Cruz e Sousa não foi o primeiro e nem o último poeta negro a morrer com uma mão atrás e outra na frente. Pobre. Antes dele, Luiz Gama marcou época.
Nascido em 1830, Gama foi vítima de um pai português que o vendeu quando tinha apenas 10 anos de idade. Com o tempo descobriu a tragédia em que fora metido. Alfabetizou-se, virou jornalista e aprendeu o quanto pôde os mistérios das letras jurídicas vigentes na época, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, SP. Na condição de rábula, Luiz Gama defendeu centenas de pessoas negras como ele. A história é longa.
O tráfico de negros para o Brasil começou em 1530, quando Martim Afonso de Sousa chegou ao país trazendo centenas de cativos oriundos da Guiné.
Em 1534, o rei João III de Portugal dividiu o território nacional em 14 capitanias. A maior delas, Pernambuco, foi dada de mão beijada ao capitão Duarte Coelho Pereira.
Pereira chegou ao Brasil em 1535 e logo providenciou que trouxessem de África mão de obra escrava.
O tráfico de escravos para o Brasil intensificou-se a partir de 1550.
No correr de pouco mais de 300 anos de tráfico intenso, chegaram às nossas terras cerca de cinco milhões de africanos.
Antes dos portugueses, foram os árabes mulçumanos que invadiram o continente negro e de lá levaram na marra pelo menos um milhão de pessoas.
Ao Brasil, o primeiro árabe desembarcou no Paraná. Foi no início da segunda parte do século 19. E foram chegando, chegando.... Hoje são mais de 7 milhões, incluindo descendentes.
Os árabes trouxeram consigo cultura, religião e tal.
Não são poucas as palavras árabes que constam do nosso vocabulário.
A presença de personagens árabes na literatura brasileira é marcante.
O escritor mais prolífico na criação de personagens árabes foi o baiano Jorge Amado. O mais conhecido é Nacib, de Gabriela, Cravo e Canela.
Entre os autores árabes ou descendentes, no nosso país, podem ser citados Raduan Nassar, Salim Miguel, Willian Argel de Mello, Miguel Jorge, Carlos Najar, Antônio Nássara, Raimundo Asfora, Ivan Bichara, Antônio Houaiss, Mário Chamie.
E Milton Hatoum...
Hatoum é autor de poucos, mas densos livros. Um deles, Dois Irmãos (2000), conta a história de dois jovens que cresceram se odiando. Tal e qual ocorreu com os personagens bíblicos Caim e Abel.
Voltarei ao assunto.
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