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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

GONZAGUINHA VIVE EM MIRIANÊS


Ontem 17 estive acompanhando parte da programação da 23ª edição do projeto Revelando São Paulo, alí no Parque da Água Branca, SP. À noite revisitei O Pequeno Príncipe, pérola da literatura infantoadulta de um cara que ficou conhecido em Santa Catarina, SC, como Zé Perry. Esse Perry, claro, era Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Ele, que era aviador, morreu abatido por um caça Alemão um ano depois de lançar, nos Estado Unidos, seu famoso Príncipe. Corria a Grande Guerra. Esse livro é o terceiro mais traduzido no mundo. É como eu disso: Uma pérola.
Mas não é bem sobre isso que eu quero falar.
Mirianês Zabot é uma cantora nascida lá pra bandas onde nasceu Paixão Côrtes (1927-2018) https://youtu.be/T5IBBUJkx4g. Voz pura, clara, limpa, pequena "mas grande", como diria o compositor Gonzaguinha.
Tem muito artista bom no Brasil. Artista de todos os tamanhos. E da música popular, inclusive. É só procurar por caminhos que não sejam as mídias tradicionais, que acha.
O primeiro disco de Mirianês, Mosaico Foto-Prosaico, foi à praça em 2009, de modo independente. O disco, de 11 faixas, começa com um baiãozinho estilizado intitulado Anabela, de Mario Gil e Paulo Cesar Pinheiro. Essa música tem uma versão ao vivo de Mirianês e sua colega Consuelo de Paula, uma beleza, confiram https://youtu.be/dgM2yukFUZI.
Mosaico Foto-Prosaico, é um disco simples, de repertório simples, que leva facilmente as pessoas à sensibilidade e reflexão. A curiosidades, por exemplo: mais uma estilização, dessa vez, em ritmo de embolada. Falo de Berimbau Sabiá, de Otávio Segala. Joíssima. O mago Hermeto Pascoal é lembrado nessa faixa. Um trecho:
Berimbau, santo de casa, que agora vai lhe mostrar
Um feito bem brasileiro que de santo, só por lá
Não é Hermeto nem Pascoal que de faixa vai pular
Mas se a lei do autoral vier duro me pegar
Eu vou dizer que o Pau Brasil no meio do bê-a-bá...
A propósito nessa faixa Berimbau Sabiá, há também uma referência oportuna ao jornalista, advogado e poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias (1823-1864). A referência é ao nome e ao poema mais adaptado, plagiado, ou referido Canção do Exílio, que o autor gerou no tempo em que estudava em Portugal. Fica a lembrança. Aliás, Chico e Tom inspiraram-se em Dias para compor Sabiá, que um dia Vandré me diz querer ainda gravá-la em disco.
O segundo disco de Mirianês, que está circulando por aí, intitula-se Mirianês Zabot canta Gonzaguinha - Pegou um Sonho e Partiu, tem 12 faixas, gravadas também de modo independente. Nesse disco a interprete foi rigorosa  na escolha do repertório de Gonzaguinha. Começa com a canção Maravida. Forte, lírica, belíssima. É o Gonzaguinha mais leve, mais solto captado por Mirianês.
Luiz Gonzaga do Nascimento Jr (1945-1991) não era filho biológico do Rei do Baião, Luiz Gonzaga (1912-1989) https://assisangelo.blogspot.com/2013/09/gonzaguinha-e-primavera.html. Viviam às turras, mas foi em disco do pai que ele começou a aparecer ao chamado grande público.
Gonzagão gravou 17 músicas de Gonzaguinha.
Em 1969, a "princesinha do baião" Claudette Soares defendeu  no Segundo Festival Universitário da Canção, no Rio, uma música de Gonzaguinha: Mundo Novo, Vida Nova. Que ganharia faixa no CD Claudette Soares Ao Vivo, em 2000. Depois dela, muitas outras cantoras interpretaram o filho de Gonzagão. De Elis a Simone. Foi Maria Bethanea que o tornou nome nacional ao lançar um LP com a canção Explode Coração. Antes disso, Gonzaguinha lançou em compacto Comportamento Geral. Isso, em 1972. A censura desceu o pau e mandou recolher o disco do mercado. Quem chamou a atenção da censura pra essa música foi o polêmico apresentador de TV Flávio Cavalcante, que o chamou de "terrorista". Isso bastou para a Censura, crau!
Claudette é uma pérola a ser cada vez mais cultivada na nossa música popular. De Gonzaga ela gravou coisa pouca, gravou Baião, o suficiente pra o velho de Exú chamá-la de princesa, pois bem, essa mesma princesa atendeu ao convite de Mirianês para, juntas, gravaram De Volta ao Começo. Arrepia. Ouçam:

O primeiro disco de Mirianês Zabot é quase um prosseguimento do segundo, embora no primeiro não haja nenhuma composição de Gonzaguinha.
Gonzaguinha foi criado no morro de São Carlos, no Estácio, berço da escola e samba Deixa Falar. Ele desceu o morro direto para brigar no asfalto, de lá mergulhou no universo Gonzaguiano. Galope, faixa 10 do disco Mirianês Zabot canta Gonzaguinha - Pegou um Sonho e Partiu, é um pedaço do seu mundo "nordestino". Nessa composição ele cita dois clássicos do pai. Baião (1946) e Vozes da Seca (1953). Essa última foi uma paulada no governo da época, talvez tenha despertado alguma coisa política no adolescente que crescia de mal com a vida, com o mundo. A questão social é uma questão ultra-presente na obra de Gonzaguinha, e isso pode também ter ocorrido com a cantora Mirianês, pois ela desceu da serra gaúcha e partiu direto pra fogueira do asfalto. Ela dele carrega algo que tem haver com as injustiças sociais etc.
Eu se fosse você, meu amigo, minha amiga, ia correndo à procura dos discos de Mirianês Zabot.
Quer saber mais a respeito dessa cantora, acesse:
Site: www.mirianeszabot.com.br
BRAHMA
No próximo dia 27, uma quarta, a partir das 21h, a cantora Mirianês Zabot estará se aprestando no tradicional Bar Brahma, que fica alí nas esquinas famosas Ipiranga e São João. O espetáculo intitulado Gafieiras e Outras Verves (Baile de Gafieira), tem a participação dos cantores Alexandre Arez e Chocolatte de Vila Maria; dos músicas Sergio Bello (violão), Fabio Canella (bateria), Henrique Pereira (contrabaixo) e Fabinho Oliva (trombone). O show integra o projeto Talento MPB. Ingressos antecipados pelo Whatsapp (11) 98390-8201.


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