Calou-se
para sempre a voz que imortalizou Conceição.
Conceição
foi uma personagem criada pela dupla de compositores Jair Amorim e Dunga. Essa personagem
ganhou corpo –e alma- em gravação lançada em setembro de 1956. Há sessenta anos,
portanto. É um samba-canção que marcou profundamente o repertório do
niteroiense Cauby Peixoto.
Encontrei-me
com Cauby há uns quatro anos, quando eu e Paulo Vanzolini molhávamos a garganta
num restaurante do Cambuci. Foi um encontro legal. Anos antes desse encontro,
Cauby havia gravado o samba-canção Ronda, de Paulo.
Cauby
Peixoto fez parte de uma era de grandes intérpretes da nossa música popular.
Intérpretes de voz possante, como Francisco Alves (que morreu no dia em que
nasci, 27/09/1952); Silvio Caldas, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Orlando
Dias, Adilson Ramos. Por esse prisma, Cauby deixa um vazio enorme, no campo da música
popular. Na verdade, podemos até dizer que ele foi a última grande voz a
silenciar. E uma coisa curiosa: ao contrário de muitos, Cauby recebeu em vida
todas as glórias possíveis que um artista pode receber. Bastidores, de Chico
Buarque, foi feita para ele.
Uma
multidão de fãs acorreu ao salão nobre da Assembleia Legislativa de São Paulo,
para lhe prestar a última homenagem. Lá estiveram, entre outros, Agnaldo Timóteo,
Jerry Adriani, Roberto Luna, Claudio Fontana, Tobias da Vai-Vai, Agnaldo Rayol,
Edith Veiga, Ângela Maria e Celia e Celma.
A
última apresentação musical de Cauby ocorreu no dia 3 deste mês, no Teatro
Municipal, do Rio de Janeiro. Ao seu lado estava Ângela Maria, a sapoti, assim apelidada
pelo ex-presidente Getúlio Vargas.
Uma
historinha: em 1986, Cauby e Celia e Celma embarcaram num voo de Brasília ao
Rio de Janeiro, meio anônimos, discretos, até que um grupo de adolescentes em
algazarra descobriu os três. Logo após o avião levantar voo e estabilizar-se no
céu, um dos meninos do grupo gritou: Cauby!, Cauby!, e a essa voz, outras se
seguiram, canta! canta! canta! E Cauby, sem se fazer de rogado, levantou-se da
poltrona e começou a cantar: “cantei, cantei...”.
Muitos
aplausos, foi uma festa, e aí, Cauby, feliz da vida, chama Celia e Celma para
com ele cantar: “cantei, cantei...”. No dia seguinte, a coluna do Swann, do
jornal O Globo, registrava o imprevisto espetáculo: Show nas Nuvens...
Pouca
gente sabe, mas Cauby não gostava muito de cantar Conceição. Mas tinha que
cantá-la, pois todo mundo exigia em shows que ele a cantasse, e ele a cantava como
se fosse a 1ª vez, ou seja: com grande emoção.
O
corpo de Cauby Peixoto (1931/2016) foi sepultado no jazigo da família de sua
grande amiga, Ângela Maria.
Detalhe:
Cauby participou de uma das mais bonitas faixas (Maria das Dores, de Ary
Barroso) do CD Ary Mineiro, de Celia e Celma.
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