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sábado, 5 de agosto de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (36)

Pietro Aretino
A obra reunida do poeta maldito Gregório de Matos e Guerra começou a ser publicada em livro no Brasil somente a partir de 1923.
Parecido com Gregório, na temática e explicitação nos textos, foi o italiano renascentista Pietro Aretino (1492-1556). Era protegido por papas, reis e príncipes do seu tempo. Aretino, segundo dizem, tinha de aluguel sua caneta. Era rápido, que nem um pistoleiro. Era a favor de quem pagasse mais e aí, soltava a língua. Exemplo:

Estes nossos sonetos do caralho,
Que falam só de cu, caralho, cona,
e feitos a caralho, a cu, a cona,
Semelham vossas caras de caralho..

Trouxestes cá, poetas do caralho,
As armas para pôr em cu e cona.
Sois feitos a caralho, a cu, a cona,
Produtos de grã cona e gra caralho.

E se furor, oh gente do caralho,
Vos falta, ficareis no pica-cona,
 Como acontece amiúde co'o caralho.

Aqui termino esta questão da cona
P'ra não entrar no bando do caralho,
E, caralho, vos deixo em cu e cona.

Quem perversões tenciona
Aqui nestas asneiras logo as lê.
Que mau ano e mau tempo Deus lhe dê.


Muitas das coisas que Aretino escrevia eram no formato de soneto, no caso criado por Giacomo da Lentini (1210-1260). O soneto criado por Lentini era formado por dois quartetos e três tercetos. Esse tipo de soneto foi revisto e transformado por Francesco Petrarca (1304-1374), que é o que conhecemos hoje: formado por dois quartetos e dois tercetos, num total de 14 versos decassílabos.
Aretino e Gregório de Matos morreram praticamente com a mesma idade, 58 anos. Detalhe: Gregório foi censurado em vida e Aretino, depois que morreu.Aretino morreu rico, riquíssimo, e Gregório morreu pobrezinho de marré marré numa casa praticamente abandonado, em Recife, PE, acreditando piamente na existência de Deus.
William Shakespeare (1564-1616) também deixou uma versão própria de soneto. No caso formado por 3 quartetos e um dístico de dois versos, decassílabos (abab bcbc cdcd efef gg).
Com finesse e sutileza, o bem comportado Shakespeare abordou a homosexualidade pelo menos uma vez em uma de suas peças: Os Dois Nobres Parentes. Os personagens dessa peça, Palamon e Arcite, encontram na cadeia onde foram atirados, tempo para passar bons momentos entre si. Carícia aqui, carícia ali e tal.
A propósito, não custa lembrar, toda a obra shakespeariana tem por base a cultura popular da terra em que o autor nasceu.

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