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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

HOMEM DEVE CHORAR, SIM!

 Cresci ouvindo a frase que por muito tempo me acompanhou: "Homem não chora!".

Descobri no correr do tempo, e já em São Paulo, que choro alivia qualquer dor que um homem possa um dia sentir. Essa descoberta ocorreu quando eu tinha vinte e poucos anos de idade. O que me levou a isso não vem ao caso. Adianto, porém, que não houve mulher nessa história, ao contrário do que diz a letra do bolero Os homens não devem chorar, de Palmeira e Mário Zan. 

Mas chorar por mulher, também vale a pena. E por homem também, sei lá!

O tema choro trago ora aqui porque acabo de ouvir no rádio um chororo danado de bonito expresso por Lula, há poucos dias eleito novo presidente do Brasil. Ele dizia, entre soluços, que se findasse o mandato com café, almoço e janta na mesa do povo, dar-se-ia feliz, "Com a missão cumprida".

Pois é, choro faz bem.

 

BOLDRIN PARTIU SEM COMBINAR


O dia 9 de novembro de 2022 foi um dia brabo, barra pesada. Nesse dia, de frio e calor em São Paulo, partiram para a Eternidade a baiana Gal Costa e o paulista Rolando Boldrin.
Conheci Gal no tempo em que eu ainda morava em João Pessoa, PB. Tudo muito rapidamente, no centenário teatro Santa Rosa, que ficou lotado por meio mundo que queria vê-la cantando. O trânsito parou e foi tudo muito bonito. 
Gal Costa deixou um repertório constituído de 1.080 músicas, incluindo sambas, forrós, baiões e tal. Ela gravou Trem das Onze (Adoniran Barbosa) e Assum Preto (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), entre outros gêneros e ritmos.
Boldrin eu o conheci de perto.
Em 1993 ele e eu fomos chamados pela direção da extinta Continental para produzirmos uma série de discos sob o título geral de Som da Terra. Ele passou lá em casa e dirigindo me levou no seu carro até a sede da gravadora, que era ali na avenida do Estado. Durante uma reunião, Boldrin pediu uma grana alta. Não toparam pagar e ele não topou fazer a série, que ficou comigo. O resultado, que saiu em 1994, foi um pacotão com 26 CDs, 26 LPs e 26 fitas K-7.
Iniciei a série Som da Terra reunindo os principais violeiros de São Paulo. O primeiro deles, o pioneiro Cornélio Pires. A série encerrei com um disco contendo um belíssimo repertório de Boldrin. Ele gostou. Disse que adquiriu o CD em Nova Iorque, pois estava de férias.
Em 2006, Boldrin levou-me ao palco de onde gravava o seu Sr. Brasil. Plateia lotada, foi ele dizendo: "Esse cabloco aqui é muito bom. É Assis Ângelo, que vocês já conhecem".
Confesso que não sou muito tímido, mas ali ouvindo Boldrin dizer o que disse, acabrunhei-me.
Antes, poucos anos antes, convidei Boldrin a participar do programa São Paulo Capital Nordeste. Esse programa, líder de audiência na rádio Capital (AM 1040), era por mim apresentado nas noites de sábado. Ele foi e levou a tira colo uma garrafa de vinho que bebeu todinha enquanto eu transmitia o programa, ao vivo.
A partida de Boldrin para a Eternidade foi uma partida não combinada.
Rolandro Boldrin e Júlio Medaglia
nos estúdios da TV Cultura

Conversando ontem 9 à noite com o maestro Júlio Medaglia, ouvi: "Pois é, compadre. O dia foi pesado, mesmo. De manhã nos deixou a Gal e à tarde, Boldrin".
Medaglia teve importância fundamental na construção do movimento Tropicalista. Caetano frequentava sua casa, cá em Sampa. Gal, também. Ele lembra que Gal, muito novinha, costumava sentar-se muito à vontade no chão da sua casa. Cruzava as pernas e o vestidão enfeitava tudo. 
Quanto a Boldrin, o maestro conta que o ouvia frequentemente nos corredores da Cultura: "A última vez, faz uns três meses. Se tanto. Tiramos uma selfie (ao lado)".
Fica o registro.
Ah, sim! Ia-me esquecendo: há uns 3 meses eu compus Sr. Boldrin, em homenagem ao amigo. Veja:



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