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domingo, 26 de maio de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (101)

A jornalista, poeta e romancista potiguar Irene Dias Cavalcanti, trocou seu Estado pelo Estado da Paraíba, quando tinha uns 15 anos de idade. Talvez menos.

Como observadora da vida cotidiana, Irene escreveu muita coisa na forma de poesia e prosa abordando a temática erótica.

No começo dos anos 1960, ela andou publicando livros de poesia falando do prazer sexual da mulher, negado pelo machismo. Exemplo:

Quero um homem

forte e viril

cobrindo meu corpo todo

penetrando-o num impulso

másculo e voluptuoso

eu quero

não só um beijo

quero muitos de uma vez

pelo meu corpo sedento

torturado e infeliz

pode morder

que importa?

num prelúdio embriagador

eu quero morrer de beijos

eu quero morrer do amor

por que tantos graus de febre

podendo me aliviar?

por que a febre queimando?

e o corpo se maltratar?

porque nesta ocasião

suspirando por amar

viver só alucinada

reclinada em leito frio

sempre desagasalhada

nesse leito tão sombrio

eu quero um homem

quero um homem

não suporto mais sofrer

quero um homem

quero um homem

quero de amor viver...

Um dos romances mais provocativos de Irene é O Amor do Reverendo (2009). O reverendo no caso é um padre de nome Abraão, que conhece Maria Luísa durante um acidente. Ele a pega nos braços ferida e ambos se apaixonam. Simples assim.

Na sua dissertação de Pós-Graduação para a Universidade Estadual da Paraíba, a estudante Juliana Karol de Oliveira Falcão escreveu, em 2022:


Os romances de Irene Dias Cavalcanti fazem parte de um período ou de um lugar de revolução não apenas sexual, como também social e cultural ao reivindicar lugares e igualdade entre o homem e a mulher. Destacam-se as suas obras literárias não somente como um discurso de empoderamento sexual, como também um manifesto contra diversas injustiças sociais pelas quais passam grupos desfavorecidos que partem de camadas abastadas contra camadas desfavorecidas, que partem de brancos contra negros, de homens contra mulheres, de igreja contra fiéis, de coronéis contra agricultores, entre outros.


O Amor do Reverendo é prefaciado pelo padre Waldemir Cavalcante Santana.

Irene Dias Cavalcanti, nascida em 1927, passou a infância no município de Campina Grande. É considerada um símbolo da luta feminina contra o machismo imperante até os dias de hoje. 

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

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