Não é fácil ser cego.
Cego é a pessoa que não vê com os olhos, certo?
Pois bem, dizem que eu sou cego porque não vejo com os olhos. Mas eu vejo com a memória, eu vejo com os olhos de amigos e de amigas. Com a intuição, até.
Não, não estou falando do que não sei.
Cego é um ser fora do contexto, fora de programa, fora de tudo. Dói.
A exclusão cai-nos como uma condenação. É uma condenação. Pagamos por crimes e pecados que não cometemos.
A questão da inclusão é questão pra ser levada à sério, à discussão, às escolas.
Eu nem ia falar sobre o que estou falando, mas a cedulazinha de 200 mangos, que começa a circular entre os mais abastardos, fez-me falar o que estou falando.
Confesso que ainda tenho dificuldade em identificar cédulas. Mas ouço dizer que a nova cédula é bem parecida, em tamanho e textura com a notinha de 20 paus.
Por que isso, é pra complicar ainda mais a vida cega dos cegos?
Por que o Banco Central não fez uma cédula diferenciada das demais em circulação?
Melhor: Por que quem tem olhos não nos vêem?
Estou louco para trabalhar, para voltar a radio, a televisão. Louco pra publicar livros, dar palestras, cantar, tocar e dizer ao mundo que cego também vê.