São Paulo, poema de Paulo Vanzolini
Nesta minha cidade de São Paulo,
Neste meu berço, nesta minha arena,
Eu sou, na noite, uma espécie de poeta das menores e mais fáceis
Que sai sem rumo e volta sem destino
Traçando o chão por força do costume e não faltando no braço ao dia a dia.
Na noite entrante, nas peludas asas da morcega madrugada
Sobrevoo meu chão, num giro míope, cada vez mais certo
Na segurança de encontrar sem pressa minha minúcia, meu detalhe, meu
flagrante
O ponto fino de contato e entendimento que é reforço de umbigo e de semente
Que me marca sem dúvida e que me dá certeza da noite e da manhã de mim.
Neste meu berço, nesta minha arena, neste meu chão,
Nesta minha cidade de São Paulo
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Praça da Sé, forró de Durval Souto
A Praça da Sé
É a praça do povo
Todo domingo
É um domingo novo
É comedor de gilete
Engulindo fogo
Cobra venenosa
Serve de remédio
Mas a vida dessa gente
Não se resume num prédio
Sanfoneiro perdido tocando forró
Bilheteiro vendendo a idade da avó
São tantas as esperanças
Que a vida se trai
São tantas as esperanças
Que a vida é maior
Pra quem veio com a ilusão de ser
engenheiro
De repente olha a caixa eu sou
biscateiro
Mas meu orgulho de raça
Olha a sorte que eu tive
Estou é fazendo um curso de
detetive
Vou escrever para minha mãe
Que sou importante
Mas aqui peguei peso como um
elefante
Não vejo a hora de regressar
Pois tomei consciência vou pro meu
lugar
A Praça da Sé
É a praça do povo
Todo domingo
É um domingo novo
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A Briosa Colônia Nordestina em São Paulo, mote decassílabo
Sebastião Marinho e Andorinha
Zona Sul, zona Norte, Leste, Oeste
Do Tucuruvi a Jabaquara
Guaianazes a Lapa, Vila Iara
Em qualquer direção São Paulo investe
A chegada do povo do Nordeste
Transformou a metrópole da bandeira
A maior do Brasil e a primeira
De toda a América Latina
A briosa colônia nordestina
Fez São Paulo crescer dessa maneira
Osasco, Guarulhos, Arujá,
Carapicuíba, Itapevi
São Bernardo, Poá, Barueri,
Santo André, Diadema e Mauá
Cubatão, Bertioga a Guarujá
Toda Santos, a região praieira
Da serra do mar na Cantateira
A grande São Paulo nos fascina
A briosa colônia nordestina
Fez São Paulo crescer dessa maneira
Paulistano da gema come angu
Vatapá e jabá com gerimum
Casquinha e pirão de guaiamum
Xerém tapioca e bijou
Buchada pirão de aratu
E sarapatel com macaxeira
Bobó de galinha capoeira
Carne seca e moqueca de corvina
A briosa colônia nordestina
Fez São Paulo crescer dessa maneira
São milhões e milhões de paulistanos
Divididos em filhos cearenses
Piauenses, maranhenses
Pernambucanos, alagoanos
Potiguares, baianos
Sergipanos e paraibanos de primeira
E a megalópole brasileira
Galopante para o mundo descortina
A briosa colônia nordestina
Fez São Paulo crescer dessa maneira
São Paulo já tem aboiador
Forrozeiro nos clubes e shows nas
praças
Restaurantes e bares têm cachaças
Pratos típicos do nosso interior
Cordelista, coquista, embolador
Mês inteiro.no parque, praça, feira
Cantador repentista e rezadeira
Mamulengo e forró em toda esquina
A briosa colônia nordestina
Fez São Paulo crescer dessa maneira
Do Nordeste em São Paulo tem pedreiro
Faxineiros, políticos, cientistas
Empresários, juristas, jornalistas
Militares, artistas, engenheiros
Zeladores, vigias, cozinheiros
Obstetras, doméstica e enfermeira
Professores de química e capoeira
Português, matemática e medicina.
A briosa colônia nordestina
Fez São Paulo crescer dessa maneira
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Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, poema de Téo Azevedo
Do largo de São Francisco
Lhe decanto com a viola
Canção que eu gravei num disco
Eu relembro seu passado
No dia onze de agosto
Quando você foi criada
Deu São Paulo um fino gosto
Convento de São Francisco
Sua oficial morada
E no estilo barroco
Você foi edificada
Lembro de José Arouche
Seu primeiro diretor
E na arte do Direito
Você é mestre e doutor
Falo de Ademar Brotero
Que foi o primeiro lente
E lá no curral dos bichos
Se encontrava muita gente
O nemine discrepante
Era o grau de bacharel
Os Gerais ficou marcado
Nesse ponto tão fiel
Manuel Dias Toledo
O tempo não esqueceu
E capelo, recebeu
E o Teixeira de Freitas
Também foi o seu filho
Leis civis com muito brilho
No edifício de taipa
Que foi o velho convento
Franciscanos, jesuítas
Do direito um lenimento
Repúblicas de estudantes
De todo lugar do mundo
O Ensaio Filosófico
E o Ateneu profundo
Da nossa independência
E também abolição
Seu papel foi importante
Para o bem dessa nação
O Julio Frank e a Bucha
Acadêmicos das Arcadas
Encontros Misteriosos
Iam até nas madrugadas
Eu lembro filhos ilustres
O querido Rui Barbosa
E também Joaquim Nabuco
Castro Alves verso e prosa
O Álvares de Azevedo
E o Fagundes Varela
Maria Augusta Saraiva
Uma mulher muito bela
Viva Monteiro Lobato
Viva Oswald de Andrade
E o Menotti Del Picchia
O Paulo Eiró, que saudade
Salve Olavo Bilac
E o José de Alencar
Pois são tantos vultos juntos
Que não dá para contar
Viva o Centro Acadêmico
De idade tem cem anos
Dia onze de agosto
A pindura tá nos planos
Salve o território livre
Piqui, piqui e meia hora
No direito de ir e vir
É que o rá-tchim-bum chora
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São Paulo Antigo, moda campeira
Caetano Erba/Cacique
Lendo um livro de um velho amigo
Meu São Paulo antigo pude rever
Histórias concretas, gravuras
pintadas
Muito bem narradas no meu entender
No Beco dos Barbas, caminho dos
homens
Que hoje seu nome é “porto geral”
Tamanduateí, caminho dos barcos
Foi o grande marco na era imperial.
Quem viveu nos Campos Guaré
Que hoje, então, é o bairro da Luz
Não são fantasias que faz o poeta
São coisas concretas que a história
traduz
A igreja da Sé com suas torres
quadradas
Uma obra arrojada no estilo imperial
Mil e novecentos, pois foi demolida
Para ser erguida a nova catedral.
Tanque no zuniga hoje é o Paissandu
Ladeira do Açú, hoje é a São João
E no Martinelli mudou-se bastante
Esquina importante no Café Brandão.
Lá no Ouvidor, seu nome era assim
Largo do Capim no tempo que foi
Lugar que passavam gente da roça
Charretes, carroças e carros de
boi.
Seresta se ouvia pela noite adentro
Nas ruas do centro à luz do lampião
Nasceu outro centro do lado de lá
Viaduto do Chá fez a ligação
Saudade ficou do velho bondinho
E novo caminho aqui se implantou
Os trilhos montados subterrâneo
E o paulistano já tem o metrô.