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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

CARNAVAL SEM POVO

História é história.
A história não morre, pelo contrário. A história reflete o passado e para nos guiarmos no presente é preciso história. Por isso, viva.
A história não se modifica, a história é um recipiente no qual guardam-se todos os acontecimentos de uma pessoa, de uma coisa, de uma cidade, de um estado, de um país...
Como convidado participei, como entrevistador, de várias edições do programa Roda Viva (TV Cultura, canal 2).
Em fevereiro de 1994 eu e Zuza Homem de Mello (1933-2020) e outros colegas jornalistas, navegantes da história, entrevistamos dona Zica (1913-2003), a última companheira de um dos mais importantes compositores do Brasil, Cartola (Angenor de Oliveira, 1908-1980).
Sob a batuta do querido Jorge Escosteguy (1946-1996), dona Zica falou e falou e falou tantas coisas interessantes sobre ontem e sobre hoje. Falou, por exemplo, sobre o Carnaval sem povo.
Dona Zica também falou dos velhos Carnavais, dos bicheiros, das escolas virando empresas e tal e tal e tal. Revelou-se até uma grande saudosista.
Meu amigo, minha amiga, você quer ouvir uma coisa bonita?
Clique:


CARNAVAL DA PANDEMIA

Este é o 2º ano seguido sem Carnaval oficial no Brasil. Isso porém não quer dizer que em 2021 e, agora em 2022, não tenha havido Carnaval. O Carnaval da Elite é o Carnaval da avenida, dos salões, de portas fechadas, com as orgias dionisíacas. Pois é, enquanto isso o povo fica em casa sem direito sequer a pular num bloco.

Amanhã falarei de blocos.

EU E MEUS BOTÕES (14)

Boa tarde pessoal!, fui chegando e assim dizendo aos meus botões que pareciam muito quietos em suas casas. Casas vizinhas, tipo parede e meia. Mané foi o primeiro a dizer "boa tarde".
Mané parece ser, sabe, o tipo quieto que não desperta a atenção de ninguém. Mas é dos bons.
Jão e Zé perguntaram, quase em uníssono: "Tudo bem com o sinhô?".
Claro que nada está nem comigo nem com o mundo que pensa, pois o mundo que pensa anda preocupadíssimo com a irracionalidade explicitada pelo presidente russo. O mundo corre perigo.
Ouvi no rádio agora pouco, começou Zilidoro, "que a Ucrânia acaba de assinar oficialmente um documento no qual expõe, ardentemente, o desejo de integrar-se à OTAN".
"Eu sabia! Eu sabia!", exultou Mané lembrando a sua rápida intervenção sobre a OTAN, no nosso último encontro.
A coisa tá feia, eu disse a todos.
A ouvir o que eu disse, Lampa olhou-me com aquele olhar enigmático. Disse: "Eu vou juntar meu pessoal lá de Pernambuco e, juntos, vamo dar uma liçãozinha chamado Pute, Pótin, Puntin... sei lá, mas do meu punházin, ele não escapa".
Barrixa e Zoião acharam graça na fala manhosa e perigosa de Lampa.
Quieto como estava, quietinho Biu falou: "Né nada não, mas eu gostaria de saber é como anda o Carnaval. O sinhô gosta de Carnaval?".
Eu disse que gosto do Carnaval, que gosto do que é bom brincar.
"E por que o sinhô não fala de Carnaval pra gente, agora?".
E aí, claro, eu tive que dizer alguma coisa. E disse, perguntando: Vocês querem, mesmo, que eu fale de Carnaval? 
Como se tivessem combinado, falaram ao mesmo tempo: "SIIIIIIIMMMMM!!!".
Então tá, minha gente. Leiam, daqui a pouco o Blog do Assis Angelo.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

NA ONDA DO PODCAST

Estamos na 2ª década do 3º milênio, um pouquinho mais. Muita coisa, para o bem ou para o mal, tem acontecido até aqui. A derrubada do Trade Center por terroristas, marcou o mundo. E guerras, muitas guerras, têm atormentado povos em todas as línguas.
De fato, muita coisa mudou.
São muitas as novidades chegadas nestes tempos de tragédias e truculências de ditadores espalhados por aí afora. De esquerda e de direita.
Radicalismo é uma merda.
A China, com seus mais de 4 mil anos de história, tem assustado o planeta. Claro, nesse meio tempo, a China também apresentou ao mundo grandes descobertas como a bússola, o sismógrafo, o papel, os fogos de artifício e o macarrão. Vejam só, o macarrão!
A China não é besta. Com sua bússola, vai-se guiando no propósito de dominar este nosso planetinha de berda. Pois, pois.
O papiro, tudo indica, nasceu em terras egípcias e teve durante muito tempo a sua utilidade. A ver com a biblioteca de Alexandria. A ver também com a biblioteca de Pérgamo, na Grécia.
 O papiro e o pergaminho eram uma espécie de suporte à escrita, à comunicação.
No final do século 15, o alemão Gutenberg inventou a prensa. E aí tudo mudou mais fácil e rapidamente. 
Foi ele, Gutenberg, o primeiro impressor da Bíblia.
Muita água depois passada pela ponte, surgiram o rádio e a TV. E depois outros meios de comunicação, como a Internet.
A Internet mudou tudo, em termos de comunicação.
Emissoras de rádio e TV se acham na Internet, com programação ao vivo.
Ali pelo ano 2000, inventaram um tal de Podcast.
O Podcast chegou ao Brasil em 2004. Interessantíssimo. Tenho dado muitas entrevistas por esse meio. A primeira delas, em 2007. Confira: PODCASTING BRASIL - Com Assis Angelo

sábado, 26 de fevereiro de 2022

ANITA MALFATTI EM QUADRINHOS

O narrador dessa história, A Outra Anita, não é homem nem mulher, é um gato. Um gato preto sem nome, mas muito simpático. Está em todas as páginas ou em quase todas as páginas da biografia em quadrinhos da pintora Anita Malfatti (1889-1964), que a Faria e Silva acaba de editar.
O gato em questão, ao assumir a persona de narrador, começa logo dizendo: “Inquieta. Foi o que me atraiu nela. Inquieta de corpo e alma”.
Anita Catarina Malfatti nasceu na capital paulista. Com problema na mão direita, aprendeu a pintar com a mão esquerda. Estudou na Alemanha e nos Estados Unidos. Tinha 25 anos quando exibiu em público seus primeiros quadros. Sem repercussão nenhuma. Três anos depois, em 1917, realizou pra valer a sua primeira exposição individual. Essa exposição recebeu o olhar atento e severo do paulista de Taubaté Monteiro Lobato (1882-1948).
Sem papas na língua e com muito desembaraço na caneta, Lobato publicou um contundente artigo no jornal O Estado de S.Paulo, edição de 20 de dezembro daquele mesmo ano. Após ampla justificativa para o que dizia, ou para o que ia dizer, começou:

Páginas 60 e 61 da HQ A Outra Anita
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Rembrandt na Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno daqueles sóis imorredouros. A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento. Embora eles se dêem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação…

O Gato e o Violino,
por Anita Malfatti

A expressão “aqueles que vêem anormalmente a natureza” era uma referência à jovem que inaugurava a sua primeira exposição num espaço da cidade que Mário de Andrade depois chamaria de "Paulicéia Desvairada”.
No jornal, o texto de Lobato recebeu o título A Propósito da Exposição de Malfatti. Esse texto seria em seguida publicado no livro Idéias de Jeca Tatu.
O artigo de Lobato foi de extrema importância para a carreira artística de Anita.
A primeira vontade pessoal de Monteiro Lobato era ser artista plástico. Seus bicos de pena são ótimos. Mas influenciado pelo avô José Francisco Monteiro, um figurão do Império, formou-se na Faculdade de Direito no Largo São Francisco, SP. Herdou uma fazenda e tornou-se o mais importante autor de livros infantis, no Brasil.
Anita era amiga do carioca Di Cavalcanti (1897-1976), que a incentivou a nunca parar de pintar. E foi ele, aliás, quem deu a ideia de se fazer um grande salão de artes em São Paulo, reunindo o que havia de mais significativo até então. Essa ideia resultou na Semana de Arte Moderna.
Se não fosse Di, é provável que não houvesse o que hoje se chama de Semana de 22, que reuniu Menotti Del Picchia, Mário e Oswald de Andrade, Villa-Lobos e pouquíssimas mulheres, entre as quais Anita Malfatti.
O artigo de Lobato sobre
Anita no Estadão
(clique na imagem
para visualizar melhor)

Foi uma Semana sem mulheres, negros e gays. Sem povo. Da elite para a elite.
Essa história, ou parte dessa história, é narrada brilhantemente pelo gato do quadro O Gato e o Violino, que Anita pintou em 1949.
“O projeto nasceu de conversas entre o desenhista Yuri Garfunkel e a mestra em História da Arte Anita Limulja, refletindo sobre os impactos da Semana de Arte Moderna na produção artística nacional. Teo e eu logo fomos incorporados ao processo criativo”, conta Paulo Garfunkel, acrescentando: “Os ecos da Semana de 22 reverberam até hoje nas expressões artísticas brasileiras e Anita Malfatti, ‘a incompreendida’, como seus amigos a chamavam, é o alicerce do movimento”.
Todo desenvolvimento do projeto teve o acompanhamento da família Malfatti e a curadoria da historiadora Mayra Laudanna que organizou o site do IEB, Instituto de Estudos Brasileiros, da USP: VER ANITA
O lançamento físico ocorrerá nos próximos dias, em local ainda não definido. E a versão digital já está disponível gratuitamente na rede: A OUTRA ANITA

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (13)

"O que é OTAN?", perguntou Mané. "Deixa de ser burro Mané, tu não sabe o que é OTAN!?", calma pessoal, calma. Tem muita gente por aí que não sabe o que é OTAN. "Eu mesmo nunca ouvi falar desse negócio de OTAN", diz com franqueza Barrica. "Eu sempre quis saber o que é isso, é de comer?", interferiu Jão. "Eu já ouvi falar desse negócio de OTAN. É coisa de gringo, num é?", foi a vez de entrar na conversa o alagoano Zé.
Enquanto isso, tipo na moita, a tudo observava desconfiado o lambedor de punhal Lampa.
O potiguar Biu, fazendo de conta que não tinha interesse pela coisa, pela conversa, falou quase miando: "Eu, por mim, nim tô nem aí".
Depois de coçar o queixo, meio incomodado, Zoião arriscou: "esse negócio aí tem a ver com guerra, não tem?".
Com ar de sabe-tudo, o poeta filósofo Zilidoro pôs a mão na cumbuca da história: "OTAN é a sigla da Organização do Tratado Atlântico Norte. Essa organização, internacional como se vê, é de extrema importância pra que se mantenha a paz no mundo. Dos 193 países com banca na ONU, 30 deles fazem parte da OTAN".
Era pra que eu tivesse me surpreendido, mas a explicação de Zilidoro foi brilhante. E fui claro, elogiando-o: Parabéns, Zilidoro. 
Eu nem tinha acabado de elogiar Zilidoro e os demais botões se manifestaram em palmas e urras. Logo após, Lampa quis mostrar que também sabia de algo referente à questão posta à mesa. 
Chefe, começou ele, "A OTAN é um negócio que tem a ver com aquela história de um por todos, todos por um. Estou certo? Era assim no cangaço".
Achei graça na fala de Lampa, sujeito de comportamento esquisito e até violento no palavreado. E respondi: Mais ou menos, mais ou menos, Lampa. No cangaço, a coisa não era bem assim. "Era, era!", retrucou  aos brados. Pedi calma e expliquei que o cangaço tinha, digamos, leis próprias. Se algum dos integrantes do bando cometesse um deslize inadequado, era rigorosamente punido. "E não é isso que acontece na OTAN, chefe?".
O discreto Biu decidiu retornar à conversa: "Pelo que sei, um tal de Puto, Putin, Potin. Putinho, Putinha... sei lá! Achou de declarar guerra contra o país lá do Leste europeu. Ucrânia, parece... A coisa por lá tá pegando fogo!", surpreendi-me e confirmei o que Biu dizia.
Zilidoro, atentíssimo, também concordou com o que ouviu do seu colega de casa e emendou: "Se o Putin decidir invadir também alguns países, ou pelo menos um, filiado a OTAN aí sim o pau come e o mundo pode até se acabar, porque a Rússia tem bomba atômica, os EUA tem bomba atômica, a França tem bomba atômica, a Alemanha tem bomba atômica e por aí vai", conclui benzendo-se.
Ao benzer-se, Zilidoro inspirou o cearense Jão a invocar o nome do seu padim pade Cíço, do Juazeiro. E começou, instigando a seus colegas: "Pai nosso que estás no céu, santificado seja Vosso nome...".
Confesso que fiquei tocado com o que vi e ouvi.
Esses botões vão longe.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

A LUTA PELO VOTO FEMININO

Sem mulher, o mundo não existiria.
A população mundial é estimada, pela ONU, em 7,8 bilhões de pessoas. A maioria, mulheres.
O número de mulheres que habitam nosso planetinha de berda é, segundo a ONU, de 5,6 bilhões.
O Brasil está entre os 5 mais populosos países do mundo.
A população brasileira já passa de 214 milhões de pessoas. A maioria, mulheres.
Outubro está chegando e com outubro, as eleições.
Dados do Tribunal  Superior Eleitoral, TSE, apontam que quase 80 milhões de mulheres estão habilitadas a votar. Isso significa algo em torno de 52% dos eleitores. 
A luta das mulheres pelo voto vem desde o século 19.
Em 1910, no Rio de Janeiro, foi fundado o Partido Republicano Feminino. O movimento cresceu, cresceu, e em 1932, as mulheres ganharam sua primeira grande luta: o direito de votar.
Pouco antes, em 1927, uma nordestina de Mossoró, RN, aproveitou uma brecha na Lei e foi às urnas votar. Seu nome: Celina Guimarães Viana.
Em 1928, ainda no Rio Grande do Norte, uma mulher ganhou nas urnas o direito de prefeitar. Seu nome: Luiza Alzira Teixeira Soriano.
Alzira, portanto, foi a primeira prefeita no Brasil.
Em 1934, com a terceira Constituição vigente, uma mulher de São Paulo elegeu-se como a primeira deputada federal. Seu nome: Carlota Pereira de Queirós.
Pois é meus amigos e amigas, mas nessa história há um detalhe: as mulheres aqui citadas como pioneiras na política brasileira, eram todas brancas.
Como talvez dissesse a guerreira, negra, Maria Quitéria de Jesus (1792-1853): a luta continua.
Enquanto isso, a população brasileira continua crescendo em tempo real. Clique: População brasileira, pelo IBGE
 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (12)

O dia amanheceu bonito, com sol alto e tudo.
Nem bem eu acabara de quebrar o jejum tomando o café, senti na camisa um movimento brusco dos meus botões. Pareciam em pé de guerra. Lampa, sempre Lampa, lambendo seu punhal de estimação, disse que estava um tanto chateado comigo. Eu quis saber o motivo. "É que o sinhô nunca mais deu bola pra gente". Eu fiz hmmmm. 
Dei uma espiada de lado e notei que Zé, Mané, Jão, Biu, Zoião, Barrica e Zilidoro estavam de comum acordo com o que dissera Lampa.
Lampa é um botão de poucas palavras como o alagoano Zé, mas quando fala parece falar por todos. Espécie de porta-voz, de líder. Desconfiado, voltou ele: "A gente quer saber por que o sinhô nos abandonou".
Sem arrodeio, respondi que o que fiz com ele não foi abandono. Foi falta de tempo, mesmo. "Que falta de tempo nada!", retrucou Lampa.
A situação parecia ganhar rumo perigoso. Pra minha sorte, o filósofo Zilidoro pediu calma e quis saber o que eu achava da invasão da Ucrânia por Putin. Disse-lhe que o caso está ganhando forma de problema muito sério. "Pode haver guerra? E se houver será mundial?", perguntou o botão Zé. Pessoalmente, acho que a invasão já foi feita. Mas guerra guerra mesmo, de tamanho mundial, acho que não vai ter. Mas, sem dúvida, é uma batata quente que o mundo tem nas mãos.
Biu, que Lampa chama de frouxo, disse "Muito bem!". E todos batem palmas, a exceção do lambedor de punhal, que debaixo pra cima jogou um olhar tipo ameaçador.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

DEPOIS DA VIDA, A MORTE

A gente nasce, a gente vive, a gente morre. É assim a vida. 
A vida é uma mágica distribuída em passes, de repente.
São muitas as formas de vida. Há vida em todo canto, nos lugares mais inóspitos.
O sol é vida, e sem o sol o que seria da vida? Que vida haveria sem o sol?
Na vida há tristezas e alegrias. 
São muitos os tipos de tragédia: da chuva, da seca, da falta de tudo e excesso, também. Acompanhe-me:


Sobre arte e cultura, acesse: INSTITUTO MEMÓRIA BRASIL

PEDRO, O MANDACHUVA DO CÉU

O mundo é uma tragédia.
Todas as tragédias estão bem perto de nós.
Brasil, cujo o governo atual é uma tragédia, está sem rumo e embicando para o fundo. Um fundo sem fundo, fundíssimo, profundo.
Hoje 22 faz exatamente uma semana que a cidade serrana de Petrópolis, RJ, está se consumindo em dor e abandono provocados pelas chuvas e, principalmente, irresponsabilidade dos governantes.
Quase 200 pessoas, incluindo dezenas de crianças, morreram até agora. Umas afogadas e outras, soterradas.
A solidariedade às vítimas de Petrópolis é grande. Chegam doações materiais de várias partes do País. O presidente da República, numa linguagem próxima ao português, esteve lá. Como sempre, da sua bocarra, só saíram bobagens e a promessa de liberar 2 milhões de reais a título emergencial.
O presidente, como se sabe, não tem coração e só pensa em reeleger-se no cargo que caiu-lhe às mãos via mentiras e mentiras disseminadas nas chamadas redes sociais. As urnas o puseram em Brasília e lá se acha tramando descaminhos para o Brasil.
As chuvas também caem torrencialmente em Minas, Bahia, Rio Branco...
Enquanto pessoas sofrem a violência provocada pelas chuvas, muita gente transforma-se em turista da tragédia. Isso mesmo: turistas da tragédia. Quer dizer, pessoas que param seus carros para registrar as dores do povo e transmiti-las, ao vivo ou não, via Internet. Horror!
Simão Pedro foi um dos 12 apóstolos de Cristo. Nasceu no ano 10 a.C. e aos 40 anos foi escolhido pelo próprio Cristo como o primeiro papa da Igreja Católica.
Pedro, segundo a lenda, é o santo que guarda as chaves das torneiras do céu.
Se algum poder divino eu tivesse, diria: Pedro, fecha o diacho dessas torneiras!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

CACHORRO DÁ EXEMPLO DE AMOR AO DONO

No rádio acabo de escutar notícia dando conta de que um cachorro vira-lata, dando falta de seu dono, ganhou estrada e percorreu 20km em 10 dias. Isso aconteceu nos arredores do Distrito Federal. 
O dono do cachorro, de nome Pedro, fora pego pelo Coronavírus e desabou num hospital.
O cachorro vivia em companhia do seu dono.
O dono do cachorro era viúvo, tinha quase 80 anos e seu conforto era, além do cachorro, outros animais que lhe batiam à porta e a eles lhes dava comida, ração. Bem comparando, parecia São Francisco.
Os vizinhos o respeitavam muito.
Depois de andar 20km, o cachorro encontrou seu dono morto no hospital.
O caso sensibilizou enfermeiras e médicos.
Familiares de seu Pedro pretendem adotar o cachorro.
Essa é uma história que se repete.
Há muitos casos idênticos ao estrelado pelo cão de seu Pedro. Veja:

Hoje 21 entra em vigor uma lei federal "que proíbe a eutanásia de cães e gatos de rua por órgãos de zoonose, canis públicos e estabelecimentos similares, exceto em casos de doenças graves ou enfermidades infectocontagiosas incuráveis que coloquem em risco a saúde humana e de outros animais".

Essa Lei é a de número14.228/21, com acesso disponível na rede.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

ALMIRANTE, A GRANDE PATENTE DO RÁDIO

Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar de Almirante?
Não, não me refiro ao militar que carrega consigo tal patente. Refiro-me ao compositor e cantor Henrique Foréis Domingues. 
Domingues tinha pose e voz muito bonitas. Gravou muitas músicas, algumas já devidamente integradas ao nosso cancioneiro, como Touradas em Madri e O Orvalho vem Caindo. Muitas das músicas que ele gravou foram lançadas em países de língua espanhola, como o Chile.
Além disso era apaixonadíssimo pela história da nossa música. Deixou um acervo fabuloso com milhares de livros, discos e partituras.
Henrique Foréis Domingues, chamado de "A Mais Alta Patente do Rádio", nasceu no dia 19 de fevereiro de 1908, no Rio. E morreu em dezembro de 1980. O seu acervo se acha no Museu da Imagem e do Som, MIS.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

ANÍSIO SILVA, SAUDADE

Há 33 anos morria no Rio de Janeiro uma das vozes mais afinadas da música romântica, que atendia pelo nome de Anísio Silva. 
Anísio era baiano e fez de um tudo antes de tornar-se cantor profissional, a partir de 1952.
A estreia de Anísio, em disco, foi marcada pelas músicas Um Passarinho Tristonho e Quando eu me Lembro, pelo selo Star.
Amigo de figuras de destaque na sociedade, como o Juscelino Kubitschek (1902-1976), Anísio Silva foi o primeiro cantor brasileiro a ganhar um Disco de Ouro pelo enorme sucesso que fez com o bolero Alguém me Disse, em 1960.
Em toda sua carreira, o artista baiano vendeu mais de 10 milhões de discos. Morreu, de um ataque cardíaco, no dia 18 de fevereiro de 1989.


NELSON CAVAQUINHO

Três anos antes da morte de Anísio Silva morria, no Rio de Janeiro, o cantor e compositor Nelson Cavaquinho. Nelson foi, provavelmente, a voz mais rouca do samba-canção. Fez história e deixou uma discografia invejável. Com Guilherme de Brito e Alcides Caminha, compôs e gravou A Flor e O Espinho. Obra-prima. Curiosidade: Caminha foi desenhista e roteirista dos "catecismos" assinado por seu alterego Carlos Zéfiro.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

HÁ 100 ANOS, JORNALISTAS PARTICIPAVAM DA SEMANA DE 22

A Semana de Arte Moderna, que foi de apenas 3 dias, reuniu nordestinos e cariocas ao grupo de paulistas liderado basicamente por Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia.
A Semana não foi tudo que se diz.
Na verdade a Semana foi, digamos, um festival ou salão de múltiplas expressões artísticas, incluindo exposição de quadros, declamações e música.
O evento, que teve lugar no Teatro Municipal de São Paulo, foi aberto com uma palestra do maranhense de São Luís Graça Aranha (1868-1931), à época um nome bastante conhecido das letras e da diplomacia brasileira.
Foi Graça, autor do livro Canaã (1902), o cara incumbido de arrecadar grana, entre cafeicultores, para a realização do que ficou conhecida como a Semana de Arte Moderna ou Semana de 22.
Essa semana foi feita quase toda por jornalistas: Graça Aranha, Ronald Carvalho, Afonso Schmidt, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e até Plínio Salgado.
Plínio, paulista de São Bento do Sapucaí, entrou para a história como o criador do movimento político Ação Integralista. Era da direita radical.
Retrato de Graça Aranha
Vários participantes da Semana eram conservadores. Pois é.Na noite de 13 de fevereiro, uma segunda-feira, o teatro não estava com sua lotação completa. Na quarta, também não. E na sexta, pouquíssimas pessoas deram o ar de sua graça. Detalhe: aquela pode ter sido a melhor das noites, pois já estava o carioca Heitor Villa-Lobos (1887-1959) mostrando parte do seu enorme talento. Mesmo assim, recebeu vaias e berros de uma plateia na qual se incluíam estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, cooptados por Oswald de Andrade.
Oswald foi um marqueteiro e tanto.
A ideia da Semana não partiu dos paulistanos. Partiu do jovem pintor carioca Di Cavalcanti (1897-1976).
À época, Di tinha 25 anos incompletos. E teria dito a Mário, ou a Oswald, de Andrade: “Está na hora de fazermos um grande evento artístico pra chamar atenção das pessoas”.
O evento contou com a exposição de uma centena de quadros, 20 e pouco dos quais assinados por Anita Malfatti (1889-1964).
Mário de Andrade e Tarsila do Amaral
no traço de Fausto Begocce

Anita, uma paulistana, tinha 28 anos de idade quando realizou, em 1917, a sua primeira exposição individual. Essa exposição despertou a ira do escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948), que escreveu um artigo demolidor contra Anita, no Estadão. Disse, depois de comparar a sua obra à obra dos loucos: “... A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses”.
Lobato é o autor do personagem Jeca Tatu e de Narizinho, que deu início às histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo.
Muita gente pensa que Tarsila do Amaral (1886-1973) participou da Semana, mas não. Na ocasião ela se achava em Paris. Aliás, foi em Paris que ela conheceu Oswald, com quem se casaria em 1926.
Entrevista de Menotti Del Picchia
a Assis Ângelo
Depois de separar-se de Oswald, Tarsila entrou em parafuso. A propósito: é dela a obra-prima Abaporu (1928), que inspiraria o ex-marido a criar o movimento Antropofágico.
A Semana de Arte Moderna tinha por objetivo, segundo dizem, romper com as tradições inovando a arte brasileira. Conversa!
A Semana não quebrou tradição alguma.
A Semana foi um evento de pouca repercussão e sem nenhuma importância, a rigor. Foi apenas um movimento de jovens insatisfeitos com o momento em que viviam. Um momento de tensão, de pressão política. O presidente da República era, não custa lembrar, o paraibano Epitácio Pessoa.
Não foi a Semana de 22 um evento direcionado ao povo. Mas de elite para elite.
Alguns nomes que participaram da Semana entrariam para a história independentemente da Semana.
Em maio de 1984 publiquei uma matéria de 2 páginas no extinto suplemento literário D.O. Leitura, de São Paulo, com o último dos participantes daquela Semana: Menotti Del Picchia (1892-1988). Na entrevista, o autor de Juca Mulato diz, com todas as letras, que “Mário de Andrade era um gênio”. Diz também coisas curiosas como acreditar em fantasmas, embora não cresse em reencarnação, que gostava de Mozart e de poetas como Cassiano Ricardo.
Capa da revista Klaxon e Charge de Belmonte.

Menotti Del Picchia teve uma vida agitada na imprensa paulistana. Foi redator chefe, por exemplo, dos jornais Tribuna de Santos, A Gazeta e Diário da Noite.
No dia 15 de maio de 1922, logo após a realização da Semana, começou a circular em São Paulo a revista Klaxon. No expediente, entre os colaboradores, se achavam Guilherme de Almeida, Mário e Oswald de Andrade.
Em suma, a Semana de 22 não serviu praticamente pra nada, até porque a cultura popular (expressão maior do povo, de qualquer povo) esteve completamente ausente da programação.
E pensar que Mário de Andrade foi o autor da belíssima moda Viola Quebrada, hein?
O chargista Belmonte (Benedito Carneiro Bastos Barreto, 1896-1947) foi um dos muitos críticos da Semana de 22.

PRESIDENTE MENTIROSO. E PERIGOSO

Charge de Renato Aroeira
Feio e perigoso é o mundo fabuloso do presidente Bolsonaro.
Feio e perigoso porque é um mundo feito de mentiras.
Bolsonaro, cara de pau sem verniz, põe no bolso facilmente personagens da cultura popular como Pinóquio (Itália) e João Grilo (Portugal).
Pantaleão, personagem de Chico Anysio (1931-2012), desavergonhado que nem o presidente, sentia prazer em mentir. E ainda perguntava à mulher: "É mentira, Terta?".
Pesquisas sobre as mentiras do presidente indicam que o tal mente, em média, 7 vezes ao dia.
Números colhidos pela plataforma Aos Fatos carimbam o absurdo de que só em 2021 Bolsonaro mentiu 2.516 vezes, o que significa 6,9 mentiras por dia.
Segundo a plataforma, a mentira mais repetida por Bolsonaro no ano passado foi sobre a pandemia, provocada pelo novo Coronavírus.
As urnas eletrônicas do TSE são também alvos prediletos do conhecido mentiroso. Semana passada, por exemplo, ele usou sua enfadonha live para dizer que as Forças Armadas haviam detectado insegurança nas urnas.
Na verdade, as Forças Armadas haviam encaminhado ao TSE uma relação de perguntas sobre o funcionamento técnico das urnas. Pediram sigilo, mas Bolsonaro incumbiu-se de tornar pública a consulta e mentir como mentiu, dizendo que os seus comandados haviam detectado fragilidades no equipamento. Isso fez com que o ministro Luís Roberto Barroso, do TSE, divulgasse o questionário e as devidas respostas.
É enorme o questionamento e as respostas.
Nunca, em tempo algum, um presidente da República mentiu tanto e descaradamente como Bolsonaro.
É desse jeito que ele deverá entrar para a história.
Mentir é feio. E com meus botões penso que tamanho teria o nariz de Bolsonaro se crescesse toda vez que mentisse.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O RÁDIO NA TV: ULISSES COSTA É O CARA

Carlos Silvio e Ulisses Costa no
programa Paiaiá Conectados

O futebol chegou ao Brasil nos fins do século 19, pelas mãos ou pés de Charles Miller. 
O futebol, mais ou menos como o conhecemos hoje, nasceu lá pras bandas da Inglaterra.
Aliás, na Inglaterra tem um time centenário chamado Corinthians.
O Corinthians brasileiro foi completamente inspirado no Corinthians inglês, contra o qual o jogador Sócrates chegou a jogar.
O rádio chegou ao Brasil, historicamente falando, em setembro de 1922. 
O futebol começou a despertar a atenção do público de rádio ali pelos anos 30. Ou 40, com o compositor mineiro Ary Barroso fazendo as primeiras transmissões. De lá pra cá, muita coisa mudou. A coisa profissionalizou-se e hoje, transmissão de futebol é o que é. Pelo rádio ou TV.
Transmissão de futebol pela TV é um saco de se ver. 
Nem nos tempos que eu enxergava com os olhos, gostava de ver futebol pela TV. O rádio é mágico, nesse e noutros pontos.
Conheci muitos narradores de futebol. Craques, como Osmar Santos.
Osmar imortalizou o bordão: "Bimba na gorduchinha!".
Conheci também Fiori Gigliotti (1928-2006), que abria suas narrações com o bordão "Abrem-se as cortinas!".
Gigliotti era um romântico. Maravilhoso.
Uma vez, quando recebi uma homenagem na assembleia legislativa de São Paulo, lá estava ele... Mas essa é outra história.
Um acidente automobilístico tirou Osmar Santos dos microfones. Seu irmão Ulisses, na CBN, faz o que pode pra prender a atenção dos ouvintes. Gosto.
Está surgindo uma figurinha incrível na telinha: Ulisses Costa.
Ulisses Costa não é Oscar Ulisses.
Ulisses Costa é levando para a TV o pique do narrador de rádio. Legal. Estou gostando.
Dia desse, comentando isso com Carlos Silvio, ouvi: "O cara realmente é muito bom".
E o cara referido é o que fala aí abaixo:

OPINAR É BOM. VIVA BENEDITO LACERDA!

O compositor e instrumentista Benedito Lacerda, desaparecido no dia 16 de fevereiro de 1958, foi um dos maiores amigos do genial Pixinguinha (1897-1973). Tinha 55 anos incompletos quando morreu. Era carioca.
Em 1919, Pixinguinha escreveu o choro Um x Zero. Esse choro foi feito em homenagem ao jogador Friedenreich (1892-1969), autor do único gol da seleção brasileira contra a seleção uruguaia naquele ano. Após o jogo, Friedenreich ganhou o apelido de El Tigre.
E não custa lembrar que o choro Um x Zero foi gravado pela primeira vez em 1946, quando Pixinguinha deu a parceria a Benedito Lacerda.
A dupla Pixinguinha/Benedito Lacerda marcou época.
Como se vê, essa é uma opinião feita com base na história.
Opinar é fundamental.
A história brasileira aponta para vários críticos que marcaram época, como José Ramos Tinhorão (1928-2021).
Como Tinhorão marcaram época, no mundo das artes, os cineastas Glauber Rocha (1939-1981) e Arnaldo Jabor (1940-2022).
Tinhorão deixou uma bibliografia memorável, como Glauber e Arnaldo.
Todos os livros de Tinhorão são de obrigatória leitura.
Os filmes de Glauber, na maioria, merecem ser vistos.
Arnaldo Jabor, filhote do cinema novo, iniciou-se como panfletário e crítico discutível do cinema até então feito no Brasil. Pindorama, de 1970, é prova viva do que digo. Mas na verdade, na verdade, Arnaldo Jabor firmou-se no imaginário brasileiro a partir das suas aparições na TV Globo e na rádio CBN.
Isso que digo, porém, não o desmerece como cineasta. Deixou coisas boas, como Toda Nudez Será Castigada (1973), baseado no livro homônimo do pernambucano Nelson Rodrigues (1912-1980).
Nelson Rodrigues foi um dos maiores autores da literatura brasileira.
Vamos ouvir Um x Zero?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

FAUSTO: O TURISTA APRENDIZ

À esquerda, o casarão que Nelson Gonçalves cresceu e à direita, Fausto na Av. João Pessoa

De certo modo, o cartunista Fausto encarna a personagem da música A Vida do Viajante. Essa música, um clássico do repertório gonzaguiano, foi gravada no começo da segunda parte dos anos de 1950. Sucesso na hora, mas não é dessa música que eu quero falar.
Nascido Fausto Bergocce, o cartunista Fausto tem seu berço na cidade paulista de Reginópolis, a cerca de 400km da Capital.
Conheci Fausto num ano qualquer do século passado, na redação do extinto Folhetim. Esse suplemento enriquecia a edição dominical do jornal Folha de S.Paulo.
Fausto ilustrou muitos textos meus, não só no Folhetim, mas na revista Homem e outras da editora Três. Escrevi muito pra essa editora.
Sempre hei de me lembrar do querido Fausto: simples, atencioso, solidário, uma figura e tanto!
Outro dia recebi ligação dele dizendo que se achava em andanças por terras gaúchas. Lembrei-me logo do cantor Nelson Gonçalves, o Metralha.
Nelson nasceu no município de Santana do Livramento. E pra minha surpresa Fausto disse que chegou a visitar o casarão onde o artista nasceu. E fotografou (acima). Nesse casarão tem uma placa, na qual se
lê: "A voz de ouro do Brasil". Disse também, e aí surpresa dele, que descobriu uma avenida com o nome de João Pessoa. Pra tudo tem explicação e a explicação no caso de João Pessoa é que ele era candidato a visse na chapa a presente do gaúcho Getúlio Vargas, em 1930. Pessoa foi assassinado em Recife, virou mártir e o Vargas levou o cargo de presidente na marra, ao por pra correr o paulista Júlio Prestes, que ganhara legalmente o cargo de presidente.
A curiosidade tem levado Fausto a conhecer o Brasil e boa parte do mundo. Do Brasil, ele diz, "só me faltam conhecer o Acre, Amapá, Roraima e Rondônia, na parte Norte do nosso mapa".
Além de conhecer quase todo o nosso País, Fausto conhece os EUA, Canadá, Inglaterra, França, Itália. No total, 18. "O que mais gostei foi o Marrocos", diz.
A propósito, não custa lembrar: foi no Marrocos que o poeta português Luís Vaz de Camões () perdeu o olho direito, no campo de batalha. 
Fausto diz também que a região brasileira que mais gosta e admira é o Nordeste: "O Nordeste tem a cara do Brasil e uma gente maravilhosa".
E o Sul do Brasil, hein?
"Há muito eu alimentava a ideia de conhecer a terra do poeta Mário Quintana (1906-1994). Aproveitei pra cultivar boas amizades: com Ademir Antonio Bacca, Cleimir Bacca (irmãos) e Iolanda Rivulus: amigos que não os via desde o ano 2000, em Cuba! Eles me receberam muito bem em Bento Gonçalves.
Ainda em Bento Gonçalves, tive a honra de conhecer o grande escultor Bez Batti. O amigo Ademir Bacca me levou para esse encontro: que me honrou muito.
Depois em minha passagem por Porto Alegre, pude cultivar outras grandes amizades: com o cartunista Santiago, Olga (sua esposa) e com a jornalista Rosane Aubin, com quem tive a honra de trabalhar no jornal Diário Popular, de São Paulo. Por lá, reencontrei uma amiga, a Ethel Kawa, com quem havia trabalhado na Editora Três.
Enfim, foi uma ótima viagem, depois de 2 anos sem poder fazer nenhuma, por conta da pandemia.
Tomei todos os cuidados possíveis e fiquei bem e voltei bem".
Curiosidade: por onde anda, Fausto aproveita para pintar aquarelas (ao lado).
Leitor compulsivo, isso não é uma mera força de expressão, Fausto lê tudo que lhe cai às mãos. 
Meu amigo, minha amiga, faça como ele: leia tudo que for possível. Pois, como dizia Monteiro Lobato, "um país se faz com homens e livros".
Uma coisinha só: além de encaixar-se no enredo de A Vida do Viajante, Fausto poderia também encaixar-se nas páginas O Turista Aprendiz, de Mário de Andrade.

LEIA MAIS:

domingo, 13 de fevereiro de 2022

TINHORÃO PELO OLHO DA CARA

O Samba Agora Vai, O Rasga, Festa de Negro em Devoção de Branco, Rei do Congo e Os Romances em Folhetins no Brasil.
Esses são títulos de alguns livros que o jornalista e historiador paulista José Ramos Tinhorão publicou a partir da 2ª metade dos anos de 1960, ainda no tempo em que morava no Rio de Janeiro. Foi no Rio, aliás, que ele iniciou sua brilhante carreira.
Alguns de seus livros foram publicados em Portugal e só depois, no Brasil.
O legado de Tinhorão é incomparável, especialmente no tocante à área musical.
Antes de Tinhorão não havia, a rigor, uma bibliografia da história da nossa música popular.
Todos os seus livros se acham no mercado, à exceção do que foi escrito sobre ele próprio: Tinhorão, o Legendário, de Elizabeth Lorenzotti.
Esse livro, esgotado, está “inflacionando” o mercado livreiro. É certo que o biografado não concordaria com o valor pedido por um exemplar do livro que conta parte de sua história e obra: R$1.590 (Amazon).

Conheci Tinhorão ali pelos fins dos 70. Fui muitas vezes ao seu famoso kitinet, na Maria Antônia. Tornamo-nos amigos. Ele chegou a fazer prefácios de livros e até um disco meu (Assis Ângelo interpreta poetas brasileiros).
Muita gente considerava Tinhorão uma pessoa chata, mal resolvida. Nada disso. Era um gozador. Tirava sarro de si próprio.
Certa vez perguntei-lhe se conhecia a rua Tinhorão. Não, respondeu. Informei-lhe que existe, em Sampa, uma rua com o nome dessa planta, mas que não fora feita em sua homenagem. Disse qualquer coisa que não lembro e sorriu, enquanto tomávamos um vinhozinho que ninguém é de ferro, ora.
Essa rua, Tinhorão, localiza-se no bairro de Higioenópolis.
Como se vê, o jornalista e historiador José Ramos Tinhorão continua na pauta do dia.


Sobre Tinhorão, escrevi muitos textos. Alguns: 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

O MUNDO É UMA BOMBA

A semana findou com um maluco propondo a criação de um partido nazista, no Brasil. A proposta desse maluco recebeu ressonância do deputado reaça Kim Num-sei-das-quantas. Grave, muito grave.
Medidas legais estão sendo tomadas para punir os dois, o maluco e o deputado.
O mundo anda uma loucura. Está fervendo.
Os olhos do mundo estão voltados, atualmente, para a Rússia.
Putin, o todo poderoso da Rússia, diz que não, mas está ameaçando invadir a Ucrânia.
Estados Unidos, Alemanha e outros países estão retirando os titulares de suas embaixadas na Ucrânia.
Não será exagero dizer que estamos montados numa bomba. Atômica. Grave, gravíssima é a situação que hora o mundo vive.
A 1ª Guerra Mundial começou na Europa e a 2ª, também.
Rússia é um país europeu.
Oremos pela paz.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

ARNALDO ROSA, SAUDADE

Hoje 11 faz exatamente 22 anos que a morte levou o paulistano Arnaldo Rosa, um dos fundadores mais bem humorados do grupo musical Demônios da Garoa.
Arnaldo tinha 21 anos de idade quando ele e seu grupo gravaram a 1ª música: Sanfoneiro Folgado, de Mário Zan e Motinha.
O tempo transformou Mário Zan no rei da sanfona.
Eu conheci Arnaldo Rosa num ano qualquer da década de 1980.
Antes de conhecê-lo, fui convidado pela extinta Continental a escrever a contracapa do Disco Demônios da Garoa - 50 anos, que saiu em 1994.
Depois de ler a contracapa do disco, um LP, Arnaldo disse algo como "você sabe muito mais sobre nós (Demônios), do que nós. Por que você não escreve um livro sobre o nosso grupo?".
Findei escrevendo Pascalingundum - Os Eternos Demônios da Garoa, o único até hoje escrito sobre o grupo. Publicado em 2009, num espetáculo promovido pelo Sesc Pompéia, o livro bem comentado
É isso.
 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

HOLOCAUSTO NUNCA MAIS

O incentivo e a moleza que o presidente Bolsonaro está dando ao tráfico de armas, mobilizaram hoje 10 um grupo de 100 policiais federais para desmonte de uma quadrilha especializada na falsificação de documentos do Exército, no Rio. Esses documentos tinham por finalidade facilitar o acesso a armas de grosso calibre.
É coisa séria.
Bolsonaro é uma pessoa que vive ao lado da morte, armando milicianos e neonazistas. 
Estão os neonazistas há muito tempo do lado do atual presidente, desde os tempos em que ele era um insignificante deputado em Brasília.
A antropóloga Adriana Dias descobriu em 2006 que Bolsonaro já estava, aquele tempo, aliado a grupos radicais, como os neonazistas.
Foi não foi, o assunto volta à baila.
Esta semana um conhecido youtuber, entrevistando um deputado e uma deputada, defendeu a ideia de se criar um partido político com identificação direta ao nazismo. O cara perdeu o emprego e o deputado, um tal de Kim, está ameaçado de perder o mandato.
No rastro da fala do youtuber, um ex-BBB comentarista da Pan, também foi demitido por apoiar a fala do cara que entrevistava o tal Kim. A demissão deveu-se, especialmente, ao fato de o tal comentarista fazer o horroroso gesto de saudação nazista, inventado por Hitler.
Hitler foi o responsável direto pela morte de pelo menos 100 milhões de judeus. 
Armas matam.
É preciso que estejamos sempre de olhos abertos, pois os inimigos se acham perto de nós.
O pior cego é o ignorante.

 

TRIBUNAL INTERNACIONAL DE HAIA

Acabo de me informa, pela revista IstoÉ, o seguinte:

O Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, recebeu nesta quarta-feira (9), o relatório da CPI da Covid do Senado, que investigou a atuação do governo federal no combate à pandemia de Covid-19. As informações são da coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha.

O documento aponta nove crimes do presidente Jair Bolsonaro (PL), como prevaricação, charlatanismo, epidemia com resultado de morte, infração a medidas sanitárias preventivas, emprego irregular de verba pública, incitação ao crime, falsificação de documentos particulares, crime de responsabilidade e crimes contra a humanidade. 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

HOJE É DIA DO FREVO. VIVA O FREVO!

 
A riqueza cultural do Brasil é imensa, sem paralelo.
O criador do Baião, Luiz Gonzaga, deixou Pernambuco para inventar o Baião no Rio de Janeiro.
O Baião, como ritmo musical, foi gravado pela primeira vez no dia 22 de maio de 1946. Um ano depois do fim da 2ª Guerra. Nessa empreitada, o cearense Humberto Teixeira aparece como parceiro. 
Gonzaga e Teixeira produziram 20 parcerias. Todas viraram clássicos da música.
Pernambuco é a terra do bandoleiro Lampião. Mas não é disso que quero aqui falar.
Pernambuco, um dos 9 Estados Nordestinos, é uma terra de muita história. De muitas guerras, incluindo a de Guararapes e a de 1817, que teve entre seus líderes Bárbara de Alencar e Frei Caneca.
Bárbara de Alencar, perseguida pelas forças imperiais, morreu anonimamente no Piauí.
Frei Caneca foi fuzilado. Mas não é também sobre isso que quero aqui falar.
Pernambuco é terra bonita, alegre, cheia de graça e cor.
Foi na virada do século 19 que em Pernambuco surgiu a dança do frevo.
O frevo é dança e música e pode ser dividido de três formas: frevo de rua, frevo canção e frevo de bloco.
O frevo de bloco é desenvolvido com instrumentos de pau e corda. E um de sopro: pífano, ou pife.
O frevo canção difere-se muito do samba-canção. É mais agitado, mais colorido.
O frevo de rua, como o frevo canção e o frevo de bloco é uma graça.
Quem dança o frevo é denominado de passista. 
O frevo já foi tombado e reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A iniciativa foi da Unesco, em 2012.
Não existe um inventor para o frevo. Sabe-se, porém, que foi resultado da mistura da capoeira com a marcha militar. 
O gingado do frevo é especialíssimo, único.
Para dançar o frevo os passistas fazem uso de uma sombrinha estilizada.
Capiba, de batismo Lourenço da Fonseca Barbosa, escreveu muitos frevos. Era pianista. Nasceu em Pernambuco e viveu bom tempo na Paraiba. Eu o conheci em São Paulo e foi em São Paulo, capital, que eu o levei para o programa Gente e Coisas do Nordeste. Esse programa, de grande audiência, eu o apresentava pelas ondas da extinta rádio Atual.
O dia 9 de fevereiro é o Dia do Frevo. 
 
 



terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

QUEM NASCE PRA CASTRO, NÃO CHEGA A TINHORÃO

Nestes tempos horrendos, de pandemia e negacionismo, de Bolsonaro, violência e homofobia, a mim não custa lembrar que cresci ouvindo dizer que "dois corpos não ocupam um mesmo espaço".
Penso nisso até hoje.
Tal máxima poderia ser aplicada à história e jornalismo.
Fui dormir ontem 7 depois das 23. A razão disso foi o Roda Viva, programa de entrevistas da TV Cultura. Na roda que contou com uma excepcional banca de entrevistadores, no destaque Manuel da Costa Pinto, o jornalista e autor de livros Ruy Castro disse um monte de bobaseiras. Desnecessário dizer o que disse, mas a empáfia o domina.
Ruy é mineiro de Caratinga, mesmo torrão do cartunista Ziraldo e do cantor Agnaldo Timóteo.
Ontem 7 Ruy estava com a macaca, metendo bala na cidade de São Paulo.
A pretexto de falar sobre a Semana de Arte moderna, Ruy tascou o pau sem pestanejar nos artistas e intelectuais paulistas. Disse que o Rio de Janeiro não participou da Semana de Arte Moderna de 22 porque não precisava. Segundo ele, o Rio é moderno desde sempre.
O mineiro Ruy, que parece não gostar do lugar onde nasceu, entrou na onda de defender o Rio às cegas. Puro bairrismo.
A Semana de 1922 durou só 3 dias: 13, 15 e 17 de fevereiro. À frente Mário e Oswald de Andrade. A abertura coube a Graça Aranha, que findaria brigando com Mário e Oswald.
Aranha foi o cara que convenceu Paulo Prado a financiar o evento, que não recebeu repercussão nenhuma nos jornais cariocas. De novo puro bairrismo.
Da famosa Semana participaram alguns cariocas, como o poeta Ronald de Carvalho, o compositor e maestro Villa-Lobos e o pintor Di Cavalcanti, que tinha apenas 25 anos de idade.
Eram todos jovens.
Villa, um dos mais velhos, tinha 35 anos.
Oswald tinha 3 anos a menos e Mário, 6.
As ideias fervilhavam como fervilham as ideias em mentes jovens, até hoje.
Na fala de Ruy sobrou pra Cassiano Ricardo, Sérgio Milliet, Oswald, Mário e tal.
Ruy é um bom vendedor de livros. Isso não é crítica, é fato benigno. 
O que não se ajusta bem na fala desvairada do autor de Chega de Saudade é o modo como dispara suas balas, mágoas e preconceitos. Com ódio, raiva, sem humor algum. 
Em Chega de Saudade lê-se que Luiz Gonzaga, rei do baião, era um sanfoneiro de meia-tigela.
E quando fala do jornalista e historiador José Ramos Tinhorão, torce o nariz. E o faz de modo prepotente, arrogante. Lamentável.
Tinhorão, repetirei sempre, fez o que nenhum Ruy Castro fez até hoje: uma bibliografia da cultura popular, com destaque a música.
Ler Tinhorão é fundamental.
Ler Ruy Castro, é opção.
Tinhorão foi um profissional seriíssimo e cheio de graça.
Ruy é um profissional amargo.
Pois é, dois corpos não ocupam um mesmo espaço. E quem nasce pra ser Ruy jamais chegará a Tinhorão.
Bom, não custa dizer: o jornalista João do Rio foi um personagem incrível. Leia:
 
Eu – O senhor começou fazendo textos diferentes dos que se faziam na época...

Ele − Sim, claro. Todo mundo ficava na redação escrevendo coisas. Era assim com Machado (de Assis), por exemplo. Eu gostava dele, mas ele era muito fechado. E com Alphonsus de Guimarães e tantos… Eu sempre me senti muito à vontade nas ruas. Ia pra casa só pra dormir. Mas escrevia nas praças, nos cafés, nos trens. Em todo canto.

Eu − E o Lima Barreto?

Ele − Ah, o Lima era complicado, mas muito talentoso… Era da minha cor. E pobre. A gente não se entendia. Quer dizer, ele não me entendia. Ele dizia umas coisas horrorosas a meu respeito. Não sei por quê. Até me fez personagem de um dos seus livros, o primeiro: Recordações do Escrivão Isaías Caminha. Não liguei. Pra falar a verdade, eu gostava do Lima. Mas ele era complexado, coitado. Chegou a ser internado com doença de doido. Era mais velho do que eu uns três meses. Morreu em 1922. Assis, não é? Pois bem, seu Assis, pela primeira vez vou dizer uma coisa: não participei, mas assisti aos três dias da Semana de Arte Moderna. Ninguém me reconheceu. Achei foi bom.

Eu − Mas como ninguém o reconheceu, se o senhor era um rosto tão conhecido?

Ele − Parabéns, meu filho. Você é atento ao que ouve. Bem, eu estava meio escondido. Entende? Num canto sem luz. Eu e uma amiga minha.

Eu − O que o senhor achou daquela Semana?


Ele − Interessante, muito interessante. Gostei muito da apresentação do Villa-Lobos com aqueles pezões branquelos à mostra, mas gostei mais foi das vaias que ganhou. O Mário, o Oswald, o Menotti, muito bons. Bons mesmo! E, à parte disso, sempre gostei de São Paulo. Bela cidade.

Eu − E o senhor escreveu alguma coisa a respeito?

Ele − Não, não. Estava ali como espectador. Eu já havia abandonado a carreira de jornalista.

Eu − O senhor mudou a forma de fazer jornal, indo às ruas em busca de notícias. Seguindo seus passos, apareceu uma menina chamada Eugênia Brandão…

Ele − Ah… Eu amava a Geninha. Uma mineirinha muito meiga, muito inteligente, sem preconceito nenhum. Estava em todas. E gostava de um choppinho… Foi com ela que acompanhei a Semana de 22. Ela foi a segunda mulher a escrever num jornal. A primeira foi a maranhense Maria Firmina dos Reis. Negra.
 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

TINHORÃO E CARNAVAL


José Ramos Tinhorão tinha 7 anos de idade quando o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela ganhou o primeiro concurso de Carnaval do Rio de Janeiro, em 1935. Nesse mesmo ano, a Prefeitura carioca passou a apoiar financeiramente o Carnaval.
A primeira escola de samba, como tal considerada, surgiu no ano do nascimento de Tinhorão: 1928.
Essa escola, Deixa Falar, foi criada pelo compositor Ismael Silva e amigos.
A história é longa. Antes de chamar-se Portela, a escola mais premiada do País chamava-se Vai Como Pode.
O que é que tem Tinhorão a ver com o Carnaval?
Eu já disse e torno a dizer que antes de Tinhorão não havia uma historiografia da nossa música popular. E essa biografia ele começou a fazer entrevistando velhos sambistas do Rio. Até Ismael Silva ele entrevistou.
Pra conhecer o Brasil é preciso ler Tinhorão e arrotar Tinhorão. A propósito, ele costumava dizer que os acadêmicos "leem Tinhorão e arrotam Mário de Andrade".
José Ramos Tinhorão nasceu num 7 de fevereiro.
Viva Tinhorão!

domingo, 6 de fevereiro de 2022

JOÃO RAMALHO: HERÓI OU VILÃO?

Meus amigos, vocês já ouviram falar de um cabra chamado João Ramalho?
Eu disse, João, não Zé.
Esse João chegou ao Brasil do nada.
Há quem diga que João Ramalho foi um náufrago; de qual navio ninguém sabe.
Eu tenho três teses: a primeira, é que ele fugiu ou foi atirado de uma das caravelas do navegador Duarte Pacheco. Pacheco foi enviado ao Atlântico Sul pelo rei Manuel I, de Portugal.
Outra tese é que João Ramalho deixou Portugal a nado, até o Brasil. Por fim, acho que ele chegou ao nosso país — que nem país ainda era — num disco voador.
O fato — e fato é fato — é que João Ramalho chegou por cá na primeira década de 1500. Antes de Duarte Pacheco e de Cabral. Em aqui chegando, atirou-se nos braços das índias e, correspondido, amou e formou um batalhão de filhos. A matriz foi a filha dileta do cacique Tibiriçá, Bartira.
João Ramalho foi herói ou vilão?
Foi esse João quem fundou Santo André e São Bernardo, e tornou-se capitão-mor da Vila de São Paulo de Piratininga.
Corriam os anos de 50 e 60 do século XVI.
Há muitos quilômetros de São Paulo fundava-se a cidade de Nossa Senhora das Neves. Ano: 1850.
Em 1930, Nossa Senhora das Neves viraria João Pessoa.
João Ramalho tem origens em Portugal. Eu, da minha parte, tenho origens fincadas no reino encantado da Parahyba do Norte.
Tudo isso pra dizer o seguinte, respondendo à curiosidade de quem me pergunta por que troquei João Pessoa pela capital paulistana: adoro São Paulo.
São Paulo foi e é, pra mim, um eterno desafio, de vida e morte.
Em 1990, comecei a desenvolver um estudo sobre a música feita em homenagem à cidade fundada pelos jesuítas Nóbrega e Anchieta.
Toda essa história tem a ver com o cabra João Ramalho.
Para a história, João Ramalho é uma incógnita. Eu, não.
É isso.
Muita gente me pergunta qual a música mais bonita composta até hoje pra São Paulo. Indico uma dezena:

São mais de três mil músicas que colhi no decorrer de duas décadas.
Não dá pra esquecer São Paulo, Coração do Brasil, que tão bonitamente gravou Chico Alves.
Não dá pra esquecer a belíssima Sinfonia Paulistana, de Billy Blanco.
Não dá pra esquecer São Paulo de Todos Nós, de Peter Alouche...
Eu, da minha parte, compus e interpretei Declaração de Amor a São Paulo. E noutra ocasião, compus com Gereba Hino ao Céu. Essa música, que chamo de hino, foi gravada pelo inesquecível sanfoneiro pernambucano Dominguinhos.
Ia me esquecendo: cidadãos que, de uma forma ou de outra, colaboram com São Paulo têm um dia reconhecimento pela Câmara Municipal, por exemplo.
Em agosto de 1998, compareci à Câmara de São Paulo para receber o título de Cidadão Paulistano. Fiz discurso e tal. O amigo historiador José Ramos Tinhorão estava presente. E o auditório, lotado. A Banda de Música da Polícia Militar tocou o Hino Nacional e arrepiei-me.
Curiosidade: no Hino Nacional o Ipiranga, riacho e hoje bairro paulistano, é citado.

OLHARES SOBRE SÃO PAULO

SÃO PAULO ME ESCOLHEU, Reynaldo Bessa

Para o especial sobre São Paulo que fiz para este J&Cia, pedi textos a muitos amigos músicos, poetas e romancistas. Muitos atenderam ao pedido. Outros não. E entendo por que não atenderam: a correria constante. Os queridos Rolando Boldrin, Fernando Coelho, Klévisson Viana e poucos mais. Reynaldo Bessa foi um dos primeiros a fazer o que pedi. Só que o texto dele extraviou-se nas entranhas da internet. Recuperado, ei-lo:

"Uma esfinge se precipita no abismo,
tão logo o enigma é decifrado."
- Heinrich Heine

Na época em que decidi tomar o rumo do Sudeste, nada acontecia fora do eixo Rio-São Paulo. Qualquer artista que confiasse no taco das composições que andava fazendo, uma hora teria de aceitar o grande desafio de deixar o lar. Pegar a estrada rumo ao desconhecido. A brincadeira perigosa à qual se referiu Raul Seixas. Não era fácil. Existia sim, a vontade de não ficar — pelo anseio de partir —, mas havia também o medo de ir embora. Como deixar os lençóis limpinhos e cheirosos, o som dos grilos e sapos na madrugada, o céu entupido de estrelas, o café quentinho da  minha mãe e o seu acolhedor beijo de boa noite?
Mas o tempo foi passando, a família foi entendendo mais as minhas inquietações, os amigos foram me
animando, e assim eu peguei marra. Então, precisava decidir se eu iria para o Rio de Janeiro, onde o movimento parecia ser ainda maior — a maioria dos artistas que eu admirava morava lá — ou São Paulo, cidade que eu já admirava pelos programas de TV, como o Som Brasil, com o Rolando Boldrin, o Viola, Minha Viola, com Inezita Barroso. Programas onde pude ver muita gente boa começando — cheguei a fazer os dois. Enfim, fiquei entre as duas cidades. Apesar de que, independentemente da escolha, uma ficava muito próxima da outra. Então, qualquer coisa era só tomar a estrada novamente.
Foi quando, penso eu, São Paulo decidiu por mim. Um primo e uma tia iriam me receber por algum tempo em sua casa, até eu encontrar o meu rumo. Pronto.
Cheguei a São Paulo numa noite muito fria e solitária — conto isso na letra de uma das minhas músicas. Ao descer, logo ao pisar o degrau da escadinha do avião, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “E vou voltar em videoteipes e revistas supercoloridas, pra menina meio distraída repetir a minha voz, e que Deus guarde todos nós”. É um trecho da canção Carneiro, do Ednardo. Um dos artistas que me influenciaram muito no início da minha carreira. Além de Belchior, Fagner, todo o pessoal do Ceará, entre muitos outros.
Ouça: 

sábado, 5 de fevereiro de 2022

SÃO PAULO EM PROSA, VERSO E MÚSICA (FINAL)

 Adoniran Barbosa – O “oriundo” do povo

(reprodução da entrevista publicada na edição nº 27 da revista Homem, de novembro de 1980)


O maior sambista paulistano acaba de completar setenta anos de vida e quarenta de carreira artística, em meio a uma grande festa. Mas ele não está feliz. Seu coração tem mágoa acumulada durante os muitos anos que passou sem ver seu trabalho reconhecido.

 Nóis pega, nóis peguemo, nóis ia, mas num fumo. Óianóis cá travêiz! Cês num ligue não, é assim mermo. Ora, diacho, mas quem danado fala desta forma? – Num sou eu não, garanto. Eu até que falo certo, quem fala errado é o povo. Só que tem um negócio: eu sou Adoniran Barbosa, o Oriundo. 

Então está explicado: Adoniran Barbosa, o que Adoniran Barbosa – O “oriundo” do povo (reprodução da entrevista publicada na edição nº 27 da revista Homem, de novembro de 1980) veio daqui mesmo, do povo. E não duvidem, povo verdadeiramente ele é. 

– Óia, eu fui entregador de marmita, faxinêro, tecelão, serralhêro, garção de casa de ministro e muitas outra coisa eu fiz: rádio, televisão, cinema. Fui calôro e cantei muitas música de Noé Rosa... Hoje tô muito calejado. Sou um artista apusentado. 

Adoniran não é de falar muito e com pouco se enche. É esquivo, escorregadio, mas quando toma “uns mé” – uísque, de preferência – ou se avista com amigos do tempo passado, se transforma numa torrente de palavras. Frequentemente amargo, diz de si: 

– Não sinto mais emoção alguma, o que vier eu traço na maior indiferença. 

 Massificado pela cidade grande, que conheceu tão pequena e pacata? Sim, talvez. Apesar disso, não se fiem muito na conversa desse jovem de setent’anos, não. E uma coisa é certa: ele é incrível. 

Uma vez a repórter Dulce Tupy escreveu que há muitas maneiras de se anunciar Adoniran Barbosa; uma delas: senhoras e senhores, com vocês o incrível, o fantástico, o extraordinário Adoniran Barbosa... Ou então: gente, olha mais um disco do Adoniran, que loucura!... Ou assim: veterano da música popular brasileira lança mais um LP após 40 anos de carreira artística em rádio, cinema e televisão... 

Mas até ser considerado pela crítica como um dos maiores valores da música popular brasileira, João Rubinato – este o seu verdadeiro nome – comeu o pão que o diabo amassou. Muito cedo ele teve de lutar para sobreviver junto com mais cinco irmãos – três mulheres e três homens. A família vivia numa penúria de dar dó. O pai, italiano de Veneza, era ferroviário no Brasil. E, por isso, o pequeno João tinha de sair correndo da escola – fez até o 3º ano primário, em Jundiaí – direto à estação para ajudar o “velho”, que trabalhava sem descanso.

 Lembrando tudo isto, Adoniran Barbosa diz hoje: – A vida me ensinou a viver. De vida ele fez curso e se formou.


A fama chega no trem das onze


perseverante, o pequeno João alimentava a esperança de um dia ser famoso, ser artista. E nas horas vagas, muito poucas, ele dedilhava um violão e compunha coisinhas maravilhosas assim, já nos anos 50: ”

...Eu sou a lâmpida 

E as mulhé é as mariposa, 

Ficam dando vorta 

Em vorta de mim todas noite 

Só pra me beijá...”

 Nessa época João – já Adoniran Barbosa – era homem feito e bastante conhecido em São Paulo. Mas no começo da carreira, ele era conhecido apenas na rua Aurora – onde morou quase dez anos – e proximidades da praça Júlio Mesquita. No mais, não passava de um ilustre cidadão comum anônimo na multidão. Até que, achando o seu nome de batismo – João Rubinato – “difícil de pegar”, resolveu dar um jeito. 

– Foi assim: o Luís Barbosa, cantor de samba carioca, meu amigo, vinha sempre a São Paulo e aqui a gente costumava passear; o Adoniran era um rapaz do Correio, também muito meu amigo. Aí juntei os dois nomes e ficou assim: Adoniran Barbosa. 

Depois disso, a coisa mudou de figura. O pseudônimo deu certo e logo caiu na boca do povo. Quando fez a “operação nominal”, por volta de 1940, ele era locutor – disc-jóquei – de rádio, mas nem por isso tão famoso quanto hoje. Adoniran ficou famoso mesmo foi quando compôs o Trem das Onze, a Saudosa Maloca, a Iracema e, com Vinicius de Moraes, Bom Dia Tristeza, no tempo em que o poeta era embaixador em Paris. Adoniran: 

 – Você lembra de As Mariposa? É assim: Quando chega o frio/Fica dando vorta em vorta da lâmpida/ Pra se esquentá/Elas roda, roda, roda/... Eu sou a lâmpida/E as mulhé é as mariposa... Boa noite, lâmpida/Boa noite, mariposa/Permita de oscular-lhe a sua face/Pois não, mas rápido/Daqui a pouco eles me apaga. Bunita, né?

Pela Colúmbia, Adoniran Barbosa gravou, há muitos anos, a primeira música. Título: Agora Pode Chorar, de Baiton. Sua primeira parceria: Dona Boa, uma marchinha, com Jota Emere. 

Agora Pode Chorar era um samba e começava assim: Chora, chora/-Quem te ensinou a chorá não foi eu/-Chora, chora purque o nosso amô morreu. Depois dessa ele fez e assinou muitas outras parcerias: Guiomar Pafunça, O Casamento do Moacir, Prova de Carinho, Aguenta a Mão, João, Torresmo à Milanesa, etc. etc .etc.. 

– Com Vinicius eu só tenho um trabalho, que é Bom Dia Tristeza. E foi muito engraçado o jeito como nóis fizemo ela. Naquele tempo eu nem conhecia Vinicius, ele tava em Londres, Paris, sei lá, nem me lembro direito. O ano acho que era 56. Apôis bem, ele mandô uns verso numa carta para a sua amiga Aracy de Almeida, dizendo: pode fazer o que você quiser com estes verso. Aí ela me procurou e pediu para eu pôr música. No mesmo dia eu botei, numa hora que eu tava no Nick Bar em cumpanhia do João Maria de Abreu. Musiquei o poema e o João achou muito bom. E disse: dêxa que eu iscrevo a música na partitura. Disse e fêis. Vinicius também adorou. Bom Dia Tristeza foi gravada pela própria Aracy de Almeida, Elizeth e mais um monte de artista.

 Conta-se que Vinicius de Moraes não gostava muito de Adoniran, do jeito como até hoje ainda compõe as letras de suas músicas. Mas, depois de ouvir Bom Dia Tristeza, Vinícius teria mudado de opinião chegando até a dizer: ora, ora, mas como é que pode?... Conta-se também que, ainda por causa de Adoniran, Vinícius teria dito que “São Paulo é o túmulo do samba”, como se somente os cariocas fossem capazes de fazer samba. Porém essa versão é negada pelo autor de Iracema: 

– Nada disso, isso é cunversa fiada. Inclusive, quando ele me conheceu gostou muito de mim, das minhas músicas, das minhas letras. Vinícius achava o meu estilo maravilhoso, inconfundível. Formidável mesmo. Ele dizia que eu sou um grande artista... Deve ser cunversa mole, né? Mas ele falou, tá falado.

Um sujeito muito calejado

Adoniran Barbosa é ciente do valor da sua obra, da sua “bagagem” musical. E, talvez por isto mesmo, costuma dar pouca importância aos elogios que lhe fazem com frequência. Arredio, dificilmente aceita ir a uma festa. E quando a festa é em sua homenagem... nem fala. Meio chateado e com uma indisfarçável pontinha de mágoa, segreda: 

– Quando eu precisava de homenage, de uma força, ninguém tava nem aí. Agora que eu sou cunhecido, vêm com um lenga-lenga sem fim pru lado de mim. Tô sabendo. 

Faz pequena pausa. Passa alguém à nossa volta e ele cumprimenta: “ÔI”. Baixa a cabeça e, indiferente, repete: 

– Sou hoje um sujeito muito calejado. 

Há dois meses, a direção da gravadora Odeon promoveu uma grande festa em homenagem a esse grande e magoado artista. Motivos: o lançamento do seu terceiro LP e o seu 70º aniversário de nascimento. Os amigos, cabreiros, imaginaram, como não poderia deixar de ser, que o jovem Adoniran não compareceria. Ledo engano, ele surpreendeu a todos indo à festa e tudo foi muito bonito, “só que perdi o sossego”, diz, acrescentando: 

– Desde o cumeço do mêis de agosto que tudo quanto é repórter de jorná, rivista, rádio e televisão tem vindo me prucurá querendo intrivista. Sabe, tô tão cansado que já num guento mais. 

Ele não gosta muito de lembrar a passagem do seu 70º aniversário e nem falar de planos futuros. Diz que as coisas estão assim, assim, e quer ver como é que vão ficar. As entrevistas que tem dado, quase que diariamente, começam com ele dizendo, invariavelmente, o tanto que batalhou para chegar onde chegou.

– Meu fio, eu fiz de tudo na vida. O sucesso eu cunheço desde o tempo que eu tinha programas de rádio: Casa de sogra, O crime não compensa, História da maloca, com Charutinho. Na televisão, eu fiz quatro novelas: Mulheres de areia, Os inocentes, Xeque mate e Ovelha negra. E no cinema: O cangaceiro, Candinho, A carrocinha. Entrei no rádio como calôro, por volta de 33. Eu interpretava mais Noé Rosa, que cunheci pessoalmente mas só de passagem, de bom dia, ôi, como vai. O Charutinho que eu fazia no rádio é famoso até hoje. Criei personage de todo tipo: criôlo, italiano, francês, por aí. Mas nenhum foi inspirado em alguém: tudo criação minha. 

E São Paulo de hoje, muito diferente da cidade de ontem? Ele faz um muxoxo, como se dissesse: quá, num quero nem falá! 

– Hoje a minha cidade está completamente transformada, muito diferente daquela que cunheci no cumeço do século. Nem as ruas do meu tempo num ixiste mais, é uma pena. São Paulo era uma cidade muito bonita. Hoje eu procuro São Paulo e não acho, tá tudo mudado, mudou tudo para pior. Tá tudo muito violento, tem muita gente, muito cimento, muito corre-corre, muito automove, muita buzina. Deus do céu!

 Boêmio pobre, mas boêmio

Mesmo assim, Adoniran Barbosa continua sendo o cronista-sambista mor de São Paulo – cidade que, para Lourenço Diaféria, se resume numa questão de fé e “é um arroubo emocional acima de razões e certezas”. Fiel a si próprio, ultimamente Adoniran tem registrado suas reminiscências nas páginas do periódico paulistano Feijão com Arroz. Além disso, ele tem procurado imortalizar os bairros da cidade que conhece tão bem como a palma da mão, através dos seus sambas. Motivo de composições já foram: Mooca, Vila Esperança – uma obra-prima –, Brás, Jaçanã, Casa Verde etc. A avenida São João, claro, o artista não poderia esquecer jamais, como Paulo Vanzolini. E assim, ele continua indo. Aos 70 anos de idade, ainda se considera um “boêmio inveterado”.

 – Sou um boêmio pobre, mas boêmio; de rua, de esquina, de botequim. Pra você ter uma ideia: sou do tempo de serenata na rua. Mas na rua agora não posso mais fazer serenata com violão e tudo, como as serenata eram feita. Serenata na rua a gente fazia antes de São Paulo ficar como ficou: feia e triste. Tudo acabô, foi proibido pelas otoridade. O que se há de fazê agora? 

Adoniran Barbosa lamenta também o fato de as emissoras de rádio e televisão não oferecerem mais bons programas, como antigamente. Para ele, o que se salva ainda é um Chacrinha e mesmo Os Trapalhões. O resto é o resto e nada mais se salva. 

– Chico Anísio é bom, mas saiu da televisão. 

E o samba? 

– Ah, o samba! O samba é tudo pra mim. Quando alguém me pergunta o que é que eu acho do samba, nem sei responder direito: eu sou o samba.

Nostálgico? Não, nem um pouco.

 – A única coisa de que sinto saudade é da carne, do pão bom, enfim: da boa comida de antigamente. Hoje é tudo enlatado, horrive! E o rádio, o cinema? Garante ele que “nunca jamais” voltaria a empunhar um microfone para fazer um programa.

 – Sou um artista apusentado. De positivo, só acha uma coisa: os jornais. E explica: 

– Os jorná de hoje dão muita força a nóis artista. Antigamente num era assim, não. Tão muito bom. Mas eu também num ligo muito para isso não. Num quero mais me preocupá. Quero mesmo é vivê. Eu gosto muito da vida. É pena que eu me judiei muito na minha juventude. Me maltratei mesmo, sabe como é: boêmia, noitada e mais noitada, cigarro, bibida. É, me judiei muito. Hoje cum setent’anos era pr’eu tá mais forte um pouco. Tô forte, graças a Deus, mas era pra tá mais. Num tô arrependido, mas eu não faria tudo outra vêiz do mesmo jeito que fiz. 

 Se João Rubinato não tivesse conhecido o sambista carioca Luis Barbosa e o carteiro Adoniran, dificilmente existiria o artista Adoniran Barbosa. Talvez Jean Rubinê ou Giovanni Rubinato, isso porque o João estava decidido a adotar um pseudônimo. Ele brinca: “Já pensou um artista sendo chamado de João Rubinato?”.Não soaria bem, é o que João achava. Mas, felizmente, surgiram Luis Barbosa e Adoniran e os dois em João estão vivendo muito bem, diga-se de passagem. Para os mais íntimos, o artista Adoniran Barbosa atende pelo apelido de “Rei da Estufa”, que ganhou tempos atrás por gostar muito de pastéis, coxinhas e empadinhas que ficam expostas nas estufas dos bares. Mas, cuidado: tem que ser íntimo para chamá-lo pelo apelido.



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