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quarta-feira, 16 de agosto de 2023

MILLÔR, 100 ANOS

Millôr no traço de Fausto Bergocce

É certo que a população de um país que ri, vive melhor. E já não rimos como outrora, pois são muitas as desgraças e tragédias que ocorrem no nosso dia a dia. Pena. Muita gente boa, de bom traço e graça hilários, já nos deu adeuzinho e foi para um lugar que só Deus sabe.
Assim pensando, de repente, lembro de figuras incríveis que amenizaram momentaneamente nossas dores e mágoas com seus remédios de nos fazer rir.
Lembro-me de José Vasconcelos, Zé Fidélis, Chico Anysio, Arnaud Rodrigues e Jô Soares. Mas houve outros, muitos outros: Paulo Silvino, Bussunda, Juca Chaves, Rony Cócegas e Paulo Gustavo.
E Millôr Fernandes, hein?
Millôr Fernandes foi um dos mais completos intelectuais do Brasil. Fez tudo de bom no tocante ao intelecto, entre 16 de agosto de 1923 e 27 de março de 2012. Era carioca de Ipanema. Começou a carreira ainda meio moleque na extinta revista A Cigarra, em 1939; e daí sentou seu talento na famosa O Cruzeiro, do conglomerado do imperador da imprensa Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello. Seu primeiro pseudônimo artístico foi Vão Gôgo (ao lado). 
Não custa lembrar, e é sempre bom lembrar, que Millôr desenhava e fazia graça de tudo, hora pelo caminho filosófico e coisa e tal. Escreveu belas peças e traduziu vários livros. Deixou uma obra bonita e gigantesca. Nessa obra, impossível esquecer suas milhares e milhares de frases definitivas sobre tudo. Aqui, uma dúzia delas:
  • Em agosto, nas noites de frio, a pobreza entra pelos buracos da roupa.
  • A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo.
  • Em política nada se perde e nada se transforma - tudo se corrompe.
  • Além de ir pro inferno só tenho medo de uma coisa: juros.
  • Brasil: um filme pornô com trilha de Bossa Nova.
  • Ainda está pra nascer o erudito que se contenha em saber só o que sabe.
  • Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade de consumo.
  • Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.
  • Está bem. Deus é brasileiro. Mas pra defender o Brasil de tanta corrupção só colocando Deus no gol.
  • Aviso aos navegantes: Em Brasília ainda tem dois deputados do baixo clero sem patrocinador.
  • Além de transformarem o Brasil num cassino, viciaram a roleta.
  • Canalhas melhoram com o passar do tempo (ficam mais canalhas).
O cartunista Fausto e a torcida do Corinthians concordam comigo.
O cartunista lembra a vez que assistiu embevecido a um debate entre Millôr e o publicitário Carlito Maia, no Salão de Humor de Piracicaba. "Foi incrível! Lá pras tantas, lembro que Carlito caiu na besteira de dizer que era da Globo. Todo mundo caiu na risada e o chamou de bozó".
Bozó foi o personagem inventado por Chico Anysio, que fez muito sucesso na TV Globo.
O debate aqui referido foi mediado pelo mestre maranhense Fortuna. Aliás, foi Fortuna quem me levou uma vez à Piracicaba para uma tarde de autógrafos do livro O Coronel e a Borboleta e Outras Histórias Nordestinas. Capa e edição dele. Foi no Salão e lá reencontrei o craque Jaguar, do velho Pasquim de saudosa memória. Publiquei muitas coisas nesse heroico hebdomadário carioca.
E por falar nesse povo todo aí, bonito de traço e ação, não dá pra esquecer do querido Paulo Caruso.
Um dia pedi ao Paulo que me mandasse alguma foto em que se achasse ao lado do Millôr. Fez isso no dia 1º de março de 2019. Ele, por e-mail:
Assis amigo véio,
aqui uma legenda de quem está na foto,
de cima pra baixo, da esquerda pra direita:
Chico, Jaguar e Claudius; abaixo: Cláudio Paiva, Eu, Reinaldo, Ziraldo e Millôr; em pé encostado na parede o Amorim;
em baixo, à frente rabiscando, o velho Nássara, logo atrás o Hubert, Nani ajoelhado e Mariano o bigodudo...
baitabraço
Paulo Caruso

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