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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O PAPA É UMA GRAÇA!

Escorado num personagem que batizou de Alexander, Dostoiévski conta histórias vivenciadas por ele na Sibéria. Essas histórias e personagens se acham no livro Recordação da Casa dos Mortos.
Em Recordação da Casa dos Mortos, Alexander/Dostoiévski conta os horrores que viveu na cadeia. Brigas e tal. Fala também de contrabando de aguardente que deixavam felizes os condenados.
Dostoiévski foi um dos maiores escritores russos, cujos livros são lidos em línguas diferentes até hoje. Esse Recordação da Casa dos Mortos foi publicado em 1864. Quer dizer: há exatos 160 anos.
E por que falo disso aqui?
Há pouco um grupo de brasileiras encontrou o Papa Francisco passeando numa cadeira de rodas. Uma graça. Uma das meninas pergunta se ele conhece cachaça. E ele, rindo: "Cachaça é água?". Todos caem numa risada só.
Claro, lembrei da famosa marchinha de Carnaval Cachaça não é Água Não. 

domingo, 29 de setembro de 2024

TEMPO QUE VAI NÃO VOLTA


Um ano tem 12 meses, 52 semanas e 365 dias. 
Eu já vivi um bocado dessa coisa chamada tempo. Senão, vejamos: 864 meses, 3.760 semanas e 26.300 dias pelo menos. Um pouquinho mais, um pouquinho menos. 
Os números aí fecham um longo ciclo de 72 anos vividos Brasil afora, incluindo passagens rápidas mundo afora. 
Pois é, pessoal, ainda me acho em estado um tanto tonto, inebriado, pela presença salutar de queridos e queridas pessoas que tive a capacidade de fazê-las amigas minhas. 
No último dia 27, de Cosme e Damião, reunimos aqui no meu cafofo gente de sensibilidade e talento. 
Comigo estiveram  grande dama do forró Anastácia, o cantor e compositor Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha e neto de Gonzagão; a produtora cultural Carol, neta de Anastácia; o radialista Carlos Silvio, o historiador Darlan Zurc, o jornalista Woile Guimarães e sua companheira também jornalista Regina, o craque do cordel Marco Haurélio e a sua mulher a xilogravurista Lucélia, a graciosa circense Poliana Helena e o maridão Julian, a jornalista Cilene com a irmã Cida, Lucia Agostini, a jornalista e produtora cultural Sylvia Jardim, acompanhada do marido Marcelo e do filho Felipe; a jornalista Vanira e a filhona Mariana, a maravilhosa Nalva, minhas filhas Clarissa e Ana Maria ao lado do companheiro Geremias; Flor Maria, que tanto a mim tem ajudado; o colega Marcelo Cunha, o cartunista Fausto e seu amigo Robson Rodrigues, o músico e roteirista de tudo Paulo Garfunkel, Magrão e ainda a coleguinha Patrícia, do time de ouro de Sylvia Jardim, que chegou acompanhada da sua cara metade André. 
Pelo grambell recebi parabéns dos jornalistas Marco Antonio Zanfra, diretamente de Floripa, Wilson Seraine, do Piauí, Manoel Dorneles, de Natal... E de Sampa mesmo Júlio Medaglia, Luiz Carlos Bahia, Wilson Baroncelli, Célia e Selma...
Deixaram mensagens no WhatsApp o parceiro musical Jarbas Mariz, que estava a fazer show em Vitória, ES; Tom Oliver, Klévisson Viana, de Fortaleza; Raimundo José, Simon Widman, Afanasio Jazadji...


TÉO AZEVEDO 

Ontem 28 o poeta Moreira de Acopiara passou por cá e me levou até a Praça Benedito Calixto onde o agitador cultural Edson Lima promoveu um belo agito em homenagem ao querido cantador e violeiro Téo Azevedo. Muita gente boa esteve presente: Pedro Monteiro, Cacá Lopes, Luiz Wilson, Fatel, Dantas do Forró, Lucas da Sanfona, Marlus e Genivaldo, os três últimos integrantes do trio Golada. 
Foram vários os artistas que contaram causos e cantaram em memória do grande artista mineiro.
Cantaram músicas que fiz em parceria com o Téo: Clarissa e Minha Rendeira.
Tocaram também, com acompanhamento da plateia, a música que eu fiz junto com Cacá Lopes e Luiz Wilson: O Cantador de Alto Belo
Fica o registro.


CHICO BUARQUE 

O cantor e compositor Chico Buarque foi figura lembrada hoje de manhã pelos seus 80 anos de idade, recentemente completados. 
A homenagem a Chico contou com a belíssima apresentação da Big Band do Guri, sob a regência do maestro Daniel Lopes Filho. Foi legal e o palco do evento foi o Theatro São Pedro, cá no bairro paulistano da Barra Funda. Fui até lá levado pela jornalista Cris Alves e seu irmão Eduardo.
No repertório apresentado hoje de manhã no São Pedro um leque de clássicos assinados por Chico. Entre esses Construção, Gota d'Água e Sabiá, esse em parceria com Tom Jobim. 
Os arranjos do maestro Daniel pessoalmente achei incríveis, originalíssimos.

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (134)

George Orwell
Idílio, amor, traições, estão presentes em quase tudo que Shakespeare escreveu.
Amor e paixão na obra shakespeariana marcam mesmo quando abordados de forma leve, tranquila, insinuantemente. Exemplo é a peça Muito Barulho por Nada, que entre nós virou ditado popular.
Essa história tem lá seu lado engraçado, picante e tal. Um dos personagens ama uma jovem, mas não tem coragem para dela se aproximar. Pede então ajuda a um amigo príncipe pra servir de elo entre ambos. Lá pras tantas a cobiçada jovem é acusada de dar pra Deus e o mundo. E mais não digo.
E o enredo de A Megera Domada, hein?
Nessa peça Shakespeare mistura humor com seriedade, riqueza com pobreza, erudito com o povarél. O enredo põe em destaque a disputa de dois jovens por uma donzela: Bianca. Mas Bianca não pode se casar antes de sua irmã mais velha, a megera…
Em 1958, Huxley voltou ao tema por ele abordado em 1932. Título: Regresso ao Admirável Mundo Novo.
Nesse novo livro, o autor avalia as previsões que fizera no seu livro de estreia no qual alertava o mundo para educar os seus cidadãos, da melhor forma possível, para não caírem em ditaduras. Isso, infelizmente, há muito ocorre. São 49 ditaduras ou quase ditaduras espalhadas mundo afora, segundo pesquisa feita pela Freedom House e tornada pública em 2021.
O Admirável Mundo Novo pode ter inspirado George Orwell a escrever 1984, originalmente publicado em 1949. Nos livros desses autores há de tudo, incluindo distopia, cenas de amor, prazer e sexo. Exemplo, em 1984:

… A cintura da garota na dobra de seu braço era macia e quente. Ele a puxou, de modo que eles estavam de peito a peito; o corpo dela parecia derreter no dele. Para onde quer

que suas mãos se movessem, tudo era tão flexível quanto água. Suas bocas se agarravam; era bem diferente dos beijos duros que haviam trocado antes. Quando voltaram a separar seus rostos, os dois suspiravam profundamente. [...]

Winston colocou seus lábios contra a orelha dela. “Agora”, ele sussurrou.

“Aqui não”, sussurrou ela de volta. “Vamos voltar para o esconderijo. É mais seguro”

Rapidamente, com um crepitar ocasional de galhos, eles trilharam seu caminho de volta para a clareira. Uma vez dentro do anel de mudas, ela se virou e o enfrentou. Ambos respiravam rápido, mas o sorriso havia reaparecido nos cantos de sua boca. Ela ficou olhando para ele por um instante, depois abriu o zíper de seu macacão. E, sim!, foi quase como em seu sonho…


Foto e Ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 28 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (133)

Aldous Huxley

É certo que Ariano Suassuna inspirou-se nos cavaleiros medievais para desenvolver muitas das suas tramas. Estudou, estudou e virou povo.

Tudo o que Ariano Suassuna escreveu tem o dedo do povo, a presença do povo. Porradas e sofrimentos, alegrias e tristezas. E sonhos. Nada de sadismo ou masoquismo, apenas vontade de viver brincando.

Assim como Ariano, foi François Rabelais (1494-1553).

Tudo que Rabelais escreveu foi baseado nos contos e lendas do povo. Está tudo em Gargântua e Pantagruel, obras que se completam.

Também no poço insecável da cultura popular bebeu o imortal Shakespeare, para nosso deleite.

Falar desse autor de tantas obras-primas, nunca é demais.

O inglês Aldous Huxley (1894-1963) tinha nele um mestre, como o nosso Machado de Assis. No romance futurista Admirável Mundo Novo (1932), Huxley inspirou-se, é certo, em Shakespeare.

Nesse livro, o autor de Hamlet e Otelo está de modo muito forte presente. Até o título do seu famoso livro Huxley inspirou-se em Shakespeare tirando-o de A Tempestade, publicado originalmente em 1510/11:


(Abre-se a porta da cela, deixando ver Ferdinando e Miranda, que jogam xadrez)

MIRANDA — Estais usando de esperteza, príncipe.

FERDINANDO — Não, querida; por nada neste mundo poderia fazê-lo.

MIRANDA — Sim, por um par de reinos poderíeis altercar, e eu vos juro que chamara a isso jogo correto.

ALONSO — Se tudo isto for outra vez uma ilusão desta ilha, duas vezes perdi meu caro filho.

SEBASTIÃO — Oh Milagre estupendo!

FERDINANDO — Muito embora ameacem sempre, os mares são piedosos. Amaldiçoei-os sem razão para isso. (Ajoelha-se em frente de Alonso.)

ALONSO — Que te envolvam as bênçãos incontáveis de um venturoso pai. Alça-te e dize como aqui vieste ter.

MIRANDA — Oh! Que milagre! Que soberbas criaturas aqui vieram! Como os homens são belos! Admirável mundo novo...


A tempestade do título da peça é provocada pelo mago Próspero, um conde que foi traído pelo rei Alonso. Numa manobra sacana, Alonso faz Próspero confinar-se numa ilha distante de tudo. Pra essa ilha foi também a filha de Próspero, Miranda. O Exílio dura 12 anos e a filha de Próspero acaba apaixonando-se por um cara chamado Ferdinando. E a história segue.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

TEMPOS DE JORNALISMO POLICIAL

Hiroito Joanides, Hiroito de Moraes Joanides (1936-1992), foi um marginal perigoso e chamado Rei da Boca do Lixo. Seu arqui-inimigo era Quinzinho, de batismo Joaquim Pereira da Costa, bem menos perigoso do que Hiroito, que andava com revólver pendurado na perna e uma navalha escondida em algum lugar do corpo. 
O apelido Quinzinho vem de Joaquim, que na intimidade familiar vira Quinca, que vira...
Hiroito eu entrevistei ali pelos finais dos anos de 1970. A matéria foi publicada nos jornais Folha de S.Paulo e no extinto Notícias Populares, que todo mundo chamava de NP.
Hiroito morreu de morte natural e Quinzinho atropelado ao tentar separar uma briga entre dois amigos. Isso na madrugada de 03 de abril de 1984, em plena Av. São João.
Enquanto cumpria pena na extinta Casa de Detenção, SP, Hiroito punha no papel as suas histórias. Virou livro em 1977. Título Boca Do Lixo.
Boca do Lixo era o lugar onde hoje se acha instalada a coisa chamada cracolândia.
Bom pessoal, aí ao lado o original da entrevista que publiquei na primeira quinzena de agosto de 1980, no extinto tabloide independente Feijão com Arroz. Esse jornal durou pouco tempo, apenas cinco números. Era mensal.


LEIA MAIS: 

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

VARELLA É O NOSSO DOSTOIEVSKI



Prisioneiras é o último livro da trilogia sobre o sistema carcerário de São Paulo escrito pelo médico paulistano Dráuzio Varella (foto ao lado). Os dois primeiros, Estação Carandiru e Carcereiros, foram lançados respectivamente em 1999 e 2012. Viraram filme e série com a marca Plim Plim. Isto é, grupo Globo. Mais: correram mundo. Na verdade, ainda estão correndo.
Estação Carandiru é um livro impressionante, recheado de histórias horripilantes, de degola, empalamento, quase inacreditáveis. Literariamente poderíamos classificá-lo como surrealista. Mas não nos enganemos. Esse é um livro absurdamente realista.
É difícil nomear qual a mais original e chocante história desse livro. São muitas que despertam vivamente a atenção do leitor. 
As fugas e tentativas por túneis escavados à mão eram no Carandiru cinematográficas. De uma só vez, pouco mais de uma cetena de detentos lograram êxito.
Cinematográfica também foi uma fuga frustrada de um pequeno grupo armado que invadiu o refeitório da diretoria fazendo reféns o poderoso Luizão, um capitão, um tenente e um casal de advogados em visita à instituição. 
Curiosamente, essa fuga não deu certo porque os celerados confundiram o barulho de um helicóptero de uma televisão como se fosse o barulho de helicóptero da Polícia como exigiam para a fuga. 
Ao ler Estação Carandiru e Carcereiros não deixei de lembrar de Recordação da Casa dos Mortos (1862), de Fiódor Dostoiévski (1821-1881).
Em 1849, Dostoiévski foi preso sob a acusação de participar de um complô que tinha por objetivo derrubar o Czar. Julgado, foi condenado à morte. Na última hora, porém,  teve a pena capital transformada em prisão na Sibéria. Lá ele sofreu como jamais imaginara. Passou fome, passou frio e levou muitas porradas.
A dura experiência de Dostoiévski na prisão rendeu o livro aí citado contando os terríveis anos que viveu na prisão. Aqui, o ponto: não dá pra deixar de comparar a bela e contundente escrita de Varella com a do grande escritor russo.
O terceiro livro da série tem por título Prisioneiras. É um tapa na cara da sociedade machista, sacana, hipócrita. 
Os depoimentos colhidos junto às presidiárias são uma prova de que as mulheres continuam sendo vitimadas pelos arroubos preconceituosos dos machos da vida e, de certo modo, abandonadas pela própria família. 
Entre as presidiárias ouvidas pelo médico há líderes do PCC. 
O PCC ganhou forma pública em agosto de 1993. O berço foi o "Piranhão" de Taubaté, a cerca de 130 km da Capital paulista. 
Piranhão era o nome dado à cadeia pública de Taubaté. 
Dráuzio Varella continua desenvolvendo trabalho voluntário agora na Penitenciária do Estado, onde foram realocadas as mulheres condenadas pela Justiça. 
Prisioneiras já ganhou versão em japonês. 

terça-feira, 24 de setembro de 2024

LIVRO CARCEREIROS, 12 ANOS

Lugar de preso é na cadeia, segundo pensamento comum.
Mas será que há no Brasil cadeias suficientes para nelas enfiar todos os marginais, do mais desqualificado "pé de chinelo", ao mais perigoso assassino, estuprador...?
Essa questão vem sido debatida desde sempre, o tempo todo. Desde que existe gente.
No capítulo Gênesis, da Bíblia, há o registro de que Caim matou o irmão Abel. Os motivos estariam ligados a problemas comuns, pessoais. De inveja, por exemplo.
No livro Carcereiros (2012), o autor Dráuzio Varella faz umas continhas onde se lê:
...No mês de janeiro de 2012, o sistema prisional paulista recebeu a média diária de 121 presos novos, enquanto foram libertados apenas cem. Ficaram encarcerados 21 a mais todos os dias, contingente que agrava o déficit de vagas conforme o tempo passa.
Como os presídios novos têm capacidade para albergar 768 detentos, seria necessário construir um a cada 36 dias, ou seja, dez por ano. Esse cálculo não leva em conta o aprimoramento técnico da polícia. Se a PM e a Polícia Civil conseguissem realizar o sonho da sociedade brasileira, prendendo marginais com a eficiência dos policiais americanos — 743 para cada 100 mil habitantes —, seria preciso erguer uma penitenciária a cada 21 dias.
Agora, analisemos as despesas que as construções demandam. No primeiro semestre de 2012, pôr uma cadeia em pé consumia 37 milhões de reais, o que dá perto de 48 mil reais por vaga. Para criar uma única vaga, gastamos mais da metade do valor de uma casa popular com sala, cozinha, banheiro e dois quartos, com a qual é possível retirar uma família da favela.
Esse custo, no entanto, é irrisório quando comparado aos de manutenção. Quantos funcionários públicos há que contratar para cumprir os três turnos diários? Quanto sai por mês fornecer três refeições por dia à massa carcerária? E as contas de luz, água, material de limpeza, transporte, assistência médica, jurídica?...
Os números crescem a cada dia, cada mês, cada ano.
Dados novos e oficiais divulgados em 2023 pelo Ministério da Justiça dão conta de que há 839,4 mil criminosos de todos os tipos distribuídos em 1.381 presídios Brasil afora.
Fora isso, há pelo menos 300 mil mandados de prisão em aberto. Mais: pelo menos 30 mil criminosos estão sendo procurados pela polícia. 
Como se vê, o problema é de dimensões gigantescas, irresolvível aqui e alhures.
A Casa de Detenção, vulgarmente chamada de Carandiru por sua localização no bairro de mesmo nome na Zona Norte da Capital paulista, foi uma espécie de escola do crime no correr do tempo que durou: quase 50 anos. Era o maior da América Latina.
Os grandes presídios já não existem praticamente, nem no Brasil nem na caixa-prego. Estou falando de prisão superior a sete mil presos, média da população carcerária da extinta Detenção. 
O presídio de Alcatraz, considerado o mais seguro de seu tempo (1934-1963), fechou as portas porque faltou grana para a manutenção. E estamos falando dos EUA.
Daquele presídio, localizado numa ilha da Califórnia, houve tentativas de fuga e no máximo um ou dois presidiários conseguiram fugir.
Em 1952, o presídio da Ilha Anchieta foi palco do primeiro grande massacre ocorrido no Brasil. O dia era 20 de junho. Esse dia amanheceu com o presídio em alvoroço. Os detentos, armados de paus, facas e tudo mais, não perdoaram os funcionários que iam encontrando pela frente. Mortos à machadadas e também a tiros. Poucos escaparam. Quanto aos amotinados, no primeiro momento 129 foram recapturados. Na ocasião havia nas selas, 453. Andei escrevendo sobre isso, sobre essa rebelião, na Folha. 
Na Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, nº 31 de julho a dezembro de 2023, Dirceu Franco Ferreira e Érica Vieira dos Santos escreveram sobre o assunto longo texto que ocupou 36 páginas da referida revista. Um trecho:
Em 1978, Pereira Lima estava com 58 anos de idade e preso há 36 anos. Apesar de sua longa permanência na prisão, ainda era lembrado com desconfiança pela imprensa e pela Justiça como alguém perigoso que liderou a famosa rebelião e fuga em massa na Ilha Anchieta e assassinou o diretor do IPA de São José do Rio Preto. Antes de ser posto em liberdade condicional, ele concedeu uma última entrevista, em 08 de outubro de 1978, ao jornalista Assis Ângelo, do jornal Folha de São Paulo, em uma edição do Folhetim.

Ao ser entrevistado, disse que após cumprir todos estes anos de detenção tinha a certeza de que longos anos de prisão não regeneravam ninguém, posto que toda a força repressiva e punitiva produzia ainda mais delinquência e revolta nos presos. Carregando marcas físicas e psicológicas destas ações, continuou afirmando que não atuou como o líder da rebelião da Ilha Anchieta e que não havia nenhum plano de fuga elaborado entre os presos, como os jornais noticiaram, mas que eles, há muito tempo estavam descontentes com o regime punitivo aplicado na ilha-prisão, com a rotina de espancamentos, práticas de tortura e com a má alimentação e, na ocasião, encontraram a oportunidade de fugir.
Ia-me esquecendo: Caim só não foi preso e condenado por assassinato porque à época não havia polícia, justiça e cadeia. 
Leia a reportagem que fiz em 1978, clicando:




segunda-feira, 23 de setembro de 2024

LIVRO ESTAÇÃO CARANDIRU, 25 ANOS

Há 25 anos, em 99, os leitores ávidos por boas histórias foram surpreendidos com o lançamento do livro Estação Carandiru, do médico paulistano do Brás Dráuzio Varella.
O livro é um chute nos colhões, como diriam os presos da Casa de Detenção de São Paulo, implodida há 22 anos.
O livro, muito bem escrito, reúne histórias hilariantes. Terríveis, contadas ao autor pelos próprios presidiários, ou personagens dessas fabulosas histórias. Na verdade, terríveis histórias.
O realismo em Estação Carandiru é gritante.
Nas histórias colhidas por Varella, há deduragens, adultérios, amores loucos entre homens ativos e passivos, sexualmente falando.
A Casa de Detenção, que era comandada pelo linha dura Luiz Camargo Wolfmann (1931-2012), foi descartada completamente pelo então governador Geraldo Alckimin depois do massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992. Na ocasião muita gente foi fuzilada. Oficialmente 111, mas esse número pode no mínimo dobrar.
Pois é, cobri vários motins na velha casa do Carandiru.
O livro de Varella virou filme dirigido pelo cineasta argentino Héctor Babenco. Correu mundo, dublado em vários idiomas.
Além de filme, Estação Carandiru rendeu também peça de teatro e foi traduzido para o inglês.
É certo que até agora, cerca de um milhão de exemplares foram vendidos no Brasil.
Ah! Sim: no lugar onde havia a prisão, até então a maior da América Latina, foi construído um espaço social denominado Parque da Juventude.
Pra lembrar, clique:

domingo, 22 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (132)

A morte de Alcestis,
de Jean-François-Pierre Peyron

 A Friné citada por Masoch, fez-me lembrar a personagem Alceste que dá título à peça do antigo autor grego Eurípides. É história encantadora. Enigmática. Um trecho:

…Alceste não é uma tragédia, como diziam ser — acho que é uma obra obscura porque é uma história doméstica mais íntima, e justamente por isso gostei tanto. A montagem se passava nos dias atuais, numa casinha no subúrbio de Atenas. E gostei do escopo que deram à peça. Uma tragédia íntima e realista. O protagonista está condenado à morte, e sua mulher, Alceste, quer salvá-lo. A atriz que interpretava Alceste parecia uma estátua grega, com um rosto magnífico; eu ficava pensando em pintá-la. Pensei em pegar informações sobre ela e fazer contato com o agente. Quase comentei isso com Jean-Felix, mas me contive. Não quero mais envolvê-lo na minha vida, seja lá para o que for. No fim, eu estava com lágrimas nos olhos. Alceste morre e renasce. Literalmente volta do além… 

(Parte do diário da personagem Alicia Berenson, constante no livro A Paciente Silenciosa, escrito pelo norte-americano Alex Michaelides)

Leopold Masoch publicou no total 34 livros, incluindo A Vênus das Peles.


Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora.

sábado, 21 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (131)

Em 1787, o Marquês de Sade escreveu o romance Justine ou Os Infortúnios da Virtude.

Interessantíssimo. Bom de se ler. Fez sucesso e acabou entrando no rol dos clássicos. 

Pouco tempo depois de Sade publicar Justine, Restif de La Bretonne escreveu e publicou Anti-Justine.

Justine é um livro que trata de duas irmãs que são postas pra fora de um convento de freiras depois que a mãe morre.

Uma vira prostituta, Juliette, que passa a ter uma vida farta e movimentada na sociedade do seu tempo. A outra, Justine, nasceu pra sofrer. 

Sade foi Sade. Sádico. 

Sadismo vem do Marquês de Sade.

E Masoch?

O austríaco Leopold von Sacher-Masoch (1836-1895) gerou a palavra masoquismo, que tem a ver com a pessoa que tem prazer sexual com o próprio sofrimento ou humilhação a que se submete. Masoch, como pelo sobrenome ficou conhecido, é o autor de A Vênus das Peles.

Esse livro, publicado em 1870, conta a história de um casal que sente prazer em ser maltratado um pelo outro. Normal, dentro da temática do viver. Freud adorou o tema.

Um trecho:

— A dor possui para mim um encanto estranho, e que nada acende mais a minha paixão do que a tirania, a crueldade, e sobretudo, a infidelidade de uma mulher formosa. Esta mulher, este estranho ideal de terrível estética, imagino-a com a alma de Nero e o corpo de Friné.

Friné, como se chamava, foi uma cortesã de luxo da antiga Grécia. Era pouco vista em público e viveu no correr do século 4 a.C. Ainda no referido livro, lê-se:


… Eu sou ultra-sensualista, que em mim toda a concepção procede, antes de mais, da imaginação e que se nutre de quimeras. Desde que, pelos dez anos, puseram nas minhas mãos a vida dos mártires, desenvolvi-me e sobreexcitei-me nesse sentido. Recordo-me que lia com um horror que constituía para mim um verdadeiro prazer, a maneira como languesciam na prisão, os estendiam nas grelhas, os atravessavam de setas, os ferviam em pez, os deitavam às feras, os crucificavam, tudo sofrendo eles com uma espécie de alegria. Sofrer, suportar cruéis torturas, parecia-me então uma forma de prazer, sobretudo se estas torturas se infligiam por intermédio de uma mulher bonita…

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (130)

Restif de La Bretonne, la Petite Laitière;
de Lubin de Beauvais

Todo mundo sabe que Henry Miller foi extremamente erótico nas suas narrativas. Era casado e tinha como amante a polêmica escritora Anaïs Nin (1903-1977), autora de Delta de Vênus (1977) e Incesto: Diários Não Expurgados (1992).

Nin tinha dois irmãos quando o pai se separou da mãe para se casar com uma mulher bem mais nova do que ele.

A vida pessoal de Anaïs Nin não foi nada fácil. Para passar o tempo escrevia cartas ao pai, que nunca as recebia. A mãe as bloqueava. Foi a partir daí que ela virou escritora. Seus originais se acham na Biblioteca de Los Angeles. 

E o Marquês de Sade? 

E Restif de La Bretonne?

Esses eram contemporâneos, nascidos em terras francesas, como os incomparáveis Rabelais e Voltaire.

Sade deixou um monte de livros. Uns 50 ou 60.

Bretonne foi também respeitado intelectual do seu tempo, chegando até a inspirar os revolucionários franceses do século 18 a pôr abaixo a Bastilha.

Numa lista pessoal, Bretonne, anotou ter possuído mais de 300 mulheres.

Sade foi preso várias vezes, inclusive na Bastilha. Morreu no manicômio, provocando pesar de Napoleão Bonaparte (1769-1821), que o mandou pra lá.

Foi um libertino libertário, como Bretonne.

Era um intelectual, escrevia e falava muito bem. Sabia o que dizer. Seus textos nos mais de 50 livros que publicou são e serão incríveis.

Sade foi muito além do que se possa imaginar: era rico, viveu, sofreu… Bonaparte o fodeu.

Todos dizem, na história, que Sade era sádico…

Bonaparte teve uma vida sexual bastante agitada, até porque não havia harmonia entre ele e a mulher.

A separação de Napoleão e Josefina ocorreu em 1809.

Sobre Napoleão há um extenso e curioso anedotário. Um deles foi dito por Ariano Suassuna. Mais ou menos assim:


Dois doidos se encontram num manicômio. Um deles pergunta: 

— Por que você não bate continência pra mim?

— Quem é você?

— Eu sou o imperador Napoleão Bonaparte!

Surpreso o outro doido pergunta: E quem lhe fez imperador?

— Deus!

— Eeeeu!?


Napoleão foi o cara que botou D. João VI pra correr de Portugal e com ele o filhote Pedro.

Quando D. João VI veio ao Brasil, corrido, trouxe um montão de gente.

A vinda do rei português para o Brasil foi escoltada por uma esquadra inglesa. 

E não custa lembrar que ele casou-se com uma certa Joaquina e com ela teve nove filhos. Teve também uma amante, pelo menos: Eugênia, que engravidou e acabou pagando pecado num convento espanhol.

O diretor Doug Wright fez um filme baseado nos últimos dias de Sade: Contos Proibidos do Marquês de Sade.


Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (129)

Dante e Beatriz, pintura de Henry Holiday

As pegadas de Kafka foram antecedidas por autores como Dante Alighieri. Sim, aquele de A Divina Comédia.

O italiano Dante era um apaixonado por uma certa Beatriz. Século 13, por aí. Ele a conheceu quando tinha nove anos de idade e depois de nove anos voltou a vê-la e pôs na cabeça que com ela teria de se casar. Dançou. Ela foi para um lado e ele para outro. Amor platônico. Ele próprio casou-se com outra mulher e com ela foi pai três vezes, uma das filhas, a quem deu o nome de Beatriz, findou seus dias num convento.

Na época de Dante, na verdade antes e depois de Dante, era comum casamentos feitos de modo arranjado. Negócio na parada e a mulher como moeda de troca. Toma lá da cá. “Objeto” com dote e tudo.

Era através de casamentos assim arranjados, negociados, que famílias ricas ficavam mais ricas. Como se vê, por interesse.

Nesse ponto fica claro que o sexo era o caminho para fortalecer elos que levassem ao poder. E como expressão artística, o sexo é um poço sem fundo.

Já andei falando de Pietro Aretino, mas não custa lembrar que ele era assim e assim com religiosos do seu tempo. Chegou a ser amigo até de papas, como Clemente VII. Era temido por fracos e fortes. É dele a frase: “Escondemos o nosso sexo e pomos à vista as mãos que roubam e matam, e a boca que jura em falso”.

Tinha por hábito “emprestar” suas mulheres aos amigos. Às vezes, uma ou outra voltava ao seu teto. Por saudade, tesão ou sabe-se lá o quê!

Giacomo Casanova, o galã galante de Veneza, era intelectual e músico. Deixou muitos livros publicados e uma rica autobiografia, cujos originais estão na Biblioteca Nacional da França, que seria transformada em livro muito tempo depois da sua morte, em Duchcov, República Checa.

Como tradutor, Casanova deixou sua marca em Ilíada, de Homero, para italianos.

Conheceu muita gente importante, entre homens e mulheres. Aliás, dizem que não fazia muita diferença entre levar para cama um homem ou uma mulher.

Entre os famosos, desfrutou dos abraços da Imperatriz russa Catarina, A Grande (1729-1796).

Catarina assumiu o poder na Rússia depois de mandar matar o imperador Pedro III, com quem se enrolava na cama. Esse Pedro era broxa, diziam.

Era doida por machos. Teve muitos amantes, o mais frequente foi Grigori Potiomkin (1739-1791), que talvez tenha amado.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

TV GAÚCHA TRANSMITIU O PRIMEIRO DEBATE NA TV

Boulos e Assis
Foi na noite de 9 de setembro de 1974 que a TV Gaúcha, hoje RBS TV, transmitiu o primeiro debate político no Brasil. Há 50 anos, portanto.
O debate daquela noite levou aos telespectadores as ideias dos então postulantes ao cargo de senador Nestor Jost (Arena) e Paulo Brossard (MDB).
Nestor Jost morreu aos 93 anos de idade, em 2010.
Paulo Brossard, que aposentou-se como Ministro do STF em 1993, nasceu no dia 23 outubro de 1924, há 100 anos portanto.
Brossard foi o escolhido como senador pelos gaúchos após o debate daquele distante 74. Foi um dos mais eficientes e ruidosos inimigos do regime militar (1964-1985).
Essa lembrança vem pelo baixo nível dos debates políticos que hoje são promovidos e transmitidos pelas TVs afora.
O pau cantou violentamente no debate de domingo promovido pela TV Cultura em São Paulo, canal 2.
O debate de ontem 16 na Rede TV!, foi também lamentável, embora não tenha resultado em agressão física. Verbais, sim.
Muitos assuntos importantes estão sendo deixados à margem do cotidiano paulistano. O tema cultura, por exemplo, está de nós mais distante do que a Conchichina. Apesar disso, aposto na vitória do Boulos.
E por falar em cultura, o livro A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama está correndo de boca em boca. Pra cegos, em braille; para videntes e gente com pouca visão, volume com fonte ampliada.
Sábado desse o historiador baiano Darlan Zurc levou sua visão a respeito do meu novo livro à rádio Conectados. Foi no programa Paiaiá na Conexão, apresentado por Carlos Silvio. Confira:

terça-feira, 17 de setembro de 2024

HÁ 500 ANOS MORRIA VASCO DA GAMA

Assis, Gudryan, Clarissa, Nito, Anna e Patrícia

Gama imortalizado
em bronze, na cidade
onde nasceu
É controversa a data de nascimento do navegador português Vasco da Gama. Pode ter ocorrido entre 1460 ou 1469. Por aí. Seu berço foi Sines, pequena cidadela do distrito de Setúbal, em Portugal. Morreu na Índia no dia 24 de dezembro de 1524. De Malária.
Quando Vasco da Gama deixou Portugal, em julho de 1497, tinha ele provavelmente 28 ou 30 anos de idade. Era destemido como se vê. Passou pelo Atlântico e Índico até chegar à Índia, ou às Índias, em maio de 1498. Chegou lá com cerca de 200 homens distribuídos em quatro grandes embarcações. A volta foi mais difícil e a história segue por aí.
A viagem de Vasco da Gama até as Índias foi a mais longa daqueles tempos.
O heroísmo do navegador está registrado no clássico Os Lusíadas, de Camões. Essa obra eu adaptei no livro, em braille, A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama. Quando o fiz, pensei primeiramente em uma ópera popular.
Sábado 14, à noite, o jornal do SBT soltou a matéria do repórter Gudryan Neufert, produzida por Cristina Cristiano, sobre essa história toda. Confira:



segunda-feira, 16 de setembro de 2024

DEU PAU NA TV

Assis, Klévisson, Evaristo e Dantas

O Brasil tá pegando fogo de todo jeito: nas florestas e até na TV. Eu não ia falar disso, não.
Na verdade eu pretendia falar aqui, hoje, sobre amigos e parceiros de Luiz Gonzaga recém mortos.
Este ano morreram Téo Azevedo, Tânia Barbosa e agora há pouco Janduí Finizola.
Chegaram agora há pouco cá em casa os amigos queridos Klévisson Viana, Evaristo Geraldo da Silva e Dantas do Forró. Dois cearenses e o último pernambucano. 
Dantas, depois de me abraçar, trouxe a má notícia da morte do compadre Andrade, criador do tradicional restaurante que leva seu nome. Fica ali na rua Arthur Azevedo, em Pinheiros, SP.
Bom, já que aí em cima toquei no assunto fogo,  continuo.
Estou afastado dos jornais, revistas, rádios há muito tempo. Ninguém me quer, fazer o quê?
Como ninguém mais me quer pra dizer nada aí nas mídias citadas, fico a acompanhar notícia pelo rádio e também pelo áudio da TV. Assim foi que ouvi provocações e quebra paus, literalmente falando, no bate e rebate levado ao vivo na Cultura.
Era noite e praticamente no começo do bate e rebate, quando Pablo não-sei-o-quê provocou e provocou à exaustão o apresentador de TV Datena, chamado pelo provocador de "Dápena".
Não suportando o ataque lamentável, Datena deu de garra de uma cadeira e a tascou na cabeça do fulano. Foi pouco. 
Pois é, enquanto isso o Brasil anda pegando fogo.
Em Brasília, deputados e senadores estão mais preocupados é com as "emendinhas" de milhões e tal.
Chega, né?
Bom, Klévisson cheio de graça pergunta se eu conheci um tal cearense chamado Quintino Cunha. Não, eu disse. E ele... Ouça:

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

SEXTA 13 DE SORTE OU AZAR?

É bom viver.
Viver é magia, até porque a vida não pedimos. Ela vem, assim simplesmente: um homem e uma mulher juntam-se, amam-se juntando os corpos... E aí nascemos.
A vida é mágica. Coisa boa.
Complicamos a vida por que?
A vida é cercada de mistérios...
Há quem acredite em sorte e má sorte. Pois, pois.
Má sorte é azar.
Meu amigo, minha amiga, você acredita em sorte e azar?


DIA DA CACHAÇA

Pois é, meu amigo e amiga: hoje é o Dia Nacional da Cachaça.
Esse dia é recente, mas nos leva ao século 16.
Não tenho dúvida: a cachaça surgiu no interior de São Paulo, Litoral, mais precisamente em São Vicente.
São Vicente foi a primeira cidade brasileira, criada por Tomé de Sousa em 1532.
Foi lá em São Vicente que os portugueses criaram engenhos pra fazer da cana açúcar e cachaça,

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O FOGO TÁ COMENDO TUDO!


A Fauna e a Flora brasileiras são ou eram as mais diversificadas e ricas do planeta. No total há ou havia, até há pouco, 1.622 tipos de aves e 46.097 tipos de plantas. Mas o fogo tá comendo tudo. 
A maior das nossas aves é o Gavião Real que chega à casa dos 2 metros de envergadura. A menor é um passarinho titica chamado popularmente de caçula, que mede algo em torno de 6 centímetros e pesa 5 gramas.
O prejuízo é incalculável. Morre onça pintada e não pintada, morre macaco-prego e macacão, cobra, peixe e tudo. O resultado disso é um desastre que se agiganta a cada minuto, a cada segundo.
Informações colhidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, dão conta de que passa de  5.300 o número de incêndios Brasil afora.
A polícia continua prendendo incendiários, piromaníacos a serviço de sacanas graduados.
O que não pode morrer é a nossa esperança, não é mesmo?
Quando penso em esperança, beleza, simplicidade, penso logo em beija-flor.
O beija-flor, essa avezinha que canta se balançando no ar, é originária do continente Americano. Só há neste Continente.
Ornitologistas chegaram à conclusão de que há, ou havia, pelo menos 87 tipos de beija-flores no Brasil.
Há um poeminha em que digo:

...Bonito é escutar
Cantiga de cantador
E trinado de passarim
De passarim peneirador
Peneirando no espaço
Cantando pra beija-flor

Mas eu não sou passarim
Nem tampouco cantador
Sou apenas um jardim
Carregador de fulôr
Feito pra encantar
Os olhos do meu amor

E fiz também isso aqui, escutem:


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

TÁ TUDO PEGANDO FOGO!

Céu de São Paulo nesses dias poluídos

Piromaníacos a mando de canalhas continuam 
tacando fogo nas florestas brasileiras. Isso é grave, muito grave.
Até agora a polícia efetuou a prisão em flagrante de pelo menos 17 incendiários em Mato Grosso e 15, no interior paulista.
Só nesse último fim de semana foram constatados pelo menos 400 focos de incêndio em Goiás. Lá ninguém foi preso.
Goiás, no Centro-Oeste, é Estado que faz parte do Cerrado.
O Cerrado é o segundo maior dos cinco biomas brasileiros, ocupando cerca de 23% do nosso território. Quinze por cento desse total acham-se sob o "controle" de fazendeiros e outros poderosos. O restante, 8%, está sob os cuidados do Governo. Na região existem pelo menos 320 mil tipos diferentes de animais. Só de borboletas há pelo menos 900 espécies. Muitos já morreram e outros estão em extinção como o Guará.
O fogo que está engolindo Goiás, Mato Grosso e São Paulo está engolindo também cerca de 80% do verde dos nossos parques e florestas Brasil afora.
A desgraceira está sem controle, enquanto quem pode incentiva criminosos a atear fogo por aí.
A PF está em campo, no rastro dos piromaníacos.
Hoje 11 é o Dia do Cerrado, criado em 2003 quando Lula já era presidente do Brasil. A propósito, ele esteve ontem 10 na Amazônia. Foi ver em loco a desgraceira. E disse: "Nosso foco precisa ser a adaptação e preparação para o enfrentamento desses fenômenos [climáticos extremos]. Para isso, vamos estabelecer uma autoridade climática e um comitê técnico-científico que dê suporte e articule a implementação das ações do governo federal".
Ah! Sim: hoje 11 é o terceiro dia consecutivo que a Capital paulista ocupa o 1º lugar no ranking das 10 cidades com pior ar do mundo.
O cantor e compositor pernambucano Alceu Valença tem no seu repertório uma música muito bonita intitulada Flores do Cerrado. Ouça: