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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

VANDRÉ, SECA E MÚSICA

O meu amigo pintor Miguel dos Santos telefona para dizer que a Paraíba continua bela, apesar da seca que a atormenta secularmente. Também para dizer que está bem, que está com saúde, como a sua família. Bom. Também para dizer que o Vandré andou por lá, que anda por lá, na Paraíba, especialmente na capital, João Pessoa.
Disso eu já sabia, eu lhe disse. 
Eu sabia porque o próprio Vandré havia me telefonado, quatro ou cinco dias antes, pra contar que estava por lá. E que a sua presença lá na sua terra (ele nasceu em João Pessoa) tinha razão de ser: conversas com o governador sobre a sua obra em tom sinfônico...
Pois bem, e para minha alegria hoje chegam à minha casa os queridos Fausto (cartunista) e Vitor Nuzzi.
Vitor é jornalista, autor do livro que conta a história do Vandré, lançado em 2015 pela Kuarup: "Geraldo Vandré -Uma canção interrompida". 

E conversa vai, conversa vem, com meus amigos Fausto e Vitor lembramos que neste ano da graça e certamente de complicações eleitorais de 2018 completa-se meio século da apresentação primeira de "Caminhando" ("Pra não Dizer que não Falei de Flores"), no Maracanãzinho (RJ).
Eu tenho dito para meu querido Audálio Dantas, cangaceiro de todas as belas letras, que é preciso discutir o Brasil, de todas as formas. E um momento muito apropriado seria agora, neste ano que começa, a partir de "Pra não Dizer que não Falei de Flores"...
Neste ponto, Fausto e Vitor concordam.
Vitor, Assis e Fausto, com obra de Miguel dos Santos ao fundo

Eu tenho conversado sobre este mesmo assunto com o maestro Júlio Medaglia.
Júlio é uma das maiores expressões musicais que conheço desde que sou quem sou, antes mesmo de jornalista.
Uma pena: o Brasil conhece pouco o Brasil, e menos ainda a obra dos seus gênios – Carlos Gomes, Joaquim Callado, Patápio Silva, Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Noel Rosa, Caymmi, Villa-Lobos, Antenógenes Silva, Luiz Gonzaga, Dalva de Oliveira, Millôr Fernandes, Fortuna, Anselmo Duarte (este muito especialmente precisa ser revisto), Gláuber Rocha, Sivuca...
Eu aproveitei o momento, hoje, em minha casa, para perguntar a Vitor Nuzzi sobre dificuldades e curiosidades que encontrou para publicar o livro que escreveu sobre o autor de "Quem Quiser Encontrar Amor", "Fica Mal com Deus", "Disparada", "Caminhando". E ele disse que foram 10 anos pesquisando e procurando gente, falou da procura a editoras, sobre a dificuldade de publicar uma biografia não autorizada no Brasil e sobre a resistência do próprio biografado. E perguntei ainda: faz quanto tempo isso? E o Vitor contou que, quando conversou com Vandré, ele perguntou: "Quantos anos você tem?". Surpreso, Vitor respondeu: 43. "Quando você tiver 50, você vai entender", completou Vandré. E eu de novo perguntei ao Vitor: quantos anos você tem hoje? "Eu nasci no dia 1º de setembro de 1964". 
Meus amigos, minhas amigas, não está na hora de discutir o Brasil pra valer? De lembrarmos esses grandes nomes esquecidos, jogados fora, abandonados na poeira do tempo?
O Brasil é muito maior do que pensamos. 
Ah, sim! Ia me esquecendo que uma das melhores interpretações da guarânia "Pra não Dizer que não Falei de Flores" é do trio potiguar Marayá. Confiram:




2 comentários:

  1. OLá meu amigo Assis, devo lembrar-lhe que falta citar outro escritor, considerado maldito e com traduções em sete linguas: João Antonio autor entre outras de Perus,Malagueta e Bacanaço, devidamente premiado.
    Um baitabraço do Paulo Barbosa

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  2. De fato João Antonio foi um gênio. Um gênio quando vivo e não lembrado quando morto. Mas a sua obra está ai e o Brasil estirando a língua para nós. Quer dizer: o Brasil dos poderosos que não dá bola para arte, para música, para dança, para literatura, para poesia tão pouso; para o cinema e para o Coco de Roda iê iê! mas eu não sou gênio, não sou nada apenas um moleque de 65 anos nascido com destino de conhecer o seu berço: Brasil

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