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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

BRUMADINHO CONTA SEUS MORTOS


Oficialmente há  24.092 barragens espalhadas Brasil afora. Oficialmente, eu disse. Acredita-se, porém que esse número passe de 30.000. Só em Minas Gerais há cerca de 900. Dessas, 176 são, em tese, de responsabilidade da Vale do Rio Doce.
Os brasileiros da periferia vivem constantemente ameaçados de serem levados pelas enxurradas de lama, provenientes da sobra da mineração feita por milhares e milhares de operários que pagam com a vida o trabalho que prestam às mineradoras.
O caso de Mariana não foi o primeiro, nem o caso de Brumadinho foi o segundo. Muitos estouros de barragem já ocorreram desde que se multiplicaram as mineradoras no País.
As montanhas de Minas Gerais estão vindo abaixo faz tempo. Desde Tiradentes. Tiradentes pagou com a vida o que todo mundo sabe. Não à toa, Minas Gerais tem o nome que tem.
A irresponsabilidade dos poderosos, incluindo as tais autoridades constituídas, tem levado o Brasil ao buraco. A propósito: vocês têm notado que não é de hoje que muita coisa tem caído no país: viadutos, edifícios, peças do monotrilho, árvores derrubadas pelas chuvas e até parte de um hangar do Campo de Marte, agora há pouco. Sem falar nos políticos que têm caído que nem moscas na teia.

Uma perguntinha ao pobre mortal ou à pobre mortal que lê estas linhas: o que você faria se tivesse um salário de 5 milhões de reais mensais, hein???
Pois é, essa graninha aí referida é o que ganha o presidente da Vale do Rio Doce, tá bom??
Mais: a Vale teve um faturamento de 17,6 bilhões de reais, em 2017.
Atenção! acabam de sair novos números da desgraça, e não simples tragédia, prevista em Brumadinho: 99 corpos foram retirados do mar de lama pelos bombeiros etc. mais de duzentos continuam desaparecidos. A coisa é grave, gravíssima. Desculpem-me os mais sensíveis, mas a verdade é que já passou da hora de bater o pau na mesa!

Título: Vida e morte em Brumadinho
Autor: Assis Ângelo

Morre sorte, morre vida
Morre fé, morre esperança
Morre fim, morre começo
Morre paz, morre bonança
Morre tudo, nada fica
Só a dor da má lembrança

Morrem homens e mulheres
E crianças nas esquinas
Morre dia, morre noite
Nos morros, nas colinas
Morre tudo que se mexe
No rico solo de Minas

Mariana se repete
Com dor e muito espinho
O povo de Deus precisa
De amor e mais carinho
Por quê morre tanta gente
D'uma vez em Brumadinho?

O terror desceu matando
Pelas águas do Feijão*
Provocando desespero
Pavor e destruição
O poder não tem limite
nem pudor nem compaixão

Força e violência
Tem o Grande Capital
Que transforma gente em coisa
Pelo tal do vil metal
Impondo a "Mais valia"
Na alma nacional

A Vale do Rio Doce 
De doce não tem nada
Tem dor, tem agonia
E chicote pra lapada
Quem reclama ganha cruz,
Vira coisa descartada

Vale tudo, vale tudo
Na terra da bandalheira
Vale roubar o povo
Vale vale a roubalheira
Só por isso vale pôr
Os ratos na ratoeira!



Um comentário:

  1. Belo e sensível poema o jornalista Assis Ângelo nos apresenta sobre a tragédia em Brumadinho, onde muitas pedras no caminho ceifaram a vida de dezenas e dezenas de vítimas. O texto tem a ilustração inconfundível de Fausto Bergocce e uma introdução informativa do próprio Assis, a qual ecoa a sua época de reportagens. Os versos rimam compassadamente numa estrutura que lembra o cordel, forma tão cara para Assis. O poema deixa transparecer outro tema comum nele: sua crítica frequente ao capitalismo, à força destruidora da mais valia -- o vil metal. Os trocadilhos de palavra soa bem no poema inteiro. Quanta cumplicidade Assis tem com a palavra, quanta tragédia este país regurgita. Viva Assis! E pau no Brasil!

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