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sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

O BOI NOSSO DE TODO DIA (1)

O carro de boi foi o primeiro meio de transporte de tração animal do Brasil. Chegou ainda no século 16, quando o nosso país foi "achado" por Cabral e sua turma. Desse modo no País começou a se plantar e a colher o "de comer" nos vastos campos virgens que começava a receber colonizadores.
O boi tem sua história iniciada lá pelas bandas do Oriente Médio e Ásia.
Foram turcos, persas e iraquianos, tudo indica, que domesticaram os primeiros bovinos. 
São muitos os tipos de bois. Centenas e centenas. Alguns: Tabapuã, Senepol, Guzerá, Gir, Brahman e Nelore, esse último de origem indiana.
A Índia, o Brasil e a China são hoje líderes de criação bovina.
O rebanho brasileiro contado em 2023 chegou a 34,5 milhões de cabeças.
É longa a história dos bovinos no Brasil, especialmente.
Além de servir de alimento, calçados e bolsas, o boi faz parte do rico folclore brasileiro.
O boi se acha na música, na dança, na poesia, no romance.
Há alguns anos escrevi texto do documentário Boi, que narrei no referido filme.
O documentário Boi foi muito premiado mundo afora.
Na Turquia, Boi foi exibido em praça pública e em praça pública traduzido.
Fica o registro.
No texto que se segue, descrevo melhor o boi e a sua importância na vida brasileira.

★★★

(chiado de carro de boi abre a narração) 

— Esse barulhinho aí é esquisito, não é? Eu ouvi esse barulhinho quando era menino, e ele nunca mais saiu daqui da minha cachola. Sim, é o barulhinho do carro de boi; chorando, gemendo estrada afora. Qual menino do meu sertão não ouviu esse chorar e viu o lento rodar dos velhos carros de boi? Qual, qual menino nunca viu isso? 

— Pois é. Dia de feira, dia de festa, de gente pra lá e gente pra cá; de gente vinda de tudo quanto é lugar, numa agitação dos infernos. Gente gritando, rindo, moleque chorando, outros vendendo e comprando fosse o que fosse. E à distância, o carro de boi... on, on, on... Sendo envolvido na poeira levantada pelo tropel dos cavalos. 

— Nesses dias tinha também os bebuns, uma coiseira à parte e à toa. Mas o que fica no fundo da memória é o chiado do carro de boi. Esse chiado ai esquisito, mas familiar... choroso, diferente do choro de gente. Um choro chorado mais do que devera ser. Um choro triste, melancólico, que vem de lá nem sei de onde. 

— Esse choro entristecia a gente. Ainda entristece. Para ter tristeza e chorar num precisa ser frouxo, não. Cabra macho também chora. Seu Nonô mesmo, que era raçudo e tinha lá nas costas uma penca de morte feita a bala e faca, um dia, escondido, eu o vi chorar. Aliás, até os bois choram. Choro demais chega a ferir o coração da gente... 

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