José Xavier Cortez e Paulo Freire |
Gente querida tem partido sem se quer dizer adeus. Rapidamente. Fechando os
olhos e pronto.
No começo da madrugada de hoje 24, ali pela 1h30, partiu para a Eternidade
José Antônio Severo. Gaúcho. Amigo querido. Jornalista.
Ali pelas 5 horas de hoje 24 foi juntar-se às estrelas outra pessoa querida:
José Xavier Cortez.
Guardo de Severo e Cortez gratíssimas lembranças, boas risadas.
E é assim, estou me sentindo só. Cada dia mais.
Primeiro foram meus irmãos ainda crianças. Depois a minha mãe e o meu pai.
E assim seguimos, voltando de onde viemos: o Cosmos?
A última vez que falei com
Severo, pessoalmente, foi dia 16 de julho passado. Cá em casa.
A última vez que falei com Cortez, por telefone, foi na tarde de domingo 19
passado. Falamos um monte de coisas, como sempre falávamos. Naquela tarde,
falamos e falamos sobre o educador Paulo Freire. Confira:
Claro que é política a proposta de alfabetização contida no livro Pedagogia do
Oprimido, de Paulo Freire.
O que é que há em comum entre o pernambucano Paulo Freire e o baiano Anísio
Teixeira?
Freire nasceu em 1921 e Teixeira, 21 anos antes. Ambos formaram-se
primeiramente em Direito e só depois tornaram-se educadores.
Teixeira foi o primeiro educador a detectar falhas e necessidades na
alfabetização de jovens e adultos, no nosso País.
Como Teixeira, Freire abandonou a profissão de advogado para continuar no
direito de ensinar para aprender junto aos analfabetos seus alunos.
Em 1963, Paulo Freire pôs em prática um método revolucionário de alfabetização
no município de Angicos, no Rio Grande do Norte, RN.
Naquele ano, conseguiu ensinar as primeiras letras a mais de 300 trabalhadores
da construção civil, que não conseguiam distinguir um “O” de uma roda. Foi
quando os empregadores se arrepiaram, recusando-se a pagar até os direitos
trabalhistas.
Foi esse o “pulo do gato” de Freire ao imaginar e desenvolver o método que
leva o seu nome no Brasil e mundo afora.
Em 1964, Anísio Teixeira foi exilado pelos poderosos de plantão.
Em 1964, Paulo Freire foi exilado pelos poderosos de plantão.
Os poderosos de plantão são personagens que atuam em movimento contrário ao avanço da sociedade moderna, sempre à espreita.
Um povo analfabeto é um povo cego sem luz, sem graça, sem futuro, que precisa de muleta para existir.
Um povo analfabeto e sem futuro é presa fácil de quaisquer poderosos de plantão, ditadores, prepotentes, obscurantistas.
Uma pessoa alfabetizada reconhece com facilidade o mundo em que vive e nele se movimenta com a graça de quem ama a vida.
Uma vez o paulista Monteiro Lobato (1882-1948) disse que “quem ler mais, sabe
mais”.Em 1964, Anísio Teixeira foi exilado pelos poderosos de plantão.
Em 1964, Paulo Freire foi exilado pelos poderosos de plantão.
Os poderosos de plantão são personagens que atuam em movimento contrário ao avanço da sociedade moderna, sempre à espreita.
Um povo analfabeto é um povo cego sem luz, sem graça, sem futuro, que precisa de muleta para existir.
Um povo analfabeto e sem futuro é presa fácil de quaisquer poderosos de plantão, ditadores, prepotentes, obscurantistas.
Uma pessoa alfabetizada reconhece com facilidade o mundo em que vive e nele se movimenta com a graça de quem ama a vida.
Uma vez, há muito tempo, o grego Sócrates à beira da morte teria dito: “Só sei que nada sei”.
No livro A Importância do Ato de Ler, agora na 52ª edição (Cortez Editora), Paulo Freire diz à pág. 66: “Na verdade, para que a afirmação ‘quem sabe ensina a quem não sabe’ se recupere de seu caráter autoritário, é preciso que quem sabe saiba sobretudo que ninguém sabe tudo e que ninguém tudo ignora. O educador, como quem sabe, precisa reconhecer, primeiro, nos educandos em processo de saber mais, os sujeitos, com ele, deste processo e não pacientes acomodados; segundo, reconhecer que o conhecimento não é um dado aí, algo imobilizado, concluído, terminado, a ser transferido por quem o adquiriu a quem não o possui”.
Atualmente, o Brasil tem cerca de 11 milhões de analfabetos completos. Fora isso, é incontável o número de analfabetos funcionais. Esses são aqueles que aprenderam o bê-á-bá mecanicamente, sem raciocinar, na base da decoreba.
O método Paulo Freire é importante, muito importante, por identificar esse caminho errado. Ou seja, não basta decorar o bê-á-bá, é preciso interpretar o bê-á-bá.
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, afirma Freire na palestra que proferiu no Congresso Brasileiro de Leitura, realizado no dia 12 de novembro de 1981, em Campinas (SP).
O analfabeto é analfabeto por não saber ler nem escrever, mas não é analfabeto no mundo real em que vive. Pois nesse mundo, o seu mundo, ele distingue facilmente os códigos que o rodeiam. Portanto, nesse caso, o bê-á-bá pouco acrescenta ao sujeito em questão.
Sabe aquela história de o caipira ou o matuto falar errado?
“A primeira vez que mantive contato com Paulo Freire, foi por telefone. Ele se
achava na Suíça ou na Suécia, não lembro bem. Propus-lhe editar seu livro
Pedagogia do Oprimido. Mas ele respondeu que já tinha editora, a Paz e Terra”,
lembrou o potiguar José Xavier Cortez. “Isso foi pouco antes de ele voltar do
exílio”, acrescentou.
No decorrer do tempo, Cortez e Paulo Freire tornaram-se amigos. “Antes de A
Importância do Ato de Ler publiquei Educação e Atualidade Brasileira,
Pedagogia: Diálogo e Conflito e Paulo Freire: Uma Bibliografia”, relembra
Cortez.
Enquanto publicava livros pela Cortez, Paulo Freire publicava artigos na
revista Educação e Sociedade. Essa revista era resultado de uma parceria entre
a editora Cortez e a Unicamp.
A gratidão que o educador pernambucano tinha pelo editor potiguar fica
explícita nesta declaração: “Se o país tiver sensibilidade, reconhecimento,
amor e o sentimento do agradecimento corajoso e leal, Cortez vai virar nome de
instituição no País todo. Tenho Cortez como editor e também como amigo”.
Cortez já virou nome de escola: Escola Estadual José Xavier Cortez, no extremo
sul da Capital paulista.
Anísio Teixeira envolveu-se com a educação desde muito cedo.
Em 1931, já figura de destaque no campo da Educação, Anísio assinou o
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.Corria o governo Vargas. O ministro
era Capanema e seu chefe de gabinete, Carlos Drummond.
Esse manifesto, assinado por 26 educadores e intelectuais como Cecília
Meirelles, não agradou o governo Vargas. O tempo passou e muita água correu
sob a ponte.
O resto é história.
Anísio Spínola Teixeira nasceu no ano de 1900 e morreu em março de 1971, isto
é: há 50 anos.
Paulo Reglus Neves Freire morreu em 1997 e nasceu no dia 19 de setembro de
1921, ou seja: há 100 anos.
A educação deve muito a esses dois brasileiros.
O cantor e compositor paraibano Chico César compôs e cantou, no ritmo de aboio, isso aqui:
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