Vandré tem um medo danado da morte, Tinhorão acha graça dela e ainda tira sarro, brinca sacaneia, e faz o mesmo com a velhice, declarando: "Ser velho é uma merda!"
No Livro 1 de A República de Platão Sócrates está deixando a cidade junto com o irmão, Glaucón, quando é interceptado por um escravo que diz querer o seu amo, Polimarcos, que fique. Em resumo: Sócrates atende o pedido de Polimarcos e vai a sua casa, onde encontra o pai do Cefálos, seu amigo, Cefálos passa a falar sobre a velhice e diz não ter saudade dos tempos da juventude. Ele enaltece a idade, a velhice. É um diálogo e tanto.
Tinhorão é um barato. Esse cara nasceu em Santos e foi
batizado com o nome de José Ramos, simplesmente. Meninote, ali pelos 9 anos,
foi morar com os pais no Rio de Janeiro. Cresceu, estudou e fez os cursos de
Direito e Jornalismo. Nos fins da década de 1950, começou a destacar-se
nacionalmente. Nos anos 60 e 70 passou a despertar a atenção de todo mundo. De
Tom Robin inclusive, que o esculhambava. E também de Taiguara, Caetano e outros
medalhões da chamada MPB que chiavam ao ler seus textos. Mas ele tem passado
intacto pelo tempo, pelo menos aparentemente. Agora nesse 7 de fevereiro,
Tinhorão está completando 91 anos de idade. Eitah! Não quer festa, não quer
badalação nenhuma a sua volta. “Esse, pra mim, sempre foi um dia como outro
qualquer”.
No correr da vida profissional, José Ramos Tinhorão publicou
mais de 30 livros e tornou-se o mais importante estudioso da nossa
história musical e de costumes. Talvez escreva ainda um livro sobre a
licenciosidade na poética brasileira, incluindo cordéis. Eu e o amigo Rômulo
Nóbrega estamos enchendo-lhe a paciência nesse sentido. “Se isso acontecer,
será o último”, diz com uma risadinha sacana o velho de guerra Tinhorão.
Elis Regina (1945-1982) gravou música tirando sarro de
Tinhorão, ouça: https://www.youtube.com/watch?v=WdcJqMsuYHU,
o mesmo fez, mais recentemente a Filarmônica de Pasárgada, ouça: https://www.youtube.com/watch?time_continue=55&v=cwi4WIj6mkw.
Quem também apaga velas e come bolinho neste mês, à guisa de
aniversário, é o sambista paulistano Osvaldinho da Cuíca (ai na foto). Ele
nasceu no dia 12 de fevereiro de 1940.
Osvaldinho ganhou o apelido Cuíca por causa do instrumento
que escolheu para tocar a vida. Ele tem grande admiração por Tinhorão. Tanto
que a sua trajetória musical sofreu desvio por influência de Tinhorão.
Gregos e troianos tascaram o pau e, paralelamente,
homenagearam e continuam homenageando Tinhorão. Para a história não ficar
desequilibrada compus um batuque pra o Cuíca. Este:
Em São Paulo tem batuque
Digo e provo, sim senhor!
E muita gente bonita,
Demonstrando seu valor
Osvaldinho da Cuíca
Do pandeiro e do tambor
É um grande ritmista
Do batuque, professor!
Mas pra ele tanto faz
O pandeiro ou o tambor
Importante no batuque
É o que vem da sua cor
O batuque vem de longe
Vem da alma, vem da dor
Vem dos olhos, vem das mãos
E dos pés do dançador
Todo mundo bate palmas
Pra quem é batucador
Quem batuca também dança
Ao som livre do tambor
Osvaldinho da Cuíca
Também é batucador
Ele toca ele encanta
Abraçado a bom tambor
Osvaldinho da Cuíca
Do batuque é professor...
Postagem histórica.
ResponderExcluirMerece estar em um livro.
Carlos Sílvio