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quinta-feira, 25 de julho de 2024

INEZITA BARROSO, CAPIBA E ISMÁLIA


Capiba e Assis
Até hoje é grande o número de pessoas que abreviam por meios próprios a própria vida.
Cleópatra matou-se, deixando-se espontaneamente ser picada por cobras.
Duas filhas do filósofo Karl Marx tiveram destino idêntico ao destino de Cleópatra.
No mundo todo muita gente continua se matando.
No Brasil, 30 ou 40 pessoas matam-se diariamente. No dia 15 de julho de 1921 o poeta mineiro de Ouro Preto Alphonsus de Guimaraens pendurou-se numa corda e partiu, pouco antes de completar 51 anos de idade.
Guimaraens teve uma grande paixão na adolescência: a prima Constança, que morreu aos 17 anos de idade.
Depois da partida de Constança, Alphonsus de Guimaraens casou-se e teve 14 filhos, incluindo a caçula Constança, que ganhou esse nome em memória da amada do grande poeta. No dia 21 de novembro de 1910, Guimaraens publicou pela primeira vez no jornal A Gazeta o poema que todo mundo conhece: Ismália. O detalhe é que esse poema foi publicado originalmente com o título de Ofélia.
Ofélia é uma personagem shakespareana que aparece no 4º Ato do final da cena 7 do clássico Hamlet. Confira: 
O REI: ...Então, meiga rainha?
A RAINHA: Tanto as desgraças correm, que se enleiam no encalço umas das outras. Vossa irmã afogou-se, Laertes.
LAERTES: Afogou-se? Onde? Como?
A RAINHA: Um salgueiro reflete na ribeira cristalina sua copa acinzentada. Para aí foi Ofélia sobraçando grinaldas esquisitas de rainúnculas, margaridas, urtigas e de flores de púrpura, alongadas, a que os nossos campônios chamam nome bem grosseiro, e as nossas jovens "dedos de defunto". Ao tentar pendurar suas coroas nos galhos inclinados, um dos ramos invejosos quebrou, lançando na água chorosa seus troféus de erva e a ela própria. Seus vestidos se abriram, sustentando-a por algum tempo, qual a uma sereia, enquanto ela cantava antigos trechos, sem revelar consciência da desgraça, como criatura ali nascida e feita para aquele elemento. Muito tempo, porém, não demorou, sem que os vestidos se tornassem pesados de tanta água e que de seus cantares arrancassem a infeliz para a morte lamacenta.
LAERTES: Afogou-se, dissestes?
A RAINHA: Afogou-se.
LAERTES: Querida irmã, já tens água de sobra; não te darei mais lágrimas. Contudo, somos assim, que a
natureza o obriga, sem que importe a vergonha; uma vez fora, deixou de ser mulher. Adeus, senhor. Com
as palavras, só chamas me sairiam, se não fosse apagá-las a tolice.
(Sai.)
O REI: Sigamo-lo, Gertrudes. Que trabalho me custou para a cólera acalmar-lhe! Receio que de novo a
explodir venha. Sigamo-lo, portanto.
(Saem.)
Ismália ganhou esse título por volta de 1919, foi interpretado por muita gente boa, incluindo Fernanda Montenegro, Larissa Luz e o rapper Emicida.
Em 1958, Ismália foi melodiado pelo compositor pernambucano Capiba e gravado, com orquestra, pela cantora paulistana Inezita Barroso. Ouça:



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