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domingo, 30 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (12)

A pernambucana de Recife Flaira Ferro tem composto e cantado coisas bonitas, e instigantes. Afinadíssima. Numa de suas músicas mais recentes, ela enaltece o prazer de ser mulher, a liberdade. Enfim, faz-se presente na sociedade machista em que vivemos. Um trecho: “Não tem coisa mais bonita/ Nem coisa mais poderosa/ Do que uma mulher que brilha/ Do que uma mulher que goza/ Toda mulher que deseja/ Acende a força erótica que excita a criação/ Dê suporte à mulher forte/ Quem sabe a gente muda a nossa sorte…”
Em 1826, o criador da modinha como gênero musical, Domingos Caldas Barbosa, escrevia para quem quisesse ouvi-lo: "Quem quiser ter seu descanso/Quem sossego quiser ter/Na densa mata do mundo/Fuja do bicho mulher...".
Aos desavisados devo lembrar que Barbosa era religioso e chegou a travar polêmica com o desabusado Bocage, a rigor, um preconceituoso.
Ah! A grande Chiquinha Gonzaga, de batismo Francisca Edwiges Neves Gonzaga, também chegou a levantar a saia no minado terreno da música de safadeza ao compor Corta Jaca que começa assim: "Neste mundo de misérias/Quem impera é quem é mais folgazão/É quem sabe cortar-jaca nos requebros/De suprema perfeição, perfeição...".
A ditadura militar que se implantou no Brasil em 1964, implantou também a censura. E muita gente boa se fodeu à época. Odair José, por exemplo, ao ousar lançar a música Pare de Tomar a Pílula.
A censura militar impedia que artistas cantassem palavrões ou fizessem meras referências a sexo. E sobre o mundo gay nem pensar!
O livro Eu Não Sou Cachorro Não, de Paulo César de Araújo é de importância fundamental para a compreensão da música que entendemos como licenciosidade na cultura popular. Importante também para entender isso tudo que digo é o que Rodrigo Faour diz no livro História Sexual da MPB.
A obra de Paulo César de Araújo e de Rodrigo Faour são obras de referência, especialmente no tema aqui abordado.
Por não ter muito lá o que fazer, fiz uma emboladazinha com o craque Jarbas Mariz para o próprio gravar. É uma espécie de homenagem ao querido conterrâneo José Nêumanne Pinto. É um trocadalho. Ouça: 
 

OUÇA MAIS: CHIFRUDOA BESTEIRA É A BASE DA SABEDORIADAKO É BOMGIRASSÓIS DE VAN GOGH

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora.

sábado, 29 de abril de 2023

É PRECISO APOSTAR NA EDUCAÇÃO!

Manifestação de professores, em São Paulo

O ensino escolar no Brasil sempre foi precário.
Formalmente os professores começaram a ensinar na segunda parte do século 19. Ainda no Império, portanto.
São milhares os estabelecimentos de ensino espalhados nos mais de 5.000 municípios brasileiros. Muitos só têm uma escola. Ensino precário, precaríssimo. Professores, boa parte deles, sem a formação necessária e carentes de tudo, como de resto a maioria dos estudantes do Ensino Médio e de outros graus. Universitário inclusive.
O governo anterior teve como objetivo afunhenhar completamente o País, a partir da educação formal. O MEC despedaçou-se, como o Ministério da Cultura. Até ministros inqualificáveis, como um certo Milton Não-sei-o-quê, foram convocados pra ajudar a acabar com a Educação.
Lula, agora pela terceira vez no poder, escolhe a dedo um ministro para a Educação. Mas o projeto desse ministro anda bambo. A primeira e polêmica iniciativa que tomou foi providenciar uma MP, Medida Provisória, de cima pra baixo impondo diretrizes para o que chama de "Novo Ensino Médio". Assinada por Lula, uma catástrofe!
Na última quarta 26, professores de São Paulo realizaram manifestação reivindicando a revogação do projeto chamado Novo Ensino Médio.
O assunto é seriíssimo!
Eu gostaria de ver, mas não vi, nenhum jornal, rádio ou televisão debatendo pra valer esse que é um dos mais importantes assuntos que têm por fim mexer direta e profundamente com a vida do brasileiro em formação. 
Cadê a Folha, cadê o Estadão, cadê a Globo, cadê a Bandeirantes? E a CBN? Isso em São Paulo...
Bom, quer saber mais?
O pessoal da Rádio Novelo, ligado à revista Piauí, tem feito um trabalho excepcional no campo das comunicações, mastigando e possibilitando aos ouvintes também mastigar assuntos de grande importância postos em pauta na vida afunhenhada deste nosso tão querido país. Isso tudo em podcast. Clique:


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (11)

Todos os principais compositores brasileiros cantaram e decantaram situações em que o homem e a mulher partem destemidos e prontos para gozar a vida, se me entendem. De todas as formas e maneiras. Singelas, muitas vezes, como se ouve na belezoca Festa do Casamento, que tem o Coroné Ludugero e o secretário Otrope como personagens.
A licenciosidade na cultura popular é ampla. Abrange a chamada Sete Artes, até mais.
O cantor Dicró foi um gozador. Tirou sarro de tudo, enquanto pôde. O mesmo fez o grupo paulistano Mamonas Assassinas. Tirei sarro deles em texto publicado no extinto paulistano Jornal da Tarde. Deu uma polêmica danada por eu ter dito que musicalmente o grupo não faria falta ao mercado.
Escrachado, o Mamonas brincava com tudo. A molecada esperta adorava. Gosto de Sabão Crá crá. Gosto também de Vira-Vira. Começa assim: "Fui convidado pra uma tal de suruba/Não pude ir, Maria foi no meu lugar/Depois de uma semana ela voltou pra casa/Toda arregaçada, não podia nem sentar...".
Todos os grandões e pequeninos de nossa música fizeram e continuam a fazer o que os conservadores de plantão costumam chamar de obscenidade ou pornografia explícitas. Entre esses Chico Alves, Orlando
Silva, Aracy de Almeida, Nuno Roland, Nelson Gonçalves, Paulo Vanzolini, autor do escracho Amor de Trapo e Farrapo; Zé Rodrix, Antonio Barros, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Caetano, Milton Nascimento, Djavan, Tom Zé, Rolando Boldrin, Rita Lee, Roberto e Erasmo Carlos, Cazuza, Wando, Zé Ramalho, Ângela Ro Ro, Gabriel, o Pensador, Marisa Monte, Genival Lacerda. Todos.
Genival Lacerda, também chamado de O Senador do Rojão, foi provavelmente o artista que mais gravou músicas de duplo sentido. Do seu repertório fazem parte, por exemplo: Severina Xique-Xique, Radinho de Pilha, Mate o Véio Mate, Caldinho de Mocotó e A Brusqueta da Zezé, que começa assim: “Menino eu já comi calango assado/Comi carne de viado/ Eu já comi jacaré/ Comi rabada, feijoada, acarajé/ Mais nada se compara/ A brusqueta da Zezé…”.
Luiz Gonzaga, o rei do baião, não ficou de fora dessa parada. Gravou coisas como Ovo de Codorna, Karolina com K e Não Vendo, Nem Troco, por exemplo. No primeiro caso, ele come ovo de codorna pra ter tesão. No segundo caso, dançando num forró de pé de serra, ele funga safadamente no cangote da Karolina, que se derrete toda. E no terceiro, o causo tem a ver com uma égua de estimação "disputada" com o filho, Gonzaguinha.
A putaria implícita ou explícita na música brasileira não é de hoje. O detalhe é que a mulherada está tomando as rédeas da história.
Isso é arte?

sexta-feira, 28 de abril de 2023

DEZ ANOS SEM PAULO VANZOLINI

Ilustração de Fausto Bergocce
 
Hoje faz exatamente 10 anos que o compositor paulistano Paulo Vanzolini morreu.
Além de compositor, e dos bons, Paulo Emílio Vanzolini teve presença marcante no mundo da medicina tanto no Brasil, como no Exterior. Sua especialidade era Herpetologia, parte da ciência que estuda a existência e o comportamento dos répteis. Pelo menos uma dúzia de répteis e anfíbios foram nomeados cientificamente com o nome de Vanzolini.
Suas pesquisas de campo foram realizadas em várias partes do Brasil, do Nordeste ao Norte, incluindo a Amazônia.
Há pelo menos dois ou três documentários enfocando o personagem que durante muitos anos foi diretor do museu de Zoologia da USP.
Paulo Vanzolini deixou publicado um livro de poesia (Tempos de Cabo), de memórias; e de estudos da área que dominou, entre os quais A Evolução ao Nível de Espécie: Répteis da América do Sul (FAPESP, 2010).
Paulo e Assis, num momento de descontração
Como compositor Paulo deixou uma discografia pequena, mas densa. Destaque para Ronda, Volta por Cima, Praça Clóvis, Boca da Noite, Samba Erudito e Amor de Trapo e Farrapo.
2024 será o ano do centenário de nascimento de Paulo Vanzolini.
No nosso acervo há registro de todas as composições de Paulo Vanzolini, inclusive uma inédita que pedi que gravasse para mim numa fita K-7. A letra é essa:

Minha neguinha
Hoje eu acordei disposto
Pra fazer seu gosto
Vamos nos casar

Hoje é o dia
De enfrentar a Pretoria
De na pausa ou na agonia
A gente se amarrar

E o padre e o cartório
Já estão avisados
O bifê tá contratado
Nada vai faltar

Você se pinte
Você se enfeite
Você se vista
Que eu vou dar uma passada
No dentista e volto já.

Para lembrá-lo, clique: 

terça-feira, 25 de abril de 2023

SIM, HOJE É O DIA DOS CORNOS!

Em vários pontos, o Brasil é muito modesto. Exemplo: não há no nosso calendário comemorativo o Dia dos Cornos.
Em Portugal e Espanha acho que o dia 25 de abril é dedicado aos cornos ou cornudos, como dizem os patrícios. Surgiu em tempos longínquos.
O nosso repertório musical, no tocante aos cornos é imenso e variado. Fala de homens e mulheres que dão seus pulinhos fora da cama de origem, alcançando terrenos além das cercas.
Infidelidade conjugal existe desde sempre, desde que o homem desceu das árvores.
Oitenta porcento das pessoas ouvidas numa pesquisa feita pelo portal O Hoje curtem ser cornos. Desse total, 30% disseram desejar ver o parceiro ou a parceira assistindo o transgressor ato. Mais: segundo a pesquisa, 35% das mulheres ouvidas manifestaram a vontade de assistir o macho em peleja sexual.
A pesquisa foi feita no ano passado.
Trair e Coçar é Só Começar, peça de Marcos Caruso, foi escrita e levada ao palco há mais de 30 anos. É sucesso até hoje. Trata do que diz o título. Está no Guiness.
O cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi deitou e rolou com o tema. Garçom chegou às paradas e virou clássico do gênero. Ouça:

Frase no para-choque de caminhão diz tudo: "Um homem sem chifre é um animal sem proteção".
O povo é sábio.
 

segunda-feira, 24 de abril de 2023

GUERRA: MAIS AMOR E MENOS ÓDIO

É impossível, quero crer, uma pessoa concordar 100% com o que diz outra pessoa. Nem Deus é unanimidade.
É no mínimo curiosa a fala do governo Biden criticando o que disse recentemente de Lula sobre a invasão da Rússia à Ucrânia.
Lula fala de paz e da necessidade de se criar um bloco de países para negociar o fim da guerra iniciada por Putin, há mais de um ano.
Ouço o governo norte-americano dizer que o Brasil está preocupado em por comida no prato e não com a guerra Rússia x Ucrânia. Ora, ora, não podia ser diferente.
Claro que o Brasil está preocupado em por comida no prato dos brasileiros e fazer com que todos progridamos.
Os EUA estão faturando, e muito, com essa guerra. O faturamento vem, lógico, do pesado armamento que tem destinado aos ucranianos.
O mercado bélico não brinca em serviço e não podemos esquecer dos males que os EUA já provocaram no Brasil. Lembremos 1964.
Foi no dia 1º de abril de 1964 que os militares brasileiros, incentivados pelos EUA, assumiram o poder e mergulharam o Brasil numa escuridão que durou 21 anos seguidos.
Bom, estou com Lula. Com a paz. À propósito fiz o poema Mais Amor e Menos Ódio. Leia:

Todos sabem muito bem
Que o mundo anda mal
Girando um tanto torto
No seu eixo natural

É caso muito sério
De difícil solução
Pode tudo se findar
À base de explosão

Como rastro de pólvora
Feito só para matar
As guerras se multiplicam
No campo, na serra, no mar

Aviões atiram bombas
Aleatoriamente
Destruindo meio mundo
E matando muita gente

Tudo isso sob as ordens
De um ser que planta o mal
De um ser que quer fazer
Nova guerra mundial

Pare enquanto é tempo
Chega de tanto terror
Em fuga o povo chora
Pedindo paz e mais amor

CHICO BUARQUE

Ali pelo meio-dia de hoje 24 o cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Hollanda receberá o Prêmio Camões, que ganhou em 2019.
O Prêmio Camões foi criado em 1988 para levantar a bola de grandes poetas e romancistas que se manifestam na língua portuguesa. Vários brasileiros já receberam esse prêmio. Um desses brasileiros foi o pernambucano João Cabral de Melo Neto.
A propósito: adaptei de Camões a obra-prima Os Lusíadas. LEIA: CAMÕES, SEMPRE CAMÕES (2, FINAL)

domingo, 23 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (10)

 Desde sempre homens matam mulheres por ciúmes.
 Fita K-7 que depois viraria LP e CD

O cantor Lindomar Castilho, pela imprensa chamado de "Gatilho", matou a tiros, em 1981, uma mulher a quem dizia amar, Eliane de Grammont.
Em 1977, o cantor Sidney Magal alardeava aos quatro cantos a sua posição de machista radical cantando: "Se te agarro com outro te mato/Te mando algumas flores e depois escapo...".
Em junho de 1981 publiquei na extinta revista Privé entrevista que fiz com o compositor e cantor Valdik Soriano, assumidamente "macho" como Nelson Gonçalves. Soriano contou na conversa que tivemos a respeito de suas origens até a chegar à condição de estrela da "música brega". De cara, disse, já no título: "EU COMO TODO MUNDO!".
Na íntegra, leia a entrevista que fiz com ele: VALDIK SORIANO DÁ O SERVIÇO
Aqui, quero deixar registrado uma coisa pessoal: um dia, numa mesa de bar, eu disse que não era certo o homem deixar a mulher em casa e ir pra gandaia. Ela poderia fazer o mesmo, por que não?
Quase levei porrada. Chamaram-me de demagogo.
Não à toa há mulheres que rompem a tradição machista.
E não à toa há homens que brincam com isso.
O cearense cantor e compositor Falcão fez e gravou a pérola Todo Castigo pra Corno é Pouco.
 

Em 1994, um cara chamado Alves Correia lançou o LP joia Chifrudo. A música título começa assim: "Toda vez que o namorado sai/Ela vai ficar com outro rapaz...".
O LP de Correia, cujas músicas são todas dele, termina com a inimaginável Oração de São Cornélio. Curiosidade: o referido Correia é considerado o radialista mais famoso do Agreste alagoano. Foi deputado por Alagoas, em 2002. Questões políticas o levaram a cair numa emboscada em 1993, ocasião em que foi atingido por nove tiros de arma de fogo.

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora.

sábado, 22 de abril de 2023

DIAS DE FESTA NO MEU CORAÇÃO


Assis, Onaldo e Max
É claro que sinto a falta, a ausência, de pessoas queridas como Paulo Vanzolini, Inezita Barroso, Rolando Boldrin. Pessoas que sempre me fizeram bem, mas passaram. Essas pessoas passaram. Estão no céu e é pra lá que eu vou num dia que não sei quando chega.
Os amigos, muitos ainda os tenho, continuam a me proteger com sua presença física e espiritual.
Ontem chegou aqui a minha casa o querido amigo Pedro Vaz.
Esse Pedro tem nada a ver com Camões, pelo menos familiarmente falando.
Pedro é jornalista, professor de jornalismo. Na Casper Líbero ele formou muitos colegas, entre as quais a queridíssima Maju do Fantástico. Eu amo a Maju.
Ontem 21 de Tiradentes, Pedro chegou aqui carregando consigo um amigo e uma amiga: Thiago e Marília (foto acima).
Thiago é um doido por forró.
Marília é uma professora aposentada, cheia de história.
Pois bem, hoje 22 foi o dia em que abri as asas para abraçar meu querido conterrâneo Onaldo Queiroga.
Onaldo chegou aqui carregando consigo um amigo: Max. Foi um dia muito bonito o dia deste sábado 22.
Fomos à feira minhas filhas Ana e Clarissa, Geremias e, claro, Onaldo e Max. Fomos comer pastel. De feira, na feira.



Comemos pastel e ainda fomos beliscar macaxeira na banca do meu querido mágico Beto. Dali fomos abraçar a dona Rosa, mãe do Beto, onde fomos comer tapioca.
O dia de ontem foi lindo.
O dia de hoje foi lindo.
O que eu quero para meus amigos e amigas que leem esse blog é que todos os dias sejam bem bonitos assim como os meus dias de ontem e de hoje foram.
Nesse meio tempo quero dizer que senti falta do amor que incendeia meu coração: Flor Maria.
 

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (9)

Não é de hoje, sei: a nossa música popular está completamente a-fu-nhe-nha-da!
Musicalmente, o Brasil começou a ganhar forma com Chiquinha Gonzaga e Joaquim Antônio da Silva Callado. O ponto de intersecção entre os dois foi o bom gosto.
Callado foi o cara que deu os ingredientes necessários para a formação do choro, que Pixinguinha daria os pontos finais na virada do século 19.
Chiquinha, que compôs centenas e centenas de músicas, foi quem criou o gênero musical marcha ou marchinha. É dela Ó Abre Alas, de 1899: "Ó abre alas!/ Que eu quero passar (bis)/Eu sou da lira/Não posso negar...".
O chorinho nasceu praticamente junto com o maxixe.
O maxixe era um tipo de dança considerado obsceno, lascivo.
Hoje a nossa música popular anda de pernas bambas, de gozo ou sofrência.
Eu não ouso perguntar, porque é quase certo que muita gente sabe o que é funk.
MC Pipokinha é muito doida. Muito doida também é a MC Carol.
Andei ouvindo uma certa Valesca Popozuda. Ai, ai, ai.
E o que dizer da doida varrida Tati Quebra Barraco?
Pipokinha autodenomina-se “Princesa da Putaria”.
Seguindo a lógica da Pipokinha, Quebra Barraco opta por considerar-se a “Mamãe da Putaria”.
Velhos tempos, novos tempos.
Entre 1902 e 1903 Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano, gravava para a Casa Edison a cançoneta A Boceta da Vovó. Deve ter feito sucesso à época, pois em 1904 Mário Pinheiro gravava para a mesma Casa a cançoneta Boceta de Rapé. Pois, pois. Mero duplo sentido que se ouvia da boca do Bahiano e do Mário.
Muita água lavou corpos após encontros proibidos, claro fica nos sambas e noutros gêneros musicais tão comuns desde sempre na discografia brasileira.
Na nossa música popular há registro de situações de infidelidade conjugal. Muitas.
Os personagens apresentados nos sambas e que tais eram sempre machões metidos a besta, que deixavam a mulher em casa e partiam para aventuras sexuais nos prostíbulos.


São muitos os títulos de músicas que trazem a palavra orgia. Alguns: Orgia e Nada Mais, com Aracy de Almeida; Vou pra Orgia, com Nuno Roland; Orgia, com Orlando Silva.
Pois é, a mulher sempre esteve num degrau abaixo da vida social masculina. Machista. E dê-se a isso o nome ou classificação que se queira dar. Portanto, não é difícil entender o berro quase desesperado que a mulherada do funk, principalmente, e de outros ritmos está dando por aí.
Tudo isso é compreensível, mas é arte o que se está fazendo?

sexta-feira, 21 de abril de 2023

PENSANDO GRANDE

Numa boa?
Pergunto-me por que tanto estardalhaço negativo em torno das últimas falas do presidente Lula da Silva. Ora, como estadista, Lula vai até onde é possível pra defender os interesses do Brasil e do povo brasileiro.
Lula andou falando a respeito da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Disse que os EUA e os países filiados da OTAN estão estimulando o prosseguimento dessa guerra nefasta, como toda guerra.
O que a Rússia está fazendo contra a Ucrânia era pra mim até pouco tempo algo impensável. Isso porque já apanhamos e morremos muitas vezes, desde que descemos das árvores.
Já fomos vítimas de guerras milhares e milhares de vezes e, como tudo indica, não aprendemos nada e continuamos a matar e a morrer.
Lula fala de paz e não de guerra.
Não basta a miséria e a fome para judiar das pessoas do mundo todo? Só no nosso País há mais de 30 milhões de irmãozinhos e irmãzinhas morrendo por falta de comida, de alimento. E olha que somos o país maior exportador de grãos e de outros alimentos.
Lula também falou recentemente do domínio que os EUA tem sobre o mundo. Lula: "Por que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar? Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda?".
A viagem de Lula à China foi, a meu ver, ótima. De negócios. 
É isso aí, gente!

ANASTÁCIA

Ontem 20 cometi uma pequena falha dizendo que Cacá Lopes, Luís Wilson e eu tínhamos feito uma música em homenagem à cantora e compositora Anastácia. Com esses amigos aí compusemos O Cantador de Alto Belo. O correto, no caso, é: Jorge Ribbas e eu compusemos Forró pra Anastácia. Ouça:

quinta-feira, 20 de abril de 2023

HOJE É DIA DE RILDO HORA

Hoje, 20 de abril, é o dia de aniversário do compositor e músico pernambucano Rildo Hora. Nasceu em Caruaru em 1939.
Rildo é um dos mais completos músicos da música popular brasileira. Toca um monte de instrumentos, além de gaitinha de boca: piano, violão, cavaquinho...
Não sei exatamente quando, mas foi no tempo em que eu ainda enxergava com os olhos.
Convidado por não sei quem, saí de São Paulo e fui dar palestra no Rio de Janeiro. Ao meu lado, Rildo. Foi um dos melhores encontros que já tive em público, discorrendo sobre música popular.
Daqui deste cantinho, meu abraço ao aniversariante do dia: Rildo Alexandre Barretto da Hora.
Ah! Sim: Rildo gravou um belíssimo LP com um repertório de altíssimo nível assinado por Luiz Gonzaga e parceiros, entre os quais Zé Dantas e Humberto Teixeira. 
Hoje comemora-se também o dia do Vinil.
Vinil, um derivado do petróleo, era a matéria prima para a confecção de LPs e compactos.
Confira Rildo em ação, no programa Sr. Brasil:


LEIA MAIS: UM DISCO PRIMOROSO  RILDO HORA E OUTROS BAMBAS DA MPB  RILDO HORA, LULA E POSTE

DIA DE BARÃO

 
Datas servem para lembrar datas e gentes. Acho bom, pois vale a pena aqui e ali mergulharmos na história.
As datas nos lembram fatos e curiosidades do nosso cotidiano.
No dia 20 de abril de 1845 nascia no Rio de Janeiro o cidadão José Maria da Silva Paranhos Júnior. O tempo passou com o menino José estudando e vivendo a vida de menino. Estudou, estudou e estudou. Com o tempo, virou barão. Dos bons, sabido que era. Pôs o Brasil no peito e passou a defendê-lo.
O Barão do Rio Branco, como ficou conhecido,  deixou marca indelével na história do nosso País. Errou aqui e ali, mas nada que empatasse de a história acolhê-lo com graça. Pra lembrá-lo foi criado o Dia do Diplomata. Deve-se  a ele a inclusão do Acre e um pedaço de Santa Catarina no mapa do Brasil em 1903, portanto há 120 anos. 
O Barão do Rio Branco foi diplomata a partir de 1902 até morrer, em 1912. O presidente do Brasi,  à época, era Rodrigues Alves (1902-1906).

 

OUÇA: FORRÓ PRA ANASTÁCIA

quarta-feira, 19 de abril de 2023

DETALHES NA VIDA DE UM REI. EU, HEIN!

Existem vários livros contando
a história de Roberto Carlos.
Ele mesmo assinou vários
desses livros.

Não seria fora do tom dizer que Roberto Carlos não é desse planeta. Aliás, Fora do Tom é nome da segunda música que ele gravou desde que iniciou a carreira na segunda parte dos anos de 1950. Essa música ocupou o lado B do 78RPM que traz no lado A João e Maria.
João e Maria, diria anos depois Roberto, o levou à emoção quando a ouviu pela primeira vez numa emissora de rádio de São Paulo. A música não fez sucesso nenhum. Saiu pela Polydor.
Roberto Carlos não é alienígena, mas é do Brasil antigo. Quer dizer, mais ou menos. Nasceu no dia 19 de abril de 1941. O mundo estava em guerra, com Hitler à frente da desgraceira que inundou o mundo de sangue.
Em 1961, ano da renúncia do presidente Jânio Quadros, Roberto levou à praça o primeiro LP a que deu o título de Louco por Você. Esse título, em inglês Careful, Careful, é dos gringos Lee Pockriss e Paul Vance.
Quase todas as músicas de Louco por Você traz a assinatura do fora de ordem Carlos Imperial.
Imperial foi tão importante na vida de Roberto Carlos quanto Tim Maia. É história.
Roberto Carlos começou a carreira imitando João Gilberto. O registro se acha já em João e Maria.
O LP Louco por Você, que RC relega e o exclui de sua discografia, é todo dançante no ritmo de Bossa Nova.
Em 1963, quando o presidente da República era João Goulart, Roberto levou à praça pela CBS o LP que considera ser o marco de sua carreira: Splish Splash. Aí já é Jovem Guarda na veia.
O cantor que mais gravou músicas no Brasil até hoje foi Chico Alves (1897-1952): cerca de 900. O segundo é Roberto Carlos, com cerca de 700.
Considero RC um chato. E não só eu.

Quando o empresário Antônio Ermínio de Morais concorria ao cargo de governador de São Paulo, em 1986, Roberto era um de seus garotos propaganda. Fazia shows para o empresário. Num desses shows, aberto por Téo Azevedo e grupo, Roberto não lhe deu a mínima. Sequer o agradeceu com um tapinha nas costas. Téo, riu.
Num ano qualquer dos 80, fui escalado pela Folha para fazer a cobertura jornalística de uma passagem de som de Roberto no Anhembi (foto ao lado). Seu empresário, Marcos Lázaro (1925-2003), foi todo atenção. Grande profissional. Fica o registro.
No frigir dos ovos a vida de Roberto Carlos, chamado de "Rei da Jovem Guarda", é cheia de emoções e detalhes.
O dia 19 de abril marca também o Dia dos Povos Indígenas no Brasil. À propósito, há duas décadas, Téo Azevedo e eu compusemos uma música que intitulamos O Índio. Ouça, na voz da cantora Fatel:

terça-feira, 18 de abril de 2023

LEIA MONTEIRO LOBATO!

O dia 18 de abril, hoje, é o Dia Nacional do Livro Infantil. A data, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, é uma homenagem ao escritor paulista de Taubaté Monteiro Lobato, que nasceu no dia 18 de abril de 1882.
Lobato foi o primeiro grande autor de histórias infantis do Brasil. Deixou uma obra importantíssima, principalmente no campo da Literatura para crianças e jovens em formação. Importantíssimo até os dias de hoje. Não ler Lobato é, no mínimo, sinal de ignorância.
A respeito da literatura infantil e seus autores, já andei falando por aí afora. Recomendo a leitura dos textos abaixo:
 Eu mesmo andei me aventurando no fabuloso campo da literatura infanto-juvenil.
Há uns 10 anos, pouco mais talvez, publiquei pela Cortez Editora os livros A Menina Inezita Barroso e Lua Estrela Baião, A história de um Rei.
 

domingo, 16 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (8)

 A primeira história em quadrinhos feita no Brasil por Agostini chamou-se As aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à Corte. Ano: 1869.
No dia 3 de julho de 1992, 2 dias antes de morrer, Alcides Aguiar Caminha, foi agraciado com o prêmio HQ Mix como “pai dos quadrinhos eróticos nacionais”. E ainda teve tempo de agradecer, segundo registro do jornal O Globo: “É um pouco tardio, mas fico lisonjeado. É uma homenagem justa porque os livrinhos instruíram os jovens daquela época e esclareceram muita coisa que eles desconheciam”.
As historiazinhas sacanas de Zéfiro publicadas em folhetos, grosso modo falando, marcaram época por terem objetivo masturbatório, de iniciação sexual, por isso mesmo chamados de “catecismos”. Educativos, vejam só! Valia tudo, na imaginação de Zéfiro: homem com homem, mulher com mulher, troca de casais, posições “papai-mamãe”, anal e tudo mais que se

Última edição de O Rio Nú
possa extrair da imaginação de um cidadão que passou boa parte da vida no gozo ou fazendo gozar.
As primeiras publicações que trataram da questão começaram no Rio de Janeiro, na virada do século 19. A primeira delas foi O Rio Nu. Ingênua e de nenhuma afoiteza de caráter sexual. Simples e banal. As ilustrações, desenhos feitos à meia-boca, não tinham aparentemente o propósito de despertar safadezas nas mentes masculinas e femininas da época, pelo menos no olhar de quem folheia aquelas páginas nos dias de hoje.
Esse jornal foi inaugurado no dia 13 de maio de 1898. Era editado por três amigos: Heitor Quintanilha, Gil Moreno e Vaz Simão.
Além de O Rio Nu, cuja circulação foi encerrada no dia 30 de dezembro de 1916, outros títulos o seguiram na temática, como Sans Dessous, O Coió, O Riso, O Tagarela, O Nu, A Banana, O Nabo.
O dia 30 de janeiro é o Dia Nacional das Histórias em Quadrinho, inspirado em Agostini.

sábado, 15 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (7)

Depois de Zéfiro as bancas de revista foram inundadas por quadrinhos de sacanagem feitos aos milhares, talvez milhões. Os títulos, como as histórias, explícitos.
Tinha historinha sacana pra tudo quanto é gosto. Exemplo é Pra onde a vaca vai o boi vai atrás, título claramente inspirado na bobagem brega de João da Praia, pseudônimo do paulista Antônio Zacarias (1950-1989). Trata de uma jovenzinha gostosa e um macho em ponto de bala. Ele, peão da fazenda do pai dela, vê-se "obrigado" a realizar as fantasias da moçoila. O pai desconfia e dá de garra de uma garrucha decidido a pôr fim à safadeza dos dois.
A Internet acabou com isso tudo, possibilitando aos admiradores e seguidores de Onã cenas em movimento e tal. Mais picantes, pois.
Onã é um personagem bíblico usado pela igreja para proibir sexo anal e masturbação, tomando-o como exemplo dessa prática tão comum em todos os tempos.
Ah! Sim: em São Paulo e no Rio de Janeiro há logradouros com os nomes de Angelo Agostini e Carlos Zéfiro.
Em 1996 a cantora Marisa Monte levou a público o CD intitulado Barulhinho Bom em homenagem a Zéfiro, que deixou como herança pelo menos 600 catecismos. Esse disco, um CD, foi lançado à praça brasileira sem nenhum problema. No lançamento, foram distribuídos alguns títulos do Zéfiro.
Nos EUA o mesmo disco de Marisa Monte recebeu como carimbo na capa uma tarja como censura. Isso na terra considerada o berço e exemplo de liberdade. Ora veja! Até o título foi traduzido para A Great Noise.Agostini e Zéfiro têm sido personagens de interesse do mundo acadêmico.
Em 2013 a então mestranda Érika Cardoso, da Universidade Federal Fluminense, apresentou num simpósio realizado no Rio Grande do Norte trabalho que desenvolvia sobre Zéfiro. Título: “O pornógrafo ingênuo — Carlos Zéfiro entre a História e a memória”.
Lá pras tantas ela lembra a antropóloga Maria José Silveira, segundo a qual “Na prática Carlos Zéfiro foi um autêntico precursor do feminismo, no que o feminismo tem de bom, já que seus catecismos evidenciam que as mulheres têm prazer, sabem tomar iniciativas, sempre revestem de paixão o ato sexual e que, com raras exceções, as narrativas nos catecismos não dão espaço ao moralismo”. Recomendo a leitura: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364259543_ARQUIVO_ARTIGOANPUH.pdf


Também já foram escritos e publicados pelo menos 4 livros sobre o endeusado personagem. O primeiro A Arte Sacana de Carlos Zéfiro, organizado por Joaquim Marinho, com pequenos textos analíticos assinados por Roberto da Matta, Sérgio Augusto e Domingos Demasi; e o segundo Os Alunos Sacanas de Carlos Zéfiro, também assinado por Marinho. O terceiro, O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro, de Otacílio d’Assunção. E o mais recente, de 2018, O Deus da Sacanagem: a Vida e o Tempo de Carlos Zéfiro. Autor: Gonçalo Junior.
Fora isso há documentários sobre Zéfiro e Agostini. Em 2020, o cineasta Carlos Tendler lançou o filme Em Busca de Carlos Zéfiro. Em 2013, Bira Dantas rodou o documentário Desvendando Ângelo Agostini ou 30 Anos da AQC.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

EU E MEUS BOTÕES (62)

Barrica entra na casa com o celular na mão, chamando a atenção de todos para a notícia do G1, em voz alta lendo o título: Reunião que teve joias para Bolsonaro abordou ativos da Petrobras e Opep, mostra telegrama. "Isso não pode ser!", rebateu estupefato Jão. "Pode ser, sim! Esse Bolsonaro do Inferno afunhenhou o Brasil e fez do seu povo gato e sapato. Faturou e muito em nome próprio, quando dizia que era honesto. Honesto coisa nenhuma!", emendou Biu. A seu lado, Zoião murmurou: "Tem muita coisa ainda a vir à tona...".
Depois de ler o título do escândalo bolsonarista, mais um, Barrica continuou a leitura: "A reunião na Arábia Saudita na qual foram dados presentes para o então presidente Jair Bolsonaro, incluindo joias com valor estimado em R$ 16,5 milhões, discutiu a venda de ativos da Petrobras e um possível convite para o Brasil integrar uma versão estendida da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)".
O que eu posso dizer diante dessas coisas todas, a não ser que no mínimo vem mais escândalos nesse nível.
"O MPE acaba de sugerir ao STE que torne Bolsonaro inelegível por 8 anos, por afirmar sem provas que as urnas eletrônicas não mereciam a confiança dos eleitores", lembra o conciso Zilidoro. "Esse cara vai pra cadeia, ou pra ponta do meu punhalzinho...", murmurou lá do seu canto o sempre cauteloso, e um tanto esquisito, Lampa. Todos olharam pra Lampa, que de bate-pronto disse, passeando seus olhos nos olhos dos demais botões: "Que que há, nunca me viram não? Na minha terra feladaputa nasce morto!".
Pedi calma, muita calma, pois o Brasil começa de novo a ficar na crista da onda. Agora mesmo Lula disse, na China, que não entende o fato de todas as transações comerciais no mundo sejam feitas na base do dólar. Biden não gostou...
De repente, Mané diz que está acompanhando tudo isso pelo rádio. E no rádio ouviu a notícia dando conta de que o presidente da Ucrânia tá metendo o pau na gente porque não aceitamos o seu pedido de lhe mandar armas para se defender dos russos...
"Sim, isso mesmo e tem mais: ouvi dizer que o francês Macron está estimulando o Ping-Pong a meter bala nos EUA", disse Zé naquele jeito atrapalhado de ser e foi corrigido por Zilidoro, pra muitos da casa um sábio: "Não é Ping-Pong não, Zé. O nome do presidente do homem de lá, da China é Xi Jinping!".
Zé agradeceu, humildemente.
Bom pessoal, a conversa tá boa e estou orgulhoso de todos vocês pelo fato de não se deixarem alienar. Alienação anda junto com burrice e fake news. Parabéns.
Pedindo a palavra, Barrica perguntou se Zilidoro conhecia um poeta chamado Riachão. Surpreso, Zilidoro disse que sim. Disse que era amigo de Riachão, na verdade um parente distante.
"Muito bem, seu Zilidoro!", agradeceu irônico o Barrica. E pedindo licença a todos, começou a declamar: 
 
Zilidoro e Riachão
São da lira popular
Fazem versos de cordel
Pra o povo apreciar
São versos bem bolados
que fazem rir, fazem chorar...

"Agora tem uma coisinha meio doida, aqui. É assim...", recomeçou Barrica:

Riachão trava luta
Contra a hipocrisia
Contra o proibido
Em nome da fantasia
Seu cordel a Quenga Pura
Traz somente putaria...

Chega, Barrica! Deixe isso pra lá. Isso é coisa de poeta e tem poeta de safadezas, sabia?

quinta-feira, 13 de abril de 2023

QUE TAL COMEMORAR O DIA DO BEIJO?

E aí, hein?
O beijo é uma coisa boa que se acha na boca de todo mundo. De homem, mulher e bicho de todo tipo, até no bico dos passarinhos.
O beijo tem um dia: hoje, 13 de abril.
Conta a lenda que o Dia Internacional do Beijo surgiu na Itália, em 1882. Por lá havia um gostosão que estava sempre na boca da mulherada. Invocado com a situação, um padre inventou de oferecer um prêmio a uma mulher que tivesse resistido aos encantos do rapagão. Resultado: todas as mulheres passaram pela boca do cara e o prêmio não foi entregue até hoje.
Tem Dia do Beijo, pois. Tem dia do Corno e o Dia do Sexo. Pois, pois.
São milhares, inúmeras as músicas que falam de beijo, de corno e de sexo. Em todas as línguas.
Em 1945 as Irmãs Castro gravaram uma coisinha linda, gostosa de ouvir, chamada Beijinho Doce. De Nhô Pai. Fica o registro e relembre que belezura é ouvir a dupla cantando essa cantiga. Ouça: https://www.youtube.com/watch?v=SiIQdMzwQfA
E veja:
 

quarta-feira, 12 de abril de 2023

SOCORRO LIRA ESTÁ NA PRAÇA

A cantora, compositora e instrumentista paraibana Socorro Lira, com duas décadas de carreira e uma dúzia e meia de discos gravados, está na praça com charme e beleza, apresentando um repertório muito bonito, a maior parte composta no correr da pandemia de Covid-19. 
Em março, Socorro marcou grande presença na Sala Itaú Cultural. Lotou com um público entusiasmado cantando e batendo palmas. Foi bonito. Socorro fez-se acompanhar dos músicos Jorge Ribbas e Ricardo Vignini. O espetáculo, durou pouco mais de uma hora. Começou às 20h.
Socorro Lira tem andado mundo afora apresentando a sua obra. Por onde passa, carrega gente. Entusiasma. Ela é uma das artistas mais reverenciadas no Brasil. A sua obra marca pela qualidade e importância. Fala de amor, companheirismo, meio ambiente e de paz, mesmo quando fala de guerra. No espetáculo apresentado em março no Itaú, Socorro mostrou parcerias inéditas com Zélia Duncan, Chico César, Cátia de França, Cecília Beraba e Ana Costa.
Jorge Ribbas faz arranjo das músicas de Socorro Lira há mais de 15 anos. São espécie de almas gêmeas, musicalmente falando.
O espetáculo Dharma foi gravado e pode ser acessado por você meu amigo, minha amiga. Para tanto, basta clicar:
 

domingo, 9 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (6)

O número com a matéria de
Zéfiro agora é peça de colecionador

As revistinhas do sacana Zéfiro passavam de mão em mão, literalmente.
Mas quem era Zéfiro?
Em novembro de 1991 a revista Playboy dedicou cinco páginas ao personagem que fez a alegria de jovens e marmanjos afoitos, durante pelo menos duas décadas. Como chamada de capa a revista trazia: "Acabou o mistério de 30 anos - Revelamos a verdadeira identidade de Carlos Zéfiro, o lendário autor dos quadrinhos eróticos que enlouqueciam o País". E lá dentro, a manchete: "O Fim de 30 anos de Mistério".
O autor da matéria, jornalista Juca Kfouri, lembra que foi muito difícil convencer o autor dos "catecismos" a revelar o seu nome verdadeiro: Alcides Aguiar Caminha.
Encafifado sempre fui no tocante a essa história, peguei o telefone e Juca me disse que o momento era mais ou menos impróprio. Estava assistindo à TV uma partida de futebol para comentar no dia seguinte, mas papo vem papo vai, revelou e deixou-me fazer perguntas.
Contou-me detalhes que não contou na entrevista que fez com o criador de Zéfiro.
A história contada por Juca, à época diretor da revista Playboy, começa quando recebe um telefonema de Moacy Cirne, professor da Universidade Federal Fluminense. O professor perguntava se interessava fazer cobertura de uma exposição de revistas de sacanagem que estava na programação da Universidade. E Juca respondeu com outra pergunta: "E o Zéfiro vai estar?".
Como resposta, o professor disse que há muito tempo também estava à procura do famoso autor das historietas de libertinagem, tão procuradas por gente de todo tipo.
Pouco depois dessa conversa Juca recebeu um telefonema do diretor da revista Imprensa, Sinval de Itacarambi Leão. Queria saber se a Juca interessava entrevistar o "verdadeiro" Carlos Zéfiro. Claro, disse. Resumindo: Juca marcou encontro, no Rio, com um cara chamado Eduardo Barbosa (1914-2006). Desenhista dos bons, dos antigos, que dizia ser o o Zéfiro e queria pela entrevista 25 mil dólares.
A essa altura, Juca Kfouri já havia mantido contato pessoal com o primeiro editor de Zéfiro: Hélio Brandão, dono de um sebo na capital fluminense.
Zéfiro produziu e publicou pelo menos
600 títulos dos famosos catecismos
Também a essa altura Juca já havia chegado ao nome de Caminha e até tentara convencê-lo a dar a tão pretendida entrevista à Playboy. Negativo, no primeiro momento. Depois, no segundo momento, Juca apostou alto. E disse a Caminha na sua casa em Anchieta, RJ: "Eu vou publicar entrevista com o Barbosa. É ele o Zéfiro".

Caminha não gostou do que ouviu. E terminou por contar a sua história, mas gostaria de ler o texto antes de publicado. Pedido feito, pedido atendido.
"Voltei a casa do Caminha com a matéria pronta. Reunida numa mesa grande, Caminha, sua mulher e a família toda me aguardavam. Comecei a ler o texto. Lá pelas tantas, ouvi um fungado ou algo parecido. Depois, mais um e mais outro. Eram ele e a mulher chorando, emocionados".
Todos eram a favor de que Alcides Caminha revelasse o fato de que Zéfiro era ele mesmo, mas resistia. Juca: "Foi uma das melhores matérias que já escrevi na minha vida. Orgulho-me disso".
A matéria de Juca Kfouri é do caralho!
Essa matéria, cuja cópia Juca me mandou, virou peça de colecionador. Compartilho com vocês: https://drive.google.com/file/d/12DUEnjAPfFn9VqPzt1wQ7zqWY8N78cja/view?usp=sharing
Caminha morreu oito meses após a publicação da entrevista.
Alcides Caminha foi também um compositor musical bastante inspirado. É dele, por exemplo, em parceria com Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito o samba A Flor e o Espinho.

sábado, 8 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (5)

Já foram publicados pelo menos
4 livros sobre as aventuras de Zéfiro
No dia 8 de abril de 1843 nascia na Itália um cara chamado Angelo Agostini. Esse cara foi levado pelos pais à França. E lá estudou. Tinha 16 anos de idade quando chegou ao Brasil. Morou em São Paulo.
Agostini foi o nosso primeiro quadrinista.
Quadrinista é o artista desenhista que conta histórias em desenhos.
No dia 26 de setembro de 1921 nascia em São Cristóvão, bairro do Rio de Janeiro, um cara chamado Alcides Aguiar Caminha.
Caminha foi um dos criadores pioneiros das revistinhas de sacanagem no Brasil. O mais explícito.
Até o ano de 1949 os jovens, principalmente os jovens, para se satisfazerem sexualmente sozinhos tinham de apelar para a imaginação sem o "auxílio" de revistas de mulher pelada. Dureza. Até então o que havia à disposição dos onanistas de plantão eram revistas "naturalistas" com fotografias de mulheres nuas em jardins, parques e publicações com mulheres desfilando em maiôs pelas praias.
Estou falando principalmente de revistas, mas é bom que se diga que já na virada do século 19 havia jornais direcionados a um público que na intimidade dava asas à imaginação, sexualmente ou putanamente falando. Um desses jornais, O Rio Nu, marcou época. Começou a circular em 1898 e foi até 1916. O último número, de dezembro daquele ano, trazia o conto O Don Juan de Calças Largas. Putaria implícita.
O Rio Nu foi o jornal que inventou o "gênero alegre".
A primeira revista ou revistinha de sacanagem explícita chegou à praça no ano de 49, nas bancas do Rio. O governo era Gaspar Dutra. O pioneiro nessa história foi Carlos Zéfiro.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

DIA DO JORNALISTA TEM HINO

No dia 7 de abril de 1931 a Associação Brasileira de Imprensa, ABI, criava o dia dedicado aos jornalistas brasileiros. Foi em decorrência do assassinato de Libero Badaró, sobre quem me inspirei e compus Hino a Badaró. A melodia é de Jorge Ribbas. Ouça: 


LEIA MAIS: DE COMO O ASSASSINATO DE UM JORNALISTA PROVOCOU A QUEDA DE UM REI (1) JORNALISTAS EM FESTA E OPERETA INFANTIL

quinta-feira, 6 de abril de 2023

METRÔ DARÁ NOME DE ASSASSINO A UMA ESTAÇÃO

Paulo Freire na visão do cartunista Fausto Bergocce
 
Em breve, o Metrô de São Paulo dará o nome do bandeirante Fernão Dias Paes Leme a uma de suas futuras estações. A estação está programada como extensão da Linha 2-Verde, que atualmente liga a Vila Madalena à Vila Prudente. O nome de Fernão Dias estará numa das estações dessa linha, que se prolongará até o bairro da Penha.
O nome antes escolhido era o do educador pernambucano Paulo Freire.
Segundo a direção do Metrô, a nova escolha foi resultado de uma pesquisa entre sabe-se lá que grupo de pessoas.
Fernão Dias foi um bandeirante que entrou para a história como assassino e responsável pela prisão e "venda" de indígenas que escravizava. Morreu em Minas Gerais aos 73 anos de idade, achando que tinha descoberto uma enorme jazida de Esmeraldas. O que achou, na verdade, foi uma coisa chamada Turmalina.
Paulo Freire foi um dos mais importantes brasileiros, cuja vida foi toda dedicada à educação.
Em 1963, há exatos 50 anos, Freire criava o métodos que leva o seu nome.

LEIA MAIS: PAULO FREIRE EM CORDEL BOLSONARO, EDUCAÇÃO E PAULO FREIRE

quarta-feira, 5 de abril de 2023

LUIZ GAMA VIRA PRÊMIO DE DIREITOS HUMANOS

Clique para ler
 Todo mundo sabe e se não sabe deveria saber que Lula, presidente do Brasil pela terceira vez, tem seu pensamento e ações voltados a valorização das pessoas e dos direitos humanos. Muita coisa já fez, nesse sentido. E continua fazendo.
No último dia 3 o Diário Oficial da União, DOU, revogou a Ordem do Mérito Princesa Isabel, criado pelo governo anterior. No seu lugar foi criado o Prêmio Luiz Gama, que "será dado a cada dois anos a pessoas físicas ou jurídicas de direito privado cujos trabalhos ou ações mereçam destaque especial nas áreas de promoção e de defesa dos direitos humanos no País".
Isabel, de batismo Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança, feita princesa pelo pai Pedro II, foi quem assinou a Lei Áurea "libertando" pessoas escravizadas até o dia 13 de maio de 1888. Essas pessoas, porém, ganharam a rua e nada mais. Quer dizer, o que a princesa fez ficou muito aquém do necessário.
Jornais da época, como o Gazeta de Notícias (acima), deram destaque ao ato da princesa no Paço Imperial, no Rio, naquele distante 13 de maio.
A luta pela dignidade humana levada à cabo pelos abolicionistas de primeira hora, como Luiz Gama e José do Patrocínio, não ficou só na assinatura formal da princesa. Foi além e como tal, continua.
O jornalista e poeta Luiz Gama dedicou sua vida a essa luta. Portanto a iniciativa de Lula é bem vinda.
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, só neste ano mais de 1.127 brasileiros foram libertos de trabalhos análogos à escravidão só neste 1º trimestre.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

O BRASIL MAL-EDUCADO. QUE PENA!

É um horror, é um horror!
Ouço no rádio notícias dando conta de pessoas, simples, sendo massacradas por pessoas. Também simples.
O que é que está havendo no meu País?
O Bolsonaro fodeu tudo, eu sei. Mas não está na hora de a gente repensar na importância da vida e das pessoas?
Somos o que somos, iguais no rigor.
No rádio ouvi notícia de uma aluna de 45 anos de idade sendo humilhada, zombada, ridicularizada... Preconceito às favas!
No rádio também ouvi notícia dando conta de uma garota autista sendo "zoada" por alunos e alunas da sua classe. Escola no Rio de Janeiro.
Deus do céu, até quando nós pessoas humanas continuaremos assim a menosprezar nossos iguais?
Estou triste.
O Brasil precisa se reeducar. Precisamos nos reeducar.

domingo, 2 de abril de 2023

HÁ 40 ANOS MORRIA GREGÓRIO BEZERRA

 O golpe militar de 1964 foi efetivado no final da madrugada do dia 1° de abril. Loucura. Pego de sopetão, o Brasil calou estupefato. O pior viria em seguida, com perseguições e tudo o mais.

No dia 2 de abril daquele ano o líder das Ligas Camponesas e ex-deputado federal Gregório Bezerra foi preso e torturado em praça pública.  Isso em Recife, PE. Bezerra foi manietado e arrastado por um jipe do Exército. Sofreu, sangrou e quase morreu diante de pessoas comuns que a tudo assistiam nas ruas da capital pernambucana. O horror foi transmitido ao vivo por canais de TV locais. Esse horror só foi suspenso por intervenção de freiras de um colégio perto de onde tudo acontecia.

A violência contra Gregório foi tanta que prefiro parar por aqui.

Não conheci pessoalmente Gregório Bezerra, mas fui escalado pela chefia de reportagem da Folha para fazer a cobertura de seu velório no hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Bezerra morreu de um ataque cardíaco na madrugada do dia 21 de outubro de 1983. Para minha surpresa deparei-me com Luís Carlos Prestes, o da Coluna. Entrevistei-o. Falou-me da sua relação histórica com Bezerra. Aproveitei a ocasião para perguntar a Prestes se ele conhecera o gangaceiro Virgolino Ferreira, o Lampião. Olhou-me surpreso e respondeu-me o que lhe perguntara. Foi um papo de uns 20 minutos, talvez um pouco mais. Disse-me que não conheceu Lampião pessoalmente, mas se viram à distância. Enfileirados,no Ceará, acho que em 1926 ou 1927.

O causo foi o seguinte: o governo usou padre Cícero para convencer Lampião a combater a Coluna Prestes. Para isso, o famoso cangaceiro receberia armas e ganharia a patente de capitão. Prestes disse-me algo como "não topou por entender rapidamente que estaria combatendo contra quem combatia o mesmo inimigo. Ou seja, o governo".

Lampião virou capitão por conta própria. 

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (4)


 Seguindo a mesma temática, isto é a licenciosidade como tema do nosso dia a dia, o poeta repentista Otacílio Batista publicou de sua autoria o cordel em décimas de sete sílabas O Corpo da Mulher Nua. Na penúltima estrofe diz:
Assis Angelo e Otacilio Batista, em programa da Rádio Atual

Sobe tudo neste mundo
Sem dó e sem compaixão,
O relógio da inflação
Nunca atrasou um segundo.
É raro um cheque ter fundo
Num país mal governado.
A rolinha do passado
Abre o bico mas não canta,
Mulher pelada levanta
Salário de aposentado…


O editor e cordelista cearense Klévisson Viana transformou em literatura poética o caso de uma prostituta que providencia um catimbó pra matar um delegado que a humilhou desferindo socos e pontapés. O final é feliz. Começa assim:

Leitores, não se enfadam
Vou retornar ao passado
Para narrar uma história
Que passou em nosso Estado
O caso de um puta
Que matou, numa disputa,

Um temível delegado...

Esse folheto, intitulado O Romance da Quenga que matou o Delegado, foi adaptado para um capítulo da série Brava Gente, da TV Globo. A personagem feminina foi interpretada pela atriz Ana Paula Arósio. Confira:

sábado, 1 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (3)


Muitos cordelistas, também chamados de poetas de bancada, optam pelo anonimato ou pseudônimo ao escreverem histórias nas quais inserem palavras, frases e versos de baixo calão. Mas há também autores que publicam este tipo de história com nomes que corriqueiramente os identificam perante o seu público. São muitos os casos. Entre esses Mestre Azulão, Erotildes Miranda dos Santos, Abrão Batista, Cícero
Lins de Moura, Manoel Monteiro, Gonçalo Ferreira da Silva, Alípio Bispo dos Santos, Manoel Caboclo e Silva.
É vasta a produção de histórias picantes na poética de cordel e da dita literatura erudita em que se destacam nomes de brasileiros como Olavo Bilac, Jorge Amado, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, sem falar no primeiro de todos: Gregório de Matos Guerra (1639-1696).
O português Bocage, por extenso Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805), fez piadas e versos picantes. E põe picante nisso! É dele a história A Mulher do Amigo, adaptada para quadrinhos e publicada no formato de folheto. Nessa história rola um triângulo amoroso, do tipo capaz de enrubescer até poste. Curiosidade: Bocage foi preso sob a acusação de, digamos, libertino. Isso em 1797. Os versos que o levaram à cadeia diziam:

Pavorosa Ilusão de Eternidade
Terror dos vivos, cárcere dos mortos;
D'almas vãs sonhos vão, chamado inferno;
Sistema de política opressora...


Gozador em todos os sentidos, Bocage escreveu um soneto intitulado Epitáfio. Termina assim:

… Aqui dorme Bocage, o putanheiro
Passou a vida folgada e milagrosa
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro


Em 2022 a editora BoiTempo publicou uma antologia do poeta intitulada Da Erótica. A organização da obra é do crítico literário e estudioso dos textos de Marx, José Paulo Neto.
Mas voltemos aos nossos compatriotas, que usam a putaria para se expressar. O campo é minado, mas não tem como reconhecer a graça originária fixada em letras de forma nos folhetos de cordel. Mestre Azulão, ora veja, paraibano um dos criadores da Feira de São Cristóvão, RJ, escreveu e publicou O Poder que a Bunda tem. Engraçadíssimo.
O pernambucano José Francisco Borges, o J. Borges, é cordelista e xilogravador dos mais conhecidos e premiados no Brasil e mundo afora. É dele a bela xilo A Chegada da Prostituta no Céu e o cordel A Filosofia do Peido, cuja primeira estrofe é essa:

Vários poetas escreveram
O valor que o peido tem
Eu achei muito engraçado
O peido é feito um trem
Tanto apita como ronca
Na hora que o peido vem…