Diariamente 12 mulheres são assassinadas no Brasil. Isso dá
a média de uma mulher a cada 2 horas. Muitas delas são vitimadas por seus
próprios companheiros.
O feminicídio é uma infeliz prática que se acha com frequência
no nosso cotidiano e na nossa literatura. Desde sempre.
O bicho homem se transforma em tragédia ao sentir-se
“traído” ou preterido pela mulher. Isso se acha em Machado, em Alencar e no
excelente e praticamente desconhecido Manoel de Oliveira Paiva (1861-1892). Em
Dona Guidinha do Poço (1952), é apresentada a trama entre a protagonista, o
marido e o amante. O marido morre na ponta de um punhal a mando da mulher, que
acaba presa. A história é baseada num fato real ocorrido em terras cearenses,
em 1853.
No romance Til, de José de Alencar, o marido mata a mulher
depois de andar sumido de casa por anos, ao tomar conhecimento de que ela
tivera uma filha na sua ausência. A criança cresce como bastarda e toma conta
da história.
Em 1981 o cantor Lindomar Castilho matou a tiros sua mulher.
Por ciúmes.
Na música, erudita ou popular, os casos de ciúme, paixão e
morte multiplicam-se aos milhares. Há casos em que o personagem não mata, mas
morre ou finda no fundo de um copo.
Ouça O Ébrio, canção de Vicente Celestino
(1894-1968), gravada em agosto de 1936:
Noutro clássico do gênero (Eu Não Sou Cachorro Não), o
baiano Waldick Soriano (1933-2008) se lasca todo mas não mata nem morre.
Preconceito e discriminação andam de mãos dadas na
literatura, no cinema e na música.
Em 1967 Luiz Gonzaga, o rei do baião, lançou à praça o
preconceito que dividiu com o parceiro José Clementino em Xote dos Cabeludos. Ouça:
Em 1966, Geraldo Vandré mostrou o reverso, cantando a dor de
quem não aprende a chorar. Vandré é daqueles artistas que mergulham fundo na
cultura popular. Do livro Dona Guidinha do Poço, ele foi buscar a máxima
segundo a qual “Tanto faz dar na cabeça, como na cabeça dá”.
Uma coisinha: adultério não é prática criminal, segundo o
código penal.
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