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domingo, 5 de fevereiro de 2023

YANOMAMI: UMA TRAGÉDIA PROGRAMADA

O processo de extermínio contra os indígenas originários do Brasil não é de hoje. Data dos tempos em que europeus por cá desembarcaram. Os primeiros desembarques ocorreram na costa baiana. O ano era 1500.
Diz a história que havia entre dois milhões a cinco milhões de indígenas divididos em pelo menos 1.000 grupos. O maior desses grupos carregava consigo a alma e a língua tupi-guarani.
A Amazônia brasileira é a maior floresta tropical do mundo. A parte que nos toca chega a 4,1 milhões de Km².
Não custa lembrar que a Amazônia fica ao Norte do nosso país. Essa região é ocupada por sete Estados. Além do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A Amazônia está dividida em duas partes: Ocidental e Oriental.
A Amazônia Ocidental é constituída por quatro Estados: Acre, Rondônia, Roraima e, naturalmente, o Amazonas.
Roraima é o Estado onde se acha a maior parte dos Yanomami.
O povo Yanomami foi um dos últimos a manter contato com o homem branco que o está dizimando, ali pela virada do século 19. São cerca de 30.000 indígenas. O seu território, de cerca de 9,6 milhões de hectares, está nas mãos de garimpeiros, madeireiros, narco-traficantes e de outros criminosos, inclusive engravatados com plantão diário em gabinetes da Câmara, Senado e palácios. Noutras palavras: os Yanomami estão abandonados e morrendo de fome, de gripe, de malária e de outras mazelas. Já não caçam, não pescam e nem plantam, pois a terra está contaminada e as águas dos rios envenenadas. Quem bebe adoece e morre que nem os peixes.
A situação atual dos Yanomami é uma verdadeira tragédia. Trata-se de omissão do Estado. Tudo indica que houve plano para pôr fim à vida dos Yanomami. Isso é genocídio.
O crime contra os Yanomami vem de longe, mas foi no governo Bolsonaro (2019-2022) que tudo piorou.
A gravidade do problema ganhou repercussão internacional com a visita do presidente Lula à Roraima, no sábado 21. Isso a partir de reportagem de Eliane Brum, segundo a qual 572 crianças do grupo Yanomami morreram vítimas de desnutrição, malária etc. Um horror!
Na contramão da imprensa estrangeira, a nossa imprensa não tem dado destaque necessário à tragédia Yanomami. O Estadão e o Globo até que têm falado. A Folha, com mais força. A TV Globo, também. Menos mal.
Lenda indígena dá conta de que as árvores sustentam o céu, mas se derrubadas o céu desaba sobre nossas cabeças.
Em 2010 o xamã e líder indígena Davi Kopenawa narrou histórias ao antropólogo francês Bruce Albert, que escreveu o livro A Queda do Céu, lançado primeiramente em francês.
Em 1990, Gianfranco Bolonha reuniu textos de 13 especialistas sobre a questão ambiental no livro Amazônia Adeus.
Livro que também merece atenção é Índios no Brasil, organizado por Luís Donisete Benzi Grupioni.
Na nossa literatura os indígenas aparecem como heróis, mas um tanto subordinados a brancos europeus. Caso de Peri, personalizado num índio da tribo Guarani que se apaixona por Ceci, moça de fino trato e filha de um poderoso português de nome dom Antônio de Mariz.
Ceci e Peri passeiam com desenvoltura nas páginas do romance O Guarany, de José de Alencar. Esse romance, originalmente publicado na forma de folhetim nas páginas do jornal Diário do Rio de Janeiro, virou livro em 1857.
Em 1870 o maestro Carlos Gomes levou o Guarany à cena na maior casa de ópera da Itália: alla Scala, de Milão.
Além de Alencar, outros grandes escritores viram nos indígenas objeto de suas histórias. Exemplos: Bernardo Guimarães, Mário de Andrade, Antonio Callado, Darci Ribeiro.
Bernardo Guimarães, autor do clássico A Escrava Isaura, publicou em 1872 o conto Jupira, que ganharia o palco como ópera em 1900 no Rio de Janeiro. O maestro Francisco Braga (1868-1945), autor da melodia do Hino à Bandeira (letra de Olavo Bilac), foi o regente da história criada por Guimarães.
A questão indígena se acha em todo canto, literalmente. Até em samba de enredo e em marchinha de carnaval.
Em 1959 o maestro Villa-Lobos compôs a belíssima peça Forest of The Amazon. Gravada nos EUA, obteve sucesso mundial.
Dalgas Frisch foi a primeira pessoa a gravar trinados de pássaros da Amazônia, inclusive do uirapuru. Suas gravações viraram discos elogiados pela imprensa internacional e até pelo presidente norte-americano John Kennedy (1917-1963).
A fotógrafa Claudia Andujar inaugura nessa sexta-feira 3/2 exposição sobre os Yanomami, em Nova York. Claudia tem dedicado boa parte da sua vida registrando o dia a dia Yanomami.
A Polícia Federal está investigando os responsáveis por mais essa tragédia indígena.

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Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora.
Ilustrações por Fausto Bergocce.

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