Páginas

terça-feira, 17 de maio de 2016

CAUBY PEIXOTO, UM SHOW NO CÉU


Calou-se para sempre a voz que imortalizou Conceição.
Conceição foi uma personagem criada pela dupla de compositores Jair Amorim e Dunga. Essa personagem ganhou corpo –e alma- em gravação lançada em setembro de 1956. Há sessenta anos, portanto. É um samba-canção que marcou profundamente o repertório do niteroiense Cauby Peixoto.
Encontrei-me com Cauby há uns quatro anos, quando eu e Paulo Vanzolini molhávamos a garganta num restaurante do Cambuci. Foi um encontro legal. Anos antes desse encontro, Cauby havia gravado o samba-canção Ronda, de Paulo.
Cauby Peixoto fez parte de uma era de grandes intérpretes da nossa música popular. Intérpretes de voz possante, como Francisco Alves (que morreu no dia em que nasci, 27/09/1952); Silvio Caldas, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Orlando Dias, Adilson Ramos. Por esse prisma, Cauby deixa um vazio enorme, no campo da música popular. Na verdade, podemos até dizer que ele foi a última grande voz a silenciar. E uma coisa curiosa: ao contrário de muitos, Cauby recebeu em vida todas as glórias possíveis que um artista pode receber. Bastidores, de Chico Buarque, foi feita para ele.
Uma multidão de fãs acorreu ao salão nobre da Assembleia Legislativa de São Paulo, para lhe prestar a última homenagem. Lá estiveram, entre outros, Agnaldo Timóteo, Jerry Adriani, Roberto Luna, Claudio Fontana, Tobias da Vai-Vai, Agnaldo Rayol, Edith Veiga, Ângela Maria e Celia e Celma.
A última apresentação musical de Cauby ocorreu no dia 3 deste mês, no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro. Ao seu lado estava Ângela Maria, a sapoti, assim apelidada pelo ex-presidente Getúlio Vargas.
Uma historinha: em 1986, Cauby e Celia e Celma embarcaram num voo de Brasília ao Rio de Janeiro, meio anônimos, discretos, até que um grupo de adolescentes em algazarra descobriu os três. Logo após o avião levantar voo e estabilizar-se no céu, um dos meninos do grupo gritou: Cauby!, Cauby!, e a essa voz, outras se seguiram, canta! canta! canta! E Cauby, sem se fazer de rogado, levantou-se da poltrona e começou a cantar: “cantei, cantei...”.
Muitos aplausos, foi uma festa, e aí, Cauby, feliz da vida, chama Celia e Celma para com ele cantar: “cantei, cantei...”. No dia seguinte, a coluna do Swann, do jornal O Globo, registrava o imprevisto espetáculo: Show nas Nuvens...
Pouca gente sabe, mas Cauby não gostava muito de cantar Conceição. Mas tinha que cantá-la, pois todo mundo exigia em shows que ele a cantasse, e ele a cantava como se fosse a 1ª vez, ou seja: com grande emoção.
O corpo de Cauby Peixoto (1931/2016) foi sepultado no jazigo da família de sua grande amiga, Ângela Maria.
Detalhe: Cauby participou de uma das mais bonitas faixas (Maria das Dores, de Ary Barroso) do CD Ary Mineiro, de Celia e Celma.


    

Nenhum comentário:

Postar um comentário