O português Natanael Sousa dá amostra do seu talento no IMB. |
A
história guarda histórias do arco da velha.
Certa
vez Tom Jobim disse que a música popular brasileira é uma tragédia.
Exagero
ou coisa de alguém que não conhece a nossa história? A Discografia da Música
Popular Brasileira dá-se início em 1902, com o lundu Isto É Bom, de Xisto
Bahia, gravado por seu conterrâneo de Santo Amaro da Purificação, Manuel Pedro
dos Santos (1870 - 1944), o Bahiano.
"O inverno é rigoroso
Bem dizia a minha vó
Que dorme junto tem frio
Quanto mais quem dorme só
Bem dizia a minha vó
Que dorme junto tem frio
Quanto mais quem dorme só
Isto é bom, isto é bom
Isto é bom que dói
Isto é bom que dói
Se eu brigar com meus amores
Não se intrometa ninguém
Que acabado os arrufos
Ou eu vou, ou ela vem..."
Não se intrometa ninguém
Que acabado os arrufos
Ou eu vou, ou ela vem..."
Depois
desse, muitos outros lundus foram gravados, não só por Bahiano, mas por seus
amigos pioneiros Eduardo das Neves e Cadete, por exemplo.
Além
de lundus, o início da nossa Discografia está recheado de muitos outros gêneros
e ritmos musicais.
As
modinhas marcaram época, muito antes do advento do samba, do maracatu, da marcha,
das valsas e até boleros.
Certa
vez eu disse a Tom Jobim que estava preparando um livro cujo título lhe fazia
referência: O Brasil Dá O Tom.
Ele
ouviu o que eu tinha a dizer e prometeu uma entrevista logo após seu retorno
dos Estados Unidos. Ele voltou, mas não houve a entrevista. O Brasil chorou a
sua volta.
SANFONA
PORTUGUESA
Dia
desses esteve conosco no Instituto Memória Brasil, IMB, o português Natanael
Sousa.
Jovem
de 24 anos nos deu uma amostra do seu talento à sanfona. Entre os números
exibidos, destaque para Bach.
Há
pouco tempo em São Paulo, Natanael Sousa promete ter vindo para ficar; e se
ficar, certamente vai enriquecer a área de atuação dos grandes sanfoneiros.
Eu
lembro que ainda me achava em João Pessoa, a cidade onde nasci, quando ouvi e
vi extasiado uma apresentação de Severino Dias, o Sivuca, no teatro Santa Rosa.
Corriam os anos de 1970. Na ocasião Sivuca fez uma exibição que muito me
impressionou, imitando sons que seriam da sanfona, no mundo árabe, por exemplo.
E a medida que ele tirava aqueles sons incríveis, ele também fazia uso da sua
voz, do seu fôlego.
Noutra
ocasião, muitos anos depois, e já em São Paulo, eu pedi ao Oswaldinho do
Acordeon que me mostrasse como a sanfona soaria na Índia, por exemplo. Estávamos
no ar, pela AllTV. Ele riu e também a todos nos deixou extasiado, encerrando
com uma pequena “amostra” do que faria um sanfoneiro Heavy Metal, incluindo o
grito “YEAH!”.
São
poucos, na verdade, os sanfoneiros que dominam o seu instrumento.
Natanael
Souza, se continuar ensaiando pelo menos 6 horas diárias, certamente também
dominará a sanfona, cujas origens datam de alguns séculos a.C.
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