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terça-feira, 7 de setembro de 2021

O 7 NA VIDA DA GENTE

Pra tudo há uma explicação. O número 7, por exemplo.
Na numerologia, o 7 representa perfeição. Representa também espiritualidade, tranquilidade, desafio e tudo mais. Quem tem esse número, quem gosta desse número, tem meio caminho andado nessa vida. Isso diz o popular.
No Folclore, o 7 dá conta de quem mente. E para os supersticiosos, o 7 é atraso de vida. Pra tanto, basta passar debaixo de uma escada ou quebrar um espelho.
O 7 está em todos cantos até nas cantigas infantis:

Sete e sete são quatorze
Com mais sete vinte e um 
Tenho sete namorados 
Mas não gosto de nenhum...

A vida brasileira é cheia de 7.
Dom Pedro I abdicou num 7 de abril, dividiu lençóis com a marquesa de Santos durante 7 anos e num 7 de setembro assinou a Declaração da Independência nas beiradas do riacho Ipiranga, em Sampa.
O Brasil era uma terra tranquila até o seu achamento, em 1500.
Em 1532, os problemas começam a aparecer com a fundação da Vila de São Vicente, SP. Esses problemas aumentam, quando Dom João VI desembarca na Costa baiana e lá cria a primeira capital do País. Isso, em 1808, quando cria o Banco do Brasil.
Entre problemas e soluções, o Brasil vai achando o caminho.
Em 1821, Dom João VI volta a Portugal. Logo depois chama o filho, que não vai.
A essa altura, já estamos em 1822.
Subindo a ladeira num burro desde Santos, SP, saído da casa da amante, Pedro I assina a tal declaração que Pedro Américo retrata totalmente diferente.
Essa Declaração foi redigida por Maria Leopoldina, sua mulher, e ele teve de assiná-la, sem grito.
No mesmo dia que assinou a declaração, a história conta que Dom Pedro compôs o Hino da Independência, que o barítono Vicente Celestino (1894-1968) gravaria, com letra de Evaristo Veiga (1799-1837), em 1922.
O resto é história. 
No dia 9 de setembro de 1856, o romancista Machado de Assis (1839-1908) publicaria no jornal Correio Mercantil o poema O Grito do Ipiranga, baseado no feito de Dom Pedro I. Esse poema, que consta em nenhum livro do escritor, foi descoberto recentemente. Fica o registro.

Liberdade!... Pharol divinisado! —
Sob o teu brilho a humanidade e os seculos
Caminhão ao porvir. Roma as algemas
Quebrou dos filhos que a oppressão lançára
Dentre a sombra de purpura dos Cesares,
Que envolvia Tarquinio em fogo e sangue,
Cheia de tua luz e estimulada
Por teu nome divino — essa palavra
Immensa como as vozes do Oceano,
Sublime como a idéa do infinito!
Tal como Roma a terra americana,
Um dia alevantando ao sol dos tropicos
A fronte que domina os estandartes,
Saudou teu nome magestoso e bello —
E o brado immenso — Independencia ou morte —
Soltado lá das margens do Ypiranga,
Foi nos campos soar da eternidade.

Desenrola nas turbas populares
Dos livres a bandeira o heróe tão nobre,
Digno dos louros festivais que outrora
Roma dava aos heróes entre os applausos

Do povo que os levava ao Capitolio!
Elle foi como o Cesar de Marengo;
Sua voz como a lava do Vesuvio
Levada pela voz da immensidade
Foi do Téjo soar nas margens, onde
Estremeceu de susto o lusitano!

Ypiranga!... Ypiranga!... A voz das brisas
Este nome repete nas florestas!
Caminhante! Eis ali onde primeiro
Sôou o brado — Independencia ou morte! —
O homem secular levando as aguias
Por entre os turbilhões de pó, de fumo,
Ostentando nos livres estandartes
O lucido pharol de um seculo ovante,
Mais sublime não foi nem mais valente
Que Pedro o heróe da América travando
Do pharol da sagrada liberdade,
E acordando o Brasil, escravisado,
Sob ferreos grilhões adormecido.

Somos livres! — Nas paginas da historia
Nosso nome fulgura — alli traçado
Foi por Deus, que do heróe guiando o braço,
Nas—folhas o escreveu do eterno livro.
Somos livres! — No peito brasileiro
A idéa da oppressão não se acalenta!
Somos já livres como a voz do oceano,
Somos grandes tambem como o infinito,
Como o nome de Pedro e dos Andradas!

Seja bemdito o dia em que Colombo
Cesar dos mares, affrontando as ondas,
Á Europa revelou um Novo Mundo;
Elle nos trouxe o sceptro das conquistas
Nas mãos de Pedro — o fundador do Imperio!

O heróe calcando os pedestaes da historia,
Ergue soberbo aos seculos vindouros
A fronte magestosa! Immenso vulto!
É elle o sol da terra brasileira!
Neste dia de esplendidas lembranças
No peito brasileiro se reflecte
O nome delle — como um sol ardente
Brilha dourado no crystal dos prismas!

Tomando o sabre, dominou dous mundos
O heróe libertador, valente e ousado!
Elle, o tronco da nossa liberdade,
Foi como o cedro secular do Libano,
Que resiste ao tufão e ás tempestades!

Ypiranga! Inda o vento das florestas
Que as noites tropicaes respirão frescas
Parecem murmurar nos seus soluços
O brado immenso — Independencia ou morte!
Qual o trovão nos écos do infinito!

Disse ao guerreiro o Deus da Liberdade:
Liberta o teu Brasil num brado augusto,
E o heróe valente o libertou n′um grito!

7 de setembro de 1856.

Para ilustrar essa história, nada melhor do que o cartunista Fausto inspirando-se no pintor norueguês Edvard Munch (1853-1944).
 
 
Pra relaxar, ouça: MATA SETESETE MENINASBICHO DE 7 CABEÇAS

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