nogueira. O Brasil os legou , o Brasil os esqueceu.
Que país, hein?!



Ah, Dilermando Reis morreu no dia 02 de janeiro de 1977, portanto há 40 anos.

EM BUSCA DE SAÚDE

O ideal num país é que houvesse uma academia de ginástica em cada esquina, mas o ideal quando não é projeto é sonho. E nós, brasileiros, ficamos muito aquém do ideal em tudo ou quase tudo necessário para o bom viver. Mas eu sou um privilegiado. Aqui mesmo perto de casa tem uma academia e professores que me fazem muito bem. Chama-se Cia Life, e os professores, Anderson Gonzaga e Beto Jr.
Comecei a fazer treinos em academia no mês da libertação dos escravos, Maio. Sinto-me um cara livre, liberto de muitas coisas. Não pretendo ficar marombado, fortão, saradão, o que pretendo é revigorar-me fisicamente e mentalmente como cidadão.
Ando em busca de saúde. Sempre andei, mas hoje mais ainda. Com a idade chegando, temos que nos cuidar.
As coisas boas que faço, ou acho que faço, gostaria de compartilhar com os amigos. E aí está. E conclamo a todos bater pernas, braços e mente em academia de ginástica. Faz um bem danado. Na foto aí, o papai e o professor Anderson. O clique acima é do Beto.

JOSÉ CORTEZ

Meu amigo Cortez, criador da editora que leva o seu nome, topou o desafio e entrou no embalo. Está se sentindo como, digamos, um cara de meia idade. Ele treina numa academia quase pegada à sua editora, ali no paulistano bairro de Perdizes. Garante que já perdeu uns 3 Kg e tá que tá. No próximo dia 18 de novembro, José Cortez completa 81 anos de idade. E viva Cortez. Ah! Em breve publicarei aqui uma foto do jovem em atividade física na sua academia, fica a promessa.


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

DIA NACIONAL DE LUTA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

No mundo todo, segundo a Organização Mundial de Saúde, a OMS, há mais de um bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência, seja física ou visual....
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, há 45,6 milhões de pessoas portando algum tipo de deficiência, seja física, visual, mental... Desse total, 18,8 % são de deficientes visuais. São Paulo e Bahia são os Estados que reúnem a  maior parte dessas pessoas. 
Amanhã, 21, é o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência... Esse dia foi criado em 1985 e tem por finalidade chamar a atenção de todo o mundo, inclusive das chamadas "autoridades competentes"...
A cada cinco segundos uma pessoa fica cega no mundo. No Brasil eu não sei não. No Brasil é tudo complicado, especialmente no tocante à questão de saúde.
O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência... tem programação específica amanhã. Em São Paulo, Capital, há uma agenda própria na Estação Tatuapé do metrô.
Quarenta e seis, seis milhões de pessoas é, como se vê, um número extraordinário. Se as pessoas portadoras de deficiência soubessem a força que têm o Brasil já poderia ser outro. Mas o Brasil é, ainda, um país em desenvolvimento e cheio de analfabetos de todos os tipos: de analfabetos políticos, inclusive.
Amanhã será outro dia.




BRINCANDO COM A HISTÓRIA (56)



WALDIR AZEVEDO, O MÁGICO DO CAVAQUINHO

Waldir Azevedo foi o mais importante tocador de cavaquinho do Brasil e do mundo. Não é demais dizer que ele reinventou esse instrumento criado, provavelmente em Portugal. Ninguém jamais tocou cavaquinho como Waldir. Antes dele o cavaquinho era simplesmente um cavaquinho. Pequeno em todos os sentidos.
Foi no bairro da piedade, no Rio, que nasceu Waldir. 
Waldir era prá ser aviador, mas o seu coração, sempre apressado, cortou as asas do seu sonho. Ele tinha apenas dez anos de idade quando se apresentou, pela primeira vez, em praça pública. Foi em 1933 e o seu instrumento era então, uma flautinha doce. Primeira música tocada?  Trem Blindado, de João de Barro, o Braguinha (1907-2006). Essa música foi inspirada na revolução constitucionalista (1932). A flauta ele a trocou por um bandolim, que foi trocado pelo cavaquinho. Suas duas primeiras músicas gravadas: Brasileirinho e Carioquinha, em 1949, logo transformadas em clássicos.



Waldir Azevedo deixou gravadas quase duas centenas de músicas, desde choros a frevos, pouco menos da metade de sua autoria. Isso, em menos de trinta anos de carreira. Em 1972, ele teve decepado, por uma máquina de cortar grama, o dedo anular esquerdo, e o milagre, como ele costumava dizer, fê-lo voltar a tocar o instrumento que magicamente recriou. O fato inspirou-o a compor o choro Minhas Mãos, Meu Cavaquinho.
Waldir Azevedo morreu na madrugada de 20 de setembro de 1980.
Eu o conheci uns cinco anos antes de morrer e guardo, até hoje, uma belíssima entrevista que fiz com ele. Foi no bairro paulistano do Bixiga. Nessa entrevista ele lembra a sua trajetória e diz como gostaria de morrer: amando uma mulher.






domingo, 17 de setembro de 2017

FILOSOFIA POPULAR É SUCESSO PELA CORTEZ



Ao correr da leitura do novo livro de Mario Sérgio Cortella, Vamos Pensar Um Pouco?, ia a me lembrar das tantas falas que tive com Luís da Câmara Cascudo (1898-1986).Com o mestre Cascudo, aprendi a ouvir melhor o que o povo sempre tem a dizer.
Pois bem a leitura do novo livro de Cortella, ilustrado pelo craque Maurício de Sousa, trás um bom punhado de ditos populares. Esses ditos refletem a sabedoria dos anônimos.
Luís da Câmara Cascudo foi o mais dedicado estudioso da cultura popular brasileira. A sua obra, extensa e rica, traça com clareza a beleza que é a cultura popular. Cortella, ciente disso, mergulhou sem preconceito no assunto, no tema, nesse verdadeiro mar de preciosidades do povo. O resultado disso é o livro já citado, que desde o começo deste mês, já caiu nas mãos de pelo menos 20 mil brasileiros. É um sucesso sem dúvida. É um sucesso popular resultante do trabalho e sensibilidade do grande filósofo que é Mário Sérgio Cortella
http://assisangelo.blogspot.com.br/2017/02/viva-mario-sergio-cortella.html. Vale a pena lê lo, e depressa.Aliás é motivo de alegria saber que um livro reunindo saberes do povo já teve esgotado várias edições em menos de 1 mês. É muita coisa num país de analfabetos, de poucos leitores. A média de uma edição de livros no Brasil é de 3 mil exemplares e são poucos os títulos que se esgotam no correr de 12 meses.
Vamos pensar um pouco? (Cortez Editora, 80 págs.), será lançado amanhã na PUC,  na capital paulista.






sábado, 16 de setembro de 2017

E DEPOIS DO HOMO SAPIENS, O QUE VIRÁ?

Ao descer das árvores e caminhar mais ou menos ereto, e ainda indefinido, o homem passou logo a inventar meios para matar em nome da própria sobrevivência. É isso o que concluem os estudiosos da matéria. A pedra, o pau e o cipó inspiraram aquele que ia virar gente a fazer sua primeira arma, uma espécie de machadinha. daí para o arco e flecha, passaram-se mais alguns anos, milhares, milhões, quem sabe e surgiram o arco, a flecha e tudo mais, e hoje temos os que temos...
Da machadinha à bomba atômica, foi um passo, melhor, milhões e bilhões de passos, trilhões, quem sabe?
Os pré-históricos, ao descerem das árvores, comiam o que encontravam pela frente. Fosse o que fosse, inclusive seres diversos encontrados mortos por razões quaisquer. E foi quando, certamente, os nossos antepassados, já se parecendo conosco, passaram a caçar, a pescar, a se juntar em grupos. O frio eles resolviam com a pele de animais que matavam e cuja carne comiam. A primeira guerra, o primeiro confronto armado, debitado ao homo sapiens, ocorreu há uns cinco mil anos a.C., na Alemanha. Os indícios levam a crer que desse confronto participaram pelo menos quatro mil homens. Deduz-se que foi um verdadeiro massacre, como os que ainda hoje ocorrem nos quatro cantos do mundo.
O homem está se matando o tempo todo e cada vez mais. Agora mesmo, o ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-un, está mais do que ameaçando o Japão e os EUA, com suas bombinhas de Nitrogênio e sabe-se lá mais o quê. A coisa tá feia.



A propósito, acabo de ouvir o audiolivro Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas, obra do brilhante português José Saramago (1922-2010). Nesse livro que ele não concluiu, é abordada a questão das guerras desde o Neolítico, ou a Era do Metal.
O saque de Saramago foi genial. Ele, em leituras esparsas, questionou-se sobre a produção de armamentos que alimentam guerras em todo o planeta. Quem fabrica esses armamentos? Ele se perguntava, e por quê nunca há greves de funcionários que fabricam esses armamentos, era outra pergunta que ele se fazia o tempo todo. E foi quando, em 2009 ele iniciou aquele que seria o seu último trabalho literário.
O enredo de Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas gira em torno de um cidadão, Paz Semedo, funcionário antigo de uma empresa fabricante de armas, separado da mulher Felícia, uma pacifista renitente. É visível o conflito entre os dois. Saramago deixou apenas 3 capítulos escritos, mas são capítulos que mostram com clareza, o enredo imaginado, e iniciado portanto, pelo grande português autor de O Ano da Morte de Ricardo Reis e Ensaio Sobre a Cegueira.
Até o final do livro ele se imaginou, com a personagem Felícia, dando um Vá à Merda, dirigido a Paz (Sem Medo). Esse mundinho de berda vai um dia aos ares, numa explosão colossal. E o homo sapiens, vai virar o quê, Hein?


BRINCANDO COM A HISTÓRIA (55)






sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O SUICÍDIO DO HOMO SAPIENS




Uma desumanidade, é a palavra exata para definir o que ora ocorre no mundo. No Iemen, um inferno negro  localizado na Península Arábica, o diabo alojou-se na forma de fome. São cerca de 250 milhões de almas penitentes, pagando pecados que não cometeram. A maioria dessas almas, vítima da gula capitalista, é constituída por crianças.
A fome e a injustiça se alastram que nem praga, rapidamente, que nem um pavio aceso correndo célere em direção a bombas.
Os jornais do mundo livre estão noticiando essa praga, esse desmazelo, esse horror,  esse fim do mundo.
Entre quatro e sete milhões de anos atrás, o nosso planetinha de berda começou a gerar a vida que em nós resultou.
Os hominídeos surgiram num tempo remoto, difícil, até hoje, de localizar com exatidão. Primeiro eles resultaram nos anglo australopithecus.
Australopithecus palavra de origem latina e grega, criada para identificar gorilas, orangotangos, chipanzés, primatas de quem certamente viemos.
Os australopithecus podem ter alguma coisa a ver com o gênero  homo. O homo erectus, por exemplo, que o tempo trouxe até nós, homo sapiens.
Em tempo mais recente, mas sempre a.C., houve o período que os naturalistas e outros estudiosos da vida, chamam de paleolítico.
O paleolítico é por volta de 3 milhões de anos.
O paleolítico é também chamado da Era da pedra lascada, que foi a Era em que os primeiros homens, começaram a ganhar forma de gente, mesmo. Isso não está na Bíblia. Foi a Era em que os tais começaram a construir instrumentos de caça e pesca, por exemplo, e acenderam o fogo. Foi a Era em que esses tais se deram conta da diferença entre eles e um sapo, uma cobra, um cavalo, uma besta qualquer.
Depois do paleolítico, veio o tempo do neolítico. Esse tempo é tambem conhecido , como o tempo em que nós, do passado, descobrimos o metal e otras cositas mas. E aí vieram as guerras, chacinas, loucuras absolutas.
Naquele tempo de milhões e milhões de anos, ou bilhões, os bichos se viravam como podiam. Andavam sós, segundo os estudiosos, mas descobriram logo que em bandos ou grupos, eram mais fortes e ser forte sempre foi sinônimo de categoria e solidariedade, de respeito mútuo, ao próximo.
O próximo sempre fomos nós, mas estamos perdendo essa compreensão, esse entendimento. E ao perdermos isso, nos perdemos.
O mundo está se acabando por falta de tudo: de compreensão, entendimento, solidariedade, respeito, a fome é consequência disso tudo, dessas desgraças, do individualismo, da hipocrisia, de tudo que não presta. O poder transforma o homem e quase sempre prá pior.
O continente africano foi riquíssimo. O seu subsolo sempre foi rico em tudo quanto se possa pensar, em ouro, pérolas etc.
Foi na Africa que surgiu o mais importante dos australopithecus. Quer dizer: foi na África foi que surgiu o homem tal como é hoje.  
Estamos nos acabando a partir do berço onde nascemos.
Há uns meses o grande cartunista Fausto iniciou uma série, neste blog, a que intitulamos de Pré-história. Nessa série Fausto conta com graça, mas sem rigor histórico, a origem do homo sapiens.Isso vai virar livro.
Não faz tempo, a cientista social diletante Dilma Roussef descobriu e anunciou ao mundo, para surpresa geral, a mulher sapiens. Clique:



BRINCANDO COM A HISTÓRIA (54)






quinta-feira, 14 de setembro de 2017

ACERVOS, SEBOS, LIMBO E LIXO


O que é que tem haver Jorge Lobo Zagallo com Ignez Magdalena Aranha de Lima? No rigor, nada. Em linha aberta, tudo.
Zagallo ganhou tudo que um craque de futebol poderia ganhar.
Ignez, também. Só que com outro nome: Inezita Barroso.
Portanto, em linha gerais, Zagallo e Inezita têm tudo em comum: foram dois craques, um do futebol e o outro, no caso outra, da música. E como uma coisa puxa outra ...
Lembrei-me de Inezita ao ouvir, há pouco ela cantando o samba canção Ronda, de Paulo Vanzolini (1924 – 2013)
, que a levou pela primeira vez às paradas de sucesso. Isso, em novembro de 1953. Eu tinha um ano e dois meses de idade.
Eu conheci de perto Inezita Barroso (1925-2015). Conversávamos muito, eu com ela lá em casa e ela comigo na casa dela. Entre um uísque e outro, muitas histórias...
Quando decidi contar a sua história no livro A menina Inezita Barroso (Cortez editora, 2011), fiquei sabendo por ela mesma da primeira decepção que teve na vida. Ela era muito jovem, contou-me. E recém casada, pegou um jipe e foi Brasil a fora conhecer o Brasil nas suas minúcias, nos seus detalhes, nas suas contradições, belezas e encantos. Meses depois, e depois de cantar pela primeira vez num teatro, em Recife, voltou à Capital Paulista e apresentou para seus diretores da Rádio Record o resultado de suas andanças pelo nordeste, especialmente. Eram muitas anotações.
“Sabe o que eles me disseram sobre essas pesquisas?”, perguntou-me e antes que eu respondesse qualquer coisa, ela emendou: “Nada, não disseram nada, não deram importância nenhuma e eu achei aquilo um horror, um descaso enorme. Fiquei triste e voltei para casa chorando”.
E sabe o q eu foi que Inezita fez, meu amigo minha amiga? Ela chegou em casa ainda triste chorando muito, sentou-se diante da lareira, ascendeu a lareira e jogou tudo lá dentro.
A história da cultura popular brasileira é, em geral, uma história triste, cheia de tristezas, cheia de decepções. Isso desde sempre. E isso poderia ter acontecido com as pesquisas do herói paulistano, como Inezita, Mário de Andrade (1893-1945). As pesquisas do Mário têm importância até hoje, como importância têm as pesquisas que o carioca Heitor Villa Lobos (1987-1959) fez com relação às cantigas infantis que ele colheu no nordeste, especialmente na Paraíba.
Os pesquisadores, os historiadores que se embrenham no mundo da cultura popular, no Brasil, estão sumindo e sendo substituídos pelo irresponsável Dr. Google.
Muitos acervos têm se perdido nos sebos da vida, ao longo da história. Alguns, muito poucos, têm como destino espaços que empresas da iniciativa privada abrem; outros, bem...
O que será do acervo do Instituto Memória Brasil hein?
O instituto Memória Brasil, IMB, já tem mais de quarenta anos de história. No seu acervo há pelo menos 150 mil itens, incluindo discos de todos os formatos e gêneros etc. etc. etc.
Eu, que o construí, entrevistei milhares de artistas de todos os campos da vida cultural do Brasil. Há muita coisa inédita nesse acervo, incluindo inéditos de Paulo Vanzolini, da própria Inezita, muita coisa, muitas entrevistas com Waldir Azevedo (1923-1980) etc.
Pergunto o óbvio, mas sou mesmo de perguntar: Para onde vão os acervos da cultura brasileira?
 Para lembrar Inezita CLIQUE: 




quarta-feira, 13 de setembro de 2017

AZAR DE QUEM CRÊ NO 13


Prá muita gente, o dia 13 é um dia de azar.
Prá muita gente, o dia 13 é um dia de sorte.
O Brasil perdeu a última Copa, mesmo com Zagallo induzindo os torcedores a comprar televisão nova para acompanhar os jogos. Segundo ele, tevê nova dá sorte. Não deu, engolimos sete frangos da Alemanha, um atrás do outro, um horror! E o sonho de mais um caneco para as prateleiras da Seleção Brasileira foi prá cucuia. Quer dizer, azar e sorte parece ser apenas questão de ponto de vista.
Hoje é dia 13...
O dia 13, sexta feira ou não, já foi cantado e decantado em prosa e verso. 
Foi no dia 13 de maio de 1888 que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, libertando entre aspas, os negros que viviam em regime total de escravidão...
Foi no dia 13 de maio de 1917 que a Virgem Maria apareceu, em Fátima, aos 3 pastorinhos, Francisco, Jacinta e Lúcia. Os irmãos Francisco e Jacinta já viraram santos por iniciativa recente do Papa Francisco. Uma belíssima oração foi composta para lembrara a data, ouça:



Mas vamo lá, 13 é 13.
Essa coisa de azar provocada pelo número 13 vem de longe.
O calendário gregoriano é do século 15, e o 13 está lá.
A fama, mesmo, veio no ano de 1307, quando o rei Filipe 5º, da França, pôs sua força prá cima dos templários. Isso ocorreu no dia 13 de outubro do ano citado. E era uma sexta feira! Foi um horror!
O 13 continua por aí, serelepe.
Hoje o juiz Sérgio Moro ouviu Lula, como réu, pela segunda vez. A primeira foi em maio. Não sei o que vai dar, mas o fato é que Moro é o titular da 13ª Vara do Paraná, e Lula foi quem criou o PT, cujo número que o representa na Justiça Eleitoral é o 13. Mais: na lista dos 100 nomes mais influentes do mundo, publicada pela revista Times, Moro ocupa a 13ª posição.
Enfim, o azar é uma patada na cara de quem acredita nele, é ou não é?
Ah! Zagallo nasceu no mês de agosto, um mês também considerado aziago, e continua dando sorte na vida até hoje. E caso não saiba, saiba: Luiz Gonzaga, o rei do baião nasceu no dia 13 de dezembro de 1912. E deu-nos muita sorte. Ouça:




terça-feira, 12 de setembro de 2017

HOJE É DIA DE VANDRÉ, VIVA VANDRÉ!


“Pois é, 82!”, foi o Geraldo agradecendo pelo telefonema que fiz a pouco, parabenizando-o pelo seu aniversário.
Geraldo Vandré é um dos mais importantes artistas da música brasileira. Bingo! 
Vandré nasceu em São Paulo, mas o seu criador, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias , nasceu na capital paraibana no dia 12 de setembro de 1935. Ele sempre esteve à frente de seu tempo.
Vandré começou a gravar músicas em janeiro de 1961, nos estúdios da extinta RGE. Gravou poucos discos. Cinco LPs, pra ser exato. O último Terras de Bemvirá, na capital francesa. Foram poucas as músicas que gravou, mas muitas delas continuam sendo regravadas dos modos mais diferentes. Caminhando ou Pra não que não falei de flores, foi gravada em vários idiomas e em ritmos que vão do sertanojo ao rap.
A primeira gravação da guarânia Caminhando, feita em estúdio, é do rei do baião Luiz Gonzaga. Isso no mesmo ano em que essa obra foi classificada em segundo lugar do Festival Internacional da Canção, em novembro de 1968.
A primeira gravação de uma música do Vandré foi feita em 1962 pelo extinto e totalmente desconhecido grupo musical Os Bossais. A gravação, em 78 RPM (acima na foto), é da música Quem Quiser Encontrar o Amor, que tem o carioca Carlos Lira como coautor. Essa gravação, raríssima, se acha no acervo do Instituto Memória Brasil, IMB.
Uma curiosidade: Um dia achei num dos alfarrábios de Paris o compacto  La Passion Bresilienne, com músicas de Geraldo Vandré por ele mesmo interpretadas. Esse disco um dia eu mostrei ao Geraldo. Ao vê-lo, Geraldo  pareceu-me transportar-se à França.


Para ele, em sua homenagem, eu e Téo Azevedo compusemos Caminhando com Vandré. CLIQUE:


VANDRE/ JOAN BAEZ

Em março de 2014, eu promovido encontro entre Geraldo Vandré e Joan Baez. Foi um encontro bonito, na capital paulista. A respeito eu escrevi um texto. CLIQUE: http://assisangelo.blogspot.com.br/2014/03/joan-baez-e-vandre-o-encontro.html






domingo, 10 de setembro de 2017

VIVA A IMPRENSA!

Todo dia é dia de algo, de qualquer coisa ou de alguém. Mas pela ordem ou desordem, isso muda, tem mudança. Muitas vezes, inexplicavelmente. Um exemplo?
Até 1999, o Dia Nacional da Imprensa era comemorado no dia 10 de setembro. Mas aí não vem ao caso...
O Dia Nacional da Imprensa é agora comemorado no dia 1º de junho de todos os anos. Por que? Há de se perguntar.
O primeiro jornal publicado no território nacional foi A Gazeta, do Rio de Janeiro. Isso no dia 10 de setembro de 1808. Porém, há sempre um porém, como dizia Plínio Marcos: três meses antes o português Hypólito José da Costa Pereira Furtado de Medeiros lançou, em Londres, o que convencionou-se chamar Jornal Mensal, Correio Braziliense.
O Correio Braziliense não tinha o formato dos jornais convencionais, seja standar ou tabloide, mas , claro, foi de fundamental importância para o que hoje chamamos de jornal, e pela prática, jornalismo.
Hypólito José da Costa, como abreviadamente ficou para a história, deixou sua marca no jornalismo brasileiro. Aliás, o que Hypólito fez a partir de junho de 1908, três meses antes de ir à praça A Gazeta, é algo para aplaudir até hoje. E não aprendemos, pois continuamos, como jornalistas, a ter dificuldade de separar poder e jornalismo.
Hypólito José da Costa Pereira Furtado de Medeiros é tão grande para o jornalismo quanto o seu nome de batismo. O resto é história, e não adianta dizer que ele foi um mero mercador da notícia junto com o poder que emanava de Dom João VI. 
O dia da Imprensa é comemorado hoje no dia 1º de Junho. Foi nesse dia que Hypólito José da Costa levou à praça o primeiro número do Correio Braziliense. Essa publicação durou 14 anos e rendeu 175 números. Hypólito morreu em 1923, com 49 anos de idade. 
A imprensa é fundamental na vida de qualquer país, sem a imprensa, livre como deve ser, o Brasil continuaria na escuridão mortal provocada pela corrupção em todos os níveis.

BRINCANDO COM A HISTÓRIA (54)





quarta-feira, 6 de setembro de 2017

POETAS, POETAS, VIVA OS POETAS!


Eu não sei se a poesia salva o mundo, mas é certo que os poetas tentam.
O Brasil tem grandes poetas, sempre teve. A começar por Gregório de Matos Guerra, baiano, como o outro baiano Castro Alves. O Rio de Janeiro é cheio de poetas, sempre foi. A Paraíba também. É da minha terra, a Paraíba, Augusto dos Anjos. e por aí vai. E nem falei de Carlos Drummond, Ascenço Ferreira, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Cecília Meirelles, Cora Coralina.
Fora o Brasil, Deus foi pródigo ao criar poetas mundo afora: T. S. Eliot, Nicolas Guillén, Luís de Camões, Jorge Luiz Borges...
O português Fernando Pessoa divide até hoje as atenções do mundo, especialmente da crítica literária, sobre quem é ou quem foi o poeta maior da língua portuguesa... Ele ou Camões? O páreo é duro, duríssimo!
O argentino Jorge |Luís Borges, foi sem dúvida, o mais expressivo poeta da sua língua. Pessoa correspondia-se com Borges e com outros poetas de línguas diversas.
Há coisas muito importantes que a gente nem nota. Pessoa é pessoas, somos pessoas. Falamos uma língua que o Marquês de Pombal, português, trouxe prá nossa terra.
Brasil e Portugal tem tudo a ver e tudo a ver com Fernando pessoa e Camões.
Muito cedo, Pessoa perdeu o pai, vítima de tuberculose e a sua mãe o levou à África do Sul, ao casar-se de novo. Foi lá na África, numa cidadezinha chamada Durbam, que ele tomou gosto pela poesia, pela cultura e pela língua inglesa. Durbam era uma colônia inglesa. E isso, um detalhe, foi muito importante para Fernando pessoa, que morreu aos 47 anos de idade (1988-1935). Sem dúvida alguma Fernando pessoa foi uma pessoa simples, sensível e profundamente criativa, tanto que chegou a multiplicar-se em quase 130 heterônimos. Há muito o que dizer sobre poetas, Camões e Pessoa.
É pessoal o que digo: A poesia salva.

JESSIER QUIRINO

Jessier Quirino é um poeta paraibano de Campina Grande. Eu fico meio besta toda vez que o ouço em disco ou na tevê. No rádio não digo porque hoje rádio não gosta do que é bom. Quirino é paraibano como eu, repito. É dessa terra, a paraíba, Augusto dos Anjos. Houve um tempo que era comum os poetas declamarem em público, com mais frequência do que hoje. Houve um tempo em que os poetas deixavam a voz gravada em discos. Começou com Ascenço Ferreira, acho, depois seguiram-se Bandeira, Drummond, Cecília e tantos e tantos, incluindo o ainda entre nós Paulo Bonfim. Do acervo do Instituto Memória Brasil constam mais de 500 discos de poetas declamando seus poemas e poemas de outro poetas. Jessier Quirino, cabra novo e de voz arretada, de pensamento lépido, está vindo para preencher uma lacuna. O disco Paisagem de Interior 1, que acabo de receber do querido amigo Rômulo Nóbrega é muito legal, é muito bonito. Ana, minha filha, também o adorou. Especialmente a faixa Matuto no Cinema. Ah, sim, uma coisinha: eu andei gravando discos, declamando poemas junto com Elba, Zé Ramalho e Jackson Antunes, e quero continuar fazendo, pois poemas não me faltam.



BRINCANDO COM A HISTÓRIA (53)




terça-feira, 5 de setembro de 2017

RICARDO REIS, SARAMAGO E SAÚDE!


Naquela noite Ricardo Reis não estava gripado nem com frio. Dormira bem. E estava à espera Lídia, a serviçal do hotel onde se hospedara ao retornar à Lisboa e por quem acabara por ter um trelelê, sem o conhecimento da jovem Marcenda por quem de fato se apaixonara, sem correspondência, Lídia dele engravidara... De repente para sua surpresa, chega-lhe Fernando Pessoa (1888-1935). Sim, ele mesmo, o grande poeta lisboeta. 
O livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, do português José Saramago (1922-2010), foi publicado em 1984. É um livro fantástico, em todos os sentidos.
Ricardo Reis é um dos muitos e muitos heterônimos de Pessoa, situando-se entre os três mais famosos: Alberto Caieiro e  Alvaro de Campos. O primeiro morreu, acho, lá pras bandas de África e o segundo, nas Europas da vida. Dos três, sobrou apenas Ricardo, o mais intelectual, digamos assim, deles. 
Alberto era, segundo o seu criador, uma pessoa simples, da vida sem muitas exigências, e sem da vida nada esperar, além do trivial.
Álvaro, por tudo que dele se depreende, é o mais complicado. Pessimista, niilista de formação e existência. Muito próximo do seu criador. Tipo alter-ego, cara-metade ou coisa assim. E muito esperto, enrolão, pedia emprestado e não cumpria o compromisso de devolução.
Antes de morrer de cirrose sem nunca ter ingerido álcool (há controvérsias, mas faltam provas), Fernando Pessoa "matou" dois dos seus  três mais famosos heterônimos... Pois bem, sobrou Ricardo que exilara-se no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro de festas mil, em 1919. E aí, aqui Saramago encontrou o ponto de partida para gerar o belíssimo livro que é O Ano da Morte de Ricardo Reis. É lindo! 
Ao tomar conhecimento do passamento para a eternidade do seu criador, Ricardo despacha-se a Portugal. Hospeda-se num hotel etc., gerenciado por um certo Salvador, auxiliado por um certo Pimenta etc. etc. etc. E aí é quando lhe cai à sorte a simplérrima moçoila beirando os trinta, acho, Lídia. Não demora e o trelelê rola, entre ambos, e o final é o seguinte: ... Leiam-no. 

GRAVIDEZ 

Estou grávido de cinco meses. Grávido de saúde, vitalidade, de tudo que é bom. Hoje, exatamente hoje, faz cinco meses que ando pedalando, pedalando e nesse pedalar chegando à terra encantada do Olimpo, onde naturalmente habitam os Deuses da Paraíba, rarara. No registro acima, feito pelo amigo e treinador Anderson Ferreira - nada a Ele, como eu, é da Cia. Life. Ah, sim, ia me esquecendo de um detalhe: nesse período já perdi uns cem gramas e a meta é alcançar o dobro até dezembro.

BRINCANDO COM A HISTÓRIA (52)