Ilustração de Fausto Bergocce |
Livros sobre Líbero Badaró |
Era noite e era sábado.
Uma lua bonitona Cheia, pendurada no céu, espraiava seus raios alumiando os logradouros até então existentes. Naquele tempo, as poucas ruas da Capital da província eram muito mal iluminadas. Havia, apenas, 24 lampiões espalhados nas ruas, becos e vielas.
O vento frio, primaveril, batia na cara dos transeuntes que se atreviam a permanecer mais tempo fora de casa, insones.
Em seguida ao tiro, ouviram-se um “Ai!” e o barulho de passos apressados de pessoas que fugiam. Eram três homens, aparentemente de origem alemã.
O estudante Emiliano Fagundes Varella, do curso de Direito do Largo de São Francisco, foi a primeira pessoa a acudir a vítima. Colegas seus o seguiram e logo descobriram que o atingido pelo disparo de arma de fogo era Giovanni Battista Libero Badaró, médico e jornalista fundador e principal redator do jornal bissemanal O Observador Constitucional, de linha política liberal.
Badaró, muito querido pelos estudantes, foi atingido à queima roupa a altura do baixo ventre. E desabou num baque surdo, esvaindo-se em sangue.
Ainda na cena do crime, a vítima conseguiu dizer que lembrava-se de três alemães.
Essa é a história que se lê nos poucos livros escritos a respeito, até agora.
Essa também é uma história que começa em 1826 quando Libero Badaró chega ao Rio de Janeiro procedente da Itália, onde nasceu. Tinha 28 anos. Seu desejo era ampliar conhecimentos no campo da Botânica, especialmente. Estudara em Turim, Bolonha e Gênova.
Era alto e usava óculos redondos, de muitos graus.
De família bastarda, tinha tudo e muito mais do que alguém pudesse desejar.
O pai, Andrea, foi médico e amante das letras. Lia muito, sua biblioteca era enorme. No Rio, o jovem Badaró logo fez amizade com os intelectuais do naipe de Evaristo da Veiga (1799-1837).
Evaristo foi fundador e editor do jornal Aurora Fluminense.
Badaró era muito comunicativo. Falava fluentemente, além da língua mãe, francês e inglês. Em pouco tempo, dominou o português e no começo de 1828 trocou o Rio por São Paulo, à época com cerca de 20 mil habitantes.
Em São Paulo conhece e hospeda-se na casa do baiano José da Costa Carvalho (1796-1860), fundador do jornal O Farol Paulistano.
O Farol, de linha liberal inaugurado no dia 7 de fevereiro de 1827, foi o primeiro jornal da Capital da província de São Paulo. Durou até o final da primeira parte de 1832.
Em suma, diga-se com todas as letras: foi um baiano o criador da Imprensa de São Paulo.
Já em casa, levado pelos estudantes, Badaró morreria 24 horas depois do atentado. Mas insistia: sabia que os desconhecidos que o atacaram eram alemães, pois falavam essa língua.