Geograficamente, o Brasil está muito bem localizado. Além do mais, a nossa proximidade (e parentesco) com o índio e o negro africano possibilitaram uma salutar mistura de culturas. Como se não bastasse, ainda há o fator colonizador.
No passado, fomos invadidos pela Espanha, Inglaterra e Holanda, depois de Portugal. O chafurdo foi grande. Em tempos mais recentes, especialmente depois da Primeira Guerra, os norte-americanos passaram a nos mandar bobagens e bobagens, que fomos ora deglutindo, ora armazenando para um possível aproveitamento.
Por acolher muito bem os visitantes de todos os recantos, o Brasil passou a assimilar comportamentos e expressões bastante interessantes. De Portugal herdamos a língua e boa parte da cultura, como a cantoria e o cordel. Da França, Itália, Alemanha, Inglaterra e Japão temos assimilado costumes e hábitos alimentares. Entre outras coisas, a África, por exemplo, nos deu a receita da feijoada. Hoje, até as cozinhas árabes e chinesas já nos são familiares. Isso nos levou a formar uma identidade sem similar, embora ainda sejamos uma nação relativamente nova.
Bom, o português que hoje falamos é completamente diferente do português falado em Portugal. Inclusive o sotaque. Por isso, acho que já é hora de se discutir com seriedade o fala do nosso povo, o nosso falar, como fez João Ribeiro em 1933, ao lançar o livro A Língua Nacional. Treze anos antes, Amadeu Amaral entrara no assunto ao publicar O Dialeto Caipira, rico e interessantíssimo estudo feito à luz da ciência, que em edição posterior ganharia maior brilho com notas assinadas por Paulo Duarte (em 1944, um dos livros de Duarte, Língua Brasileira, editado em Lisboa, foi proibido em todo o território português, por obra e mando do Estado Novo de lá).
O tema é tão estimulante que já em 1853 surgia, em Portugal, o primeiro Dicionário Brasileiro, de Braz da Costa Rubim, com o propósito de ensinar (ou esclarecer) aos portugueses o português então falado no Brasil. Trinta anos depois, o filósofo Leite de Vasconcelos também publicava uma obra abordando o mesmo assunto, intitulada Dialeto Brasileiro, em que reconhecia as rápidas transformações por que passava a língua portuguesa no Brasil. Em 1940, foi a vez de o estudioso Edgard Sanches tentar provar com a+b a existência de uma língua genuinamente brasileira, num livro que deu o título de A Língua Brasileira.
Está na hora, pois, de retomar o debate. Enfim, o brasileiro fala brasileiro ou português?
Antes, muito antes do Descobrimento, a língua que se falava por aqui era a língua geral, isto é, o guarani, mas em 1727 Portugal decidiu proibir o uso dessa língua, por entender que o português estava se descaracterizando, donde conclui-se que os absurdos não tem idade nem época para se concretizarem.
Curiosidade: até o século XVIII, falava-se no Brasil duas vezes mais o guarani que o português. Isso é história, está nos compêndios.
Antes de Portugal virar o país que é, não havia a língua portuguesa. A propósito Portugal era apenas um condado fincado na Península Ibérica. Estava ali pertinho da Espanha.
À época, e estamos falando do tempo antigo, os romanos imperavam na região.O Império Romano dominou a região onde se acha hoje Portugal durante séculos.
Houve muita briga lá na Península.
Como os romanos, os árabes também botaram pra quebrar.
O idioma falado pelos romanos era o Latim.
Havia o latim culto e o latim inculto, o popular, o vulgar.
Foi do latim vulgar que o idioma português surgiu.
Na verdade, outras línguas e dialetos também tiveram influência na formação da dessa língua. A principal influência, diga-se de passagem, foi o galego-português.
Àquela altura Portugal já tinha vida própria.
Importante lembrar que um dos reis que mais força deram à língua portuguesa foi Dom Dinis I, o sexto rei de Portugal, que viveu entre 1261 e 1325.
Dom Dinis, que reinou entre 1279 e 1325, era chegado às artes populares. Dizem que tocava até viola ou coisa parecida. Seus súditos o chamavam de Rei Trovador.
Um dia Dom Dinis se achava no porto observando a movimentação de embarcações. Estranhou ao não identificar nenhuma embarcação com a chancela ou bandeira do seu país. Quis saber a razão, perguntando a um de seus conselheiros. A resposta foi mais ou menos esta: “Não temos madeira especial para construir embarcações”.
Ao deixar o porto, dom Dinis já tomara a decisão de iniciar a plantação de árvores apropriadas para construir navios e tal. Dez anos passados, Portugal já tinha o mar e rios cheios de embarcações.
Outra de dom Dinis: insatisfeito por ouvir seu povo falar em latim enviesado, decidiu oficializar o português corrente.
Tempos depois, mais precisamente em 1536, surgia a primeira gramática ensinando como falar a língua adotada por dom Dinis. O autor dessa façanha foi o padre Fernão de Oliveira (1507-1581).
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