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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (43)

Como vai o Lampa?, perguntei. "Quem esteve ontem no hospital acompanhando os movimentos dos médicos entorno de Lampa foi o Mané", disse Zoião. Zé acrescentou: "A gente continua se revezando no hospital". E Jão: "O cabra tá ruim. A situação dele não é boa, não". Eu, coçando o queixo: Hmmm... Ele continua desacordado? "Sim, infelizmente Lampa continua desacordado e respirando através de máquinas", informou Biu. 
A situação de Lampa está péssima, como péssima está a situação do Brasil. Bom pessoal, torçamos pelo bem de Lampa. Torçamos pelo bem do nosso País. Quero aproveitar o momento para apresentar a vocês o colega jornalista Manoel Dorneles e o maestro Júlio Medaglia.
"Muito bom, muito bom! O Dorneles tem a ver com o presidente Vargas?", perguntou Barrica. E Zilidoro: "Prazer, prazer. É um prazer conhecer pessoalmente o maestro Júlio Medaglia. Eu o conheço só através do rádio e da televisão. Sou fã de carteirinha do maestro".
"Obrigado, Zilidoro. Eu também já ouvi falar muito a seu respeito. O Assis me fala muito de você", disse o maestro Medaglia.
"Eu perguntei mas não ouvi a resposta sobre se o jornalista Dorneles tem alguma ligação familiar com o presidente Getúlio Vargas", cobrou Barrica.
Manoel Dorneles sorriu e agradeceu a cobrança feita pelo botão Barrica. E disse: "Diretamente, não. Mas indiretamente, quem sabe, há algum elo entre nós".
O jeito de falar de Dornelles arrancou risadas entre os botões.
Zoião, o mais à vontade, lembrou que domingo 2 é dia de o Brasil mudar para melhor: "O Coiso que está aboletado na cadeira de presidente afunhenhou o nosso País. O Brasil tá no buraco! O Brasil não aguenta mais o Coiso. O lugar do Coiso é a caixa-prego, o inferno, lugar de onde nunca deveria ter saído!".
Diante do desabafo de Zoião, o polido Zilidoro emendou: "Do jeito que as coisas andam, estamos todos chegando ao fim. Zoião tem razão, o Brasil está afunhenhado!".
Pra tudo tem remédio. Existem remédio pra tudo quanto é doença. Sim, o Brasil está doente. E não tem essa de procurar terceira via. Não dá tempo. A gente bota o Lula lá e o Haddad cá, em São Paulo. No Senado a gente bota o Aldo Rebelo, na Câmara federal o Alfredinho... "Pra Estadual a gente bota a Najara...", interrompeu Biu. Perguntei: Quem é Najara? E ele: "Najara é uma professora muito simples, moradora do município de Taboão da Serra". Hmmm... "O professor de história Marco Antônio Villa é candidato a deputado federal, o sinhô gosta dele seu Assis?", perguntou Jão.
"Domingo 2 é dia de votação e vamos votar muito bem. O nosso povo está ligado e sofrendo muito com tudo que ora se passa no País. Aliás hoje depois das 10 da noite vai haver um debate na Globo reunindo  um monte de trolhas, incluindo o cafajeste que ora ocupa a cadeira mais importante da empresa Brasil. Lula estará lá. E, nós também", disse Zilidoro acrescentando: "E um detalhe curioso,  de acordo com o calendário católico, domingo dia 2 é o Dia dos Anjos da Guarda. E hoje 29 é o Dia dos Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel. Mas o que eu quero dizer é o seguinte: li no jornal, vi na Internet, ouvi no rádio e tv muita gente falando de um certo senhor que acaba de completar 70 anos de idade. Esse certo senhor tem um nome: Assis Angelo. Li textos muito bonitos a seu respeito. Textos, por exemplo, escritos pelos jornalistas Flávio Tiné e Fernando Coelho". E sem pedir licença, em voz alta começou a ler o texto do Coelho:
 
Assis Angelo é meu compadre. Não foram poucas as nossas viagens a tantas pautas da vida. É o maior especialista da atualidade em todas as músicas do Brasil. Desconheço quem conheça música popular brasileira mais do que ele. Repórter aguçado e completo. Trabalhamos juntos na Tv Globo. Acordei o inoxidável jornalista dezenas de vezes, quando ele comandava a assessoria de imprensa do Metrô de São Paulo, e ele nunca faltou com explicações sobre problemas no sistema. Estivemos juntos, em 1978, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, quando Lula assumiu a presidência, naquela histórica greve que mudou o olhar brasileiro sobre o trabalho nas fábricas. Eu, pela Rádio Globo, ele, pela Folha de S. Paulo. Cantamos juntos com Nélson Cavaquinho numa tarde enrugada de frio, no Hotel Jaraguá, centro de São Paulo. Depois de vários goles no cafofo do bar Mutamba. Fomos buscar o rouco Nélson, de outra feita, na Toca da Angélica, atrasado que o poeta estava para o show com Clementina de Jesus na Sala Funarte, em Sampa. Assis me apresentou para o inesquecível Patativa do Assaré. Não consigo somar em quantos botecos deixamos uma prosa carregada de nordestinidade. Acho que Geraldo Magela, do Consulado Mineiro, tem um diário das nossas frugais bebedeiras crepusculares naquelas mesas consagradas ao sabor das Geraes. Gonzagão, o Lua, amigo do Assis, ganhou uma biografia sensível, o maestro Carlos Gomes, também. O apartamento do Assis é um arquivo vivo de discos, partituras e sabedoria musical. O único espaço disponível, ele dorme, num catre de vigor, esperança e largo sorriso paraibano. Cego há alguns anos, por precipitação insana do destino, Assis Angelo enxerga a alma do mundo. Éramos amigos inseparáveis de Audálio Dantas, o encantador de coragem na resistência à ditadura militar. Por concessão deles, sou amigo dele e do monumental poeta e jornalista José Nêumanne Pinto, ambos da Paraíba. Assis é uma enciclopédia de vida, e, por falta de espaço, escrevi um bilhete de amor ao amigo de décadas. Parabéns, velho.
 
Zilidoro, você me deixa encabulado dizendo essas coisas todas. Acudindo-me na hora certa falou o maestro Júlio Medaglia: "Bobagem, Assis. Bobagem. Eu já passei por isso. Estou na casa dos 80. Estou sabendo que o cartunista Fausto também está adentrando na casa dos 70. Você está com ótimas companhias nessa casa. Você vai ver, vai ter tempo suficiente pra saber quem mora nessa casa. A minha casa, a de 80, mora o querido Geraldo Vandré. Mora muita gente boa. É bom morar na casa dos 70, dos 80...".
"Elogio faz bem à saúde. Geralmente os elogios são mentirosos mas como tais, verdadeiros", filosofou a meu favor o amigo Manoel Dorneles.
Agradeci a Júlio e a Manoel pelas palavras de incentivo e dei por encerrada a nossa conversa.
"E o Lampa, quando é que o sinhô vai visitá-lo?", perguntou Barrica. Amanhã, respondi. "Eu andei fazendo umas continhas, seu Assis. O sinhô acaba de viver 840 meses, 3.650 semanas e mais de 25.000 dias. Pois é, setentão!", disse o botão Zé,  se levantando da cadeira. Palmas.
Pra me deixar ainda mais encabulado, o botão Zé inventou de dizer que entre os amigos que foram me abraçar pelo aniversário estava o alagoano Aldo Rebelo, que cantou de improviso junto com o poeta repentista Sebastião Marinho. E o vídeo, a prova do crime, ele exibiu. Este:

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