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sábado, 29 de novembro de 2014

TOM JOBIM E SANFONEIROS




O português Natanael Sousa dá amostra do seu talento no IMB.
A história guarda histórias do arco da velha.
 
Certa vez Tom Jobim disse que a música popular brasileira é uma tragédia.
 
Exagero ou coisa de alguém que não conhece a nossa história? A Discografia da Música Popular Brasileira dá-se início em 1902, com o lundu Isto É Bom, de Xisto Bahia, gravado por seu conterrâneo de Santo Amaro da Purificação, Manuel Pedro dos Santos (1870 - 1944), o Bahiano.
 
Isto É Bom é uma composição brejeira, graciosa, com o quê muito nosso:

"O inverno é rigoroso
Bem dizia a minha vó
Que dorme junto tem frio
Quanto mais quem dorme só

Isto é bom, isto é bom
Isto é bom que dói
Se eu brigar com meus amores
Não se intrometa ninguém
Que acabado os arrufos
Ou eu vou, ou ela vem..."
Depois desse, muitos outros lundus foram gravados, não só por Bahiano, mas por seus amigos pioneiros Eduardo das Neves e Cadete, por exemplo.
Além de lundus, o início da nossa Discografia está recheado de muitos outros gêneros e ritmos musicais.
As modinhas marcaram época, muito antes do advento do samba, do maracatu, da marcha, das valsas e até boleros.
Certa vez eu disse a Tom Jobim que estava preparando um livro cujo título lhe fazia referência: O Brasil Dá O Tom.
Ele ouviu o que eu tinha a dizer e prometeu uma entrevista logo após seu retorno dos Estados Unidos. Ele voltou, mas não houve a entrevista. O Brasil chorou a sua volta.

SANFONA PORTUGUESA
Dia desses esteve conosco no Instituto Memória Brasil, IMB, o português Natanael Sousa.
Jovem de 24 anos nos deu uma amostra do seu talento à sanfona. Entre os números exibidos, destaque para Bach.
Há pouco tempo em São Paulo, Natanael Sousa promete ter vindo para ficar; e se ficar, certamente vai enriquecer a área de atuação dos grandes sanfoneiros.
Eu lembro que ainda me achava em João Pessoa, a cidade onde nasci, quando ouvi e vi extasiado uma apresentação de Severino Dias, o Sivuca, no teatro Santa Rosa. Corriam os anos de 1970. Na ocasião Sivuca fez uma exibição que muito me impressionou, imitando sons que seriam da sanfona, no mundo árabe, por exemplo. E a medida que ele tirava aqueles sons incríveis, ele também fazia uso da sua voz, do seu fôlego.
Noutra ocasião, muitos anos depois, e já em São Paulo, eu pedi ao Oswaldinho do Acordeon que me mostrasse como a sanfona soaria na Índia, por exemplo. Estávamos no ar, pela AllTV. Ele riu e também a todos nos deixou extasiado, encerrando com uma pequena “amostra” do que faria um sanfoneiro Heavy Metal, incluindo o grito “YEAH!”.
São poucos, na verdade, os sanfoneiros que dominam o seu instrumento.

Natanael Souza, se continuar ensaiando pelo menos 6 horas diárias, certamente também dominará a sanfona, cujas origens datam de alguns séculos a.C.

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