Naquela noite Ricardo Reis não estava gripado nem com frio. Dormira bem. E estava à espera Lídia, a serviçal do hotel onde se hospedara ao retornar à Lisboa e por quem acabara por ter um trelelê, sem o conhecimento da jovem Marcenda por quem de fato se apaixonara, sem correspondência, Lídia dele engravidara... De repente para sua surpresa, chega-lhe Fernando Pessoa (1888-1935). Sim, ele mesmo, o grande poeta lisboeta.
O livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, do português José Saramago (1922-2010), foi publicado em 1984. É um livro fantástico, em todos os sentidos.
Ricardo Reis é um dos muitos e muitos heterônimos de Pessoa, situando-se entre os três mais famosos: Alberto Caieiro e Alvaro de Campos. O primeiro morreu, acho, lá pras bandas de África e o segundo, nas Europas da vida. Dos três, sobrou apenas Ricardo, o mais intelectual, digamos assim, deles.
Alberto era, segundo o seu criador, uma pessoa simples, da vida sem muitas exigências, e sem da vida nada esperar, além do trivial.
Álvaro, por tudo que dele se depreende, é o mais complicado. Pessimista, niilista de formação e existência. Muito próximo do seu criador. Tipo alter-ego, cara-metade ou coisa assim. E muito esperto, enrolão, pedia emprestado e não cumpria o compromisso de devolução.
Antes de morrer de cirrose sem nunca ter ingerido álcool (há controvérsias, mas faltam provas), Fernando Pessoa "matou" dois dos seus três mais famosos heterônimos... Pois bem, sobrou Ricardo que exilara-se no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro de festas mil, em 1919. E aí, aqui Saramago encontrou o ponto de partida para gerar o belíssimo livro que é O Ano da Morte de Ricardo Reis. É lindo!
Ao tomar conhecimento do passamento para a eternidade do seu criador, Ricardo despacha-se a Portugal. Hospeda-se num hotel etc., gerenciado por um certo Salvador, auxiliado por um certo Pimenta etc. etc. etc. E aí é quando lhe cai à sorte a simplérrima moçoila beirando os trinta, acho, Lídia. Não demora e o trelelê rola, entre ambos, e o final é o seguinte: ... Leiam-no.
GRAVIDEZ
Estou grávido de cinco meses. Grávido de saúde, vitalidade, de tudo que é bom. Hoje, exatamente hoje, faz cinco meses que ando pedalando, pedalando e nesse pedalar chegando à terra encantada do Olimpo, onde naturalmente habitam os Deuses da Paraíba, rarara. No registro acima, feito pelo amigo e treinador Anderson Ferreira - nada a Ele, como eu, é da Cia. Life. Ah, sim, ia me esquecendo de um detalhe: nesse período já perdi uns cem gramas e a meta é alcançar o dobro até dezembro.
BRINCANDO COM A HISTÓRIA (52)
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