Oswaldo de Camargo |
Muitos autores do século 19 tomaram a escravatura como tema. E até hoje, como Oswaldo de Camargo.
Camargo tem um livro de importância fundamental para entender a questão negritude: Negro Disfarce (2020).
Nesse livro, o autor põe em questão os conflitos entre pretos. Benedito e Deodato são os personagens centrais.
Outros livros importantes de Oswaldo são A Razão da Chama (1986) e O Negro Escrito (1987).
Entre 1975 e 1979, Oswaldo de Camargo foi um dos responsáveis do caderno Afro-Latino-América, ao lado de Hamilton Cardoso e Neusa Pereira.
Esse caderno, de importantíssima existência, integrou o periódico Versus, editado pelo gaúcho Marcos Faerman (1943-1999).
Ainda há muitas publicações direcionadas ao público afro, no Brasil. Entre essas se acha Raça Brasil, lançado em setembro de 1996.
O jornalista Oswaldo Faustino foi um dos editores dessa revista, que chegou a vender nas bancas cerca de 300 mil exemplares/mês.
Faustino, junto com a também jornalista Celma Nunes e o ator, cantor e maestro Estevão Maya Maya (1943-2021), editou na virada dos anos 70 o micro jornal Chama Negra. “Foi uma ótima experiência essa que tivemos ali entre 1979 e 1980. Nossa luta contra o racismo e em prol da inclusão social continua”, diz.
Faustino, além de jornalista, é autor de uma dúzia de livros sobre a negritude. Entre esses A Luz de Luiz e Ah! Se Eu Pudesse Voar.
A Luz de Luiz conta a história romanceada do baiano Luiz Gonzaga Pinto da Gama, que assinava textos para jornais sob o pseudônimo de Afro, Getulino e Barrabás.
O livro Ah! Se Eu Pudesse Voar, resume o autor: “É sobre um jovem carnavalesco campeão, com uma história de vida periférica e repleta de tragédias, decide criar um enredo para uma escola de samba sobre o sonho humano de voar. Para realizar suas pesquisas, viaja à África, Berço da Humanidade, em busca das origens do ser humano, suas histórias, seus sonhos e de si próprio.”
E outros sonhos há na história deste livro e noutros livros de Oswaldo Faustino.
Em 2010, o jornalista e fotógrafo Nabor Jr. tomou para si o desafio de relançar O Menelick.
Em 2015, O Menelick 2º Ato teve lembrado o seu lançamento em edição especial. Nessa edição, Nabor escreveu:
Apesar das facilidades do mundo virtual registradas nas primeiras décadas do século 21 com o início da popularização da internet, a imprensa negra impressa, ou escrita, por sua vez, segue sobrevivendo com dificuldades financeiras e estruturais. Nada muito diferente das fases iniciais que marcaram a sua trajetória ainda no final do século 19.
Em São Paulo, tirando algumas revistas e jornais que dedicam com certa regularidade edições ou seções especiais sobre o universo negro em suas páginas, como as revistas Fórum, Caros Amigos e Rebosteio, por exemplo, as revistas O Menelick 2° Ato, Raça Brasil, Crioula, Tribuna Afro Brasileira e a recém lançada revista Legítima Defesa, idealizada pelos atores Sidney Santiago e Lucelia Sergio da cia. Os Crespos, são as poucas iniciativas da Imprensa Negra Paulista que buscam manter a chama desta imprensa acesa no Estado.
Francisco de Paula Brito, pelos traços de Fausto Bergocce |
Audálio, descobridor de Maria Carolina de Jesus (1914-1977) para a literatura nacional, era o superintendente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, IMESP. Na apresentação do livro, cujo projeto original visava a republicação de todos os periódicos relacionados ao público afro, escreveu à guisa de apresentação que a chamada Imprensa negra foi “persistente, heróica”.
Francisco de Paula Brito dedicou-se completamente a essa questão, a questão negra. Morreu como nasceu, pobre e cheio de dívidas que a mulher, Rufina Rodrigues Costas, pagou o quanto pode a quem devia.
Sobre Paula Brito, escreveu Machado de Assis no jornal Diário do Rio de Janeiro, edição de 24 de dezembro de 1861, após a sua morte:
Paula Brito foi um exemplo raro e bom. Tinha fé nas suas crenças políticas, acreditava sinceramente nos resultados da aplicação delas; tolerante, não fazia injustiça aos seus adversários; sincero, nunca transigiu com eles.Nesse ano, 1861, nascia no atual estado de Santa Catarina, o poeta simbolista Cruz e Sousa.
Era também amigo, era, sobretudo, amigo.
Amava a mocidade, porque sabia que ela é a esperança da pátria, e, porque a amava estendia-lhe quanto podia a sua proteção.
Em vez de morrer, deixando uma fortuna, que o podia, morreu pobre como vivera graças ao largo emprego que dava às suas rendas e ao sentimento generoso que o levava na divisão do que auferia do seu trabalho.
Nestes tempos de egoísmo e cálculo, deve-se chorar a perda de homens que, como Paula Brito, sobressaem na massa comum dos homens.
Sousa lutou a vida toda pela sua liberdade e pela liberdade dos negros brasileiros. E escreveu:
De dentro da senzala escura e lamacenta
aonde o infeliz
de lágrimas em fel, de ódio se alimenta
tornando meretriz
A alma que ele tinha, ovante, imaculada
alegre e sem rancor;
porém que foi aos poucos sendo transformada
aos vivos do estertor...
De dentro da senzala
aonde o crime é rei, e a dor — crânios abala
em ímpeto ferino;
Não pode sair, não,
um homem de trabalho, um senso, uma razão...
e sim, um assassino!
(Senzala de Cruz e Sousa)
Em 1885, em Santa Catarina, Cruz e Sousa lançou o jornal O Moleque.
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Esse texto foi originalmente escrito para o Newsletter Jornalistas & Cia. Já os conhece? Confira: Jornalistas&Cia, especial Perfil Racial da Imprensa Brasileira
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