De 70 para cá o "comércio" das chamadas "mulheres de vida fácil" cresceu assustadoramente, e os seus "pontos ", obviamente, duplicaram. Hoje, é comum deparar-se com grupos de garotas, algumas não tão novas, maquiadas ou não, bem vestidas ou não, "convidando" transeuntes apressados para rápidos instantes de "amor”, a qualquer hora do dia ou da noite.
“É bem sabido que a prostituição é um sub-produto da virtude; esta sociedade que compra tudo e tudo vende, hipocritamente condena os serviços daqueles que são usados para manter intactos os tabus e manter no alto os códigos de moral dessa mesma sociedade. Fabricam-se prostitutas como se fabricam roupas; tudo são bens de consumo: joga-se fora a roupa usada. Essas mulheres analfabetas cujas vidas são envenenadas pela humilhação e a miséria ignoram a rebelião que iria reivindicá-las como seres humanos, numa sociedade diferente, sem tarifas para o amor; mas em troca, encarnam-se a si mesmas, numa espécie de exorcismo ao inverso, e projetam para o plano religioso. Encarnam a mesma imagem que o sistema forjou delas, para usá-las e depreciá-las; mas aí, atenção: esse auto-retrato é impresso em negativo, porque o objeto de desprezo passa a ser o objeto de adoração; a abominação abre caminhos para a devoção, e a prostituta decide que é sagrada. Achavam que eu fosse uma cadela? Pois eu sou uma deusa”. (Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina)
"Eu e mais uma centena de mulheres iguais a mim fomos detidas pela Polícia. Os tiras nos levaram para o 2.º DP (Bom Retiro). Lá fomos espancadas e tratadas que nem cachorros. É sempre assim. Exigiram ainda de cada uma de nós a quantia de Cr$ 1 mil. E ameaçaram ou dão esse dinheiro ou assinam o 59 (Art.59, vadiagem. Código Penal). Como não aguento mais ser explorada, eu disse vou contar tudo isso ao juiz corregedor. Ai, então, eu ouvi: se for, a sua vida não valerá um vintém." (Baiana).
Foi numa noite de outubro deste ano. Os policiais da Seccional Centro efetuaram uma "Operação Arrastão" e levaram cerca de 100 prostitutas ao 2.º Distrito para "averiguação", segundo eles. Parte dessas mulheres foram liberadas na manhã do dia seguinte. "Eu até tenho um salvo conduto. Eu e outras colegas minhas. Mas os tiras não quiseram conversar. Eles disseram que usavam os salvo condutos como papel higiênico, porque "o que nos interessa é dinheiro". Não dei o que eles queriam e me bateram. Fui junto com outras mulheres ao Fórum, e contei tudo ao dr. Laércio Talli. Agora, morro de medo de sair às ruas, porque juraram me pegar", afirma Elvira Lopes.
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