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quinta-feira, 30 de junho de 2022
HÁ 20 ANOS O BRASIL GANHAVA O PENTA
quarta-feira, 29 de junho de 2022
SÃO PEDRO ENCERRA SÃO JOÃO
Em 1956, Inezita Barroso tinha 5 anos de carreira em disco. Suas duas primeiras gravações, pelo extinto selo Sinter, foram feitas em 1951. Títulos: Curupira e Funeral D'um Rei Nagô. Dois anos depois, gravou seu primeiro grande sucesso: Ronda, de Paulo Vanzolini.
No começo do ano de 1956, Inezita se achava em curta temporada musical no Rio de Janeiro.
A edição de 26 de maio de 1956 da revista Radiolândia trazia uma reportagem em página dupla com a cantora vestida de caipira de festa junina (acima). Nessa reportagem é exaltada o talento da artista paulistana.
O repertório de Inezita é extenso. Todas as músicas que gravou eram de autores de diversas partes do país.
Certa vez perguntei a Inezita se ela nunca se aventurara a compor, além de cantar. Ela riu e disse que fez uma ou duas besteiras. Entre estas besteiras Noites de Junho, em parceria com o seu amigo pianista Túllio Tavares. Até uma cópia da letra ela me deu (ao lado). E perguntei mais: por que nunca gravara essa música. De novo ela riu. O tempo passou, e para minha surpresa, Inezita findou por gravar Noites de Junho. Foi o que me disse. Acho que no último ou penúltimo disco dela. Não lembro bem.
Bom, o ciclo junino termina hoje 29.
O dia é de São Pedro e também de São Paulo.
A existência da marcha junina, musicalmente falando, tem a ver com o baiano Assis Valente e o pernambucano Luiz Gonzaga.
É difícil achar um cantor brasileiro que não tenha no seu repertório uma música junina.
Há clássicos no repertório junino como Jackson do Pandeiro e tantos e tantos.
E a sanfona, hein?
A sanfona é um instrumento musical surgido na China, antes de Cristo.
A história da sanfona é incrível.
Foram os europeus que deram forma à sanfona como tal a conhecemos hoje. E rapidamente ela firmou-se no Brasil. São muitos os grandes sanfoneiros a partir de Giuseppe Rielli.
Gilberto Gil começou a carreira tocando sanfona, como João Donato e Jorge Mello.
Jorge Mello, piauiense, começou a tocar sanfona ali pelos 10 anos de idade (ao lado direito). Depois abandonou o instrumento e seguiu vida à fora tocando violão. É um dos nossos grandes compositores.
Luiz Gonzaga, o rei do baião, deixou alguns clássicos enriquecendo o cancioneiro junino. Ouça:
terça-feira, 28 de junho de 2022
ARTISTAS CANTAM NA DESPEDIDA DE LUNA
Jarbas Mariz e Roberto Luna |
Raimundo José e Célia e Celma, com Roberto Luna |
Simples e verdadeiro.
segunda-feira, 27 de junho de 2022
QUE NEM CANTOR DE TANGO...
domingo, 26 de junho de 2022
ADEUS, ROBERTO LUNA!
o cantor paraibano de Serraria, Roberto Luna.
Roberto Luna era o nome artístico de Valdemar Farias."Luna já havia tomado 3 doses da vacina contra o novo Coronavírus. Perdeu 16 kgs, 10 de massa muscular. Ficou muito debilitado e praticamente cego", contou o amigo Raimundo José que mora no mesmo prédio onde morava Luna.
Habitante da Capital paulista desde o começo dos anos 1950, Roberto primeiramente trocou a Paraíba pelo Rio de Janeiro. E começou como ator, fazendo um monte de coisas.
Gravou o primeiro disco em 1952.
Eu o o chamava de Voz de Pluma ou o Rei do Bolero. Ele achava graça.
Falávamos muito, ora por telefone ou pessoalmente. Veio muitas vezes a minha casa.
Numa dessas vindas, talvez a última, disse-me ter tido a alegria de encontrar cá em casa o artista Téo Azevedo e seus amigos José de Arimathéia, Ibys Maceioh, Carlos Sílvio, Tone Agreste e Rômulo Nóbrega (foto acima).
No dia 7 de abril de 2019, o radialista Carlos Sílvio levou Luna para uma entrevista no programa Paiaiá na Conectados. Nessa entrevista Luna fala da alegria de ter ajudado a divulgar a música popular brasileira. Mas hoje, segundo ele, os tempos são outros. Sílvio aproveitou, no programa, para ressaltar a voz do artista.
A voz de Roberto Luna era abaritonada, como a voz de Luiz Gonzaga. No programa Paiaiá na Conectados, Luna revela fatos pouco conhecidos da sua carreira. Falou da amizade que nutria por Nélson Gonçalves, Tim Maia, etc.
Confira, na íntegra, a entrevista com Carlos Sílvio: Paiaiá na Conectados com Roberto Luna
Roberto Luna morreu ao lado de sua mulher, Magali. "Ela cochilava e quando despertou, Luna havia partido", conta Raimundo José.
Raimundo José e Roberto Luna eram amigos desde os fins de 1950.
No começo da noite de 22 de março de 2019 Roberto Luna estava na minha casa e aproveitamos para trocar um dedo de prosa. Foi tudo de improviso e fantástico! Confira:
JORGE MELLO COMEMORA 50 ANOS DE GRAVAÇÃO (2, FINAL)
Assis, com discos de Jorge Mello |
Depois do primeiro compacto, com a sua voz, Jorge Mello entrou em estúdio para gravar o primeiro LP da carreira, Besta Fera. Esse LP teve boa repercussão, merecendo do então crítico J.R. Tinhorão (1928-2021) rasgados elogios, publicados na edição de 2 de dezembro de 1976, no Jornal do Brasil. Um trecho:
Menos comercial que Alceu Valença, não tão preocupado em alcançar uma forma erudita quanto ao Quinteto Violado, o piauiense de Piripiri, Jorge Mello, acaba de lançar em seu LP “Jorge Mello… Sou do Tempo do Baião que a Besta Fera não Comeu” (Crazy, CGE-121.018) uma das mais interessantes propostas de aproveitamento de sons nordestinos ao nível de uma cultura urbana interessada numa saída para a música popular brasileira mais sofisticada.
Tal como o pernambucano Marcus Vinicius, Jorge Mello demonstra em suas experiências musicais um seguro conhecimento teórico e uma preocupação muito grande na pesquisa de fórmulas próprias, como ele mesmo afirma, ao escrever referindo-se a seu trabalho: “Usando os valores populares, as formas poéticas do cordel e da cantoria, os modos e a instrumentação nordestina, não é um trabalho folclórico. É uma recriação da informação espontânea do povo. Minha música retrata um Nordeste mágico, trágico, rico, rústico e místico, e revela toda a informação moura/ibérica que está presente na nossa cultura, no fano e nos melismas do canto do aboio, por exemplo”.
De fato, passando da palavra aos exemplos concretos, Jorge Mello fecha o Lado A de seu disco com uma pequena peça em que pela primeira vez, a técnica do canto em aboio é usada em termo de música urbana com uma inteligência, um talento e uma propriedade que chegam a surpreender…
José Ramos Tinhorão publicou crítica elogiosa a Jorge Mello |
Jorge Mello é cordelista, repentista, romancista e advogado especializado em Direitos Autorais.
Até aqui, Jorge teve os seguintes parceiros: Belchior, Vicente Barreto, Evaldo Gouveia, Cesar do Acordeon, Reginaldo Rossi, Graco, Clôdo Ferreira, Tom Zé, Carlos Pitta, Jairo Mozart, Gereba, Capenga, Pekin, Lumumba, Paulo Soledade, Yeda Estergilda, Ricardo Bezerra, Emanuel Carvalho, Nando Correia, Malcom Roberts e os poetas clássicos, pós morte, Olavo Bilac (1865-1918) e Mário de Andrade (1893-1945).
A sua discografia é a seguinte:
1977 - JORGE MELLO, INTEGRAL (LP, WEA)
1977 - MARINHEIRO e SASSARUÊ (Compacto simples, WEA)
1979 - CORAÇÃO ROCHEDO (LP, Continental)
1980 - NASCENDO DE NOVO e É DIA, É NOITE A MINHA COR (Compacto Simples, Continental)
1981 - CONSTELAÇÕES e CORAÇÃO ROCHEDO (Compacto Simples, Continental)
1981 - DENGO DENGUE (LP, Continental)
1981 - DENGO DENGUE e Rosto Marcado interpretado por Gerson Conrad (Compacto Simples)
1984 - NA ASA DO AVIÃO e DESAFIO VARIG/CRUZEIRO (Compacto Simples, Terramarear)
1985 - NA ASA DO AVIÃO e FERROADA (Compacto Simples, Paraíso/Odeon)
1986 - UM TROVADOR ELETRÔNICO (LP, Paraíso/Continental)
1990 - UM TROVADOR ELETRÔNICO - Vol. 2 (LP, J.M.T.)
1997 - MAIS QUE DE REPENTE (CD, Brasidisc)
1999 - RIMA (CD, J. M. T. /Camerati)
2001 - CLARAMENTE (CD, CPC/UMES/ELDORADO)
2015 - CLARAMENTE, relançamento com capa nova (CD, JMT).
sábado, 25 de junho de 2022
JORGE MELLO COMEMORA 50 ANOS DE GRAVAÇÃO (1)
Assis Angelo e Jorge Mello, em 2013 |
“Todo ano era aquela maravilha, ensaio da quadrilha, ao som das mais lindas músicas para se dançar. E eu dançava todas. Fui vários de seus personagens: o noivo, o prefeito, o padre e tantos outros. E o resultado disso na minha obra como compositor e cantor é visível. Escrevi grandes canções como Que de Quadrilha (WEA, 1977) e muitas outras, que foram gravadas por intérpretes clássicos na área, como Zé Calixto, Robertinho do Acordeon e Anastácia. Sou muito feliz por guardar essas boas memórias”.
Jorge não tinha nem dez anos de idade quando o pai o “escalou” pra tocar sanfona à frente da bodega que tinha. A ideia era chamar a atenção dos fregueses e futuros fregueses. Deu certo.
Acima: Sônia Regina foi a primeira cantora a gravar Jorge Mello |
Em 1968, Jorge Mello tinha 20 anos de idade e aos 22 teve gravada as duas primeiras músicas da sua longa carreira. Títulos: Garoto Lindo e Loucura de Você.
“Essas duas primeiras músicas que fiz foram gravadas pela cantora Sônia Regina”, informa num fio de saudade.
Além de compositor Jorge se firmaria no mercado musical como cantor, instrumentista e produtor. Um dos belos discos que produziu foi o LP Glória Rios, de 1981 (Continental).
Neste ano de 2022 Jorge tem muito o que comemorar, inclusive o fato de ter gravado sua voz pela primeira vez num disco. Foi em 1972. Título: Felicidade Geral.
“É uma grande alegria poder comemorar esse fato. É um Compacto Duplo (ao lado), contendo as canções: 1ª) FELICIDADE GERAL, que me deu o prêmio de melhor intérprete e Comunicação no 5º FESTIVAL UNIVERSITÁRIO da TV TUPY de 1972. Me apresentei no Festival e em muitos eventos e shows, com a Banda O GRÃO, grupo que depois foi trabalhar com o Tim Maia e que uns 6 anos depois foi rebatizada pelo Tim, como VITÓRIA RÉGIA. 2ª) VERA LÚCIDA. 3ª) SE FOR PRECISO VOCÊ CHORA, que fiz com Antonio José Brandão. Essa foi a primeira obra de Brandão gravada. E 4ª) GALOPE À BEIRA MAR. Esse disco teve arranjos meus e de Laércio Freitas, com acompanhamento da Banda O GRÃO”, conta Jorge.
sexta-feira, 24 de junho de 2022
JOGANDO CONVERSA FORA
PARA LEMBRAR
quinta-feira, 23 de junho de 2022
ADEUS PAULO DINIZ!
Paulo Diniz e Jarbas Mariz, em 1982 |
quarta-feira, 22 de junho de 2022
FOME NO BRASIL. ATÉ QUANDO?
Repórter da Globo faz entrevistada chorar e também se emociona.
— Metrópoles (@Metropoles) June 21, 2022
Dona Janete desabafou sobre a fome ao ser abordada pela jornalista Lívia Torres durante o telejornal local RJ1.
Leia: https://t.co/JulKVLLxPP pic.twitter.com/NyXbiMsEjr
CORRUPÇÃO
terça-feira, 21 de junho de 2022
ENFIM, UM CANDIDATO CONTRA O SISTEMA
Se continuar falando no ritmo em que falou hoje à CBN Ciro, certamente, vai tirar muitos pontos ora favoráveis a Lula. Pode ter racha. E pode também, quem sabe, levá-lo a cadeira de Presidente. E pelo andar da carruagem, Lula e Bolsonaro não participarão de debates de rádio e TV e aí será para Ciro uma festa. Aguardemos os próximos capítulos.
domingo, 19 de junho de 2022
VIVA CHICO!
O mundo tá cheio de Chico
É Chico que vai e Chico que vem
Todo mundo quer ser Chico
Você quer ser Chico também?
Todo Chico é Francisco
Todo Francisco é Chico
Neste mundo de mentiras
E de muito fuxico
Mas é muito bom ser Chico
Tem Chico papa, Chico santo
Tem Chico aqui e acolá
Tem Chico em todo canto
Tem Chico no Pará, Piauí
Em Nova York e Belém
E até na Conchinchina
Se brincar tem Chico também
Ah!, toda mulher quer um Chico
Pra fazer judiação
Um Chico logo disse: Eu, hein? Mulher com Chico não.
sábado, 18 de junho de 2022
A MELHOR FESTA DE SÃO JOÃO É AINDA NO BRASIL
Meu amigo, minha amiga: você sabe quais são as origens da fogueira e da consequente festa de São João?
Isabel era prima de Maria.
Isabel e Maria nasceram nas bandas de Israel, Jerusalém e tal.
Isabel tinha uns 60 anos ou mais. Era estéril.
Maria foi a escolhida para ser a mãe do filho de Deus, Jesus. Era casada e já tinha filhos, mas um belo dia, o anjo Gabriel bateu a sua porta dizendo que por obra e graça do Espírito Santo ela seria a mãe daquele que morreria crucificado por nós.
Isabel era prima de Maria, que foi a mãe de Jesus.
Antes de ser mãe de Jesus, Maria recebeu de Isabel a dica de que ao nascer o filho João Batista ascenderia uma fogueira para avisá-la do sucedido. E assim foi feito. De um dia para o outro, João nasceu e com ele, por obra da mãe Isabel, a fogueira.
João era filho de Isabel e Zacarias, um sacerdote.
O tempo passou e a fogueira virou símbolo dos festejos joaninos, de João. Ou juninos, de junho.
E são três os santos que ornam a festa junina: Antônio, João e Pedro. Esquecido, há São Paulo. Pouca gente sabe, mas o dia de São Pedro é também o dia de São Paulo, 29 de junho.
Antônio nasceu em Lisboa, mas é conhecido como Santo Antônio de Pádua.
João nasceu ali pela terra prometida. Morreu decapitado, para satisfazer o desejo de Salomé. Quer dizer, perdeu a cabeça à toa.
Pedro foi o primeiro Papa da Igreja e tal. Antes, negou conhecer Jesus. Arrependeu-se. Preso pela soldadesca romana, pediu para ser crucificado de cabeça pra baixo.
Pois é, e Paulo?
Paulo foi um famoso perseguidor de judeus. Era militar. Um dia, a caminho de Damasco, ficou cego. Um clarão fortíssimo o cegou. Desde então, converteu-se ao Cristianismo. Morreu decapitado.
A tradição junina tem origens pagãs e chegou ao Brasil no século 19, por iniciativa dos colonizadores portugueses. Mas era sem graça.
A festa junina ganhou forma, mesmo, com a introdução da quadrilha.
A quadrilha tem origens da França, de Bonaparte.
Dizem que Bonaparte não gostava da dança da quadrilha.
Em lugar nenhum do mundo a festa junina ganhou tanto brilho e beleza como no Brasil. A ver com Assis Valente, Luiz Gonzaga e tantos e tantos mais: Bidu Saião, Chico Alves, Pedro Raymundo, Jackson do Pandeiro, Manezinho Araújo… Mas agora estão acabando com essa bela festa. E por não ter o que fazer, por não ter muito o que fazer, escrevi essa coisinha:
O céu fica enfeitado
Nas noites de São João
E alegre o povo dança
Nos forrós lá do Sertão
Embalado pelo som
De Luiz, rei do Baião
É uma festa bonita
A festa de São João
Tem pipoca e pau de sebo
Arrasta-pé e rojão
E a dança da quadrilha
No terreiro ou no salão
Tem de tudo nessa festa
Tem fogueira e tem quentão
Tem comadre e tem compadre
Arrastando os pés no chão
E todo mundo gritando:
Viva o Senhor São João!
É isso. Clique:
LEIA MAIS: O FIM DAS TRADIÇÕES JUNINAS • ESTÃO ACABANDO COM SÃO JOÃO
Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora
sexta-feira, 17 de junho de 2022
É BOM ABRIR A PORTA PARA AMIGOS
quarta-feira, 15 de junho de 2022
SEMPRE É TEMPO DE LEMBRAR TAIGUARA
terça-feira, 14 de junho de 2022
HÁ 14 ANOS MORRIA JAMELÃO
segunda-feira, 13 de junho de 2022
VIVA A LÍNGUA PORTUGUESA! (4, FINAL)
Em 1953, o compositor pernambucano Rosil Cavalcanti compôs o coco Sebastiana, gravado por Jackson do Pandeiro. Essa obra, o autor cita o nosso abecedário, incluindo a letra Y, que chama “ipsilone”. Assim:
Convidei a comadre sebastiana
Pra cantar e xaxar na paraíba
Ela veio com uma dança diferente
E pulava que só uma guariba
E gritava a, e, I, o, u, ipslone
Atualmente o português é formado por cerca de 600 mil palavras ou expressões, das quais 150 mil são identificadas como técnicas.
Mais de 260 milhões de pessoas falam a língua que fez de Camões o poeta mais famoso de Portugal.
Por cá, nossa terra, grandes poetas burilaram e continuam burilando o belo idioma. Um desses foi Olavo Bilac. É dele o poema A Última Flor do Lácio.
Mais recentemente, o jornalista e poeta paraibano José Nêumanne gerou o belíssimo poema A Seara de Saramago. Confira:
José Saramago foi um grande escritor português, cujo centenário de nascimento deverá ser amplamente comemorado ainda este ano de 2022.
No dia 10 de junho comemora-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
A 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que deverá se realizar entre os dias 2 e 10 de julho no Expo Center Norte, será dedicada a Portugal.
domingo, 12 de junho de 2022
VIVA A LÍNGUA PORTUGUESA! (3)
A gramática do padre Fernão de Oliveira |
O português ganhou forma clara e bela com a publicação de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. Essa obra foi pela primeira vez publicada em março de 1572.
Os Lusíadas, no Brasil, chegou a ser objeto de estudo na rede escolar.
Não dá, porém, para ignorar outras obras igualmente representativas da língua como o Diccionario dos Synonymos Poetico e de Epithetos da Lingua Portugueza, de J.I. Roquete e José da Fonseca, lançado em Lisboa na dobradura de tempos distantes.
Num dos primeiros verbetes desse dicionário lê-se o quão difícil era ainda mais a nossa língua:
Abstracto, abstruso.
Uma coisa abstracta é difícil de entender, porque dista muito das ideias sensíveis e comuns. Uma coisa abstrusa é difícil de compreender, porque depende de um encadeamento de raciocínios…
O mais famoso dicionário da língua portuguesa até hoje citado nos compêndios afora, lançado no século 19, foi o do lisboeta Francisco Caldas Aulete (1826-1878).
Muitos brasileiros continuam atentos à evolução da língua portuguesa.
Até hoje o português por cinco reformas em Portugal. A primeira em 1911, quando Portugal virou
No Brasil, o português passou por duas reformas: em 1943 e 1971.
Em 1948, a Academia Brasileira de Letras, ABL, levou a público o resultado da reforma de 1943. Título: Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Em 1997 o poeta, romancista, tradutor e jornalista cearense Gerardo Mello Mourão publicou a obra prima Invenção do Mar. Na forma, seguiu os caminhos trilhados por Camões.
Invenção do Mar foi dedicado ao artista popular pernambucano Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Pra Mourão, o primeiro escritor brasileiro indicado ao prêmio nobel de literatura, Gonzaga representou com fidelidade o povo brasileiro, notadamente o nordestino.
Gerardo Mello Mourão dizia que Luiz Gonzaga fora uma espécie de Homero.
É fantástica a obra de Mourão.
É de Luiz Gonzaga (e Zé Dantas) a beleza musical intitulado ABC do Sertão:
Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender um outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, i o ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto ê
A, bê, cê, dê
Fê, guê, lê, mê
Nê, pê, quê, rê
Tê, vê e zê
Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, i o ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto ê
A, bê, cê, dê
Fê, guê, lê, mê
Nê, pê, quê, rê
Tê, vê e zê
Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, i o ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto ê
A, bê, cê, dê
Fê, guê, lê, mê
Nê, pê, quê, rê
Tê, vê e zê
sábado, 11 de junho de 2022
VIVA A LÍNGUA PORTUGUESA! (2)
No passado, fomos invadidos pela Espanha, Inglaterra e Holanda, depois de Portugal. O chafurdo foi grande. Em tempos mais recentes, especialmente depois da Primeira Guerra, os norte-americanos passaram a nos mandar bobagens e bobagens, que fomos ora deglutindo, ora armazenando para um possível aproveitamento.
Por acolher muito bem os visitantes de todos os recantos, o Brasil passou a assimilar comportamentos e expressões bastante interessantes. De Portugal herdamos a língua e boa parte da cultura, como a cantoria e o cordel. Da França, Itália, Alemanha, Inglaterra e Japão temos assimilado costumes e hábitos alimentares. Entre outras coisas, a África, por exemplo, nos deu a receita da feijoada. Hoje, até as cozinhas árabes e chinesas já nos são familiares. Isso nos levou a formar uma identidade sem similar, embora ainda sejamos uma nação relativamente nova.
Bom, o português que hoje falamos é completamente diferente do português falado em Portugal. Inclusive o sotaque. Por isso, acho que já é hora de se discutir com seriedade o fala do nosso povo, o nosso falar, como fez João Ribeiro em 1933, ao lançar o livro A Língua Nacional. Treze anos antes, Amadeu Amaral entrara no assunto ao publicar O Dialeto Caipira, rico e interessantíssimo estudo feito à luz da ciência, que em edição posterior ganharia maior brilho com notas assinadas por Paulo Duarte (em 1944, um dos livros de Duarte, Língua Brasileira, editado em Lisboa, foi proibido em todo o território português, por obra e mando do Estado Novo de lá).
O tema é tão estimulante que já em 1853 surgia, em Portugal, o primeiro Dicionário Brasileiro, de Braz da Costa Rubim, com o propósito de ensinar (ou esclarecer) aos portugueses o português então falado no Brasil. Trinta anos depois, o filósofo Leite de Vasconcelos também publicava uma obra abordando o mesmo assunto, intitulada Dialeto Brasileiro, em que reconhecia as rápidas transformações por que passava a língua portuguesa no Brasil. Em 1940, foi a vez de o estudioso Edgard Sanches tentar provar com a+b a existência de uma língua genuinamente brasileira, num livro que deu o título de A Língua Brasileira.
Está na hora, pois, de retomar o debate. Enfim, o brasileiro fala brasileiro ou português?
Antes, muito antes do Descobrimento, a língua que se falava por aqui era a língua geral, isto é, o guarani, mas em 1727 Portugal decidiu proibir o uso dessa língua, por entender que o português estava se descaracterizando, donde conclui-se que os absurdos não tem idade nem época para se concretizarem.
Curiosidade: até o século XVIII, falava-se no Brasil duas vezes mais o guarani que o português. Isso é história, está nos compêndios.
Antes de Portugal virar o país que é, não havia a língua portuguesa. A propósito Portugal era apenas um condado fincado na Península Ibérica. Estava ali pertinho da Espanha.
À época, e estamos falando do tempo antigo, os romanos imperavam na região.O Império Romano dominou a região onde se acha hoje Portugal durante séculos.
Houve muita briga lá na Península.
Como os romanos, os árabes também botaram pra quebrar.
O idioma falado pelos romanos era o Latim.
Havia o latim culto e o latim inculto, o popular, o vulgar.
Foi do latim vulgar que o idioma português surgiu.
Na verdade, outras línguas e dialetos também tiveram influência na formação da dessa língua. A principal influência, diga-se de passagem, foi o galego-português.
Àquela altura Portugal já tinha vida própria.
Importante lembrar que um dos reis que mais força deram à língua portuguesa foi Dom Dinis I, o sexto rei de Portugal, que viveu entre 1261 e 1325.
Dom Dinis, que reinou entre 1279 e 1325, era chegado às artes populares. Dizem que tocava até viola ou coisa parecida. Seus súditos o chamavam de Rei Trovador.
Um dia Dom Dinis se achava no porto observando a movimentação de embarcações. Estranhou ao não identificar nenhuma embarcação com a chancela ou bandeira do seu país. Quis saber a razão, perguntando a um de seus conselheiros. A resposta foi mais ou menos esta: “Não temos madeira especial para construir embarcações”.
Ao deixar o porto, dom Dinis já tomara a decisão de iniciar a plantação de árvores apropriadas para construir navios e tal. Dez anos passados, Portugal já tinha o mar e rios cheios de embarcações.
Outra de dom Dinis: insatisfeito por ouvir seu povo falar em latim enviesado, decidiu oficializar o português corrente.
Tempos depois, mais precisamente em 1536, surgia a primeira gramática ensinando como falar a língua adotada por dom Dinis. O autor dessa façanha foi o padre Fernão de Oliveira (1507-1581).
sexta-feira, 10 de junho de 2022
VIVA A LÍNGUA PORTUGUESA! (1)
O mar inventou o Brasil
E os portugueses, o mar
Tal façanha só foi feita
Pra que se pudesse contar
Que o poeta rei Dinis
Chegou longe sem nadar
Nadar mesmo não sabia
Mas sabia inventar
Foi ele quem inventou
De por seu povo no mar
Balançando sobre as ondas
Foi o mundo conquistar
Tinha já uns trinta anos
Era bom e coisa e tal
Não gostava do latim
Tão falado em Portugal
Depressa ele pensou
Numa língua mais legal
Essa "língua mais legal"
Era a língua portuguesa
Cultivada com esmero
Como flor da realeza
Portugal lhe deu a forma
O tom, graça e beleza
No mundo há muita gente
Falando em japonês
Falando grego e russo
Alemão, turco e chinês
Mas na vida coisa boa
E falar em português
O Brasil é formado por um enorme agrupamento de outros Brasis: 26 Estados e 1 Distrito Federal. O resultado disso é um país absurdamente fantástico, de dimensões continentais, com 8.622.996 quilômetros quadrados, área equivalente a pelo menos 17 Espanhas, 28 Itálias, 206 Suíças, 251 Holandas, 279 Bélgicas e 797 Cubas, ou algo — ainda territorialmente falando — como quase uma China ou Estados Unidos da América, ou duas Índias Inteiras.
Diante disso, um desavisado qualquer pode, ou poderia, concluir que o nosso Patropi é uma espécie de torre de Babel. Mas não é. Aqui todos se entendem, pelo menos linguisticamente. A língua é uma só: o português, embora à essa altura — quatrocentos e tantos anos depois da descoberta — eu ache que melhor seria, sem xenofobia, se pudéssemos chamá-la de brasileira, de língua brasileira.
Mesmo sem outras línguas (ou dialetos), o Brasil carrega no bojo uma peculiaridade especialíssima: o sotaque.
O sotaque da língua de um povo não substitui um dialeto, é claro, pois a língua é a fala de um povo, de uma nação, O sotaque é o canto de uma língua.
Em cada canto ou região do Brasil podem se fazer descobertas verdadeiramente incríveis: para tanto, basta um pouco mais de atenção.
Na Paraíba ou em Pernambuco as palavras têm um sentido bastante diferente do sentido a elas dado no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Nesses lugares, as palavras são carregadas de um quê que não existe em regiões como o Rio Grande do Sul ou Brasília, por exemplo. No Rio, jerimum é abóbora e aipim é macaxeira, pode?
Na Bahia, mais precisamente na capital Salvador, as palavras parecem nascer das ondas do mar, do sol posto num fim de tarde, dos balouçantes coqueirais, do sorriso e do requebro dos quadris das rainhas negras encontradas em cada praça ou esquina; da música, do trinar dos passarinhos, dos tocadores de berimbaus, das danças, dos terreiros de umbanda, das pretas baianas vendedoras de acarajés vindas de mãe África transbordantemente carregadas de carinho, graça e sensualismo.
O falar dos nortistas é um, o dos nordestinos é outro, o dos sulistas etc. Em cada região do Brasil há uma linguagem própria, popularíssima. Sem contar o uso da gíria, que se renova no dia a dia das grandes cidades…
No Nordeste, a tônica forte é a vogal, com o som escandalosamente aberto. Pronuncia-se: p(óóó)rta, p(óóó)rteira, ab(ééé)rtura etc. etc. Nessa região, formada por nove Estados — incluindo o Maranhão, terra dos Ribamares —, há muitas outras peculiaridades no linguajar. A consoante v, por exemplo, lá é quase sempre trocada e pronunciada com o r dobrado: cerreja (cerveja), carralo (cavalo), raquinha (vaquinha) etc. E em alguns casos, as palavras chegam a ser totalmente descaracterizadas, como velho, pronunciada como réi. Noutros, o r simplesmente desaparece, como, aliás, o m. Ex.: cab(r)a, viage (viagem), marge (margem), virge (virgem).
Os verbos, nalguns tempos, como no gerúndio, também apresentam mudanças. Ex.: ino (indo), andano (andando),fugino (fugindo). Quer dizer, nesses casos, o d vai para a cucuia, como para a cucuia também vai o tratamento você, humilhantemente reduzido para a forma cê ou ocê, assim pronunciado em quase todo o território nacional.O nordestino fala apressadamente, Por isso, talvez, muitas letras abandonem as palavras, como nos exemplos citados. Curiosidade: quando isoladamente, o e costuma ganhar o som de i (em São Paulo, ê). Pode? Pode, pois este é o Brasil-brasileiro cantado em prosa e verso numa só língua, mas com sotaques diversos nos seus 26 Estados.