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domingo, 25 de fevereiro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (77)

Carlos Drummond de Andrade
Há prostitutas famosas que deixaram marcas indeléveis na memória de muita gente.
Em 2016 foi descoberto um poema inédito do mineiro Murilo Mendes (1901-1975). Título: A Morte da Puta, que começa assim:

"A puta morreu
Dois soldados e quatro velas
Ficaram de plantão a noite inteira..."


Outro mineiro igualmente conhecido, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), escreveu e publicou o bonito poema A Puta. Lá pras tantas, ele escreve:

"...Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante..."


O poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968) publicou, já no seu primeiro livro, o belo Vou-me embora pra Pasárgada, que ele mesmo chegou a gravar num disco de vinil. Um trecho:

"...É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar..."


O insuspeito modernista Oswald de Andrade (1890-1954) pegou da pena e pôs no papel um poema a que intrigantemente intitulou de Flores Horizontais. Esse texto foi musicado por José Wisnik e gravado em 2000 pela cantora Elza Soares (1930-2022). Ei-lo:

“Flores Horizontais
Flores da vida
Flores brancas de papel
Da vida rubra de bordel
Flores da vida
Afogadas nas janelas do luar
Carbonizadas de remédios, tapas, pontapés
Escuras flores puras, putas, suicidas
Sentimentais
Flores horizontais
Que rezais?

Com Deus me deito
Com Deus me levanto”


A história de Elza é uma história fantástica, triste e violenta principalmente nos primeiros anos de sua vida. Era criança quando foi estuprada. Isso a marcou profundamente.
O poema de Oswald musicado por Wisnik foi, para Elza, um presente, uma alegria e prazer imensos. Essa pérola lembrou-lhe os tempos em que a mãe e ela eram lavadeiras de roupa nas casas de grã-finos.
Um dia Elza lembrou que numa das casas onde ela e a mãe trabalhavam ouviu da patroa um xingamento direcionado à própria filha, Ieda. Disse a mãe: "Você é uma puta!".
A tal garota não se conteve e retorquiu: "Sim, sou prostituta, mas sou rica, bonita e poderosa".
Elza ouviu isso e a partir daí passou a pensar sobre o assunto.
"Puta é uma palavra bonita, não é?", manifestou-se anos depois Elza.
A prostituição, sabemos, está na boca do mundo.
A música popular de todo canto registra o tema nas mais diversas línguas, pois.
Odair José, cantor e compositor de sucesso nos anos 70 e 80, deixou a sua marca em muitas canções classificadas pela crítica como “bregas”. Entre essas, Pare de Tomar a Pílula e Eu Vou Tirar Você Desse Lugar. Um trecho:

Olha
A primeira vez que eu estive aqui
Foi só pra me distrair
Eu vim em busca do amor

Olha
Foi então que eu lhe conheci
Naquela noite fria, em seus braços
Meus problemas, esqueci

Olha
A segunda vez que eu estive aqui
Já não foi pra distrair
Eu senti saudade de você

Olha
Eu precisei do seu carinho
Pois eu me sentia tão sozinho
Já não podia mais lhe esquecer

Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
E não me interessa
O que os outros vão pensar…


Quando Odair José fazia sucesso, Marília Mendonça não havia nascido. Morreu com 30 anos de idade, em 2022. Deixou duas ou três centenas de músicas autorais. Uma dessas tem por título Troca de Calçada. Um pedaço:

Se alguém passar por ela
Fique em silêncio,
não aponte o dedo
Não julgue tão cedo

Ela tem motivos
pra estar desse jeito
Isso é preconceito
Viveu tanto desprezo

Que até Deus duvida e chora lá de cima
Era só uma menina
Que dedicou a vida
a amores de quinta

É claro que ela já sonhou
em se casar um dia
Não estava nos planos
ser vergonha pra família

Cada um que passou
levou um pouco da sua vida
E o resto que sobrou,
ela vende na esquina

Pra ter o corpo quente,
eu congelei meu coração


E ela, a Marília, também criou uma música com letra muito forte. Essa música diz assim, mais ou menos, “quem eu quero não me quer, quem me quer não vou querer. Ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo vai sofrer”.
Entre os grupos musicais "modernos", tem o Bonde do Forró. É desse grupo o texto Garota de Programa, que lá pras tantas diz:

Eu sou tua menina e quero te dizer, amor...
Faz tempo que a saudade em minha vida só machucou
E agora que a saudade se mudou de lugar
Vem comigo agora amor que é hora de me usar

Deixei de ser garota de programa
Deixei de ser uma qualquer
Pois eu fiz com você loucuras na cama
E o telefone peguei quem sabe um dia ligar

Liguei pra dizer que eu gostei
E pra dizer que eu quero te amar
Liguei e marquei um novo encontro
No quarto escuro pra gente se amar!!!!


E por incrível que pareça, esse tipo secundário de música chega ao exterior e lá ganha versões as mais diversas.
O Queen, ainda com Fred Mercury, não deixou de cantar o tema aqui abordado.
O grupo The Police também cantou trajetórias e tragédias de prostitutas.
E Elton John hein?
Elton fez e cantou uma música que diz:

Voltei para a terra seca outra vez
A oportunidade me espera como um rato no esgoto
Todos nós caçando garotas, com dinheiro pra gastar
É pouco tempo para mostrar os truques que aprendemos

Se todos os rapazes se comportarem bem aqui
Bem, lindas jovens mulheres e cerveja nos esperam
Não precisamos dormir na sarjeta esta noite
Oh, as despesas aqui eu vou pagar, você verá

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

BOLSONARO VAI OU NÃO PRA CADEIA?

O que há em comum entre o ex-futebolista Daniel Alves e o ex-presidente Bolsonaro?
Bom profissional de futebol, joga futebol. Óbvio. E se for bom, bom mesmo, vira ídolo como Garrincha, Pelé, Tostão, para a alegria dos torcedores ou do povo, como se diz.
E o que pode ocorrer com o presidente de uma República, como a nossa?
Saímos do Império através de um golpe militar. O imperador foi posto pra correr e morreu em Paris. O sujeito que ficou no seu lugar era um milico de alta patente: Marechal, chamado Deodoro da Fonseca. Foi péssimo como presidente. O outro que o substituiu, Floriano, também foi péssimo e sequer deu posse a quem o substituiu, o advogado Prudente de Morais.
Floriano fez o que muitos anos depois faria Bolsonaro saindo pela porta dos fundos sem transmitir o cargo ao sucessor, no caso Lula.
Desde Deodoro, cerca 40 brasileiros assumiram  a presidência da República, fora vices como Itamar e Temer.
Aonde eu quero chegar?
O que há em comum entre o ex-futebolista Daniel Alves e Bolsonaro é o machismo. O primeiro acaba de ser condenado na Espanha por estupro. Ganhou 4,5 anos. O segundo só não estuprou uma mulher, a deputada Maria do Rosário, porque segundo ele "ela é muito feia".
Bolsonaro, como se sabe, é um homofóbico, misógino, racista e genocida que poderá ou poderia ser responsável por milhares de brasileiros e brasileiras mortos por falta de vacina contra a Covid-19. Pois, pois. 
E os indígenas que morreram à mingua na Amazônia por falta do necessário atendimento federal?
E o que dizer do incentivo dado aos garimpeiros para explorar criminalmente as terras indígenas?
Bolsonaro disse mais de uma vez que não respeitará decisão nenhuma de Alexandre de Morais.  Só quero ver, pois foi intimado a comparecer hoje à PF para falar da tentativa de Golpe de Estado que poderia ter dado certo no dia 8 de janeiro de 2023. Pode fechar a boca e não dizer nada, mas que vai vai. E se não falar é porque é covarde. Ameaça, ameaça e  na hora H, mija no pé.
O Daniel Alves já está na cadeia.
Cadeia por cadeia, a cadeia já está de portas abertas para Bolsonaro. Questão de tempo e que ele seja posto em uma cadeia verdadeiramente de segurança máxima e não como aquela de Mossoró, RN, da qual fugiram dois bandidos associados a uma tal de organização criminosa chamada Comando Vermelho. 
Pois é, a Lei é para todos. E se a Lei é para todos, para todos também é a cadeia.
E vamos pelo caminho da Democracia, da Liberdade!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

ITALIANOS NO BRASIL DESDE 1874

Há 150 anos chegaram os primeiros italianos ao Brasil. Foi no mês de fevereiro de 1874 e o local por eles escolhido foi a região serrana do Espírito Santo, ES, hoje chamada de Santa Teresa.
Depois já mais para o final do século 19 os italianos passaram também a ocupar o território paulista. Entre os imigrantes com destino a São Paulo se achava Giuseppe Rielli, que viria a ser o primeiro sanfoneiro a gravar discos no Brasil.
Giuseppe, ou abrasileiradamente José, gerou filhos que também escolheram a música como profissão. Destaque para Osvaldo Rielli. Leia: SIVUCA É SINÔNIMO DE SANFONA
A Itália, na verdade, nos deu grandes artistas diretamente ou indiretamente.
Você já ouviu falar em Mário Zan? Leia: NO CÉU, LUIZ GONZAGA E SIVUCA
A Itália também abriu espaço para brasileiros, como Carlos Gomes.
Em março de 1870, o maestro Carlos Gomes apresentou no Scala de Milão a ópera Il Guarany. Leia: CARLOS GOMES: A GLÓRIA NO TREM DO ESQUECIMENTO (1)


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

A LEI É PARA TODOS

O ex-deputado eleito presidente pelos bolsonaristas pode ir em cana num dia qualquer da semana que vem, pois ele e os seus seguidores continuam torcendo contra o Brasil. Querem golpe, querem ditadura, querem punir o povo pela pobreza que vivem.
Quem não se lembra de que o tal fez campanha contra vacinas inclusive a que combate a Covid-19? 
O ministro Alexandre de Morais marcou pra quinta-feira próxima mais um depoimento do ex-presidente à PF. A determinação tem por objetivo ouvir o tal sobre a tentativa de golpe de Estado e o quebra-quebra ocorrido nos três poderes, em Brasília no dia 8 de janeiro do ano passado. 
O cara não quer ir depor, confirmando o que antes disse: que não respeitará mais nenhuma determinação de Moraes. Hmmmm...
A Lei é para todos, não é mesmo?
Um poeminha para refrescar a memória dos esquecidos:

Já não são quinhentas mortes
Já não são quinhentas mil
A desgraça toma corpo
No coração do Brasil

Não são mortes naturais
As mortes de Silvas e Bragas
São mortes provocadas
Por vírus, pestes e pragas

Praga viva inda mata
Homem, menino e mulher
Mata completamente
Do jeito que o bicho quer

Maldito Coronavírus
Que pega e mata gente
O Brasil está morrendo
Nas garras do presidente

Presidente também morre
De morte matada ou não
Lugar de quem não presta
É lá no fundo da prisão!

A cadeia te espera 
Presidente matador 
Quem apanha hoje é caça
Amanhã é caçador 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

TRISTEZA E FOME MATAM

Que o mundo está pegando fogo há muito tempo, sabemos.
Desde que o mundo é mundo os homens matam-se por nada. Por um olhar, por uma discussão qualquer.
Há inúmeros conflitos mundo afora. Guerras, golpes, tiranos e o povo, como sempre, sendo subjugado.
O povo da Ucrânia está lascado...
O povo palestino está lascado...
Mas o outro lado, Rússia e Israel, também está lascado.
No Continente africano, que tem 54 países, a situação também é periclitante. Como sempre: gente matando gente, independentemente de cor e gênero.
O Lula andou falando na África que o que o governo israelense está fazendo nessa guerra contra o Hamas é um genocídio, o mesmo que Hitler fez entre os anos 30 e 40.
Falou certo ou falou errado nosso Lula?
O Brasil é o 5º país do mundo, territorialmente e populacionalmente.
O Brasil alimenta boa parte do planeta, mas boa parte dos brasileiros ainda se acha na linha da miséria e passando fome, sem casa pra morar, sem emprego, ao Deus dará.
Acho que Lula deveria se preocupar mais com os brasileiros. Enfim, somos mais de 200 milhões.
É isso. Um poeminha:

Todos sabem muito bem
Que o mundo anda mal
Girando um tanto torto
No seu eixo natural

É caso muito sério
De difícil solução
Pode tudo se findar
À base de explosão

Como rastro de pólvora
Feito só para matar
As guerras se multiplicam
No campo, na serra, no mar

Aviões atiram bombas
Aleatoriamente
Destruindo meio mundo
E matando muita gente

Tudo isso sob as ordens
De um ser que planta o mal
De um ser que quer fazer
Nova guerra mundial

Pare enquanto é tempo
Chega de tanto terror
Em fuga o povo chora
Pedindo paz e mais amor

domingo, 18 de fevereiro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (76)

Otacilio Batista e Assis Angelo em programa da Rádio Atual
O cantador repentista pernambucano Otacílio Batista compôs e gravou um poema decassílabo intitulado Mulher Nova, Bonita e Carinhosa/ Faz  o Homem Gemer Sem Sentir Dor. 
Esse poema foi gravado em disco LP pelo próprio Otacílio e depois melodiado pelo cantor e compositor paraibano Zé Ramalho, que a gravou em CD. A letra diz:

Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história de um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos

Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor…

Diz a lenda que num ano qualquer da Idade Média um cavaleiro apaixonou-se perdidamente por uma rainha. Ele era solteiro e ela casada. O seu rei, um tal de Marco, ficou puto. 
O cavaleiro tinha por nome Tristão e a rainha, Isolda. 
Naqueles tempos medievos era mais do que comum príncipes se apaixonarem por plebeias e princesas serem salvas por plebeus.
Em tempos não muito distantes, era comum no Nordeste um pai levar o filho adolescente a "virar homem" num cabaré, puteiro ou prostíbulo. Isso também ocorria noutras partes do país.
Beatriz Kushnir, autora do livro Baile de Máscaras, escreve que muitos pais levavam seus rebentos para a primeira transa nos bordéis do Rio à época das polacas. Quer dizer, além Nordeste.
Em 1964, o cantor e compositor Moreira da Silva deixou para a posteridade uma música que fez com Jorge Faraj. Essa música, Judia Rara, foi gravada em disco Odeon. A letra:

A rosa não se compara
A essa judia rara
Criada no meu País
Rosa de amor sem espinhos
Diz que são meus seus carinhos
E eu sou um homem feliz

Nos olhos dessa judia
Cheios de amor e poesia 
Dorme o mistério da noite
Brilha o milagre do dia

A sua boca vermelha
É uma flor singular
E o meu desejo, uma abelha
Em torno dela a bailar. 

Essa música foi feita para Estera Gladkowicer, uma imigrante judia russa que conheceu na Lapa e por ela se apaixonou. É bom lembrar que as mulheres que vinham do Leste Europeu e aqui se prostituíam eram, em geral, chamadas de polacas.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 17 de fevereiro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (75)

Bocage
Infidelidade conjugal é o mesmo que traição. 
Esse tema se acha em tudo quanto é livro importante desde sei lá há quanto tempo! Nas línguas portuguesa, inglesa, francesa, espanhola, holandesa, italiana, alemã…
O sexo é fundamental na vida, seja qual for a vida. Animal, no sentido selvagem ou humano como tal entendemos.
É claro que sobre esse assunto muito já foi dito e muito ainda se dirá.
Na força, ganha o macho. 
A mulher perde não pela sua fraqueza física, mas de certo modo pela submissão. Desde sempre. Bíblia. 
Desde a Antiguidade, o mundo é regido pelo patriarcalismo machista, cuja visão transforma a mulher em mero objeto.
No decorrer do tempo as mulheres têm encontrado força para romper o elo patriarcal e, em liberdade, seguir a  própria vida.
Bela luta, não é mesmo?
Os poderosos, em todos os sentidos, usam e abusam do feminino. Eles podem tudo, a mulher não. 
As Mil e Uma Noites, um clássico árabe, começa quando o sultão Shahryar flagra a mulher aos beijos e abraços com um escravo, na cama. Irado, saca da espada e mata a infiel e seu amante. Depois disso, jura e cumpre a promessa de matar todas as mulheres depois da primeira transa. 
Corno contrariado é um perigo.
Tem o corno brabo e o corno manso, nessa história de pulada de cerca. A propósito, há até “oração” sobre o tema e um belíssimo soneto do Bocage intitulado Soneto do Corno Choroso. Este:

Se o grão serralho do Sophi potente,
Ou do Sultão feroz, que rege a Trácia,
Mil Vênus de Geórgia, oh! da Circássia
Nuas prestasse ao meu desejo ardente:

Se negros brutos, que parecem gente,
Ministros fossem de lasciva audácia,
Inda assim do ciúme a pertinácia
No peito me nutria ardor pungente:

Erraste em produzir-me, oh! Natureza,
Num país onde todos fodem tudo,
Onde leis não conhece a porra tesa!

Cioso afeto, afeto carrancudo!
Zelar moças na Europa é árdua empresa,
Entre nós ser amante é ser cornudo

Na real, no mundo real, são inúmeros e multiplicam-se os casos de infidelidade conjugal. 
Em 1976, o empresário Doca Street matou a sua companheira Ângela por sentir-se por ela traído.
Do tempo antigo há um caso marcante: o rei de Esparta Menelau encheu o mar de sangue depois de traído por Helena de Tróia, considerada a mais bonita daquele tempo, raptada pelo ousado Páris.
Antes disso, muito antes, a mesma Helena tinha 12 anos de idade quando foi arrancada de sua casa pelo venerado guerreiro ateniense Teseu, filho do rei Egeu. Mas isso não deu certo. 
Os irmãos de Helena a salvaram de um possível estupro.
O caso Menelau rendeu muitas histórias. E músicas. 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

FUGA NO RN CHAMA ATENÇÃO DO MUNDO

Resistência ao bando de Lampião


O dia 13 de junho de 1927 caiu numa segunda-feira. 
Naquele distante 13, dia de Santo Antonio, Lampião e o seu bando invadiram a cidade de Mossoró, RN, mas foram surpreendentemente rechaçados pelos seus habitantes considerados pacatos até então. 
Marca das balas do tiroteio ocorrido no dia 13 de junho de 1927 ainda se acham nas paredes de um prédio da Prefeitura. Eu vi, sou testemunha. Até palestra fiz lá, a convite de um agitador cultural de nome Kydelmir Dantas.
Os relógios marcavam pontualmente 13 horas quando a cidade foi invadida e os invasores postos pra correr.
A mesma Mossoró está sendo palco hoje de uma grande movimentação policial, reforçada por forças da Paraíba e Ceará. São pelo menos 300 homens armados até os dentes. Drones e três helicópteros foram incluídos na operação que visa recapturar dois fugitivos de uma das cinco cadeias federais tidas como de total segurança. 
Os fugitivos são figurinhas carimbadas do PCC ou de sei lá de que organização criminosa!
A fuga ocorreu na madrugada de terça 13 de Carnaval desde ano de 24.
Essa fuga, que já está sendo noticiada pela imprensa estrangeira, me lembra aquela que resultou na morte de um cabra em Goiás após longa e tensa caçada policial. 
Essa fuga também me lembra aquela em que um brasileiro, nos EUA, findou recapturado por forças federais. 
 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

CARNAVAL: NEGROS NA AVENIDA

O Carnaval de 2024 terminou e não terminou. Explico: em alguns lugares do nosso imenso território nacional, o Carnaval já era. Noutros como na da Bahia, Rio e Pernambuco, ainda há samba e frevo no gogó e nos pés.
Em Sampa, e não em todo o Estado, o Carnaval ainda rola através dos bloquinhos.
No Rio, a escola Viradouro venceu pela 3ª vez. O tema abordado no enredo enalteceu a mulher negra.
Em Sampa, a escola campeã foi a Mocidade Alegre. É campeã pela 12ª vez. O tema escolhido foi Mário de Andrade.
O detalhe é que a temática negritude todo ano se faz presente nas avenidas das principais capitais brasileiras.
A tradicional Portela do Rio ficou em segundo lugar com um enredo contando a história de uma mulher que liderou uma revolta de negros africanos na Bahia. Os revoltosos eram malês e a mulher à frente deles tinha por nome Luiza Main.
Meu amigo, minha amiga, você sabe de quem foi mãe dona Main?
Dona Luiza Main foi a mãe do grande poeta negro Luiz Gama.
O enredo da Portela foi baseado no livro Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves. Recomendo-o.


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

CARNAVAL DE COLOMBINA


O Carnaval no Brasil chegou há muito tempo. Isso todo mundo sabe e se não sabe, vai ficar sabendo aqui.
O primeiro instrumento musical utilizado no período carnavalesco foi um bombo, que um cara de origem portuguesa tocava nas ruas do Império. Era um tal de Zé Pereira, que dava nome a uma musiquinha cheia de graça, ou pretensiosamente cheia de graça.
Depois do bombo outros instrumentos entraram na folia, incluindo o pandeiro.
O pandeiro é de um tempo muito antigo. Do Neolítico, quando o homem começa a tomar gosto pelas coisas e também a criá-las. A ver com festas, ritos e tal. Há uns 10 mil anos a.C.
Fora os instrumentos musicais usados no Carnaval, tem a roupa utilizada pelos foliões. Fantasias primorosas e máscaras idem.
As máscaras e as figurinhas trajadas e identificadas como Colombina, Arlequim e Pierrô surgiram no século 16, nas ruas estreitas de Veneza.
Os três personagens aqui citados formam até hoje um triângulo amoroso.
Colombina se enrola nos braços de Arlequim, mas ao descobrir o amor platônico de Pierrô, Colombina dá um basta em Arlequim e fica com Pierrô.
Nessa história não podemos esquecer que a bela Colombina tem o coração fácil. Melhor para o Arlequim...
Essa história triangular é belamente contada na marchinha Máscara Negra, de Zé Kéti e Pereira Matos.
Mas foi no Brasil que o Carnaval pegou. É o melhor do mundo. E em algumas regiões do Brasil vai muito além dos três dias historicamente reservados.
Muitos artistas da nossa música popular se destacaram pelas composições que criaram, desde Chiquinha Gonzaga a Paulinho da Viola, Martinho da Vila e Nelson Sargento.
O craque do traço Fausto exibe seu talento aqui nesta página.
Ouça:



terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

MAIS UMA FOLIA DE FEVEREIRO


Pois é, mais um Carnaval está chegando ao fim.
Fazia tempo que o povo não ia pra rua pra cantar e pular, como neste Carnaval de 2024.
Milhares de blocos foram às ruas do Brasil puxando homem, mulher e menino.
Muitos artistas de nome e renome foram homenageados, estão ainda sendo homenageados: Martinho da Vila, Dominguinhos, Alcione, Chico Buarque, Antonio Nóbrega...
Em João Pessoa tem um bloco chamado As Raparigas de Chico, é coisa boa.
No Rio de Janeiro e em Recife, deu na cabeça o Nóbrega. 
Gostei de ouvir.

FOLIA NO CARNVAL NA CASA DE CAROL E DANIEL


Foi muito legal o Carnaval com forró na casa da produtora musical Carolina Albuquerque e do cantor e compositor Daniel Gonzaga. Tinham vários sanfoneiros lá, vários cantores e cantoras, tocando e foliando. Até Anastácia estava lá cantando e tocando triângulo. E toca bem, a danada! Vejam as fotos aí e o link com a fala de Expedito Duarte, o Mano Novo, dizendo porque não foi à casa da Carol. É isso aí!


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

AINDA SEBASTIÃO MARINHO


Em julho de 2022, o ex-ministro Aldo Rebelo apanhou-me em casa pra um dedo de prosa e folia numa churrascaria paulistana. Acho que na zona Norte. E lá estávamos ao lado do poeta Moreira de Acopiara, do apresentador de TV Atílio Bari e do saudoso repentista paraibano Sebastião Marinho, que desde ontem 11 se acha nos braços de Deus.
Na ocasião, declamei algumas coisinhas e ouvi demoradamente Sebastião bater viola e cantar com aquela voz bonita e que tanto gostávamos. 
Ainda durante aquele encontro, tivemos a alegria de ouvir Rebelo se esforçar ao máximo para cantar no mesmo tom de cantador repentista. Não se saiu mal, até porque sua origem nordestina de Alagoas o ajudou nisso.
Bom, e folia por folia, hoje é uma segunda de primeira de Carnaval.
O corpo de Marinho está sepulto desde hoje 12 no cemitério de Vila Alpina, SP.
Pra lembrar esse encontro na churrascaria... Ouça:

FOLIA NA CASA DA CAROL

Ontem 11 o amigo Luiz Wilson apanhou-me em casa e levou-me até a região do Jabaquara, convidados que fomos pela produtora musical Carol.
Carol, diminutivo de Carolina, é a pessoa responsável pela carreira da compositora e cantora pernambucana Anastácia, chamada por todo mundo de Rainha do Forró.
Na casa de Carol, se achava um belo time de craques da música do Nordeste. Além de Luiz Wilson, Dantas do Forró e Cícero do Acordeon. Muita gente boa e o Daniel, filho de Gonzaguinha e neto de Gonzagão, esteve como sempre supimpa! Aliás foi quem preparou o almoço servido na ocasião. O cara é mestre cuca.
Sebastião Marinho foi nome muito lembrado no encontro.
É isso aí.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (74)

Cleópatra e César,
por Jean Leon Gerome (1866)
Bom, o incesto é um tema recorrente nas páginas do Velho Testamento.
A história é longa e cheia de surpresas e contradições. 
Depois de desposar os irmãos, Cleópatra abriu as asas e atirou-se no colo do ditador romano Júlio César, que seria assassinado pelo filho Brutus e senadores comparsas.
Com César, Cleópatra teve um filho.
Depois de transar com César em busca do poder pelo poder, Cleópatra foi pra cima do general Marco Antônio, com quem teve três filhos.
Marco Antônio e Cleópatra perderam feio uma batalha para Otaviano, filho adotivo de César. 
O resultado disso é que Marco Antônio suicidou-se e Cleópatra também. 
A respeito desse assunto, de adultério, o satírico Bocage escreveu:

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putissimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas teem reinado:

Dido fui puta, e puta d′um soldado:
Cleopatra por puta alcança a c′ròa;
Tu, Lucrecia, com toda a tua pròa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Russia imperatriz famosa,
Que inda ha pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.
Bocage

A última rainha do Egito, Cleópatra, entrou para a história como depravada, cínica, fatal e "uma vergonha para o Egito", nas palavras do poeta Lucano.
Marco Aneu Lucano tinha lá uns 20 anos de idade quando chamou a atenção de Nero pelas poesias bravas que fazia.
Lucano virou, por pouco tempo, um protegido do incendiário Nero.
Nero findou por mandar matá-lo.
Plutarco classificou Antônio e Cleópatra como um casal vulgar, libertino e tal.
Horácio e Cícero não a viam com bons olhos. 
Cícero foi um dos maiores oradores do Império Romano. Escrevia com as mãos de Deus.
Foi Propércio que, sem rodeios, a chamou de "rainha prostituta".

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 10 de fevereiro de 2024

ADEUS SEBASTIÃO MARINHO!

Se existir Céu depois da nossa morte e se para lá formos pelo "bom comportamento" na Terra, é nesse lugar que o poeta repentista paraibano Sebastião Marinho está, a contragosto do Demo, se existir.
Para os católicos, o Céu é um lugar onde moram anjos, arcanjos e doidos em geral, como Deus. E é para lá, o Céu, que vão, depois da morte, os puros de alma e os corretos terrenos: nós.
Sebastião, Bastião para os íntimos, subiu para o andar de cima hoje 10 por volta das duas da madruga. O passamento ocorreu num leito de hospital do bairro paulistano de Vila Alpina. A causa mortis: falência múltipla dos órgãos.
Doeu, meu coração bate com tristeza. 
Natural de Solanea, Sebastião chegou em São Paulo no começo dos 70. Foi ficando, foi ficando, fundou União dos Cantadores Repentistas e Apologistas do Nordeste, UCRAN.
Foi um dos caras mais importantes da poesia popular feita ao som de viola. Deixou poucos discos gravados, mas uma legião enorme de seguidores e admiradores.
A última vez que falei com Sebastião, por telefone, faz umas duas semanas. A voz já estava cansada, falava pouco.
Cheguei a escrever, acho que em fins do ano passado, um poema sobre ele. Ele gostou e disse que não merecia tal texto poético. Rimos. Gravei esse poema e brincando ele perguntou se também podia gravar um poema que fiz pra Rolando Boldrin intitulado Sr. Boldrin
Tudo de bom desejamos, sempre, a Sebastião Marinho. Que Deus o tenha bem e que goste da beleza poética musical do Marinho, lá, ali, ao Seu lado: no Céu. E que nos esperem.
Ia-me esquecendo: a última vez que tive a alegria de abraçar Sebastião foi no dia 27 de setembro de 2022. Foi aqui em casa, quando eu completava 70 anos de idade. Presentes maestro Júlio Medaglia, o ex-ministro senador Aldo Rebelo, Flor Maria, Ana Maria, Anastácia, Moreira de Acopiara e tal.
É isso aí.


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (73)

Cora Pearl
O estupro, além de provocar transtornos emocionais, quase sempre também leva a vítima à prostituição. Isso se acha em narrativas reais e fictícias.

Na década de 60 do século 19, na França, uma personagem inglesa do mundo real chamada Emma Elizabeth Crouch (1835-1886), para um público especial Cora Pearl, fez estrondoso sucesso se prostituindo. Antes de “cair na vida”, Elizabeth foi internada num convento de freiras na França e ao sair de lá foi estuprada por um desconhecido com mais do dobro de sua idade. À época, ela tinha 15 anos. 

Perdida, assustada, Elizabeth alugou um espaço em Paris e passou, então, a entregar-se aos homens para sobreviver.

Elizabeth Crouch morreu fora do território parisiense, em Monte Carlo, no ano do lançamento do livro no qual conta a sua história: Mémoires d’une Courtisane.

História parecida, só que na ficção, teve Madame Bovary.

Essa personagem de Gustave Flaubert (1821-1880), era interiorana e apaixonada por leituras românticas. Casou-se com um médico, foi infeliz, e suicidou-se depois de cair nos braços de um amante. 

Algo parecido, muito parecido aconteceu com Anna Karenina.

Anna Karenina, uma criação do russo Tolstói (1828-1910), matou-se atirando-se na frente de um trem.

Não é incomum  nos dias de hoje uma mulher usar o próprio corpo para galgar posições importantes na sociedade. 

Cristo ainda não havia nascido quando nasceu em Alexandria, então capital do Egito, aquela que seria a mais fulgurante e poderosa mulher do seu tempo: Cleópatra. 

Cleópatra integrava a dinastia ptolomaica. Seu pai Ptolomeu XII era grego.

Os homens da família de Cleópatra eram chamados de  Ptolomeu I, II, III, IV...

Sempre visando o poder, Cleópatra chegou a casar-se com dois de seus irmãos, Ptolomeu XIII e Ptolomeu XIV.

Incesto, não?

Incesto era uma prática comum e não punível na Antiguidade.

Jorge Amado

Na literatura antiga há muitos registros sobre o assunto. 

Sófocles, considerado pai do teatro grego, escreveu e levou à cena Édipo Rei. Nessa peça que Aristóteles classificou de "verdadeira tragédia", o personagem Édipo casa-se com a própria mãe, Jocasta, sem saber e com ela gera filhos. Quatro: Antígona, Ismênia, Etéocles e Polinice. 

Ao descobrir, surpresa, o incesto consumado, a mãe de Édipo se mata e ele desesperado fura os próprios olhos e sai zanzando perdido na escuridão. 

No mundo encantado dos orixás a chamada rainha das águas Iemanjá casa-se com um irmão e com ele tem um filho que finda por engravidá-la.

É tudo muito louco, não é?

Iemanjá,  no seu berço africano, era negra. No Brasil, é branca.

A obra de Jorge Amado (1912-2001) é toda recheada de personagens ligadas ao mundo dos orixás. Tereza Batista, por exemplo, é filha de Iansã.

Essa Tereza é protegida de todos os orixás, a partir do justiceiro Xangô.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

PATATIVA É ENREDO DA X9

Pois é, em 2013 convite pra desfilar na avenida. Foi pela X9 Paulistana. O enredo falar de Portugal, Camões, etc.
A X9 está disputando vaga no Grupo Especial. O desfile ocorreu no último dia 4 e no próximo domingo 11 deverá sair o resultado da banca julgadora.
O tema este ano abordado pela escola da Zona Norte foi Nordestino Sim, Nordestinado Jamais!.
A figura de destaque no enredo foi o poeta cearense Patativa do Assaré. 
Rolou muita coisa boa e bonita nesse último desfile da X9. Torço para que volte a ocupar lugar do Grupo Especial.
Patativa representa a poesia popular autêntica do Brasil, especialmente do Nordeste. Escreveu vários livros, o primeiro foi publicado em 1956.
Ouça o enredo da X9 de 2024:


LEIA MAIS: HÁ 18 ANOS DESAPARECIA PATATIVA • PATATIVA, A VOZ DO POVO • BLOCOS DE CARNAVAL, A ALEGRIA DO POVO

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A BALZAQUIANA É MULHER DE 30

Que relação pode ter entre a sudanesa Josefina e a francesa Josefina?
E Napoleão Bonaparte?
Honoré de Balzac (1799-1850) foi um autor que viveu à frente do seu tempo. Ele aprendeu a vida vivendo entre lençóis com mulheres de idades diversas. Aprendeu muito. Inclusive nos bordéis.
Pode-se dizer que Balzac foi aluno e professor de sexo.
No livro A Mulher de 30 Anos ele mostra os sérios e graves problemas que as mulheres do seu tempo viviam. Casavam com 15, 16 anos. Se passasse disso podia ficar no caritó. E aí, lá vem ele mostrando que a mulher de 30 anos pensa e age muito melhor do que uma menina com a metade da sua idade. Isso no passado. E no presente, também.
Dizia o autor francês que uma jovem de 15 anos o que tinha que fazer para o marido era entregar-se e gemer. A mais velha, de 30, sempre teve muito mais o que dizer e fazer, além de gemer. Compreendia e compreende ou pode compreender seu parceiro.
Mas o casamento, como se sabe, é uma incógnita.
No passado, no tempo de Balzac e antes dele, a mulher casava-se por obrigação e por obrigação tinha que fazer tudo o que o marido falasse. Sobre ela ele tinha o poder de mantê-la viva ou fazê-la morta. A Bíblia mostra isso.
A principal personagem feminina do romance A Mulher de 30 Anos, Julie, se apaixona por um primo coronel do exército napoleônico de nome Victor d'Aiglemont.
Ignorando a fala do pai, finda por casar-se com seu amado. Dá-se mal logo depois. Sua vida vira um inferno e ela passa a acolher-se noutros braços. Vários. Tem filhos e tal.
A vida da personagem não é fácil, mas inspirou uma frase conhecida até hoje: balzaquiana, que virou até marchinha carnavalesca no Brasil.
E Josefina, hein?
Josefina Bakhita (1869-1947) foi uma pessoa sequestrada já aos 9 anos de idade. Penou, penou, comendo o pão que o diabo amassou. Passou de mão em mão até cair em boas mãos na Itália.
A Josefina de Beauharnais (1763-1814) foi uma mulher que pintou e bordou na cama com inúmeros amantes até cair na graça do famoso militar Napoleão Bonaparte.
Napoleão teve seis filhos, mas nenhum com Josefina. Mesmo casada no civil e na igreja, Josefina pulava de cama em cama que nem um ioiô na mão de brincantes.
A outra Josefina, a sudanesa, virou santa padroeira dos escravos e dos sequestrados depois de a ela ser atribuído um milagre com uma brasileira enferma. Isso em 1992.
A história de Napoleão Bonaparte é uma história longa e cheia de bizarrices.
Quando ele morreu em 1821, na Ilha de Santa Helena, médicos optaram por extrair do corpo o pênis.
Essa parte do corpo foi guardada numa caixinha e nessa caixinha ainda provavelmente permanece. Nos EUA.
Pois, pois.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

O CARNAVAL DE 24 ESTÁ CHEGANDO...

Assis e Tinhorão
O Carnaval no Brasil começou ali pelo século 16. Foi trazido pelos colonizadores portugueses.
A primeira manifestação carnavalesca no nosso País foi o Entrudo, que tinha por base emporcalhar os "foliões".
Mas o Carnaval data de tempos imemoriais. Vem da Roma antiga, da velha Grécia, por aí.
Era pagã a festa denominada Carnaval.
Confete, serpentina, essas coisas vieram da França.
A figura do personagem mascarado tem origem no Carnaval italiano. De Veneza, notadamente.
A música pra Carnaval principiou do batuque africano e ganhou forma com a compositora e maestrina Chiquinha Gonzaga pondo letra na primeira marchinha: Ó Abre Alas.
Antes do surgimento das escolas de samba, surgiram cordões e tal.
A primeira escola de samba foi criada no Rio de Janeiro, em 1928, e chamou-se Deixa Falar.
Os sambas de enredo ganham forma no começo da segunda parte dos anos de 1950.
O jornalista Sérgio Cabral escreveu sobre esse assunto. E Tinhorão, também.
O jornalista e historiador paulista José Ramos Tinhorão (1928-2021) praticamente esgotou o assunto Carnaval nas suas minuciosas e ricas pesquisas. Aliás, se ainda estivesse entre nós, estaria fazendo aniversário. Ele nasceu num dia como hoje: 7 de fevereiro.
Ouça a marchinha Ó Abre Alas com Dircinha e Linda Baptista:



terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

EÇA DE QUEIROZ É SUPIMPA!

A literatura é rica no Brasil e no mundo todo. Os gêneros são os mais diversos: romantismo, realismo, naturalismo...
Pessoalmente eu não tenho nada contra nada que diga respeito às artes.
No campo da literatura, e nos demais campos de criação, gosto do autor que se faz marcante através da sua obra.
Sou apaixonado pelos portugueses Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Fernando Pessoa, muitos.
Já que não posso mais ler as obras de quem gosto, ouço.
Acabo de ouvir o triste e belo romance Os Maias, originalmente publicado em capítulos na imprensa portuguesa, essa obra ganhou formato de livro e como tal foi à praça em 1888. 
A história criada por Eça tem como principais personagens Carlos e Maria.
É uma história trágica.
Começa com um velho senhor pai de um certo Pedro que se casa e é traído pela mulher. Decepcionado, desiludido, completamente chapado toma a iniciativa de tirar a própria vida. Faz isso, mas deixa dois filhos: Maria e Carlos. 
Ao deixar o marido, a infiel some com a filha e passa a viver com o amante em Paris. Logo dá-se mal, enquanto a filha vai crescendo e tomando corpo de mulher. A mãe dá um jeito pra que a menina se case, mas o candidato vai à guerra e lá morre. A mãe cai em desgraça, adoece e tal. A filha, que ganhara barriga sem se casar, troca Paris por Lisboa.
A história vai num crescendo. 
Um dia Carlos forma-se em medicina e transforma-se num profissional muito requisitado. É quando conhece Maria, Maria Eduarda. Paixão demolidora à primeira vista. E correspondida. 
A filhinha de Maria, Rosa, é louca por Carlos. Carlos Eduardo. 
Coincidência?
Enquanto o rolo rola entre os dois, a história alcança os píncaros com a descoberta que fez os amantes tremerem na base.
O avó de Carlos, Afonso, já suspeitava do que sucederá com Maria e sua mãe. 
E aí, o que mais posso dizer?
Ah! sim: Os Maias se desenvolvem num tijolo de 750 páginas.
Já ouvi o Primo Basílio e agora estou às voltas com O Crime do Padre Amaro, também de Eça de Queiroz. 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

VIVA OSWALDO MENDES!


Todos os dias e noites são iguais, à exceção das surpresas. 
Todo dia é um dia diferente, mas nem sempre a gente identifica isso. 
Abraçar alguém, principalmente alguém que a gente conhece, faz bem.
Toda vez que alguém querido bate-me à porta, meu coração dispara. 
O lugarzinho onde moro fica todo cheio de alegria quando gente bonita como Oswaldo Mendes, Fausto Bergocce e Carlos Silvio aqui chegam.
Oswaldo Mendes é um marco do jornalismo e do teatro brasileiros.
Esse cara é um gigante. Além de jornalista é ator, autor, diretor e compositor musical. E, vocalmente, não é desafinado. 
Oswaldo dirigiu grandezas brasileiras como a cantora Elis Regina, Dionísio Azevedo e o cartunista Henfil.
Ele guarda pérolas da Elis.
Perólas da Elis para Oswaldo trazem dela além da assinatura, a alma. 
Oswaldo com Elis fou uma relação incrível. Os fois se entendiam como Deus e Jesus Cristo. 
Eu conheci Elis na redação da Folha, mas essa é outra história. 
Exagero seria dizer que Oswaldo Mendes é um gênio?
Oswaldo Mendes é do caralho!
O Fausto nós sabemos que é da linha do caralho. Ora!
E o Carlos Sílvio, hein!
Do jeito que vai, esse Sílvio um dia também será do caralho.
Recomendo a quem quiser saber sobre a história do caralho que leia Pietro Aretino (1492-1556).
Pois bem, dito tudo isso digo mais: em setembro de 1978 Oswaldo Mendes e Henfil/Henfil e Oswaldo Mendes escreveram a beleza que é até hoje Revista do Henfil. Estreou no Galpão, em Sampa. Do elenco participaram Paulo Cesar Pereio, Rafael de Carvalho, Ruth Escobar, Sergio Ropperto e Sonia Mamed. Rendeu um LP.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (72)

No 3° volume da série Millennium, A Rainha do Castelo de Ar, escrita pelo jornalista sueco Stieg Larsson (1954-2004), o tráfico de mulheres para a prática sexual forçada é abordado de modo o mais oportuno e terrível possível. As principais personagens da trama são Lisbeth Salander, Mikael Blomkvist e Erika Berger, que prendem com facilidade a atenção do leitor. 
Atualíssimo, como se vê.
Quem começa a ler a série Millennium dificilmente pára até para comer, tão convincente e agradável é a leitura.
Nessa leitura, o leitor vai se deparar com misóginos decididos a tudo, até a matar. Em série.
Nessa série Millennium o leitor vai encontrar comportamentos horrorosos da parte de muitos personagens, que permeiam a trama,  que aqui e acolá pouco diferem da vida real: advogado torturador e tal e tal.
Lisbeth, uma personagem que surge de modo secundário transforma-se em heroína.
Larsson morreu sem desfrutar do sucesso da obra que criou.
O alter ego do autor é muito bem representado pelo herói, bonitão e mulherengo, Mikael.
Mikael é um repórter investigativo, vejam vocês!
Realismo puro, que convence e empolga o leitor. 
Na Suécia, desde 1999, é crime alguém pagar pra fazer sexo. 
Não é incomum infidelidade feminina levar à prostituição, isso todo mundo sabe. 
Há situações registradas pela imprensa e abordadas no teatro, cinema e livro em que a infiel, quando não espancada, é posta para fora de casa.
Desamparadas, muitas mulheres optam por trilhar esse caminho.
No livro Lucíola, de 1862, o autor José de Alencar (1829-1877) conta o caso de Lucíola, Lúcia ou Maria da Glória que cai na prostituição em busca de dinheiro para cuidar da família infectada pela febre amarela que matara a mãe e os irmãos. Sobraram o pai e uma irmã, Ana. A personagem-título tinha 14 anos de idade quando o pai  descobre que ela estava se prostituindo. Sem considerar as razões, ele a expulsa de casa. O resultado disso é que a menina segue sua vida num bordel.
Lúcia/Lucíola deu-se bem no “mal caminho”.
Pois é, essa é uma história muito antiga e recorrente.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 3 de fevereiro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (71)

Polacas
A França vivia o auge da prostituição no século 18. 
No século 19, o Brasil já recebia do Leste Europeu mulheres que caíam no campo movediço da prostituição. Enganadas.
Vinham essas mulheres da Rússia e também da Galícia e Polônia. 
Grosso modo, elas eram de origem humilde e até analfabetas. 
Convencidas pela lábia macia de proxenetas judeus, essas mulheres na maioria judias eram encaminhadas para a prostituição em bordéis do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. 
A Argentina era também um dos destino delas.
Entraram para a história da vida brasileira como "polacas".
O articulista Luis Krausz identificou muita coisa importante nesse mundo ainda nebuloso, principalmente no que diz respeito ao judeu no Brasil.
Na edição de 1º de setembro de 1996, o Jornal Folha de S.Paulo trouxe texto assinado por Krausz. Já nas primeiras linhas desse texto intitulado Memórias Deterioradas, lê-se:
“... As primeiras 67 prostitutas judias de nacionalidade polonesa desembarcaram no Rio em 1867. Logo foram apelidadas de polacas. A estas seguiram-se centenas, que, no decorrer das cinco ou seis décadas subsequentes, estabeleceram-se no Rio, em Santos e em São Paulo…”
Eram no Rio divididas em três categorias: a primeira se achava na região da Lapa. A segunda, na região de Botafogo e a terceira mais simples, comum e barata tinha o Centro Carioca como área de atuação. 
As polacas da Lapa eram confundidas conscientemente por alguns fregueses como parisienses.
Manter relações sexuais com uma parisiense era o que de melhor podia-se fazer. Top, como se dizia. O cachê alcançava os píncaros. 
Os judeus aliciadores de polacas integravam uma organização criminosa chamada Zwi Migdal. Ainda no seu artigo, Krausz destaca:
“A comunidade judaica local era ainda muito pequena e pouco organizada para poder tomar medidas efetivas contra a Zwi Migdal. Em 1913 a Jewish Association for the Protection of Girls and Women (Associação Judaica para Proteção de Meninas e Mulheres), baseada em Londres, enviou seu secretário-geral, Samuel Cohen, a Buenos Aires para avaliar a situação do tráfico de brancas na América do Sul. Os resultados desta visita foram limitados.
Em 1936 o escritor judeu austríaco Stefan Zweig visitou a zona do mangue, no Rio de Janeiro, onde se concentrava a prostituição. Em seus diários encontra-se a seguinte anotação: ‘Mulheres judias da Europa Oriental prometem as mais excitantes perversões... que destino levou estas mulheres a terminarem aqui, vendendo-se pelo equivalente a três francos?’ “.
Stefan Zweig suicidou-se em Petrópolis, no dia 18 de fevereiro de 1942. É dele o livro Brasil: O País do Futuro.
Por que Zweig suicidou-se?
Curiosidade: foi no Mangue que o sanfoneiro Luiz Gonzaga iniciou a sua carreira de sucesso e fama, como Rei do Baião.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

VIVA IEMANJÁ!

Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes 

Historicamente, o pobre sempre penou na vida. 
Também historicamente penou e sofreu à unha dos poderosos os negros. No Brasil inclusive.
Essa história de seres escravizados por outros datam de tempos imemoriais. Era o poderoso mandando e desmandando nos seus pares mais fracos. E para sofrer o que sofriam nem precisavam ser necessariamente de pele negra.
A história nos conta horrores da velha Grécia, da velha Roma, do velho mundo.
Pessoas eram trazidas à força para trabalhar no Brasil desde o século 16.
No Brasil, as pessoas em referência eram trazidas em navios “negreiros”. Muitos morriam entre África e o destino final, Brasil.
Morriam de morte matada, de fome ou desesperadas atirando-se ao mar. 
Esse era um negócio que dava muito dinheiro. 
Os africanos e africanas trazidos à força ao Brasil traziam consigo os seus costumes, a sua vivência e aqui punham em prática suas crenças de modo silencioso para não atiçar o ódio dos seus donos.
Terrível! 
A crença dos negros tinha por base os orixás.
A crença dos poderosos escravocratas, tinham grosso modo o catolicismo e suas figuras santificadas.
Entre cantos e batuques, os infortunados africanos identificavam seus orixás nas figuras dos heróis e heroínas da Igreja Católica. Assim Nossa Senhora dos Navegantes é identificada como Iemanjá.
Hoje é o dia de Nossa Senhora dos Navegantes e de Iemanjá, a rainha do mar.
A primeira comemoração à santa católica ocorreu na virada do século 19 num povoado chamado Navegantes. Virou município e é localizado em Santa Catarina.
Segundo a mais recente pesquisa do IBGE o município de Navegantes tem cerca de 85 mil habitantes.
Ia-me esquecendo: Iemanjá é cantada o tempo todo na música popular. Ouça Caymmi:


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

É UM LIVRAÇO A RAINHA GINGA

 Amor e sexo e muita porrada no correr da história que tem como personagem central a guerreira Ginga. É africana, viveu 81 anos, morrendo aparentemente de morte natural no dia 17 de dezembro de 1663.

Ginga governou Ndongo e Matamba durante cerca de 40 anos, substituindo o pai e o irmão. Era temida e respeitada. Não tinha papas na lingua, dizia o que bem queria. Ou mal.


O angolano Jose Eduardo Agualusa é o autor do livro (capa ao lado) que conta a historia interessantíssima de Ginga ou Nzinga. Depois de virar cristã, Ginga foi batizada com o nome de Ana de Souza.

A história contada passa-se entre Recife/Olinda, Luanda e Angola.

Corriam os tempos da invasão pernambucana pelos holandeses que tiveram à frente o conde Maurício de Nassau.

Nassau tinha muito interesse em conquistar parte da África. Pra isso contava com Ginga, que detestava os abusadores portugueses que tudo queriam e nada davam.

A Rainha Ginga tem como narrador o personagem recifense Francisco José da Santa Cruz que virou secretário particular da rainha. É padre, mas traído pelo desejo sexual deixou a batina e gerou um filho cujo nome é Cristóvão. 

Na narração há episódios brutais, violentos e um torturador incorrigível, miserável: um tal de Bittencourt, que chegou a cair em desgraça junto à Inquisição.

Claro, recomendo já a leitura de A Rainha Ginga. Numa frase: Esse é um livro pra lá de ótimo que mistura com categoria a ficção com a realidade histórica.