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segunda-feira, 15 de maio de 2023

ÓPERA POLITICAMENTE CORRETA

Acompanhei tudo através de audiodescrição
A tomada e exploração das terras indígenas é fato que perdura até hoje, desde o começo do século 16.
O romance O Guarani, do cearense José de Alencar, tem como enredo a história envolvendo o guarani Peri e a branca Cecí, filha de um poderoso português que se instala na mata para dela se apossar. Tem espanhol na área. O pau canta.
Na história de Alencar, publicada originalmente em 1857, consta a bravura dos aimorés, também chamados de botocudos.
Os aimorés eram antropófagos e contra eles foi declarada guerra até pelo imperador Dom João VI, no mesmo ano em que chegou ao Brasil, em 1808.
É de cunho romântico a história de José de Alencar e como tal permanece na nova encenação que tem como palco o Theatro Municipal de São Paulo. Claro, isso não dava pra mudar. Não dá pra mudar. Houve adaptação em vários pontos da história, que pela primeira vez foi levada à cena no teatro Ala Scala de Milão, em 1870, com libreto assinado pelo italiano Antonio Scalvini. A nova encenação traz a chancela do jornalista e escritor ambientalista Ailton Krenak, autor do livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo.
A intervenção de Krenak no original de Carlos Gomes podemos classificar como "politicamente correto". Mas não dá pra falar de alienação ou má fé de José de Alencar e do maestro Carlos Gomes, pois culturalmente o Brasil estava ainda criando sua identidade.
A obra de José de Alencar tinha por fundo tocar o coração dos apaixonados. Isso na metade do século 19. De lá pra cá muita coisa mudou no Brasil e no mundo. Com isso quero dizer que são bem-vindas as intervenções de Krenak. Noto, porém, que houve exagero nisso. O real, no caso, chega a se sobrepor ao lirismo cunhado por Alencar e Gomes.
A última pesquisa do IBGE, de 2010, dá conta de que havia menos de 1 milhão de indígenas falando 274 línguas em pouco mais de 300 etnias.
A nação guarani é formada aproximadamente por 50 mil indígenas, distribuídos em São Paulo, Rio e mais cinco ou seis Estados.
A nação aimoré praticamente não existe desde 1911, ano que foi coincidentemente inaugurado o Theatro Municipal de São Paulo.
A nação guajajara, formada por cerca de 25 mil pessoas está presente na atual versão, talvez com apresentada da ópera O Guarani, talvez em homenagem à ministra dos Povos Indígenas.
Esteticamente e politicamente, a ópera O Guarani na sua versão atual é muito bonita.
É louvável que os indígenas tenham encontrado na obra O Guarani caminho para fortalecer denúncias contra a invasão e exploração de suas terras por criminosos. 

PS: Quero deixar aqui meus agradecimentos aos profissionais que formam integram o projeto Ver com Palavras representados nas pessoas de Marina, Angela e Priscila. 
 
Ficha técnica da atual versão de O Guarani:

Roberto Minczuk, direção musical
Ailton Krenak, concepção geral
Cibele Forjaz, direção cênica
Denilson Baniwa, codireção artística e cenografia
Simone Mina, codireção artística, cenografia e figurino
Livio Tragtenberg, assistente musical

Ligiana Costa, dramaturgismo
Aline Santini, design de luz
Vic von Poser, design de vídeo
João Malatian, assistente de direção

David Vera Popygua Ju, Peri (ator)
Zahy Tentehar
, Ceci (atriz)

Solistas dias 12, 14, 17 e 20
Atalla Ayan, Peri
Nadine Koutcher, Ceci
Rodrigo Esteves, Gonzales

Solistas dias 13, 16 e 19
Enrique Bravo, Peri
Débora Faustino, Ceci
David Marcondes, Gonzales

Elenco único (todas as récitas)
Lício Bruno, Cacique
Andrey Mira, Don Antonio
Guilherme Moreira, Don Alvaro
Carlos Eduardo Santos, Ruy
Orlando Marcos, Pedro
Gustavo Lassen, Alonso

Corifeus
Luaa Gabanini
Raoni Garcia
Augusto Ortale Trainotti

ORQUESTRA E CORO GUARANI DO JARAGUÁ KYRE’Y KUERY
AVAKUE (Homens): Naldo Karai, Claudio Vera, Adilson Vera, Lourival Tupã, Lenilson Karai, Jovelino Karai, Dario Tataendy, Guilherme Vera Mirim, Joaci Karai, Felipe Vera, Juca Kuaray, Messias Karai, Pedrinho Karai, Juscelino Karai KUNHANGUE (Mulheres): Jaqueline Jaxuka, Silvana Ara, Priscila Para, Marines Poty, Patricia Kerexu, Layne Jera, Marilda Yva, Maricela Yva, Ciara Ara


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