O
dia começou com os jornais noticiando só coisas feias como, por exemplo, o estágio em que se acham os processos da operação
Lava Jato conduzida com mão de ferro pelo Juiz Sérgio Moro, que já mandou para
o Xilindró duas dúzias de roedores do Tesouro Público.
Fora
isso, os jornais continuam destacando as diversas crises que ora, nós, pobres mortais
brasileiros, amargamos. Mas crise mesmo, das grandes, é a de sem-vergonhice que
assola o País de ponta a ponta.
Na
TV, hoje, vi para minha alegria, a bem humorada Inezita Barroso chamando pra
cantar no palco os seus violeiros. Na mesma telinha ouvia-se a chamada para o
filme em que ela era a personagem central: Mulher de Verdade.
Ainda
no mesmo canal, o 2, o Boldrin proseava com os integrantes do Trio Gato Com
Fome.
Bela
prosa em torno de Raul Torres.
O
Gato Com Fome está lançando seu primeiro CD, que traz apurado repertório
baseado na obra musical de Torres.
Mas
voltando às mazelas do nosso cotidiano,
uma foto na primeira página do Estadão era estampada com o propósito de
nos chocar pela irresponsabilidade dos homens que nos governam. A foto substituía mil palavras, como no jargão
jornalístico.
A
foto em questão mostrava animais pastando no que fora há bem pouco tempo o
reservatório da Cantareira. Imediatamente
lembrei das diversas crises hídricas que endoida o povo mais simples do Nordeste, que secularmente têm tangido
populações inteiras de um lado para outro, como o poeta popular Patativa do Assaré
muito bem registrou na sua clássica toada A Triste Partida, em que conta a fuga de uma
família de nordestinos para São Paulo.
A
foto estampada no jornal me trouxe
outras imagens geradas pela solidão assassina da seca secular também
tratada na canção Maringá, do poeta Joubert de Carvalho. Essa canção, lançada em
julho de 1932 pelo cantor Gastão Formenti, conta de uma bela retirante chamada
Maria do Ingá e nasceu a pedido do político paraibano José Américo de Almeida,
integrante do governo Vargas.
A
irresponsabilidade dos governantes nas suas três esferas, é chocante; tão
chocante quanto a foto publicada hoje na primeira página do Estadão.
São
Paulo está vivendo a sua pior seca desde 1924.
Não
custa lembrar que o Imperador D. Pedro II, chocado com a tragédia provocada
pela seca no Ceará, jurou que venderia, se preciso fosse, até a última pérola
da Coroa. Milhares e milhares de
nordestinos sucumbiram diante da seca e diante do Rei que, na verdade, nada fez
para impedir que morresse gente, gado e até passarinho.
Em
1915, portanto há exatos cem anos, levas de retirantes tangidos pela seca
saqueavam os estabelecimentos comerciais de Fortaleza (Ce).
Dado
o noticiário do dia, recordo o escritor Rômulo Nóbrega dizendo da tragédia que
hoje continua a viver o Nordeste profundo, o Nordeste pé no chão, o Nordeste
descalço, faminto, esquecido pelo poder público ou pelas autoridades de que, a
rigor, cuidam mais é mesmo de interesses próprios.
Rômulo
é Campinense. Ele conta que Campina
Grande (Pb), vive com racionamento de água há meses e que a situação é
gravíssima em vários municípios paraibanos.
Ele me pergunta:
-
Você já ouviu falar em Stênio Lopes?
Pois bem, do Dr. Stênio (1916-2010) escreveu um livro em que relata os
problemas provocados pela estiagem e assume uma espécie de máxima que diz “Não
haverá futuro para Campina Grande sem a transposição de águas do Rio São
Francisco”.
Pois
é, as águas do Velho Chico estão sendo desviadas para Pernambuco, Paraíba... A
troco de bilhões.
Tomara
que nessa empreitada não haja problemas que a operação Lava Jato identifique.
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