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quarta-feira, 13 de julho de 2022

EU E MEUS BOTÕES (28)

Com ar solene, Zilidoro levantou o dedo e disse: "O Brasil não é para principiantes!".
Achei graça e perguntei a razão disso. E ele: "Porque o Brasil é um país incrível em todos os sentidos. De tédio, aqui ninguém morre. É uma loucura o Brasil!".
Foi a vez de Zoião entrar na conversa: "Essa frase eu conheço, é do músico Tão Jobim".
A frase é correta e forte, mas o autor foi um carioca chamado Tom Jobim. Nome completo: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Autor, dentre tantos sucessos, de Garota de Ipanema, expliquei.
Biu e Barrica estavam atentos no seu canto. Só ouvindo. Ali e acolá cochichavam.
Mané, que também resolveu entrar na conversa, foi já dizendo: "A Constituição brasileira está sendo estuprada mais uma vez".
Zé pegou carona, e lá foi ele: "É muita violência que nossos congressistas andam praticando. Na Câmara e no Senado. Esse tal de Arthur Lira é perigoso! Ele e Bolsonaro andam de mãos dadas, aprontando contra o nosso povo".
Esses meus botões estão impossíveis, pensei.
Jão, que estava de braços cruzados, entrou de leve na história: "Estou observando tudo e não tem como não concordar com Zé".
Cutucando tranquilamente as unhas com seu inefável punhal, Lampa que nem cobra prestes a dar o bote, disse: "É muita violência, muita violência... É preciso paz, chega de tanta desgraça no nosso país".
"Olha só quem tá dizendo isso. Ou Lampa endoidou, ou endoidou. Não tem meio termo!", falou provocativamente Biu. E Lampa, de novo: "Cangaceiro também é gente...". Limpou o punhal na calça e o enfiou na cintura.
"É muita loucura o que Arthur Lira está fazendo, com a cumplicidade do presidente do Senado Rodrigo Pacheco. Que o povo mais pobre está precisando de dinheiro pra comer, é fato. Mas o que está embutido nisso é muito perigoso para a sociedade", disse Zilidoro.
"E o que vocês acham do que disse Bolsonaro com relação ao assassinato do petista Marcelo Arruda, lá em Foz do Iguaçu?", perguntou Barrica. A essa pergunta respondeu Lampa: 
"Bolsonaro é pior que qualquer cangaceiro que já conheci na minha vida. Houve um tempo que eu achei que ele era gente, mas não é. Tem cabeça, corpo e membros, mas não é gente. É animal da pior espécie. Noutros tempos ele não faria o que faz, impunemente. A ele lhe falta sentimento".
Ao fim dessa conversa, todos bateram palmas. Lampa levantou-se do tamborete em que estava sentado e com falsa humildade disse: "Obrigado, obrigado".

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