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domingo, 15 de outubro de 2023

PROFESSOR COME O PÃO DO DIABO

Atenção eu vou pedir

Que me ouça por favor 

Tenho muito o que dizer 

De aluno e professor 


Professor faz o que pode 

Ensinando sem parar

Pois quer ver o seu aluno

De ano em ano passar


De nada sou exemplo 

Mas não me custa contar

Que coisa boa na vida

É aprender pra ensinar 


É pouco dizer que é pífia a educação no Brasil. 

Entra governo sai governo e a situação, no campo da educação, piora que nem a cantiga da perua. Numa nota só e, ainda assim, inaudível.

A pandemia da Covid-19 matou muita gente mundo agora e atrofiou a mente já lerda daqueles que foram escolhidos para governar o País.

Estamos retroagindo é certo, dando um passo pra frente e quinze pra trás. 

Tem aumentado de modo estratosférico a tal educação à distância (EAD).  Esse negócio, pois é negócio mesmo, aumentou uns 500, 600 ou sei lá quanto por cento. Só sei que é uma vergonha!

Essa tal educação está crescendo que nem fermento em pão de padaria. Em miúdos: são milhões de formandos no campo da graduação à distância. Pode?

Com meus botões, penso que daqui a pouquíssimo tempo teremos doutores analfabetos. Já temos, mas vai crescer horrores. 

Fico imaginando pedagogos ensinando o que não sabem a quem nada de nada sabe bulhufas.

Também fico imaginando um advogado analfabeto, sem conhecimento de leis, defendendo um cidadão acusado sei lá do quê!

E os futuros administradores, hein?

Poi bem, esses são os cursos mais concorridos nas faculdades de garagens, de balcões, pois é nesses ambientes que muitos futuros profissionais podem estar começando e terminando suas graduações. 

As mensalidades para essas graduações variam de uns 30 a uns 200 reais.

Enquanto isso profissionais formados anos atrás, depois de muito pastar nas bancas de verdade, estão comendo o pão que o diabo amassa nos fornos do inferno. Isto é: ganham 20 merrecas por hora. Ao fim do mês, no bolso uns 2 paus. 

Isso tudo sem falar na violência física que os professores sofrem.

Se isso não for o fundo do poço da educação no Brasil, não sei o que é fundo nem fim de nada. Falência?

Bom, jornalista também é um ser ferrado. Aposentado então...

Não é à toa que o Brasil se acha em 52° lugar no ranking mundial da Educação, atrás de países do Oriente Médio como Egito, Irã e Jordânia. 

E atenção: em 1963, no governo João Goulart, foi aprovado por congressistas o Dia do Professor: 15 de outubro. 

Diante do exposto, pergunto: tem o professor brasileiro a comemorar o quê no seu dia?


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (47)

Tinhorão não cita, mas é do século 18 uma das raríssimas reedições do livro Sonetos Luxuriosos do italiano Pietro Aretino. Era bocudo, obsceno até a medula. Por esse caminho foi muito mais longe do
que o nosso baiano Gregório de Matos e Guerra. Para lembrá-lo, não custa:
Diverti-me ... escrevendo os sonetos que podeis ver ... sob cada pintura. A indecente memória deles, eu a dedico a todos os hipócritas, pois não tenho mais paciência para as suas mesquinhas censuras, para o seu sujo costume de dizer aos olhos que não podem ver o que mais os deleita.
O livro Sonetos Luxuriosos, traduzido para o português pelo poeta paulista de Taquaritinga José Paulo Paes (1926-1998), é um bom começo para um mergulho no pensamento e obra do debochado e desbocado italiano Pietro Aretino (1492-1556).
José Ramos Tinhorão dedicou-se abertamente à pesquisas sobre as origens da música popular brasileira, mas isso não o impediu de cavucar outros temas. Escreveu e publicou 29 livros. O 30° livro poderia ter sido sobre encontros e desencontros provocados pelos impulsos sexuais. Gostava disso e se interessava por tudo que tivesse no meio um quê de sacanagem.
Eu achava graça quando Tinhorão usava termos como putaria, safadeza, libertinagem e hipocrisia. "Somos hipócritas! Qual é o homem que não deseja levar para a cama uma mulher bonita e sensual?"
Mais de uma vez lembrei que a licenciosidade se acha em todo canto, até na literatura de cordel e nos quadrinhos. E conversa vai conversa vem, apresentei-lhe um amigo que poderia contribuir nessa questão. Esse amigo, Rômulo Nóbrega, passou a mandar-lhe folhetos de sacanagem. "O Tinhorão foi um cara surpreendente", diz Rômulo.
O encontro de Tinhorão com Rômulo aconteceu na tarde de agosto de 2017, na capital Paulista. Desse encontro participou também o cartunista Fausto. Houve um momento que Fausto sacou seu celular e mostrou um monte de fotos e vídeos eróticos. Tinhorão: "Qual é o homem que não gosta disso?".

Sempre alçando voos mais altos, me incumbiu de garimpar cordéis que abordassem o tema da  sacanagem, da putaria, em alto estilo, e assim caí em campo nas cidades fontes dessa literatura nos estados do Nordeste.
Conheci Tinhorão num prazeroso encontro na casa do jornalista Assis Ângelo em São Paulo, quando fui presenteado com um de seus livros, ao mesmo tempo em que recebi comentários sobre a edição da  biografia do compositor Rosil Cavalcanti feita por mim. O tema já vinha sendo abordado há anos por Tinhorão de forma suave, quando publicamente era quase que proibido se falar em putaria, em sacanagem, em sexo explícito, a menos nos famosos “catecismos” elaborados por Carlos Zéfiro −  pseudônimo, mais tarde descoberto, de Alcides Caminha −, vendidos a sete chaves.
Tinhorão, especialista em análise musical, daria um verdadeiro furo com o tema em pauta, o que não era estranho nem novidade para um jornalista do seu quilate.
- Rômulo Nóbrega
Em algumas entrevistas que deu ao completar 90 anos, José Ramos Tinhorão chegou a dizer que desejava encerrar sua bibliografia com um livro que tratasse do interesse de todos pelo sexo.
À pergunta sobre quantos livros tinha publicado e se havia algum em andamento, Tinhorão respondeu a Wilson Baroncelli, editor do newsletter Jornalistas&Cia:

"Não sei de cabeça, acho que uns 30. O mais recente foi um ensaio biográfico sobre Ismael Silva. Não sei se vou escrever mais algum. Estou em fim de vida (risos). Se fizer não será sobre MPB, pois esta não existe mais. Tenho pesquisado, juntado material sobre literatura erótica, livros proibidos. Quem sabe?".
Leia a entrevista completa de Tinhorão a Baroncelli: Os 90 anos de José Ramos Tinhorão
Leia na íntegra o texto Galanteria, originalmente publicado na extinta revista Senhor e anos depois, inserida no livro Crítica Cheia de Graça:
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O século XVIII, na França, foi um século de galanteria iluminado pelas luzes da razão filosófica.
Como os grandes pensadores haviam chegado à conclusão de que à filosofia cabia a tarefa de indicar o caminho da felicidade para o homem, os amantes depreenderam que ao amor cabia indicar, logicamente, o caminho do prazer. E foi assim que, numa síntese perfeita, metade do pensamento e da literatura francesas de 1700 à Grande Revolução surgiu dentre lençóis, não sendo por acaso que o médico e filósofo La Mettrie (1709-1751) publicaria em 1751 o seu conhecido livro L’Art de Jouir (A Arte de Gozar).
Certos termos julgados até então antiéticos se conciliariam a tal ponto, aliás, que Rétif de la Bretonne — o precursor de Nabokov — poderia escrever um dia, estendendo as conclusões da filosofia ao campo da moral, que "o prazer era a virtude sob um nome mais alegre".
Não era sem razão, também, que antes de serem denominados filósofos, os maiores pensadores do início
Marquês de Sade
do século, como Saint-Évremmond (1613-1703), haviam sido chamados de libertinos.
O Dr. Eugênio Duehren, escrevendo sobre o Marquês de Sade um livro feito expressamente para intrigar a França com o resto do mundo, declarou que o século XVIII francês foi "o século da concupiscência erigida em sistema".
No que se refere aos representantes da nobreza decadente que se reuniam nos célebres salões dos Deffand, Necker, Lespinasse, Geofrin ou Grandval, pelo menos, a afirmação não deixa de ser verdadeira.
Mme. d'Epinay conta no primeiro volume das suas "Memórias" que era muito comum nas tertúlias dos Duclos ou Saint-Lambert a conversa recair sobre assuntos como a virtude ou o pudor. Era quando se travavam diálogos animados, como este que ela descreve citando as falas entre aspas — embora omitindo os nomes das personagens — e em que uma senhora diz, entre risadas:
— "Veja, marquês: o meu pudor é como o meu vestido; só o prendo em mim por alfinetes que, ao menor esforço..." E, unindo o gesto à palavra - é Mme. d'Epinay quem conclui - abre suavemente as sedas que lhe encobrem o seio, numa gentil demonstração do seu argumento".
Não havia nessas cenas a mínima intenção de escândalo: em Paris, sob a aparência fácil da libertinagem, fazia-se então o amor para provar princípios filosóficos.

Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora.