Último encontro de Belchior com Jorge Mello, em 2006 |
Belchior na casa do Assis |
Até aí tudo bem, caso o Belchior citado não fosse o nosso Belchior cantor, compositor e ex-seminarista nascido no Ceará no ano de 46.
Isso mesmo, o brasileiro Belchior pode até virar santo!
A vida pessoal de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes foi uma vida pra lá de atribulada. Foi um intelectual. Falava bem o francês, o inglês e arranhava outros idiomas como o espanhol e o italiano. O latim ele o tirava de letra, com a naturalidade de quem bebe água, cheira uma flor e respira.
Eu o conheci bem.
Belchior era um cara pacato, reservado, incapaz de ferir uma mosca.
A sua música, versos e canto eram incomparáveis, com personalidade própria.
Cidadão afável, Belchior atendia a todos que o procuravam. Gostava de bom vinho, bacalhau e charutos cubanos. Aparentemente normal, não era machão do tipo clássico, mas adorava pular cerca.
"Meu último encontro pessoal com Bel foi em dezembro de 2006", lembra o parceiro e sócio Jorge Mello. "Esse encontro ocorreu no hall do Cesar Park Hotel, em Fortaleza, onde realizávamos uma exposição de artes plásticas", acrescenta Jorge.
Dessa exposição participaram também Jô Soares, Chico Anísio e outros pintores bissextos.
Belchior foi um ótimo pintor.
Jorge Mello compôs 29 músicas com Belchior, duas ou três ainda inéditas. No início da carreira, moraram juntos no Rio de Janeiro.
O surgimento de altares feitos em memória de Belchior foi natural e natural continuam se multiplicando. Essa multiplicação já se acha na casa dos 50. São iniciativas de pessoas que admiravam muito o artista e nele acreditavam ser alguém fora do comum. Coisa de fã exagerado.
O sumiço de Belchior, injustificado até agora, começou em 2007. Era visto aqui e ali. Até no Uruguai, onde foi localizado por uma equipe da TV Globo. A entrevista foi um tanto atabalhoada.
Fisicamente, o artista morreu no Rio Grande do Sul em 2017.
Guardo ótimas lembranças dele comendo, bebendo e cantarolando lá em casa. Numa ocasião presenteei-lhe com um pequeno aparelho de tocar discos em 78RPM, que ele adorou.
Além de vários filhos, Belchior deixou carros (importados) que se acham até hoje em estacionamentos de São Paulo e dívidas que se acumulam. Curiosidade: no ECAD se acham mais de 200 milhões de reais procedentes de direitos autorais em nome de Belchior. Essse dinheiro, porém, não pode ser sacado por estar "sub judice".
Até onde essa coisa vai só Deus sabe.
Bom, só falta o querido Belchior virar santo ou seita.
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