Outra mulher que também abriu o coração e a mente para o sexo foi a goiana Cora Coralina, de batismo Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985). Deixou uma obra pequena, porém resistente. É dela Pouso de Boiadas:
Conversa sem sentido.
Os homens estirados
nas redes e nos forros,
assuntam de mulheres...
- Fêmea. Erotismo de macho.
Palavreado obsceno.
(...)
Manelão canta sozinho.
Manelão canta baixinho.
Moda de mulher.
...Dola... Xandrina...
... o chamado obscuro, sexual.
(...)
Manelão canta em surdina,
Manelão canta baixinho,
Manelão canta sozinho
Toada de mulher.
Dola... Xandrina...
O rude chamado sexual.
A saga bárbara
dos boiadeiros.
Quatro anos depois de seu falecimento, foi lançado o LP Cora Coralina com 13 poemas, entre os quais: Velho Sobrado, Estas Mãos, O Cântico da Terra, Todas as Vidas e Meu Epitáfio, que diz:
Morta… serei árvore
Serei tronco, serei fronde
E minhas raízes
Enlaçadas às pedras de meu berço
são as cordas que brotam de uma lira.
Enfeitei de folhas verdes
A pedra de meu túmulo
num simbolismo
de vida vegetal.
Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos
Num dos contos incluídos no livro Contos Novos (1947), o autor Mário de Andrade fala de dois jovens estudantes que sentem atração física mútua. Ainda nesse livro, Mário escreve a história que tem como personagens centrais Nízia e Rufina. Já falamos. O final desse conto é dúbio, como dúbio é o final do conto Frederico Paciência.
Enfim, quem transou com quem?
Amor e preconceito sexual sempre geraram discussões febris, no Brasil e noutras plagas.
A escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), mostra isso no livro Orgulho e Preconceito, publicado pela primeira vez em 1813.
Nesse livro, Austen conta a história de um casal que tem cinco filhas prontas para se casar. A mãe, Sra. Bennet, faz tudo e muito mais para que suas belas donzelas não padeçam no poço profundo do caritó. A mais nova, porém, de 16 anos, foge de casa com um cara sem futuro. A partir daí o romance ganha força.
A leitura de Orgulho e Preconceito nos leva à cena rural onde tudo se passa. Lá a mulher solteira que saía de casa e não se casava logo caía na boca ferina do povo. Isso, para uma família bem constituída, era o pior que podia acontecer.
Maria Firmina dos Reis, boa no verso como Cora Coralina, foi a primeira brasileira a publicar um romance no Brasil. Úrsula foi levado à praça em 1859. Três anos depois nascia no Rio de Janeiro Júlia Lopes de Almeida.
Júlia, primeira e única mulher a participar das reuniões que resultaram na fundação da Academia Brasileira de Letras, ABL, foi a segunda mulher brasileira a escrever e a publicar um romance: A Viúva Simões.
O livro de Júlia, lançado em 1897, conta a história de uma mulher que perdeu o marido e por bom tempo passou a cuidar apenas da filha Sara, enquanto a criadagem cuidava das duas.
O isolamento da viúva, Ernestina, dura até o momento em que ela reencontra um namorado da adolescência. Esse, Luciano, de tanto atentar, finda por amolecer o coração da protagonista. O fim beira a tragédia.
Júlia Lopes de Almeida foi, até aqui, a escritora que mais contos e romances publicou. Seus títulos andam na casa dos 50.
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário