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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

FURO: UMA PRÁTICA SALUTAR DO BOM JORNALISMO

O atual presidente da República botou o Brasil de pernas pro ar, isto é: de bunda pro mundo, que ri tirando sarro da gente. Pena.
Enquanto isso, pesquisas de opinião indicam que os poderes Legislativo e Judiciário estão em baixa.
O ocupante da cadeira mais disputada do País, aquele, continua com o propósito irresponsável de destruir tudo. As instituições, inclusive.
O presidente mente, mente e mente.
O exército de milicianos a serviço do presidente tem se incumbido de assassinar a verdade, via internet. Todo dia, sistematicamente.
As chamadas fake news são uma praga óbvia.
As fake news corroem os pilares da Democracia. Fato.
Mesmo com todas as dificuldades possíveis, jornais e jornalistas continuam firmes no propósito de bem informar o público leitor.
São muitos os furos de reportagem que a Imprensa tem feio nos últimos dois anos e meio.
A Imprensa não desiste.
Os jornais Folha, Estadão, Globo e Valor Econômico têm trazido à tona verdades escondidas as sete chaves nos gabinetes palacianos.
Talvez nem todos os jornalistas em início de carreira saibam direito o que é um furo jornalístico. Compreensível.
No jornalismo há notícia, notícia de primeira mão, reportagem e reportagem especial.
Notícia é um fato noticiado em poucas linhas.
Notícia de primeira mão é a notícia exclusiva, digamos assim.
Reportagem é o detalhamento de uma notícia.
Reportagem especial é uma reportagem escrita de modo detalhado. Extraído de um fato histórico, por exemplo.
Furo?
Bom, um furo jornalístico é aquele que o repórter dá com exclusividade, detalhadamente.
Não à toa, bons repórteres são geralmente bons furões. Fotógrafos, inclusive, como Gil Passarelli (1917-1999), Milton Soares e Jorge Araújo. De textos, os repórteres: José Hamilton Ribeiro, Caco Barcellos, Ricardo Kotscho, Marcos Sá Correa, Valmir Salaro, Fabiana Moraes, Daniela Arbex, Patrícia Campos Mello…
Patrícia, da Folha, foi recentemente vítima daquele a quem chamo de Cramunhão. E aqui nem vou lembrar da história, pois demais lamentável. Baixaria.
A rádio CBN, a Globo News e a TV Globo também têm apresentado grandes furos, muitos deles oriundos do Ministério da Saúde. Um cancro.
Furo de reportagem é furo de reportagem, existe desde quando a Imprensa ganhou forma e passou a conquistar leitores e ouvintes/telespectadores.
João do Rio, criador da reportagem como tal conhecemos, foi o primeiro a dar furos em jornais do Rio, RJ.
O Repórter Esso, que teve em Heron Domingues (1924-1974) a sua marca, deu belos furos no que podemos chamar de jornalismo radiofônico. A renúncia de Getúlio, por exemplo, no dia 29 de agosto de 1945:

O Repórter Esso, que tinha como slogan “Testemunha Ocular da História”, estreou no Brasil há 80 anos: 28 de agosto de 1941, na Rádio Nacional.
Esse programa já existia nos EUA desde 1935.
Para melhor ilustrar essa história, peço licença à quem me acompanha neste espaço para dizer que também assinei belos furos.

No final dos anos de 1970, escrevi longa e detalhada reportagem sobre o Esquadrão da Morte. Entrevistei os assassinos Fleury, Fininho, Ze Guarda e Correinha.
Essa reportagem era pra ser publicada na Folha, mas o editor Bóris Casoy não fez o que deveria fazer: publicá-la.
Em decorrência disso, essa reportagem terminou ganhando capa do semanário Pasquim e mais 6 páginas internas, ilustrada por Nássara e outros bambas do cartum brasileiro.
Choveram ameaças de morte, mas cá estou a contar o que fiz.
No dia 13 de setembro de 1987, o Estadão deu em manchete de primeira página entrevista que fiz com o porta-voz da presidência da República. À época Frota Neto. Entre outras coisas, Neto contou-me que o deputado presidente da Câmara Ulysses Guimarães (1916-1992) não deixava o presidente Sarney governar. A consequência disso foi a queda do porta-voz.
Em 1983, dei “segundo clichê” seguido de reportagem completa sobre um duplo linchamento ocorrido numa região de Ribeirão Pires, SP. Repercutiu no Brasil e no Exterior.
No campo de variedades, não custa lembrar, a primeira entrevista que o cantor e compositor Geraldo Vandré me deu depois de mais de 5 anos fora do Brasil.
Essa entrevista foi publicada no extinto Folhetim, da Folha de S.Paulo.
E dei muitos outros furos, não só na Folha e no Estadão, jornais em que ocupei cargo de chefe de reportagem da editoria de política.
Muitos furos de reportagem chegaram às telas de cinema, como Todos os Homens do Presidente.
Esse filme, de 1976, foi baseado nas reportagens de Bob Woodward e Carl Bernstein, do The Washington Post.
O furo de Woodward e Bernstein levou à renúncia do presidente dos EUA, Richard Nixon.
O resto é história.
Fica o registro.

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