Ontem o programa Roda viva trouxe às falas o SR. Brasil. Uma boa bancada cuidou de fazê-lo lembrar causos e passagens curiosas e engraçadas da sua vida.
Boldrin é o cara.
Conheci Boldrin no tempo em que eu era repórter da Folha. O meu primeiro encontro com ele foi no Teatro Nídia Lícia, ali pelos lados do bairro da Liberdade, onde ele gravava o programa Som Brasil, da tevê Globo. Foi ali que conheci também o embolador de coco Chico Antônio, personagem do paulista Mário de Andrade no Livro O Turista Aprendiz.
No começo dos anos de 1990, eu e Boldrin fomos convidados pela extinta gravadora Continental para cuidarmos de uma coleção de artistas caipiras. Essa coleção, Som da Terra, saiu em 1994, acho, com 25 ou 26 discos nos formatos de LP e cedê e também em gravação prá fita cassete. O primeiro da série foi Cornélio Pires e o último, Boldrin. Eu terminei fazendo sozinho essa coleção, sozinho aspas, ninguém faz nada sozinho, mas o Boldrin me deixou na mão. Mas compreensivelmente, porque ele sempre foi um cara corrido, ocupado e pendente para o "não". No cotidiano, rotineiramente, ele diz mais "não" do que "sim". É seu jeitão. Aliás, o cedê que encerra a coleção ele o comprou em Nova York. Foi o que me disse, pelo menos.
No tempo em que eu apresentava o programa São Paulo Capital Nordeste, na rádio capital AM 1040, eu o convidei várias vezes para uma prosa no ar, ao vivo, e ele sempre dizendo "não". Dizendo não, porque etc. Até que um dia, uma noite melhor dizendo, ele chegou de repente e emburacou no estúdio de onde eu transmitia o programa. Foi um papo arretado, com ele e Théo Azevedo e uma dezena ou mais de artistas presentes. E ele com uma garrafa de vinho debaixo do braço, que cuidou de tomá-la inteira, sozinho, no decorrer do programa. e eu querendo dar uma bicadinha e ele "não".
O compadre Boldrin é assim mesmo, bom de papo, bom de prosa, bom de vida e sem frescuras, simples como botar cana num copo e beber.
Como se não bastassem o seu talento e maneira simples de ser, Boldrin ainda tem preocupação pela cultura musical brasileira. Ele é fonte de pesquisa e como tal também pesquisa. Uma vez Boldrin me surpreendeu quando disse que tinha uma música inédita de Noel Rosa. Fiquei curioso e ele cantarolou dizendo como ouvira pela primeira vez essa inédita do cantor e compositor da Vila. Já falei a respeito e procure nesse blog, numa postagem de um ano que não me lembro, que acharão.
Eu ri muito ouvindo Boldrin falando da sua vida ontem, na tevê cultura. Pena que não posso mais vê-lo.
Enquanto dito estas linhas à amiga Cris Alves, ouço na rádio Cultura FM o programa Fim de Tarde, do querido maestro Julio Medaglia. Ele está apresentando belíssimos duetos extraídos de trilhas de filmes como West Side History e óperas como O Elixir do Amor, de Donizetti. Como se vê, ainda há boas coisas para ouvir.
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