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terça-feira, 8 de abril de 2025

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (178)


O baiano Gregório vira rapidamente centro de atenção. Ele e o casal que o acompanhou até aqui. 

Curiosa, mocinha pergunta a Gregório quem são aquelas duas pessoas que o acompanham. E ele: 

— Laurindo, diga a essa bela mocinha quem são vocês.

O casal se identifica rindo e bem à vontade dizem ser ele Laurindo Rabelo e ela, Francisca Júlia César da Silva.

Surpresa e sem se conter, Mocinha pergunta: 

— Laurindo é o autor do poema safado As Rosas do Cume?

Pego assim de supetão, Laurindo balançou a cabeça afirmativamente, acrescentando: 

— E essa mulher é simplesmente a autora do poema Dança de Centauras.

O destrambelhado Inácio da Cangaceira, lá de trás, tira da memória alguns versos do famoso As Rosas do Cume: 


No cume da minha serra

Eu plantei uma roseira

Quanto mais as rosas brotam

Tanto mais o cume cheira


À tarde, quando o sol posto

E o vento no cume adeja

Vem travessa borboleta

E as rosas do cume beija


No tempo das invernadas

Que as plantas do cume lavam

Quanto mais molhadas eram

Tanto mais no cume davam…


Zé Ruela, que a tudo acompanhava um tanto nervoso, se mexendo todo, querendo falar, enfim toma coragem e após interromper Inácio da Cangaceira, pergunta com a voz enrolada e copo na mão: 

— Vocês conhecem essa outra do Seu Laurindo?

E antes de ouvir qualquer resposta, começou:


Amor, ao teu carro em vão

Tu me pretendes jungir

Eu não te posso servir

Já não tenho mais tesão 

De putas um batalhão

Já forniquei noutra era

Já fodi com porra fera

Mulatas, brancas e pretas

Hoje só como punhetas

JÁ não sou quem dantes era!


Todos batendo palmas, muita algazarra, brindes!

Levantei-me pedindo licença e perguntando se alguns dos presentes conhecia o poeta Renato Caldas, do Rio Grande do Norte. E antes que dissessem sim, porque não disseram, eu comecei:


Talvez não tivesse cheiro

Servia de brilhantina

Ninguém cagava em latrina

Se merda fosse dinheiro

Todo mundo era banqueiro!

Sanitário era baú

Porém aqui no Assu

A terra do interesse

Se tal coisa acontecesse

Pobre nascia sem cu


Enquanto dava uma bicada de boa cana e mordia um taco de carne de sol, Jarbas deu um berro chamando a atenção pra si.

— Esse poeta é dos bons. Supimpa!, disse emendando: 

— O Carlos Lacerda era doido pelo Renato. 

— De fato! O Lacerda chegou até a patrocinar um livro do Renato, confirmou o professor Wilson Seraine. 

— O Wilson sabe das coisas. Ele é da terra do João Cláudio Moreno, o Piauí, disse batendo palmas o Jessier Quirino.

Aqui em Areia a vida é como no céu: ótima!

Aqui tem de tudo. Tem fruta de todo tipo, legumes que não acabam nunca, pé de coco, pé de caju. O que se plantar por cá, dá. A fava daqui é grande, bonita e gostosa. Não há feijão e arroz melhor do que aqui na nossa Areia. Aqui ninguém sabe o que é fome. E o clima, hein?

Bom, somos um país tropical. Mas nesse país o clima difere aqui e ali, sem mudar radicalmente suas características. 

Aqui nessa terrinha o mês mais quente é janeiro. O mais frio são três: junho, julho e agosto. 

No mês de calor mais forte os termômetros marcam até 31 graus. No tempo de frio, a máxima chega a 27 graus. 

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