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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

DIA FRIO, TRISTEZA E VLADO HERZOG

Ontem de lua Nova desde o dia anterior, mais uma vez reunimos amigos em torno de uma feijoada para troca de considerações sobre tudo e ideias, aqui no bairro de Campos Eliseos.
O clima variável de 21 a 16 graus contribuiu para que tudo corresse bem.
O escritor Roniwalter Jatobá e o compositor/instrumentista Papete estavam especialmente inspirados, ambos falando pelos cotovelos.
Papete, considerado pela crítica especializada como um dos mais completos percursionistas do mundo, entre uma e outra birita de Minas, contou o quanto anda empolgado para participar da gravação de um disco que se chamará O Samba do Rei do Baião, que começará a ganhar forma a partir do próximo dia 18.
Pois, pois.
E foram chegando mais amigos: Darlan Ferreira com Vandré, o Paulo Benites...
As conversas se estenderam até a boca da noite.
Mas, confesso, eu nunca vi o Vandré tão triste, tão profundamente triste como ontem.
Na foto acima, da esqeurda para a direita, aparecem Papete, Darlan, Vandré, Roni e Paulo.

AUDÁLIO DANTAS Anteontem 13 o colega e amigo Audálio Dantas reuniu amigos em torno do livro As Duas Guerras de Vlado Herzog, da Perseguição Nazista na Europa à Morte sob Tortura no Brasil (Civilização Brasileira), lançado no Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.  Acho que esse é o livro definitivo sobre a trajetória e fim trágico de Vlado. À pág. 244 lê-se:   No Sindicato dos Jornalistas, onde alguns diretores se mantinham de plantão desde bem cedo, o tesoureiro Wilson Gomes foi o último a sair para o enterro. Ao sair, viu que restava alguém que ele não conhecia, sentado num canto da sala da diretoria, em silêncio. Perguntou-lhe: - Você vai ficar? - Não, eu estou esperando uma carona no carro do Sindicato. - O Sindicato não tem carro, mas eu vou de táxi ao enterro. Se quiser aproveitar... O estranho mal respondeu que aceitava, mas seguiu o direotr. No táxi a caminho do cemitério, ele se manteve o tempo todo em silêncio. Wilson Gomes chegou a imaginar que se tratasse de algum agente disfarçado, mas logo atribuiu a ideia à paronoia que tomava conta da cabeça de muitos de nós naqueles dias de incerteza. Ia conversando consigo mesmo, amargando a angústia e, mais do que isso, a raiva que sentia e a impotência contra um inimigo muito grande, podereoso a ponto de matar e permanecer impune. Quando o táxi parou no portão do cemitério, Wilson nem teve tempo de se despedir do carona. Mas logo viu que ele era cercado por várias pessoas e só então ficou sabendo de quem se tratava: era Geraldo Vandré, que voltara do exílio e se recolhera a um silêncio que as multidões que haviam saído às ruas "caminhando e cantando" contra a ditadura não conseguiam entender. Vandré, que silenciara o seu canto, logo se diluira entre a pequena multidão que acompanhava o sepultamento de Vlado. Possivelmente, como muitos dos que ali estavam, derramou silenciosamente algumas lágrimas.   Tristeza por tristeza, talvez a tristeza que vi ontem em Vandré seja aquela tristeza de tempos passados.

Um comentário:

  1. Caro Assis,
    Como já disseram, existem mais mistérios entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia pode supor...,sendo assim, creio que o nosso Geraldo Vandré tem lá seus dias, como todos nós, de dissabores e elocubrações intimas, vá lá saber a que nivel ou referencias - eu também o achei muito triste, sonolento e calado, assim como o acho de vez em quando um tanto á margem dos acontecimentos atuais, como se negasse a si mesmo que os tempos são outros, à revelia de sonhos planejados numa outra época em que se discutia e almejava a qualquer custo um Brasil que, malgrado suas mazelas de costume, certamente seria bem menos feliz que esse que aí está, caso esses mesmos sonhos tivessem sido postos em prática (vide Cuba como exemplo...). Acredito que o nosso ilustre paraibano de tantas belas e pertinentes canções vive um contra-senso comum à maioria daqueles que que se desencontraram nas alamedas ensolaradas de um futuro presente, em contraste com idos caminhos nebulosos e tristonhos, guardando para si os sentimentos e emoções contidas, pelo que até penso que tudo seja, porque não?..., fruto de uma grande teimosia e ausencia daquela coragem demonstrada numa outra época quando as multidões lhe davam apoio, renegando hoje a nobre e humilde arte de se redescobrir, se abrir ao mundo e dar assim continuidade à sua incontestável obra musical e literária, que certamente faria milhares de seus "órfãos" e fiéis seguidores retomarem o gosto artistico pela história não muiuto distante de um Brasil mais politizado, contestador e corajoso - sei não, caro Assis, penso por fim que nosso poeta se revestiu da imagem que lhe impuseram de mártir de um regime que hoje ele teima em desconhecer, e como temos em conta em nossa consciencia, e assim vai vivendo a colher os frutos, mais amargos que doces, de um mormaço madorrento, cômodo talvez, conformado alicerçado pela imagem que tantos construiram e ainda mantém a seu respeito, numa fráfil e têrnue linha entre a fantasia e a razão.

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