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domingo, 26 de maio de 2024

A CARREIRA DE BOCELLI É UMA FESTA

Sampa 25 maio. 

A noite fria encobria a cidade, fazendo tirintar passantes incautos. Outros mais prevenidos caminhavam enfiados em roupas quentes.

Uma garoinha atrevida punha suas unhinhas pra fora. Uma graça.

O auto de aplicativo parou a poucos metros do portão C do gigante Allianz Parque, ali junto do centenário Parque da Água Branca. Descemos. 

Um cartaz anunciava a presença do tenor italiano Andrea Bocelli. Hora marcada: 21.

Pessoas de simpatia contagiante, escaladas para atender o público, nos atenderam. 

"Vocês vão assistir a uma apresentação fantástica", disse-nos com sorriso largo uma das pessoas da equipe da estrela italiana.

Uns 30 minutos depois de nos acomodarmos, apareceu no palco um "artista convidado" cantando na língua de Caruso. Nome: Davide Carbone. Palmas, palmas e palmas.

O público presente soltou-se. 

Logo depois o mesmo Davide pegou o microfone pra dizer que Bocelli, 64 anos, já estava pronto. Em seguida disse que o show era dedicado ao povo do Rio Grande do Sul, vitimado pelas enxurradas provocadas pelas chuvas intermitentes despachadas pelo céu.

Da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, especialmente convidada para brilhar na noite, saíram notas do nosso caudaloso Hino Nacional.  Emocionei-me. Mais: surpreendi-me pela dicção clara e voz segura, quase familiar, de Davide.

Não tardou e o nome mais esperado da noite adentrou ao palco interpretando com sua possante voz a ária La Donna è Mobile da ópera Rigoletto, de Verdi.

Andrea Bocelli, cuja carreira de 30 anos está comemorando agora, trouxe consigo a soprano Cristina Pasaroiu e a violinista Caroline Campbell. Lindas.

Além das duas beldades, talentosíssimas, Bocelli trouxe o seu bambino Matteo, 26 anos. Voz possante. 

A principal estrela da noite foi e veio ao microfone umas cinco ou seis vezes, dando desse modo espaço e vez aos seus convidados, incluindo aí um casal de bailarinos que parecia voar. 

A surpresa da noite foi a cantora paulistana Sandi que cantou numa língua que não consegui identificar. 

Foi uma noite bonita, mas não posso deixar aqui de contar uma gracinha. Ao entrar no carro de volta pra casa, ouvi alguém fazer a seguinte observação: "Cara, o cara canta prá caralho. E é cego!"

Baixa o pano.

COMBATE À CEGUEIRA 

Hoje 26 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma. 

O glaucoma é um dos muitíssimos males que atacam,  sem dó nem piedade, os olhos humanos. Surge com mais frequência já nos primeiros meses de vida do menino ou da menina. Não tem cura, mas se for identificado logo o sofrimento da vítima será menor. 

Fica o registro. 



LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (101)

A jornalista, poeta e romancista potiguar Irene Dias Cavalcanti, trocou seu Estado pelo Estado da Paraíba, quando tinha uns 15 anos de idade. Talvez menos.

Como observadora da vida cotidiana, Irene escreveu muita coisa na forma de poesia e prosa abordando a temática erótica.

No começo dos anos 1960, ela andou publicando livros de poesia falando do prazer sexual da mulher, negado pelo machismo. Exemplo:

Quero um homem

forte e viril

cobrindo meu corpo todo

penetrando-o num impulso

másculo e voluptuoso

eu quero

não só um beijo

quero muitos de uma vez

pelo meu corpo sedento

torturado e infeliz

pode morder

que importa?

num prelúdio embriagador

eu quero morrer de beijos

eu quero morrer do amor

por que tantos graus de febre

podendo me aliviar?

por que a febre queimando?

e o corpo se maltratar?

porque nesta ocasião

suspirando por amar

viver só alucinada

reclinada em leito frio

sempre desagasalhada

nesse leito tão sombrio

eu quero um homem

quero um homem

não suporto mais sofrer

quero um homem

quero um homem

quero de amor viver...

Um dos romances mais provocativos de Irene é O Amor do Reverendo (2009). O reverendo no caso é um padre de nome Abraão, que conhece Maria Luísa durante um acidente. Ele a pega nos braços ferida e ambos se apaixonam. Simples assim.

Na sua dissertação de Pós-Graduação para a Universidade Estadual da Paraíba, a estudante Juliana Karol de Oliveira Falcão escreveu, em 2022:


Os romances de Irene Dias Cavalcanti fazem parte de um período ou de um lugar de revolução não apenas sexual, como também social e cultural ao reivindicar lugares e igualdade entre o homem e a mulher. Destacam-se as suas obras literárias não somente como um discurso de empoderamento sexual, como também um manifesto contra diversas injustiças sociais pelas quais passam grupos desfavorecidos que partem de camadas abastadas contra camadas desfavorecidas, que partem de brancos contra negros, de homens contra mulheres, de igreja contra fiéis, de coronéis contra agricultores, entre outros.


O Amor do Reverendo é prefaciado pelo padre Waldemir Cavalcante Santana.

Irene Dias Cavalcanti, nascida em 1927, passou a infância no município de Campina Grande. É considerada um símbolo da luta feminina contra o machismo imperante até os dias de hoje. 

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora