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domingo, 24 de abril de 2022

ONHONHA, CARNAVAL E COISA E TAL (2, FINAL)

Assis Angelo com diversas
obras sobre o Carnaval

Pelo menos 50 blocos deverão sair pelas ruas da Capital paulista, sem especificar o roteiro.
No Rio vários blocos também prometem sair, mesmo sem a autorização da Prefeitura. Mas o prefeito, Eduardo Paes, garante que não vai sair por aí correndo atrás de folião.
Cordões e blocos ainda pululam por aí. Mais blocos.
Em 2019, no extremo sul da Capital paulista, surgiu o Cordão das Amoxtradas. Esse Cordão reúne mulheres e a sua fundadora, a cantora e produtora musical mineira Fatel Barbosa, explica: “Já estava mais do que na hora de as mulheres se juntarem para brincar o Carnaval, num Cordão especialmente pra nós. E cá estamos”.
A primeira vez que o Cordão das Amoxtradas saiu foi em 2020. Saiu também, discretamente, em 2021. E agora, em 2022, promete botar pra quebrar. “Vamos arrasar, mas acho importante seguir a programação da prefeitura de São Paulo. A Prefeitura está programando a saída dos blocos em julho. Importante, até porque precisamos do incentivo financeiro do Governo municipal”, diz Fatel.
Neste ano de 2022 o Cordão das Amoxtradas sairá às ruas com a marcha Carolina Maria de Jesus: Uma Amoxtrada sem Parelha, de Fatel e Rosa Morena (ouvir, abaixo).

Vera Eunice (filha da homenageada, Carolina Maria de Jesus)em destaque no Cordão das Amoxtradas

 
Fatel Barbosa com o estandarte
do Cordão das Amoxtradas

Carolina Maria de Jesus nasceu em Minas Gerais e morreu em São Paulo.
Para a literatura nacional, Carolina foi descoberta pelo jornalista alagoano Audálio Dantas.
Há um movimento silencioso, quase silencioso, em movimento para apagar o nome de Audálio. Inexplicável.
Carnaval é uma expressão originária do latim “carnem levare” que significa “afastar-se da carne”, segundo a Enciclopédia Larousse. E segundo o dicionário Houaiss “fixa-se no italiano Carnevale (séc. 14) e daí no francês Carneval (1552), Carnaval (1680), passando às demais línguas europeias ainda no século 17”. E por aí vai. Meio incongruência, porque é o período em que mais há junção de corpos. A ausência da carne, no caso na mesa, fica por conta da Igreja. Páscoa.
É difícil falar da história do Carnaval sem falar dos grandes sambistas, grandes intérpretes da nossa música como Donga, Almirante, Noel Rosa, Pixinguinha…No Carnaval tudo é liberado, incluindo críticas ao poder estabelecido. E aos costumes, ao dia a dia.
Em 1921, no Rio, Pixinguinha saiu às ruas vestido de mulher. Uma graça.
Pixinguinha vestido de mulher,
o segundo da esquerda pra direita

Anos depois, ali pela metade dos anos de 1950, um anônimo fez o que Pixinguinha fez: vestiu-se de mulher e o resultado, lamentavelmente, foi o linxamento do anônimo folião.
Onde isso ocorreu?
Em João Pessoa, PB.
Pois é, há muitas histórias tristes no que deveriam ser só histórias alegres. O carnaval é, em tese, só alegria.
Não posso encerrar este texto sem falar da presença feminina na chamada “música de Carnaval”.
Em 1969, a carioca Carmélia Alves e o paulista Geraldo Filme gravaram pelo extinto selo Chantecler o LP Sambas Enredo das Escolas de Samba de São Paulo. Foi o primeiro, no gênero, gravado por uma cantora e um cantor.
O Carnaval brasileiro é conhecido em todo o mundo. Muitos discos têm sido lançados na França, Alemanha, Itália, em todo o canto. Como a mostra, não custa lembrar do compacto duplo (45 RPM) Carnaval Brasilien. No repertório, Adoniran Barbosa interpretando seu personagem Charutinho.
A propósito, a escola de samba Dragões da Real apresenta neste ano de 22 o samba enredo Adoniran.
Beleza!
Viva o Carnaval e vá de retro Covid-19!

E DE LAMBUJA, LEIA: J&CIA Especial: Memória da Cultura Popular, nº 10NEGAR, NÃO NEGO: FOI BOM PULAR NO CARNAVAL