Em 1968, o cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré já proclamava na sua famosa guarânia Pra Não Dizer que Não Falei de Flores:
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não…Em 1988, a atual Constituição brasileira já garantia, no seu art. 5º que:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...
Noutras palavras: é livre o ir e vir, movimento esse garantido firmemente pela Constituição. Infelizmente na prática, porém, isso não ocorre 100% como deveria ocorrer.
A população brasileira já passa dos 200 milhões de habitantes. Mais mulheres.
O número de desempregados, no nosso País, já passa de 11 milhões de pessoas.
No seu art. 6º, garante a Constituição:
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados…
Números divulgados pelo IBGE em 2019 indicavam que mais de 13 milhões de brasileiros viviam na pobreza.
Números que acabam de ser divulgados pelo próprio IBGE mostram que só na Capital paulista há mais de 600 mil famílias vivendo com apenas R$105/mês.
A desigualdade entre pretos e brancos, entre brasileiros enfim, continua de modo crescente.
As pessoas que estão aptas para trabalhar, não acham emprego. Imaginemos, agora, as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, embora aptas para o trabalho, o que devem fazer para sobreviver no seu dia a dia.
Há no jornal e revista poucos profissionais portadores de deficiência em atividade. No rádio, menos ainda.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), colhidos em 2010, indicam que pelo menos 24% da população brasileira sofre de algum tipo de limitação. Diz a pesquisa:
Quase 46 milhões de brasileiros declararam ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou possuir deficiência mental / intelectual (…) A deficiência visual estava presente em 3,4% da população brasileira; a deficiência motora em 2,3%; deficiência auditiva em 1,1%; e a deficiência mental/intelectual em 1,4%...
Em 2013, eu perdi a visão dos olhos.
Geraldo Nunes, em registro Geraldo Nunes da Silva, perdeu os movimentos dos membros inferiores ainda no tempo de criança.
Geraldo Nunes, paulistano da gema, entra para a história do jornalismo brasileiro como o primeiro “repórter-aéreo” portador de deficiência física provocada pela poliomielite. E também como o primeiro repórter a mostrar e a traduzir os encantos da Capital paulista no plano de cima pra baixo. Lembra:
“Fui o primeiro a falar de Memória Afetiva no rádio, através do programa São Paulo de Todos os Tempos (Eldorado) que permaneceu no ar durante 14 anos, entre 1994 e 2008”.
Corriam os últimos anos do século 20 quando Nunes foi convidado a integrar o quadro profissional de repórteres da Eldorado, emissora que fazia e ainda faz parte do grupo Estadão.
Antes de passar pela Eldorado, Geraldo Nunes passou pelas rádios Capital, Bandeirantes e Pan.
Para a rádio Bandeirantes, Nunes chegou a transmitir boletins diretamente do Aeroporto Internacional de Guarulhos, SP, onde pegou gosto por avião. Num desses boletins ele registrou a transferência do presidente-eleito, Tancredo Neves, de Brasília para São Paulo onde morreria no dia 21 de abril de 1985.
Os primeiros voos desse repórter levaram à chancela da rádio Eldorado. Conta: “Quando a Rádio Eldorado me convidou, em 1989, para ser o repórter-aéreo aceitei de imediato pelo prazer de voar e ao longo do tempo incorporei em meus boletins de trânsito, curiosidades históricas sobre os bairros e ruas de São Paulo o que tornou meu trabalho diferenciado dos demais repórteres da área. Desde então me especializei nas atividades voltadas à pesquisa histórica e aos assuntos ligados à memória paulista e brasileira”.