Senti algo esquisito ao fim da tarde de ontem, confesso.
Um tremor de repente, um não sei o quê mexendo comigo.
Não era frio, não era calor, não era tristeza, mas também não era alegria.
Era nada e era tudo.
Sei lá!
Difícil explicar ou entender o que senti, ao fim da tarde de ontem.
Mas agora eu soube: era um amigo se despedindo no silêncio do último instante, como se, na verdade, não quisesse se despedir; como se não quisesse partir e nos deixar.
Era como se fechasse a porta e apenas nos acenasse, dizendo que chegara a hora derradeira, irremediável, aquela que nunca, jamais, poderemos evitar.
E essa hora nos será sempre de tristeza absoluta.
No seu último aniversário, 12 de novembro, cá em casa eu tomei um trago em sua homenagem, lhe rogando saúde e força.
Ele brindou à distância, do seu jeito, prometendo um tim, tim de corpo presente por esses dias.
Mas não deu tempo.
Alberto Marino Jr. foi juntar-se às estrelas do firmamento às 17:45, depois de dois meses e dois dias no Samaritano.
Antes da partida, sofreu uma queda.
Internado, não se recuperou.
Mas nem por isso se lamentou, embora intimamente soubesse que dificilmente ficaria mais tempo entre nós.
Disse isso na última vez que falamos ao telefone, no dia 2 deste julho.
Não estava otimista, estava calmo; cheio de calma.
E até brincou com a situação de paciente em repouso forçado.
E disse até estar com saudade e querer almoçar e tomar o vinho que não tomou comigo no seu último aniversário.
Um dos seus quatro filhos, Roberto, junto com sua companheira Simone, era só expectativa.
Tinha certeza de que o pai logo, logo, trocaria o hospital pelo aconchego do lar.
Não foi possível.
Além de saudade, Alberto Marino Jr. nos deixa a crença por um Brasil melhor e pelo menos duas músicas que dificilmente serão esquecidas: Rapaziada do Brás e Luar de São Paulo, ambas com letra sobre melodia do pai, Alberto Marino.
O corpo será cremado no correr desta tarde, em Embu das Artes.
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Alberto Marino Junior foi o pai que não tive. Porém, mesmo longe, transmitiu-me conceitos de sabedoria, dignidade e hombridade. Homem honesto e guerreiro, lutou muito em toda sua vida, e em incansáveis batalhas, sempre vencedor, demonstrava a todos que a justiça nunca deve se calar. Assim foi na época do esquadrão da morte, nas defesas inexoráveis da pena de morte, e nas sessões do Tribunal do Juri.
ResponderExcluirTudo isso ouvi de amigos, professores e pessoas que com ele conviveram, tais como o ilustre advogado Dr. Vicente Cascione, o Promotor do Juri de Santos, Otavio Borba, do nobre advogado Dr. Paulo Pimentel, e principalmente pela minha mãe, Dra. Estelina que com ele trabalhou por anos, e sempre me apresentou o Dr. Marino como um grande homem.
Infelizmente, Deus não permitiu que com ele convivesse, mas guardo em meu coração a lembrança dos poucos instantes que estivemos juntos, dos quais tiro a lição de que nunca devemos nos curvar ás injustiças, sendo sempre dignos e honestos.
Vai em paz, meu querido Pai, rumo ao descanso merecido de um lutador, e que Deus ilumine seus caminhos.
Um forte abraço e um grande beijo que nunca consegui lhe dar.
Jean Pierre Mendes Terra Marino
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPapai se despediu dos amigos e o sol foi se despedir dele.
ResponderExcluirAo final daquela tarde, de repente, olhei para sua cama e vi o sol brilhar sobre seu rosto, como se fosse uma moldura dourada a iluminar o homem sereno que lá dormia. O sol estava somente à sua volta. Não brilhava à esquerda da cama e nem à sua direita.Brilhava sobre o Papai.
Feliz, entusiasmada com o bom augúrio, chamei minha mãe e minha irmã que, juntamente com as enfermeiras, ficaram maravilhadas ao ver o brilho do sol...
" Pai, você gosta tanto do sol que ele veio aqui te dar um beijo!" De olhos fechados ele esboçou um semi-sorriso...
Alguns minutos mais tarde, ele se foi. Sonolento, silente, sereno, sem dor...
Iluminado!
Obrigada,Papai.
Obrigada, Jean Pierre, por haver descrito o Papai com tanta propriedade como se tivesse passado a vida inteira ao lado dele. Que Deus abençoe você. Que Deus abençoe a todos nós.
Que a luz que iluminou o Papai naquele momento lhe dê forças para mostrar o caminho a todos os seus filhos.
Obrigada, Assis Ângelo, pela amizade de sempre e pelas belíssimas homenagens dedicadas ao Papai.
Um grande abraço a vocês.
Um beijo, Paizinho. Te amo
Lela ( Mariângela, a filha mais velha do Marinão)
Ah! Me esqueci de dizer que fui informada pelo enfermeiro de que nunca bate sol à tarde naquele quarto do hospital.
31 Julho, 2011 03:03
Que linda homenagem, Assis!
ResponderExcluirMeu notável professor...experiente e sábio ensinava divertidamente o direito tornando a compreensão de tudo mais fácil e plena. Relembro na sala o ventilador e seu zumbido que o importunava, qdo de repente ele pergunta se alguém tinha uma calibre 12 para emprestar....todos sacaram em respeito e a polícia o respeita pois era o protetor inesquecível da sociedade ...Salve mestre!
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