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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

SÃO PAULO EM PROSA, VERSO E MÚSICA (10)

São Paulo, poema de Paulo Vanzolini

Nesta minha cidade de São Paulo, 
Neste meu berço, nesta minha arena, 
Eu sou, na noite, uma espécie de poeta das menores e mais fáceis 
Que sai sem rumo e volta sem destino 
Traçando o chão por força do costume e não faltando no braço ao dia a dia. 
Na noite entrante, nas peludas asas da morcega madrugada 
Sobrevoo meu chão, num giro míope, cada vez mais certo 
Na segurança de encontrar sem pressa minha minúcia, meu detalhe, meu flagrante 
O ponto fino de contato e entendimento que é reforço de umbigo e de semente 
Que me marca sem dúvida e que me dá certeza da noite e da manhã de mim. 
Neste meu berço, nesta minha arena, neste meu chão, 
 Nesta minha cidade de São Paulo
 
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Praça da Sé, forró de Durval Souto

A Praça da Sé 
É a praça do povo 
Todo domingo 
É um domingo novo
 
É comedor de gilete
Engulindo fogo 
Cobra venenosa 
Serve de remédio 
Mas a vida dessa gente 
Não se resume num prédio 
Sanfoneiro perdido tocando forró 
Bilheteiro vendendo a idade da avó 

São tantas as esperanças 
Que a vida se trai São tantas as esperanças 
Que a vida é maior 
Pra quem veio com a ilusão de ser engenheiro 
De repente olha a caixa eu sou biscateiro 
Mas meu orgulho de raça 
Olha a sorte que eu tive
 Estou é fazendo um curso de detetive 
Vou escrever para minha mãe 

Que sou importante 
Mas aqui peguei peso como um elefante 
Não vejo a hora de regressar 
Pois tomei consciência vou pro meu lugar 

A Praça da Sé 
 É a praça do povo 
Todo domingo 
É um domingo novo
 
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A Briosa Colônia Nordestina em São Paulo, mote decassílabo Sebastião Marinho e Andorinha

Zona Sul, zona Norte, Leste, Oeste 
Do Tucuruvi a Jabaquara 
Guaianazes a Lapa, Vila Iara 
Em qualquer direção São Paulo investe
A chegada do povo do Nordeste 
Transformou a metrópole da bandeira 
A maior do Brasil e a primeira 
De toda a América Latina 
A briosa colônia nordestina 
Fez São Paulo crescer dessa maneira

Osasco, Guarulhos, Arujá, 
Carapicuíba, Itapevi 
São Bernardo, Poá, Barueri,
Santo André, Diadema e Mauá
Cubatão, Bertioga a Guarujá 
Toda Santos, a região praieira 
Da serra do mar na Cantateira 
A grande São Paulo nos fascina 
A briosa colônia nordestina 
Fez São Paulo crescer dessa maneira

Paulistano da gema come angu 
Vatapá e jabá com gerimum 
Casquinha e pirão de guaiamum 
Xerém tapioca e bijou 
Buchada pirão de aratu 
E sarapatel com macaxeira
Bobó de galinha capoeira 
Carne seca e moqueca de corvina 
A briosa colônia nordestina 
Fez São Paulo crescer dessa maneira

São milhões e milhões de paulistanos 
Divididos em filhos cearenses 
Piauenses, maranhenses 
Pernambucanos, alagoanos 
Potiguares, baianos 
Sergipanos e paraibanos de primeira 
E a megalópole brasileira 
Galopante para o mundo descortina
A briosa colônia nordestina 
Fez São Paulo crescer dessa maneira

São Paulo já tem aboiador 
Forrozeiro nos clubes e shows nas praças
Restaurantes e bares têm cachaças 
Pratos típicos do nosso interior 
Cordelista, coquista, embolador 
Mês inteiro.no parque, praça, feira 
Cantador repentista e rezadeira 
Mamulengo e forró em toda esquina 
A briosa colônia nordestina 
Fez São Paulo crescer dessa maneira

Do Nordeste em São Paulo tem pedreiro
Faxineiros, políticos, cientistas 
Empresários, juristas, jornalistas 
Militares, artistas, engenheiros 
Zeladores, vigias, cozinheiros
Obstetras, doméstica e enfermeira 
Professores de química e capoeira 
Português, matemática e medicina.
A briosa colônia nordestina 
Fez São Paulo crescer dessa maneira
 
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Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, poema de Téo Azevedo

Faculdade de Direito 
Do largo de São Francisco 
Lhe decanto com a viola 
Canção que eu gravei num disco 
Eu relembro seu passado 
No dia onze de agosto 
Quando você foi criada 
Deu São Paulo um fino gosto 
Convento de São Francisco 
Sua oficial morada 
E no estilo barroco 
Você foi edificada 
Lembro de José Arouche 
Seu primeiro diretor 
E na arte do Direito 
Você é mestre e doutor 
Falo de Ademar Brotero 
Que foi o primeiro lente 
E lá no curral dos bichos 
Se encontrava muita gente
O nemine discrepante 
Era o grau de bacharel 
Os Gerais ficou marcado 
Nesse ponto tão fiel 
Manuel Dias Toledo 
O tempo não esqueceu 
E capelo, recebeu 
E o Teixeira de Freitas 
Também foi o seu filho
Leis civis com muito brilho 
No edifício de taipa 
Que foi o velho convento 
Franciscanos, jesuítas 
Do direito um lenimento 
Repúblicas de estudantes 
De todo lugar do mundo 
O Ensaio Filosófico 
E o Ateneu profundo 
Da nossa independência 
E também abolição 
Seu papel foi importante 
Para o bem dessa nação 
O Julio Frank e a Bucha 
Acadêmicos das Arcadas 
Encontros Misteriosos 
Iam até nas madrugadas
Eu lembro filhos ilustres 
O querido Rui Barbosa 
E também Joaquim Nabuco 
Castro Alves verso e prosa 
O Álvares de Azevedo 
E o Fagundes Varela 
Maria Augusta Saraiva
Uma mulher muito bela 
Viva Monteiro Lobato 
Viva Oswald de Andrade 
E o Menotti Del Picchia 
O Paulo Eiró, que saudade 
Salve Olavo Bilac 
E o José de Alencar 
Pois são tantos vultos juntos 
Que não dá para contar 
Viva o Centro Acadêmico
De idade tem cem anos 
Dia onze de agosto 
A pindura tá nos planos
Salve o território livre 
Piqui, piqui e meia hora
No direito de ir e vir 
É que o rá-tchim-bum chora
 
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São Paulo Antigo, moda campeira
Caetano Erba/Cacique

Lendo um livro de um velho amigo 
Meu São Paulo antigo pude rever 
Histórias concretas, gravuras pintadas 
Muito bem narradas no meu entender
 No Beco dos Barbas, caminho dos homens
Que hoje seu nome é “porto geral” 
Tamanduateí, caminho dos barcos
 Foi o grande marco na era imperial. 

Quem viveu nos Campos Guaré 
Que hoje, então, é o bairro da Luz 
Não são fantasias que faz o poeta
 São coisas concretas que a história traduz 
A igreja da Sé com suas torres quadradas
 Uma obra arrojada no estilo imperial 
Mil e novecentos, pois foi demolida 
Para ser erguida a nova catedral. 

Tanque no zuniga hoje é o Paissandu
 Ladeira do Açú, hoje é a São João 
E no Martinelli mudou-se bastante 
Esquina importante no Café Brandão. 
Lá no Ouvidor, seu nome era assim 
Largo do Capim no tempo que foi 
Lugar que passavam gente da roça 
Charretes, carroças e carros de boi. 

Seresta se ouvia pela noite adentro 
Nas ruas do centro à luz do lampião 
Nasceu outro centro do lado de lá 
Viaduto do Chá fez a ligação 
Saudade ficou do velho bondinho
 E novo caminho aqui se implantou 
Os trilhos montados subterrâneo 
E o paulistano já tem o metrô.

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