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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

JOSÉ NÊUMANNE HOMENAGEIA BOLDRIN NUM POEMA

Assis e José Nêumanne, numa noite de autógrafos

José Nêumanne Pinto é paraibano da terra de Erundina, Uiraúna, cidade localizada a 476km da capital João Pessoa. Fica ali no Alto Sertão. Zé Nêumanne, como os amigos o chamam, é jornalista dos bons e poeta excepcional. Tem vários livros. Em 1999 eu e Zé Ramalho gravamos num CD (capa ao lado) um poema dele: Desafio de Viola Repentina e Guitarra Cética (ouvir abaixo).
O próximo livro de José Nêumanne, Antes de Atravessar (Ibis Libris), trará um poema muito bonito que ele fez em homenagem ao amigo cantor, compositor e ator Rolando Boldrin. Não deu tempo para o homenageado ouvir o poema do Zé, Mas os leitores deste Blog têm agora essa oportunidade. Foi o autor que nos mandou:

SR. BRASIL, PRAZER E PENA
O Brasil é isso aí mesmo, Fernando Henrique Cardoso para João Moreira Salles

O Brasil é isso aí:
munganga de sagüi,
muqueca de siri,
delícia de abacaxi
e licor de pequi.
O Brasil é isso mesmo:
um índio a esmo,
um negro forro,
tutu com torresmo.
O Brasil é isso:
um enguiço,
chouriço,
espinho de ouriço,
ex-voto e feitiço,
uma flor em pleno viço.
Tem bê de bola,
bunda rebola,
bê de Boldrin,
banzo de branco,
ordem no tranco
e progresso pra banco,
muleta de manco.
Erre de rói couro,
a rota do ouro,
erre de Rolando
e Rolando Lero,
de rato e rei,
duplo em errei.
Parece que acabou
e nem sequer começou.
A de Alagoas e Alagados,
A de açude,
vício e virtude.
Esse só de sol e sal,
de safo e sacana,
mas sobretudo de sacripanta
mesmo esse de santa.
Esse de sonho
bom ou medonho.
I de inocente,
como parece a nossa gente,
de ilusão e injúria,
de ignara incúria
e ingênua luxúria,
nosso importuno infortúnio.
Ele de lenga-lenga,
leve e molenga,
também de lama,
um lindo drama.
Ele de lado,
o lado bê da fama.
Ele de Lampião,
lutas e loas
no mar do sertão.
Ele de ladrão,
pelo menos algum há.
Ele de louco,
cada um tem um pouco.
Ele de luz,
Axé, Jesus.
Sr. Brasil, prazer e pena,
ele é fugaz,
ela é pequena.
Torno ao degredo,
nunca fui sério.
Morro de medo,
vivo um mistério.
Levo um segredo
pro cemitério.
Sr Brasil, pena e prazer:
a pena é capital,
e o prazer, mortal.

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