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terça-feira, 12 de agosto de 2025

O CEGO NA HISTÓRIA (7)

Pois bem, o romance Esaú e Jacó foi publicado em 1904. Antes disso, o nosso Machado publicara Dom Casmurro (1899).

Sem dúvida, Esaú e Jacó transformou-se num dos dez romances clássicos do bruxo do Cosme Velho. 

Depois de publicar Esaú e tal, Machado deixou-se publicar o seu último livro: Memorial de Aires.

Machado era fluminense, como se deve saber. 

Machado morreu em casa na madrugada de 29 de setembro de 1908. Nesse mesmo dia, madrugada, mês e ano nascia na terra mineira um cara que o futuro haveria de aplaudir: João Guimaraes Rosa. 

Rosa, como Machado, inovou a literatura brasileira. 

Muitos outros autores do nosso patropi fizeram-se importantes. E não são poucos. 

Em 1892 nascia, em Alagoas, um menino que ganharia fama como escritor: Graciliano Ramos de Oliveira. 

Leitor amigo, você saberia dizer os pontos de identificação entre Machado de Assis e Graciliano Ramos?

Bom, houve um momento na vida de Machado em que a visão lhe falhou completamente. 

Houve um momento na vida de Graciliano em que seus olhos lhe negaram visão. Foi na infância, mas o problema minimizado o acompanhou no decorrer dos seus 60 anos de vida. 

Como se não bastasse, há outros pontos em comum entre Machado e Graciliano. 

Machado era poeta no começo da vida literária. 

Graciliano também foi poeta, embora tenha iniciado a carreira como prosador. Seu primeiro conto teve por título O Pequeno Pedinte, publicado num jornalzinho da sua infância. Detalhe: tinha o futuro autor a idade de 12 anos.

Além de poeta, Machado foi quem todos nós sabemos. 

Graciliano, por sua vez, foi quem todos nós sabemos. 

A história de Machado de Assis e de Graciliano Ramos se cruzam em vários momentos. 

Machado nasceu pobre de marré marré e aleluia!

Graciliano não nasceu em berço de ouro. O pai, um brutamontes, o castigava aos gritos e chicotadas. A mãe o humilhava de todas as formas, chamando-o de "bezerro encourado" e/ou "cabra-cega".

Bezerro encourado significava, lá no passado nordestino, pessoa enjeitada pela mãe, humana ou vaca de rebanho. 

A expressão cabra-cega tem origem antiquíssima. Data de muito antes da Idade Média. Surgiu como brincadeira infantil e como brincadeira acabou. A base era vendar os olhos de uma criança, pois brincadeira de criança era e fazer com que a vendada conseguisse segurar outra criança a quem passasse a venda.

No Nordeste essa brincadeira tinha outra versão: uma criança tinha os olhos vendados e de vara em punho tentava quebrar uma panela ou pote de barro pendurada em algum lugar. Tal panela estava recheada de balas e outras guloseimas. Era uma festa.

Na obra de Machado de Assis há referências à cegueira. Na obra de Graciliano também. 

Em 1938 o famoso alagoano levaria às livrarias o livro São Bernardo. 

Em São Bernardo, o narrador é um ex-guia de cego.

Órfão de pai e mãe, Paulo Honório foi adotado por uma mulher chamada Margarida, que compatilhava a vida com um cego.

O tempo passou e Paulo, que nunca tirou da cabeça a ideia de ficar rico custasse o que custasse, levou a sua mãe para morar consigo na fazenda que comprou por meios questionáveis. 

É uma história fortíssima a que se lê em São Bernardo. 

Por questões de ciúme por uma jovem com quem teve a primeira vez na cama, Paulo é preso e condenado a três anos, nove meses e 15 dias depois de esfaquear um rival. Alfabetizou-se na cadeia, graças a um sapateiro com quem dividia a cela.

E fiquemos por aqui.


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